sábado, 31 de janeiro de 2009

A CHEGADA A MINAS NOVAS DO PADRE DR. WYLLHAMUS JOANNES LELLYVELD

Estive, desde o dia 09 do corrente, e ainda estou, encantado com a chegada de minha linda netinha BEATRIZ que passou a ser o motivo maior de todas as nossas atenções,o que todos haverão de convir ser algo muito natural. Assim sendo deixei de postar -- durante alguns dias-- os escritos que tenho sobre a "Saga dos Caminhões", a respeito de que hoje trago o texto em que nele relato a chegada do PADRE VILY á nossa cidade de Minas Novas.
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Já falamos, anteriormente, sobre a abertura da famosa estrada de Minas Novas à antiga Vila de Filadélfia (hoje a cidade de Teófilo Otoni), que foi aberta pelo fundador desta cidade que tem o seu nome como justa homenagem.

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Logo depois falamos sobre a chegada, à cidade de Minas Novas, do primeiro caminhão que adentrou as pedregosas ruas sendo conduzido pelo "chouffer" Manoel Cristianismo Costa, no início do século passado.

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Hoje, dando continuidade à "Saga dos Caminhões", falaremos do "O CARRO ANFÍBIO DO PADRE WILLY"

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Muito tempo se passou e, de vez em quando, na cidade surgia a figura de um cometa, de um cigano ou de algum cobrador de impostos, vindos quase sempre em automóveis antigos, que estavam sendo descartados nos grandes centros urbanos. O próprio Dr. Chico tinha um Ford 1929 que, abandonado por muito tempo, apodrecia debaixo do porão da casa das Cavalhadas. De vez em quando era funcionado por José Maria Badaró ou Antônio da Usina, até que fosse vendido a algum colecionador de antiguidades.

Havia, de vez em quando, a visita da jardineira de Germano e depois o ônibus do velho Vicente Faria ...

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Depois da Segunda Guerra, um dia a cidade acordou com o barulho de um carro que vinha rompendo os penhascos do Buriti e já ameaçava descer o Morro da Contagem. Por volta do meio-dia, de longe avistava-se a poeira, a fumaça e também já escutava-se o ronco estranho de um veículo motorizado rompendo os penhascos, locomovendo-se ruidosamente por entre os arbustos secos, quebrando galhos e rasgando barrancos, até chegar à beira do então caudaloso Fanado.

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Todos estavam apreensivos, pois através dos poucos receptores de emissoras de rádio que havia na cidade, ouvia-se dizer de uma guerra que destruía o mundo, lá pelas bandas da Europa. Ficaram todos apavorados e atentos, com a possibilidade de ser aquela terrível guerra que estava lhes chegando, afinal na nossa cidade.. E muito mais assustados ficaram quando viram o valente motorista, com seu incrível jeep, avançar pelas areias da praia e atravessar o Poço da Barra como se o carro fosse um pequeno navio.

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Para surpresa geral, era a chegada de um jovem estrangeiro, de farta cabeleira loira e um estranho jeito de falar que denotava sua alegria e ansiedade em estar aportando em um novo mundo: Era ele um padre novo, que aqui chegava de abrupto, pois não trazia consigo qualquer designação, portando apenas as credenciais de religioso que poderia apresentar-se em qualquer parte do país em que desejasse se estabelecer como sacerdote secular, isto é, desvinculado de qualquer ordem religiosa tradicional no Brasil. Portanto, não estava sendo aguardado na paróquia, sendo uma surpresa que a todos encantava de vez que há muito tempo que não havia um vigário residente na cidade, isto desde a morte do Cônego Barreiros.

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Até esse tempo as missas eram celebradas apenas por ocasião de alguma missão ou pela vinda eventual do bispo de Araçuaí, em suas esporádicas visitas pastorais. A política local não era muito favorável à permanência na cidade, de pessoas estranhas e cultas que ficassem dando palpite errado na administração do município.

Assim foi o que aconteceu com o padre Pedro de Herédia, com o Padre Otaviano, além de muito outros e até mesmo com o padre José do Sacramento, um dos poucos religiosos negros, daquela época, que se ordenara padre e que, em razão de problemas ligados aos costumes de então, era ele obrigado a morar na Vila de Chapada, embora fosse o titular da Paróquia de São Pedro, que se localizava na sede do município.

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E aquele padre moderno que chegava naquela condução estranha, era um jovem atlético, de pele clara e olhos azuis, cabelo farto e loiro, metido em uma folgada batina branca, muito diferente daquelas soitanas pesadas, as batinas negras com as quais se lembravam ver os antigos sacerdotes seculares. Viram todos, que se tratava de um padre, somente depois da observação que lhes fizera um antigo garimpeiro, o velho Orestes Alemão, o único cidadão ali presente que soube traduzir e entender aquele palavreado dificultoso com o qual o agitado e desengonçado religioso se esforçava para se fazer entendido para se aproximar da multidão.

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Feitas as apresentações, quando todos já voltavam para casa, o jovem subiu o morro da Rua da Barra, tendo ao lado, dentro do seu curioso veículo, na companhia de seu providencial intérprete, um garimpeiro pinguço que já residia na cidade por algum tempo, e que ficara nesse local atrasado no tempo e no espaço, desde os tempos da mineração, pelo que, em decorrência do marasmo não tinha outra ocupação, como serviço, a não ser o de consertar tachos, alambiques e fazer pequenos reparos em relógios, armas de fogo, máquinas de costura e em alguns poucos engenho de moenda de ferro que ainda existia na região.

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Fizeram amizade, o garimpeiro Alemão e o padre, tendo este confidenciado ser filho de uma rica família, lá da Bélgica e que, àquela altura da política mundial, por não concordar com o poder opressor de Hitler, estava vindo para o Brasil, tendo conseguido a proteção das autoridades européias que lhe providenciaram o benefício de optar sair da França, onde se ordenara sacerdote, para seguir como missionário da Legião de Estrangeiros em qualquer outro local, bem longe do Velho Continente... E ele, cheio de sonhos, corajoso e determinado, conseguiu chegar ao Brasil, na condição de foragido, escolhendo para trabalhar numa região que fosse reconhecidamente a mais carente entre todas do país.

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E foi dessa maneira que, por intercessão política do Dr. Bevillacqua, que era o diplomata encarregado dos negócios de relação e serviços especiais de imigração, veio a se instalar no município de Minas Novas a singular figura de Wyllhamus Joannes Leliveld, o conhecido Padre Vily que neste estaria fazendo agora 65 anos de vida brasileira se, depois de uma existência marcada pelo despreendimento, muito trabalho, luta e dedicação à boa causa a favor dos mais necessitados, não houvesse ele falecido recentemente.

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Esse padre fogoso e atrevido, ao chegar ao Brasil, começou a revirar o município de Minas Novas com seu jeep maluco, no qual ia a qualquer grota, levando o não menos maluco Orestes, que aqui por milagre encontrou, um compatriota que no início lhe foi muito útil, mas que era ateu, muito mulherengo, jogador e viciado em bebida, mas ao qual, mesmo assim se afeiçoara

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Aquele "danado do jeep" era movido a gasolina, ou com querosene misturado à cachaça ou ao óleo diesel, até que o velho garimpeiro de nome Orestes, homem inteligente e muito acostumado a lidar com máquinas, nele promoveu algumas modificações no funcionamento, introduzindo-lhe um curioso engenho que permitia que o tal veículo, além de anfíbio e multiflex -- já naquela época -- também funcionasse movido a gasogênio, a partir da combustão de carvão vegetal, numa caldeira móvel que foi engenhosamente adaptada na sua traseira, resolvendo o problema de falta de gasolina que quase desapareceu em razão da crise. E o tal engenho fazia o carro andar e, quando este estava estacionado, gerava a luz da igreja e das capelas onde o padre ia celebrar as missas.

