Ontem às 09:29 · Brasília · Editado ·
Ruminações de um
anão eleitoral
De repente, a mídia se deu conta
de que a prateleira de lideranças está vazia, que nem os reservatórios de água
de São Paulo, e a parte da sociedade que se interessa pela Política com pê
maíúsculo, atônita, busca entender que espécie de curto circuito provocou o
apagão.
O meu amigo Eduardo Campos,
segundos antes do terrível acidente aéreo que o vitimou, era quase um
desconhecido do povo em geral e, doze horas antes, acuado por William Boner e
Patrícia Poeta, no trono do Jornal Nacional da Rede Globo, foi injustamente
mostrado ao povo brasileiro como mais um desses politicozinhos useiros e
vezeiros de práticas nepotistas, traições e promessas vazias e populistas. Teve
que morrer para se salvar como Grande Estadista!
Tempos atrás, um senhor de nome
Ulysses Guimarães, que bons exemplos deu ao Brasil, inclusive a restauração da
democracia e a Constituição Cidadã, levou uma sonora surra nas urnas e só se
salvou quando o helicóptero em que voava sumiu em algum ponto da costa
brasileira!
Vivo, Eduardo patinava nas pesquisas eleitorais em seis por cento. Morto, caso pudesse figurar na urna eletrônica, venceria de lavada todos os seus concorrentes. Caso, para alegria e júbilo geral, o seu avião tivesse pousado tranquilamente no Guarujá, a humilhação que lhe foi imposta pela Rede Globo transformaria os pífios seis por cento nas pesquisas em mero traço.
Vivo, Eduardo patinava nas pesquisas eleitorais em seis por cento. Morto, caso pudesse figurar na urna eletrônica, venceria de lavada todos os seus concorrentes. Caso, para alegria e júbilo geral, o seu avião tivesse pousado tranquilamente no Guarujá, a humilhação que lhe foi imposta pela Rede Globo transformaria os pífios seis por cento nas pesquisas em mero traço.
Dois mil anos antes, um nazareno
passou por algo parecido, pois vivo valia trinta dinheiros, mixaria aquela
desembolsada por um tal de Judas Iscariotes, que o vendeu aos seus algozes.
Morto, ganhou o Trono Celestial, de onde assiste a toda essa bagaceira num
ponto do Hemisfério Sul do Planeta Terra!
Cometi a insanidade e a
periculosidade de ser deputado federal, não fui pilhado em mal feitos e saí de
lá mais conhecido do que nota de três reais. Fui autor do projeto que criou uma
Universidade federal numa das regiões mais pobres do Planeta - o Vale do
Jequitinhonha das Minas Gerais de Aécio Neves - mas não mereci uma simples
linha num jornal de poste ou numa das gazetas-de-penas-pagas de meu querido
torrão natal. Claro que isso, por si só, não seria o suficiente para me alçar
ao panteão das lideranças nacionais. Mas o extremo oposto é algo que dói e que,
inclusive, pesou na minha definitiva decisão de jamais disputar eleições.
Pilhado dilapidando o Tesouro
Nacional ou simplesmente indicando Meire para um tribunal, o meu espaço na
mídia seria outro, com certeza, e, feito José Roberto Arruda e Cia, eu estaria
bombando nas pesquisas eleitorais. É o que dá se preocupar com coisas inúteis
como universidades...
Experiências parecidas pululam na paisagem político-eleitoral do Brasil, onde, feito o lírio que nasce na lama de um verso de Carlos Drummond de Andrade, a podridão impera em todos os seus níveis.
Experiências parecidas pululam na paisagem político-eleitoral do Brasil, onde, feito o lírio que nasce na lama de um verso de Carlos Drummond de Andrade, a podridão impera em todos os seus níveis.
Ocorre que a mídia - detentora do
monopólio de ver, ouvir e falar pelo povo brasileiro - só enxerga a lama,
ignora o lírio, quando não o arranca ou pisoteia.
Como, então, querer ter uma
prateleira cheia de líderes, de admiradas figuras públicas, de estadistas,
nesse pobre o bobo país chamado Brasil!
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