sábado, 16 de agosto de 2014

Ruminações de um anão eleitoral - CARLOS MOTA


Ruminações de um anão eleitoral
De repente, a mídia se deu conta de que a prateleira de lideranças está vazia, que nem os reservatórios de água de São Paulo, e a parte da sociedade que se interessa pela Política com pê maíúsculo, atônita, busca entender que espécie de curto circuito provocou o apagão.
O meu amigo Eduardo Campos, segundos antes do terrível acidente aéreo que o vitimou, era quase um desconhecido do povo em geral e, doze horas antes, acuado por William Boner e Patrícia Poeta, no trono do Jornal Nacional da Rede Globo, foi injustamente mostrado ao povo brasileiro como mais um desses politicozinhos useiros e vezeiros de práticas nepotistas, traições e promessas vazias e populistas. Teve que morrer para se salvar como Grande Estadista!
Tempos atrás, um senhor de nome Ulysses Guimarães, que bons exemplos deu ao Brasil, inclusive a restauração da democracia e a Constituição Cidadã, levou uma sonora surra nas urnas e só se salvou quando o helicóptero em que voava sumiu em algum ponto da costa brasileira!
Vivo, Eduardo patinava nas pesquisas eleitorais em seis por cento. Morto, caso pudesse figurar na urna eletrônica, venceria de lavada todos os seus concorrentes. Caso, para alegria e júbilo geral, o seu avião tivesse pousado tranquilamente no Guarujá, a humilhação que lhe foi imposta pela Rede Globo transformaria os pífios seis por cento nas pesquisas em mero traço.
Dois mil anos antes, um nazareno passou por algo parecido, pois vivo valia trinta dinheiros, mixaria aquela desembolsada por um tal de Judas Iscariotes, que o vendeu aos seus algozes. Morto, ganhou o Trono Celestial, de onde assiste a toda essa bagaceira num ponto do Hemisfério Sul do Planeta Terra!
Cometi a insanidade e a periculosidade de ser deputado federal, não fui pilhado em mal feitos e saí de lá mais conhecido do que nota de três reais. Fui autor do projeto que criou uma Universidade federal numa das regiões mais pobres do Planeta - o Vale do Jequitinhonha das Minas Gerais de Aécio Neves - mas não mereci uma simples linha num jornal de poste ou numa das gazetas-de-penas-pagas de meu querido torrão natal. Claro que isso, por si só, não seria o suficiente para me alçar ao panteão das lideranças nacionais. Mas o extremo oposto é algo que dói e que, inclusive, pesou na minha definitiva decisão de jamais disputar eleições.
Pilhado dilapidando o Tesouro Nacional ou simplesmente indicando Meire para um tribunal, o meu espaço na mídia seria outro, com certeza, e, feito José Roberto Arruda e Cia, eu estaria bombando nas pesquisas eleitorais. É o que dá se preocupar com coisas inúteis como universidades...
Experiências parecidas pululam na paisagem político-eleitoral do Brasil, onde, feito o lírio que nasce na lama de um verso de Carlos Drummond de Andrade, a podridão impera em todos os seus níveis.
Ocorre que a mídia - detentora do monopólio de ver, ouvir e falar pelo povo brasileiro - só enxerga a lama, ignora o lírio, quando não o arranca ou pisoteia.
Como, então, querer ter uma prateleira cheia de líderes, de admiradas figuras públicas, de estadistas, nesse pobre o bobo país chamado Brasil!

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