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O povo começou a ficar em delírio com tanta novidade, com tanta bondade de um padre jovial, rico e caridoso.

O religioso, em suas andanças pelas capelas da zona rural e pelos distritos, pregava a paz, dizendo dos horrores da guerra que ele próprio assistiu lá nos campos da Alemanha e da Itália. Pregava contra a violência e, o que era mais grave, mostrava-se irritado e visivelmente indignado com a pobreza do povo da região, pelo que tudo procurava fazer, sempre esbarrando no pouco apoio que recebia, no esforço para minorar aquele tradicional sofrimento.

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Movido pelo sua paixão, vendo o sofrimento do povo, procurou então o socorro que pretendiam na prefeitura e na Santa Casa, os únicos lugares, que no seu entendimento de homem culto e justo, acreditava ser os locais em que deveriam prevalecer a vontade e o dever de acudir as pessoas necessitadas. As autoridades de Minas Novas, porém, declinando-se dessa responsabilidade legal e vendo-se acuadas diante das insistentes cobranças de solução, por parte do padre indignado, cuja coragem o permitia agir incisivamente como questionador, para se verem licres dele passaram a taxá-lo de comunista e assim o denunciaram às autoridades, naquela época do Governo Vargas, então muito rigorosas na apuração desses casos.

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O padre Vily foi preso e seus bens foram confiscados.

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Provada a sua inocência, pela intervenção do Dr. Miltom Campos e do Brigadeiro Eduardo Gomes, o jovem padre, que era muito decidido, mesmo sabendo que continuaria sofrendo perseguições políticas por parte dos Coronés da região de Minas Novas, desejou voltar para nossa paupérrima e indigitada região (Minas Novas ou Turmalina) mas o bispo de Araçuaí – um religioso já decadente e que era dominado e controlado pelas forças políticas dos coronéis coligados da região -- não o autorizou que retornasse a seu povo e determinou que ele ficasse bem longe dessas cidades. Foi então que lhe ocorreu de fixar-se na região de Gangorras, onde havia adquirido, com seus próprios recursos vindos lá da Holanda, uma grande extensão de terras localizadas na Chapada de São Domingos, fundando ali a localidade então conhecida como Lamarão, entre Berilo e Virgem da Lapa. Ali o Padre Villy instalou uma escola, que logo conseguiu transformar em unidade estadual e também um patronato para acolher menores.

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Teria completado 65 anos de vida brasileira, se não tivesse falecido recentemente, em Belo Horizonte onde foi submeter-se a um tardio tratamento de sua saude, e sido enterrado em sua igreja, em Leliveldia, onde sempre pregou o trabalho honesto, a luta pela educação, pela justiça, pela fé e pela caridade. Durante as cerimônias de seu enterro ficou patente o quanto aquele povo o amava e o quanto ele tinha de amor pela gente humilde daquele lugar, além da grande esperança que demonstrava ter pela grandeza do Brasil, tudo fazendo pela localidade em que foi o pioneiro e que teve a ventura de ver, há poucos dias, inaugurada a Hidrelétrica de Irapé, empreendimento fabuloso pelo qual lutou bravamente.

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Para garantir a preservação de suas terras, em determinada época de opressão, foi obrigado a demandar na Justiça contra grupos poderosos, a exemplo dos esforços de o prejudicar que foram desenvolvidos pelo cidadão Benjamim Figueiredo, agindo em nome da Ruralminas, sem se falar dos recursos que interpêss contra as mineradoras, contras as empresas de reflorestamento, contra os prefeitos e políticos importantes da redondeza que lhe eram adversários, durante todo esse tempo, desde que insistia com o seu amigo governador Magalhães Pinto sobre a necessidade de construir uma grande barragem no Rio Jequitinhonha, não só para possibilitar a geração de energia elétrica, mas também para resolver o problema da seca e para irrigar as produtivas chapadas que, segundo ele, não deveriam e não poderiam ser desperdiçadas para o plantio de eucalipto, mas sim destinadas à produção de alimentos para o povo.

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Foi, sem dúvida, através dos esforços do Padre Vily, mercê de sua visão de homem inteligente e bondoso, do seu idealismo, de seu arrojado desprendimento pessoal, pelo seu esforço no sentido sensibilizar o Governo, que ele viu o seu prestígio e amizade serem atendidos. Foi por força de sua incrível liderança e coragem, que granjeou de vários políticos importantes como Magalhães Pinto, Miltom Campos, Pedro Aleixo e José Maria de Alkmim, que garantiu que grande parte da Mata da Acauã fosse preservada. Foi dele a idéia, depois de várias gestões junto ao governo de Minas Geais, sempre com a ajuda de lideranças da região como João Bosco Murta Lages, Dr. Hugo Lopes de Macedo, Dona Celuta de Figueiredo Costa e Waldemar César Santos, (sendo estes dois últimos os que em Minas Novas o acolhiam e lhe assessoravam, sendo a bondosa Dona Celuta a sua primeira professora de português), que lhe encaminharam pelos corredores da UDN, sempre no intuito de facilitar-lhe os trabalhos e para que fosse incorporada toda aquela reserva natural, compreendida nas chamadas áreas devolutas no entender dos interesses cartorários da Comarca.. Segundo a visão do padre, no entanto, não seria justo que estas terras tivessem outro destino senão o de produzir frutos a favor dos pobres, de vez que no passado eram parte do rico acervo deixado pelo Padre Barreiros a favor da Paróquia de São Pedro do Fanado, devendo o Estado arrecadar esses mesmos terrenos - constantemente sob a cobiça de guilheiros da região - resultando no que hoje é a comunidade de ACAUÃ, um bem estruturado distrito localizado no município de Leme do Prado, sediando a Unidade de Proteção Ambiental e Reserva Biológica que hojé é um belo projeto coordenado e sob o controle direto da EPAMIG.

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O padre VILY, além de ter fundado o povoado de Lamarão, que tempos depois foi promovido a distrito de Berilo com o nome de LELIVELDIA, em sua homenagem, fundou também o povoado de JENIPAPO que pertencia ao municipío de Minas Novas e depois foi elevado à condição de distrito, à época da emancipação de Francisco Badaró (ex-Sucuriu). Nos dias atuais JENIPAPO DE MINAS é uma progressita cidade que, por feliz coincidência, está sendo administrada pelo seu ilustre prefeito, o professor MÁRLIO GERAL COSTA, justamente um minasnovense que é filho de Dona NEIDE PINHEIRO FREIRE, sua querida e bondosa mãe, a qual foi, durante sua produtiva vida de educadora e grande liderança comunitária no município de Minas Novas, muito se empenhou pelas causas do Padre Vily e dele foi grande amiga e tenaz incentivadora.

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Além do seu indiscutível trabalho missionário, tendo introduzido no Brasil o culto fervoroso à imagem milagora de NOSSA SENHORA DOS POBRES -- notadamente na cidade de Berilo onde existe um lindo santuário em homenagem da sua Padroeira-- e de sua luta a favor do desenvolvimento daquelas citadas comunidades, muitas delas que são limítrofes desse progressista município da margem esquerda do Rio Araçuaí, também foi o Padre Vily que deu impulso ao desenvolvimento de toda região onde se localizam os atuais municípios de José Gonçalves de Minas (ex-Gangorras), Leme do Prado (ex-Gomes), Veredinha, Carbonita e Angelândia (ex-Vila dos Anjos) que têm nele um exemplo de pioneirismo. Somente no município de Berilo, sendo o responsável direto pela fundação e pelo funcionamento de mais de 30 escolas estaduais e outras tantas localizadas nos vizinhos municípios de Virgem da Lapa e Coronel Murta, pois a sua luta sempre foi no sentido de buscar recursos para todos os pobres municípios deste nosso sofrido Vale do Jequitinhonha, sendo que, para tanto, não media esforços e dificuldades para enfrentar a burocracia de gabinetes e, de forma decisiva e até mesmo agressiva, abordar políticos em qualquer lugar em que os encontrasse, o que lhe rendeu a fama de ser atrevido e por isto mesmo, movido pela coragem e respeito com que se impunha, era sempre recebido e ouvido no Palácio da Liberdade por vários governadores que por lá passaram durante todo este tempo, independentemente de suas convicções ideológicas ou de cores partidárias.

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Tinha o padre Vily a maior orgulho e real satisfação pelo fato de ser naturalizado brasileiro. No seu velório, adornado por coroas de flores vindas de toda a região, ao redor daquele ambiente tão concorrido pela população, estavam hasteadas as bandeiras da Bélgica e da França e, em destaque, tremulava acima delas o nosso pavilhão nacional, além do que, ao baixar o seu caixão na campa que foi aberta no jardim ao lado da Igreja de Leliveldia, foi executado solenemente o Hino Nacional Brasileiro, tudo de acordo com o seu desejo expresso de que assim se realizasse a sua despedida.

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No sentido desta história que agora relatamos, haveremos de, nas próximas edições deste BLOG, lembrarmos igualmente de figuras inolvidáveis que deveriam sempre merecer o respeito de nossa gente, assim como a memória de outros pioneiros minasnovenses que nem sempre são reconhecidos oficialmente, como DR. MARTINIANO, DOMINGOS MOTA, DONA FLORA BRASILEIRA PIRES CESAR, DR. ATALIBA CÉSAR E DR. AGOSTINHO SILVEIRA, além de DÁRIO MAGALHÃES, BENEDITO LEITE, MARIA LOPES, ALAIDE FERNANDES, GABRIEL BORGES, CELUTA FIGUEIREDO COSTA, NEIDE FREIRE, FÁBIO MOTA, DR. VICENTE MÁRIO SILVA, RAUL MARCOLINO, SANTINHO BARROSO e tantos outras personagens de nossa história recente, cujas trajetórias de vivência e de trabalho a favor de nosso município, não podem continuar ignoradas por parte de nossos jovens conterrâneos que tanto carecem de bons exemplos.* * * * * * * * * * * *-
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geraldo mota
http://geraldomotacoelho.blogspot.com/

VOCÊ, ALGUM DIA, JÁ GRAVOU SEU NOME NUMA ÁRVORE?

AS INSCRIÇÕES FEITAS NAS CASCAS DAS ÁRVORES SOBEM TRONCO ARRIBA ENQUANTO ELA CRESCE?

Não são poucas as pessoas que acreditam que uma inscrição feita na casca de uma árvore vá aos poucos subindo, imaginando que o tronco cresça para cima. Nada mais equivocado. Eu próprio, nos meus tempos de adolescente, fiz uma poesia falando algo semelhante. A crença é antiga e oriunda da poesia bucólica latina. Virgílio (71-19aC) faz menção ao fato em sua obra Bucólicas (X, 52-54); Ovídio (43aC-17dC) cita-o em seu livro Heróides (23), bem como Petrônio (14aC-66aC), que escreveu sobre uma árvore que cresceu e um ramo encobriu as inscrições: Crescit arbor, gliscit ardor, ramus implet litteras.

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-O engano passou da antiguidade à literatura moderna. Vou citar dois exemplos.

O primeiro, do poeta brasileiro Fagundes Varella (1841-1875), na poesia "As Letras":


"Na tênue casca de verde arbusto
Gravei teu nome, depois parti;
Foram-se os anos, foram-se os meses,
Foram-se os dias, acho-me aqui.

Mas ai! o arbusto se fez tão alto,
Teu nome erguendo, que mais não vi!
E nessas letras que aos céus subiam
Meus belos sonhos de amor perdi"



O segundo, "Versos de circunstância", é de Jean Cocteau (1889-1963), poeta, dramaturgo, romancista e desenhista francês:

"Em vez de gravá-lo em mármore,
Guarde teu nome numa árvore,
Que ela crescendo, há de ver
Teu nome também crescer
"


A título de curiosidade, transcrevo aqui a estrofe de minha infeliz poesia:

"Num gomo de velha palmeira
Gravei meu romance a punhal
No tronco que no céu mergulha
Lá onde não pisa o mortal."


Quanto ao fato de se crer que uma inscrição numa casca de árvore vá para o alto com o suposto crescimento do tronco e, por isso mesmo, não ser mais visível do chão, há certas espécies que possuem tal capacidade de regeneração que os talhos feitos em sua casca desaparecem por completo com o passar dos anos – uma explicação simples para o sumiço ou a "invisibilidade" de uma inscrição.

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O viajante português Augusto Emílio Zaluar, em sua obra Peregrinação pela província de São Paulo – 1860-1861, cita um caso clássico envolvendo D. Pedro I: certa feita, o imperador passando por Guaratinguetá, deixou suas iniciais numa figueira monumental que se situava na entrada da cidade. Zaluar escreveu: "Aí pernoitou esse dia, e foi por ocasião que entalhou a sua inicial no tronco da figueira. A árvore hoje tem crescido a ponto que as letras P. I., que então ficavam na altura do braço de um cavaleiro, agora tem a elevação de mais de três homens".

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Agora, o biólogo e desenhista de botânca V-Newton vai falar: na verdade, o desenvolvimento de uma árvore ocorre de duas maneiras: a primeira pelas extremidades de todos os ramos, nos quais há um grupo de células que se dividem, fazendo-os alongar; a segunda, pelo câmbio, que é uma camada de células que recobre a parte do lenho da árvore. Quando as células do câmbio se dividem, o tronco, os galhos, os ramos e as raízes tornam-se mais grossos. (Na foto, inscrição minha em coqueiro em frente a casa onde eu morava na Usina Palmeiras; ela está na mesma altura de quando foi feita, quando eu tinha uns 10 anos. Saudades...)

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Enfim, o fato de uma inscrição numa árvore ir para cima não passa de mera crendice popular – uma mentira pra lá de cabeluda! Verdade mesmo, só o daquele causo estrelado por um famoso contador de histórias ararense – o velho Civilico que, certa vez, esqueceu seu relógio pendurado numa pequena árvore quando foi pescar e, anos depois,retornando ao local, viu o mesmo lá em cima, num galho da árvore já crescida, e funcionando..

É que um raminho de cipó dava corda nele enquanto crescia!... Êta fumico forte!

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Quanto ao fato de ser crendice ou apenas invencionice de alguém que tenha mente fértil (ou inspirada), não entrarei no mérito da questão, até porque sou testemunha de uma fato que passo a narrar:

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Eis o meu caso:

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Antigo funcionário do Banco do Brasil, tive a ventura de conviver com um colega de CREAI, na agência da bucólica cidade mineira de Minas Novas, onde exercíamos funções, eu de investigador de cadastro e ele de fiscal da carteira, naqueles idos da gloriosa década de 1980. Esse funcionário, muito zeloso em todas as suas atribuições, dedicava trato especial em seus laudos onde, geralmente, tudo registrava no sentido de ver o mutuário atendido e beneficiado com a liberação das parcelas, cujo crédito em conta-corrente só se verificaria mediante a comprovação da regularidade na aplicação dos recursos que até ali tivessem merecido a liberação. Essa nobre atitude, aliás, era comum entre a maioria dos funcionários do BB que – naquela paupérrima região do Vale do Jequitinhonha – sabiam que, levando-se em conta a finalidade social do Banco, o pequeno valor dos custeios de lavouras e das atividades agropecuárias para os pequenos sitiantes, os créditos deveriam ocorrer como se fossem a fundo perdido, procurando contornar, assim, as rigorosas exigências normativas (justas de serem observadas em outras regiões!) como uma fórmula dissimulada de se permitir, eventualmente, uma transferência de rendas ao produtor rural, o que deveria ainda hoje ser norma oficialmente adotada pelo governo federal através dos bancos públicos, principalmente nestas regiões onde a produção é de subsistência.

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O dito funcionário, cujo nome deixo de revelar por razões óbvias, bem que poderia estar hoje a serviço do projeto "Fome Zero" em razão de sua vocação socializante, talvez fruto da observação inteligente, da sua sabida convivência com as adversidades, desde menino, de sua visão prática acerca das agruras do Vale, pois conhecia como ninguém todos os detalhes da vida sofrida do caboclo, do sertanejo e do groteiro, com os quais se identificava, sendo que toda aquela gente simples tinha nele um grande defensor. E era assim agindo, movido pelo espírito de solidariedade e de justiça, que ele se valia da experiência acumulada na vida, como antigo garimpeiro, ex-peão de obras e homem simples que sempre foi muito próximo do povo e que conseguira, já maduro, ingressar por concurso na carreira bancária. Era incrível o seu poder de convencimento, seus argumentos colocados de forma corajosa, com os quais debatia em reuniões internas e todas as oportunidades que tinha de se expressar, no que muito colaborou, de forma decisiva, para a boa atuação do BB naquela quadra de transição econômica de triste memória, quando era agente financeiro de uma reforma agrária que nunca funcionou, muito embora a vigência de uma fartura de crédito direcionado e facilitado para atender a política de subsidio das atividades rurais, com base em Tabelas de VBC (Valores Básicos de Custeio), adequando-se à realidade de cada região do país.

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Esse colega elaborava seus extensos relatórios, quase sempre vazados em textos apropriados e ajustados a cada caso, atendendo mais às exigências gramaticais e à sua própria inspiração poética, onde procurava sensibilizar o gerente para os problemas genéricos, desviando, intencionalmente, a atenção dele de possíveis falhas que apontava apenas sub-repticiamente aqueles que deveriam ser abordados para o caso, não os omitindo somente para livrar-e de ser acusado de omisso. Lembro-me de que, sendo ele escalado para vistoriar a propriedade de um pequeno produtor da região do Rio Setúbal, deveria ele averiguar a irregularidade apontada na vistoria de outro colega, também fiscal, cuja fama era de ser fiel às filigranas, que havia apresentado um laudo rigoroso, sendo então contestado pelo mutuário que afirmava peremptoriamente ter cumprido todas as exigências do contrato. Tratava-se, a falta apontada, de uma das porteiras do curral, prevista no contrato, a qual estaria assentada incorretamente, o que impediria a liberação dos novos recursos para a complementação da obra. Ao conferir o serviço realizado, de fato o fiscal Silvio encontrou no referido curral aquele porteira que era o motivo da sua vistoria. Entretanto, notou que existia um lance de tábuas, naquele curral, onde o carpinteiro – por zelo econômico -- aproveitou para assentar ali algumas réguas sobre o tronco de uma velha aroeira, que se desenvolvia rente ao barranco, vendo neste detalhe a oportunidade de contornar aquela situação, pelo que aconselhou ao fazendeiro a convocar o operário para o refazimento do serviço, que desta feita deveria ser a introdução, naquele espaço, da dita porteira que estava faltando. Neste artifício, deveria a porteira ser afixada bem acima do nível das outras madeiras lavradas, dando-se a impressão de que havia alçado àquelas alturas em razão do natural crescimento da árvore em questão, o que justificava não ter sido visualizada pelo funcionário do BB que ali estivera, "en passant", em missão que se revelou prejudicada pela ausência do principal gestor da fazenda, ocasião em que lhe passou despercebida a benfeitoria que, de fato, há muito já estaria ali colocada, conforme fez constar em seu presente relatório. Citou, evidentemente, que em razão da rotina a que se submetia diariamente o gado ali apascentado, quase que nenhuma função útil exerceria a cancela, configurando-se quase como desnecessária no contexto daquele equipamento rural, ora objeto do mútuo, observando-se que, embora deslocada do campo visual, como estava, ficava o interstício resultante entre suas peças, que em nada vinha obstaculizando o funcionamento adequado de todo o complexo, permitindo-se assim que em nada comprometesse as finalidades produtivas almejadas de ambas as partes.

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Sabedores que somos, todos nós pobres mortais, de que os bons gerentes naquele tempo confiavam em seus comissionados, e por isto nem mesmo liam com atenção os laudos e pareceres que lhes chegavam à mesa, e a todos colocavam a chancela do "libere-se", mais uma vez aquele zeloso fiscal cumpria sua função de promover o bom atendimento aos mini-fazendeiros que eram inúmeros em toda região, possibilitando a democratização do crédito rural e a melhoria na produtividade das pequenas propriedades que prodigalizavam a fartura daqueles municípios, os mesmos que hoje nada produzem além do carvão e da miséria que dele resulta naquele Vale de Lágrimas hoje totalmente invadido pelo maldito eucalipto.

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Bons tempos aqueles!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

NOSSA "NOVA" LÍNGUA PORTUGUESA

Voltando ao tema das cartas, muito importante é atentar-se pela correção gramatical, pelo estilo e pelo cuidado no tratamento, mesmo tendo-se em conta a liberalidade que se admite no caso de simples bilhetes, listas, rols, lembretes, avisos e recados, que se constituem em indiscutível e importante canal de comunicação escrita, onde nota-se, com ênfase, a recorrente flexibilização de conteudos específicos que caracterizam o falar, como ocorre corriqueiramente no âmbito do coloquial, no cenário cotidiano. Contudo, elegância e cuidado não fazem mal a ninguém e sempre serão instrumentos a revelar o estilo, o perfil e o zelo que todos devemos ter com os nossos costumes, inclusive na forma de dizer ou de falar. De outra vertente não seria demais lembrarmos de que, para se alcançar e estabelecer um bom nível de entendimento nos relacionamentos humanos, torna-se necessária a observância de um mínimo de respeito ao vernáculo, pelo que devemos estar em consonância com os rudimentos gramaticais, com o vocabulário, o estilo, a sintaxe e a morfologia, quiçá, até mesmo a semântica.

E, como todos devemos saber, existem tratados internacionais, acordos regidos por LEIS específicas que regulam o uso de nossa LÍNGUA PORTUGUESA - este instrumento cultural que é o idioma, a língua oficial, não só de Portugal, mas também do Brasil e outras nações lusófonas espalhadas pelo mundo, perfazendo um universo de mais de 370 milhões de falantes dessa que é a terceira mais utilizada língua em todo o mundo.

Sabemos que, das cerca de sete mil línguas conhecidas do mundo e das duzentas e vinte e cinco da Europa, o Português, originário do latim vulgar lusitânico nasceu na velha Gallaecia romana, foi levado a dois terços do planeta pelos portugueses, via dos descobrimentos, é hoje falada por mais de 360 milhões de locutores espalhados pelos cinco continentes, sendo a segunda língua românica do mundo -- a terceira europeia -- mais falada no planeta, a sexta com maior número de locutores e a quinta com maior número de países que a têm como língua oficial. O Português, que já foi língua franca, é hoje uma língua culta de dimensão internacional e intercontinental, falada nos cinco continentes e – como havia predestinado Fernando Pessoa – é uma das poucas línguas potencialmente universais do século XXI. É língua materna dos habitantes de Portugal e do Brasil e de parte significativa das populações de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, países que a têm como língua oficial. O Português é também falado nos antigos territórios de Goa e Macau. Como língua materna ou segunda é falada pelos membros das várias comunidades de emigrantes, com um número significativo, na Europa (França, Alemanha e Luxemburgo), América do Norte (Canadá e Estados Unidos), América do Sul (Venezuela) e África (África do Sul), num total de cerca de quatro milhões e meio de locutores. O Português é a quarta língua mais usada na Internet e a segunda na “blogosfera”. Num outro quadro de estudo linguístico pode considerar-se que a língua portuguesa pertence a uma das oito grandes famílias de línguas do mundo, a família indo-europeia, proveniente dos tempos anteriores à escrita, que compreende mais de 200 línguas, que vão das línguas latinas, às germânicas, das eslavas às do norte da Índia.

Ademais, a língua, sendo dinâmica, não sendo portanto um recurso estático e imutável, será sempre afetada e passível das transformações impostas pelo aperfeiçoamento, pela aglutinação cultural e pela gradativa influência do interrelacionamento global, havendo destarte acréscimos, supressões e adoção de novos critérios formais, na concepção escrita principalmente, na qual devem ser respeitados e acolhidos, de maneira criteriosa pelos povos que dela se recorrem no discurso diário e na vida de cada um. A despeito disto é que se introduziram novos critérios gráficos e idiomáticos na LÍNGUA PORTUGUESA, através do acordo ortográfico que entrou em vigor no primeiro dia de Janeiro deste novo ano de 2009. Portanto, é de suma importância que se observe, a partir de então, as novas regras gramaticais que foram, por força de Lei, introduzidas em nossa língua oficial. E, para que isto se torne possível, de forma tranquila e sem açodamento, estão previstos prazos e métodos a serem cumpridos de forma a atender todos os interesses que existem nessa mudança, desde os de cunho nacionalista, os culturais, políticos, antropológicos e até os de ordem social e econômico.

Neste sentido, contribuindo com este esforço que todos devemos ter, no intuito de nos inteiramos dessas novidades, acredito ser útil a atenta leitura do texto que se segue:


Nem tudo muda com o Novo Acordo Ortográfico

(Thaís Nicoleti)

Na verdade, as mudanças na ortografia do português brasileiro não são tantas como se imaginava. Na prática, muitas palavras mantiveram a grafia anterior. Ocorre, entretanto, que as pessoas, nem sempre familiarizadas com certa terminologia, passaram a ter dúvidas sobre pontos que não foram tratados no Acordo.

Do ponto de vista gramatical, o antigo acento de "eu apóio" (que hoje se escreve "eu apoio") não era um diferencial, mas grande parte dos usuários da língua imagina que sim, que seu emprego servia para distinguir a forma verbal do substantivo. Esse acento deixou de ser usado como todos os ditongos abertos em palavras paroxítonas, independentemente de haver homônimo.

Há quem imagine que os acentos das formas verbais "dá" ("Ele nunca dá esmolas") e "dê" ("Espero que ele dê atenção ao caso") sejam diferenciais, pois existe a preposição "de" e a forma "da" (contração da preposição "de" com o artigo "a"), e que, portanto, devem deixar de ser usados. De jeito nenhum: Esses acentos assinalam os monossílabos tônicos terminados em "a", "e" e "o" (como em "pá", "chá", "pé", "fé", "pó", "dó" etc.), regra que não sofreu nenhuma alteração.

"Multifuncional", "microcirculação", "antienvelhecimento", "lipoescultura", "anticontrabando", por exemplo, não se modificaram. Já "arqui-inimigo", "autoestima", "infraestrutura", "antirrugas" e "anti-idade" adaptaram-se à nova convenção.

Os acentos das formas verbais "têm" e "vêm" (no plural) continuam vigentes. O mesmo vale para a acentuação dos verbos derivados de "ter" e de "vir", cujas formas que constituem oxítonas terminadas em "-em" ou "-ens"(tu manténs, ele mantém, eles mantêm; tu intervéns, ele intervém, eles intervêm) são acentuadas. As formas de terceira do singular e de terceira do plural distinguem-se graficamente pelo tipo de acento (agudo no singular e circunflexo no plural). Nada disso muda.

Entre seus erros e acertos, o Acordo parece ter avivado o interesse pelo estudo da língua, o que já é um mérito!




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CARTAS: PORQUÊ ESCREVÊ-LAS?

CARTAS, CARTAS E CARTAS

Sou do tempo, não muito distante, em que o meio de comunicação mais comum era a CARTA, a velha escrita, devidamente endereçada, envelopada, subscrita e selada, principalmente em Minas Novas onde o telefone foi inaugurado somente em 02 de outubro de 1980, quando todo o resto do país já era beneficiado por esta já antiga invenção de Grambell (ALEXANDRE GRAHAM BELL - Ele nasceu em 3 de março de 1847, em uma cidade chamada Edinburgh, na Escócia, e faleceu em 2 de agosto de 1922 com 75 anos me uma cidade chamada Halifax no Canadá. Foi o físico naturalizado americano que inventou o telefone em 10 de março de 1876).

Até o ditoso ano de 1980 o único telefone que existia em Minas Novas era um arcaico aparelho, dotado de manivela, que ficava na casa de Jacu, lá na bucólica Barragem, enfeitando a parede da usina como peça decorativa de vez que não funcionava desde a época da inauguração daquela pequena hidrelétrica. Naquele ano folclórico o município completaria 250 exercícios de existência política e o ditador-presidente da república (General Figueiredo) viria à cidade para as festividades que estavam programadas para a efeméride e, desta forma, seria de bom tom preocupar-se em inaugurar alguma coisa de útil, além do novo prédio do Banco do Brasil (o qual, para funcionar a sua agência que atendia 10 municípios, na maior dificuldade e total carência de infra-estrutura da cidade) valia-se do recurso antiquado do sistema de radio PCX para fazer suas comunicações.

Foi então, que resolvemos – gerente Francisco Carlos Campos Coelho liderando alguns funcionários do referido banco -- liderarmos uma campanha na cidade para a instalação de uma central telefônica mono-canal com apenas 100 terminais interligados à rede de Diamantina, contratando para isto os serviços de uma empreiteira da Ericson do Brasil, que planejou, orçou e instalou o sistema em menos de 30 dias, sem a necessidade de qualquer intervenção do poder público. Mesmo assim as ligações interurbanas só passariam a ser possíveis de se completar um bom tempo depois, havendo funcionado "pró-forma", simbolicamente, no ato da inauguração pelo dito ditador, para, logo depois ficarem mudos os aparelhos e tudo voltar ao velho sofrimento do "cambio, escuta, cambio" ao microfone das espeluncas, ainda por longo tempo.

Das cem (100) primeiras assinaturas, as pioneiras foram: 08 linhas para o próprio Banco do Brasil (setores da agência, residências do gerente e gerente-adjunto e AABB), 03 para a central telefônica, 03 para a prefeitura, sendo as demais, uma para cada assinante: Minascaixa, Delegacia de Polícia, Quartel da PMMG, Paróquia, Cobal, Acesita, IBGE, ECT, Campo-Vale, Fundo-Cristão, Hospital, Posto de Saude, Forum, Cartório Imobiliário, DAE e 10 linhas destinadas aos funcionários que se cotizaram no investimento, sendo as demais para serem vendidas a particulares, com a facilidade de financiamento. Algumas dessas linhas, porém, foram reservadas a determinados "medalhões" da cidade e até ,mesmo instaladas com prioridade, mas ficaram no "ora, veja", sem a contra-partida do pagamento devido e, assim, o custo das mesmas teve de ser arcado pelos pobres cidadãos comuns que pagaram pelo progresso, muito embora essas mesmas linhas continuem em nome dos caloteiros, que até hoje nada pagaram e delas continuam se beneficiando.

De qualquer forma, mesmo depois de implantado o telefone e por não ser o sistema aqui muito confiável -- sabendo-se que havia constantemente um funcionário designado para a "escuta" -- sob o ponto de vista de sua operacionalização, as CARTAS continuaram e continuam tendo prestígio e eu continuo delas me servindo, pois não vejo outra forma mais agradável, direta, segura e eficaz de me comunicar, qual seja este insubstituível costume de se valer da velha e sempre recorrente correspondência epistolar.

Afinal, paredes têm olhos e ouvidos até nos gabinetes do STF, quanto mais em nossas devassáveis casas e indefesos escritórios.

Muitas são as modalidades de correspondências das quais se podem utilizar e me proponho, a partir desta, fazer algumas demonstrações que haverão de reafirmar a importância das Cartas escritas e, na medida do possível, vamos divulgar algumas, a exemplo destas que se seguem:

PRÓLOGO

"Amigo leitor: arribou a certo porto do Brasil, onde eu vivia, um galeão, que vinha das Américas espanholas. Nele se transportava um mancebo, cavalheiro instruído nas humanas letras. Não me foi dificultoso travar com ele uma estreita amizade, e chegou a confiar-me os manuscritos, que trazia. Entre eles encontrei as Cartas chilenas, que são um artificioso compêndio das desordens, que fez no seu governo Fanfarrão Minésio, general de Chile.

Logo que li estas Cartas, assentei comigo que as devia traduzir na nossa língua, não só porque as julguei merecedoras deste obséquio, pela simplicidade do seu estilo, como, também, pelo benefício que resulta ao público, de se verem satirizadas as insolências deste chefe, para emenda dos mais, que seguem tão vergonhosas pisadas.

Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico.

Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para as acomodar melhor ao nosso gosto. Peço-te que me desculpes algumas faltas, pois, se és douto, hás de conhecer a suma dificuldade que há na tradução em verso. Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários sobre a pessoa de Fanfarrão. Há muitos fanfarrões no mundo, e talvez que tu sejas também um deles, etc."

... Quid rides? mutato nomine, de te Fabula narratur...

(Horat. Sat. I, versos 69 e 70.)


DEDICATÓRIA AOS GRANDES DE PORTUGAL

Ilmos. e Exmos. senhores,

"Apenas concebi a idéia de traduzir na nossa língua e de dar ao prelo as Cartas Chilenas, logo assentei comigo que Vv. Exas. haviam de ser os Mecenas a quem as dedicasse. São Vv. Exas. aqueles de quem os nossos soberanos costumam fiar os governos das nossas conquistas: são por isso aqueles a quem se devem consagrar todos os escritos, que os podem conduzir ao fim de um acertado governo.

Dois são os meios por que nos instruímos: um, quando vemos ações gloriosas, que nos despertam o desejo da imitação; outro, quando vemos ações indignas, que nos excitam o seu aborrecimento. Ambos estes meios são eficazes: esta a razão por que os teatros, instituídos para a instrução dos cidadãos, umas vezes nos representam a um herói cheio de virtudes, e outras vezes nos representam a um monstro, coberto de horrorosos vícios.

Entendo que Vv. Exas. se desejarão instruir por um e outro modo. Para se instruírem pelo primeiro, têm Vv. Exas. os louváveis exemplos de seus ilustres progenitores. Para se instruírem pelo segundo, era necessário que eu fosse descobrir o Fanfarrão Minésio, em um reino estranho! Feliz reino e felices grandes que não têm em si um modelo destes!

Peço a Vv. Exas. que recebam e protejam estas cartas. Quando não mereçam a sua proteção pela eloqüência com que estão escritas, sempre a merecem pela sã doutrina que respiram e pelo louvável fim com que talvez as escreveu o seu autor Critilo.

Beija as mãos

De Vv. Exas.

O seu menor criado..."

"Escrever é sempre dizer por extenso. (...) a passagem à escrita, mesmo que gerada num impulso, implica uma certa solenidade. Verba volant scripta manent, as palavras esvoaçam e a escrita permanece (...). Ao escrever, estamos mais empenhados, somos mais definitivos, ficamos mais comprometidos. O escrito é como um freeze frame, imobiliza um momento histórico, um determinado espírito, uma força ou fraqueza do instante"

Pedro Mexia,

in "Primeira Pessoa"

Inicialmente, é preciso destacar dois tipos básicos de carta. O primeiro é a correspondência oficial e comercial, que nos é enviada pelos poderes políticos ou por empresas privadas (comunicações de multas de trânsito, mudanças de endereço e telefone, propostas para renovar assinaturas de revistas, etc.). Este tipo de carta caracteriza-se por seguir modelos prontos, em que o remetente só altera alguns dados. Apresentam uma linguagem padronizada (repare que elas são extremamente parecidas, começando geralmente por "Vimos por meio desta...") e normalmente são redigidas na linguagem formal culta. Nesse tipo de correspondência, mesmo que venha assinada por uma pessoa física, o emissor é uma pessoa jurídica (órgão público ou empresa privada), no caso, devidamente representada por um funcionário.

Outro tipo de correspondência é a carta pessoal, que utilizamos para estabelecer contato com amigos, parentes, namorado (a). Tais cartas, por serem mais informais que a correspondência oficial e comercial, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem coloquial. Nesse caso o remetente é a própria pessoa que assina a correspondência.

Embora você passa encontrar por aí livros que trazem "modelos" de cartas pessoais (principalmente "modelos de carta de amor"), fuja deles, pois tais "modelos" se caracterizam por uma linguagem artificial, surrada, repleta de expressões desgastadas, além de serem completamente ultrapassados.

Não há regras fixas (nem modelos) para se escrever uma carta pessoal Afora a data, o nome (ou apelido) da pessoa a quem se destina e o nome (ou apelido) de quem a escreve, a forma de redação de uma carta pessoal é extremamente particular.
No processo de comunicação (e a correspondência é uma forma de comunicação entre pessoas), não se pode falar em linguagem correta, mas em linguagem adequada. não falamos com uma criança do mesmo modo que falamos com um adulto.

A linguagem que utilizamos quando discutimos um filme com os amigos é bastante diferente daquela a que recorremos quando vamos requerer vaga para um estágio ao diretor de uma empresa. Em síntese: a linguagem correta é a adequada ao assunto tratado (mais formal ou mais informal), à situação em que está sendo produzida, à relação entre emissor e destinatário (a linguagem que você utiliza com um amigo íntimo é bastante diferente da que utiliza com um parente distante ou mesmo com um estranho).

Na correspondência deve ocorrer exatamente a mesma coisa: a linguagem e o tratamento utilizados vão variar em função da intimidade dos correspondentes, bem como do assunto tratado. Uma carta a um parente distante comunicando um fato grave ocorrido com alguém da família apresentará uma linguagem mais formal. Já uma carta ao melhor amigo comunicando a aprovação no vestibular terá uma linguagem mais simples e descontraída, sem formalismos de qualquer espécie.

As Expressões Surradas

na produção de textos, devemos evitar frases feitas e expressões surradas (os chamados clichês), como "nos píncaros da glória", "silêncio sepulcral", "nos primórdios da humanidade", etc. Na carta, não é diferente. Fuja de expressões surradas que já aparecerem em milhares de cartas, como "Escrevo-lhes estas mal traçadas linhas" ou "Espero que esta vá encontrá-lo gozando de saúde" (originais, não?)

A Coerência no Tratamento

Na carta formal, é necessário a coerência no tratamento. Se a iniciamos tratando o destinatário por tu, devemos manter esse tratamento até o fim, tomando todo o cuidado com pronome e formas verbais, que deverão ser de segunda pessoa: se, ti, contigo, tua, dize, não digas, etc. Caso comecemos a carta pelo tratamento você, devemos manter o tratamento em terceira pessoa até o fim: se, si, consigo, o, a, lhe, sua, diga, não digas, etc.
Nesse tipo de carta, são comuns os erros de uniformidade de tratamento como o que apresentamos abaixo:

Você deverá comparecer à reunião. Espero-te ansiosamente.
Não se esqueça de trazer tua agenda.

Observe que não há nenhuma uniformidade de tratamento: começa-se por você (terceira pessoa), depois passa-se para a segunda pessoa (te), volta-se à terceira (se), terminando com a segunda (tua).

Ainda com relação à uniformidade, fique atento ao emprego de pronomes de tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência, etc. Embora se refiram às pessoas com quem falamos, esses pronomes devem concordar na terceira pessoa. Veja:

Aguardo que Vossa Senhoria possa enviar-me ainda hoje os relatórios de sua autoria.
Vossa Excelência não precisa preocupar-se com seus auxiliares.

EPÍSTOLA

Composição datada e escrita por um indivíduo ou em nome de um grupo com o objetivo de ser recebida por um destinatário. O termo tem uso antigo e constitui modo literário importante a partir do conjunto de textos do Novo Testamento que ficaram conhecidos por epístolas. Neste sentido, distingue-se uma epístola de uma carta comum, pois não se destina à simples comunicação de fatos de natureza pessoal ou familiar, aproximando-se mais da crônica histórica que procura relatar acontecimentos do passado. A utilização do termo alarga-se, depois, a todo o tipo de correspondência privada ou oficial, literária ou filosófica, religiosa ou política, pelo que a partir desta generalização se torna difícil estabelecer com rigor a diferença entre uma epístola e uma carta. À arte de escrever epístolas ou formas registradas de correspondência escrita entre indivíduos dá-se o nome de epistolografia; à teoria e prática da escrita de cartas ficcionais, convém chamar-se epistolaridade. De notar que alguns epistológrafos não incluem as epístolas poéticas no espaço de investigação deste tipo de textos, porém sendo o ponto de partida de uma epístola poética a forma e a função pragmática da carta, parece-nos fazer sentido incluir no modo epistolar o estudo das formas poéticas, mesmo que estas partilhem também as características do modo lírico.

Epístolas Paulinas é como são conhecidas o conjunto de cartas do apóstolo Paulo reunidas no Novo Testamento.

Paulo escreveu as epístolas para as comunidades que visitara, pregando e ensinando as máximas cristãs. As cartas relacionadas a seguir (conhecidas como Corpus Paulinum) são aquelas que tradicionalmente são atribuídas a Paulo:

Por fim, apesar de condenadas por um político local que não tem hábitos democráticos, às vezes fazem-se necessárias as ditas cartas anônimas, a exemplo de "hebreus", pois quase sempre estas são bastante diretas e claras e dizem de coisas sérias que são do conhecimento geral e do público, mas têm conteúdo contundente cujo objetivo, decididamente, é atingir e ferir de morte os interesses do coronel. Por esta razão, alcançando a sua finalidade precípua, que fique a ladrar aquele cuja carapuça lhe calce a injusta cachola.

E assim é que teremos:

Gouvêa Fanadino

Barão de Itararé

Cruz e Souza

Gregório de Matos

Guerra Junqueiro

Bocage

Challaça

E muitos outros


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geraldo mota
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

FUTEBOL COMBINADO COM AUTOMOBILISMO



FUTEBOL é o ópio do povo brasileiro! O automobilismo, também o seria, mas para uma classe mais privilegiada .... e sejamos sinceros, o que seria de nossas tardes domingueiras sem um bom futebolzinho? QUE É BOM? É lógico: É DEMAIS!

-E por falar em futebol, quem será o vencedor neste final de semana, lá no Uruguai? O CRUZEIRO OU O ATLÉTICO MINEIRO?



Além dessas curiosas imagens, vejamos também os vídeos em anexo: dois sobre o futebol, um outro sobre uma incrível mãe que deve ser considerada como a maior campeã de todos os tempos, pois como nenhum jogador profissional, faz com seus pés milagrosos muito mais que gols e outras lindas jogadas.
geraldo mota
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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A SAGA DOS CAMINHÕES - 2

São muitas as pessoas de bem que, ao longo de nossa história, passaram por Minas Novas e que aqui foram impedidas de realizarem missões e muitos dos acalantados projetos em benefício do povo. Vamos, aos poucos, conhecer algumas delas. Havia anunciado que hoje discorreria sobre um fato pouco conhecido -- ou melhor -- jamais divulgado, relacionado ao Padre WILLYAMUS JOANNES LELLIVELD (mais conhecido por "Padre Vily") um padre europeu, culto, idealista e corajoso que até pouco tempo vivia humildemente em seu querido Patronato de Leliveldia, no vizinho município de Berilo, estando lá enterrados os seus restos mortais, na Igreja que construiu com seus próprios recursos. Entretanto, para dar uma sequência cronológica aos fatos - ensejando a possibilidade de melhor entendimento da história, o assunto de hoje, sem fugir ao tema, será sobre o episódio da chegada do primeiro auto-caminhão a nossa cidade. Depois deste capítulo é que publicaremos, então, a

"Chegada do Padre Vily a Minas Novas".

AGUARDEM!

O CAMINHÃO DE MANOEL CRISTIANISMO COSTA

No longínquo ano de 1919 chegou a Minas Novas, vindo da adiantada e próspera cidade de Teófilo Otoni, o primeiro veículo motorizado a adentrar as ruas da velha e alquebrada cidade. Para conseguir esse feito histórico e extraordinário o comerciante Manoel Cristianismo Costa custeou, com seus próprios meios, a raspagem do mato e o ajeito das passagens mais difíceis de serem vencidas, naquelas 30 léguas que separavam a cidade-mãe da cidade-filha, naquele percurso que, tendo sido uma estrada, já se transformara em capoeira pelo desuso..

Esse trajeto era o mesmo caminho carroçável que, há alguns anos, fora desbravado pelo pioneiro Theóphilo Benedicto Ottoni, quando este transferiu a sua empresa Santa Clara, antes sediada na Vila do Fanado, para a promissora Vila de Filadélfia que acabara de fundar.

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Havia transcorrido, daquela data, mais de 20 anos que por ali não passava nem mesmo carro de boi, sendo que o caminho já se havia deteriorado pelo pisotear constantes das tropas, as quais, durante esse período, esvaziaram, de vez, as poucas riquezas que restaram da antiga cidade dos Badarós.

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A chegada do auto-caminhão, depois de cinco dias de difícil jornada – que hoje se faz em apenas 4 ou 5 horas – foi uma verdadeira efeméride que ficou marcada oficialmente nos anais do município, motivo de júbilo para a população de Minas Novas, que havia muito tempo não tinha motivos de alegria, pois ali restavam pouquíssimas famílias, as mais humildes e as pessoas mais teimosas e apegadas à terra natal, que não quiseram ou não puderam, de alguma forma, acompanhar as inúmeras caravanas de retirantes que seguiram em busca de outras regiões, onde pudessem viver com progresso e vislumbrar a possibilidade de desenvolvimento.

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Minas Novas, então, já havia perdido o seu velho encanto de ter sido uma das melhores cidades de porte médio de todo o pais, condição com a qual se apresentava até os meados do século XIX.

.As ruas, ladeadas de casas em ruínas, estavam tomadas pelos bodes velhos e demais criações soltas como animais levantados ou "arribados", famintos e descuidados, que se viam revirando o lixo amontoado defronte dos antigos sobrados e das casas baixas abandonadas transformadas em abrigo de mendigos e cães vira-latas sem dono, pois ali estavam relegados ao próprio destino que lhes fora decretado pelos antigos proprietários, há muito ausentes.

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A descida daquela curiosa máquina, com seu assombroso ruído, assustava aos bichos e faziam os velhos e doentes, em seus tugúrios, chegarem curiosos e apreensivos às frestas das portas e janelas para melhor vê-la passar. Era algo incrível e ao mesmo tempo admirável. As pessoas mais corajosas e as que podiam sair de casa sem dificuldade, aproximavam-se e algumas até se arriscavam a alisar e cheirar a brilhante superfície das latarias lustradas e coloridas, maravilhados com a imensidão, jamais vista, de uma carroça que, na realidade, mal daria para transportar algumas sacas de cereais ou, no máximo, umas 50 arrobas de açúcar sujo.

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O velho vigário, o Cônego José Barreiro da Cunha mandou abrir a igreja matriz, pediu que se repicassem os sinos e celebrou uma missa solene, nas ruínas daquele templo que havia sido a suntuosa Matriz de São Pedro do Fanado, Apóstolo e Papa.

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Um vendeiro, contagiado por aquela repentina festa, entusiasmou-se com a novidade e possuindo no estoque de sua bitaca, guardados, uns foguetes de rabo, chegou-lhes o tição no estopim e fez com que os céus da antiga vila, como se fosse um dia de Festa de Junho, voltasse a serem saudados pelo som de uma alegria quase que esquecida.

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Lindolfo Jobarcum, mestre da única escola, por sua vez despertado com a vibração cívica do momento, mas sempre cauteloso, mandou que os seus poucos e maltrapilhos alunos se enfileirassem. Formou-se uma rigorosa e disciplinada marcha, sem fazer muito alarde, para que não se afugentasse o "bicho-máquina" pois este, caso refugasse com aquele movimento, poderia tornar-se violento e atropelar aquela multidão que se aglomerava em frente da Câmara Municipal, com a finalidade de assistir à inusitada cerimônia de recepção, justificadamente calorosa e simbólica, dos atores que traziam a novidade.

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O presidente da Câmara, tomado do mais indisfarçável entusiasmo e gáudio, subiu à carroceria do carro e dali de cima, ao lado de outras autoridades e do fantástico "chauffer" – o corajoso motorista e proprietário daquela preciosidade, vista como a maior invenção do mundo -- fez de improviso o primeiro e eloqüente discurso de uma série de outros oradores que passaram a enaltecer o pioneirismo, a inteligência e o poder daquele empresário ilustre, daquele honrado filho da cidade que, tendo seguido as trilhas abertas pelo Dr. Teófilo Otoni, não se esquecera de seu povo e agora voltava, gloriosamente, no comando daquele símbolo de riqueza e sucesso, trazendo consigo a mensagem de novas esperanças para o lugar.

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E as festas e comemorações se estenderam por todo o dia, demonstrando a grande satisfação do povo em poder sentir – novamente – a possibilidade daquelas casas e ruas se animarem com a vida, com o trabalho e com o futuro.

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Eram manifestações justas e realmente merecidas, de todos os minas-novenses que se orgulhavam do grande feito do novo "Fernão de Magalhães", o conterrâneo e rico cidadão "Miné Costa", pois este era, no sentimento do povo, a imagem do próprio salvador, daquele que trazia um novo alento à vida comunitária de uma população empobrecida, sem assistência de qualquer natureza, sem saúde e sem educação, mazelas que determinavam a desesperança e o ponto trágico daqueles que já se consideravam sem rumos.

.Alguns anos se passaram e o auto-caminhão de Miné era a única máquina motorizada em todo o antigo município. O bem intencionado comerciante, contudo, depois de tanto esforço, não encontrara o apoio de que necessitava para reencontrar os caminhos do progresso.

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Aquela máquina era quase que uma peça decorativa estacionada em frente da sua casa comercial – um estabelecimento sempre às moscas -- pois eram poucos os fregueses e muitas as dificuldades que já faziam o comerciante se esmorecer novamente. Além do trabalho de chofer, pois não havia outros que fossem habilitados a trabalhar com aquela complicada máquina, também a gasolina era um recurso raro, que chegava à cidade em lombos de burro, pois a estrada não mais existia. Também, de nada adiantaria buscar lá longe as mercadorias se não teria, no lugar, quem as pudesse comprar, no meio de uma turba de mendigos que vivia da caridade pública e dos míseros recursos da municipalidade E quando recebia alguns galões do raro combustível, em sua loja se faziam filas para o abastecimento das bingas "vospic" , com os quais aquele povo podia alimentar o único prazer que tinha que era o de pitar o cigarrinho de palha.

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O velho Miné Costa, mais uma vez desiludido e desgostoso com o marasmo da Vila, colocou em riba do seu caminhãzinho os seus pertences e sua esposa Júlia -- pois não tiveram filhos -- convidou alguns camaradas para irem-lhe reabrindo os caminhos com as enxadas e picaretas, seguindo de volta, pelo mesmo caminho pelo qual viera, abandonado de vez a sua casa e retornado a Teófilo Otoni para continuar com seus negócios de forma mais favorável.

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E tudo voltou como dantes, naquele velho quartel abandonado dos Abrantes...

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geraldo mota
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