terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

REMINISCÊNCIAS DE UM BOCÓ?

Vou tentar colocar neste BLOG umas histórias relacionadas a tudo que tenho visto, escutado, ouvido e vivido desde o meu tempo de criança, lá na antiga e eterna Vila do Fanado.

Sei que não será uma tarefa das mais fáceis descrever essa resenha de mais de 50 anos, pois apesar de minha boa memória, meus recursos literários são primários em razão de que, é bom que se diga, o pouco estudo formal que tive não passou daquelas lições que recebi em sala de aula do velho Ginásio Minas Novas, esse incrível educandário gratuito do inolvidável Dr. Agostinho da Silva Silveira, um médico forasteiro tido por muitos como simplório e extravagante mas que se inseriu em nossa história minasnovense como insuperável figura humana.

Daquela quadra pra cá foram poucas as oportunidades que tive de poder freqüentar outras salas de aula pois nas cidades dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, por onde trabalhei durante minha juventude e grande parte da minha vida adulta, não havia ali oferta de cursos regulares que iam além daquele grau, além de que durante a minha vida de bancário, nesse considerável lápso de tempo, por minha própria opção dediquei-me ao segmento de crédito rural e à programas de assistência às pequenas comunidades, atividades priorizadas pelo Banco e que exigiam de mim intensa movimentação por regiões diferentes o que me dificultava -- de certa forma -- a frequência escolar que era sempre postergada.

Destarte, o que eu aprendi -- de bom e de ruim -- foi com a própria vida e através da experiência que acumulei com muita luta durante os 32 anos de trabalho como bancário, sendo 23 deles no Banco do Brasil, essa maravilhosa instituição nacional de que tanto me orgulho, tendo-a, por isso mesmo, como uma das mais completas escolas a que um indivíduo possa ter acesso e ali obter uma formação equivalente à de qualquer um cidadão bem situado em nossa comunidade.

De tal sorte que não me permito, diante dessa constatação, ser classificado como autodidata apesar de possuir apenas o curso ginasial pois considero o BB como uma autêntica faculdade que supriu, para mim, a carência de qualquer curso de nível superior no qual eu desejasse ter-me ingressado.

A partir de agora, felizmente, quando me vejo aposentado, poderei dedicar-me a algum curso mais graduado, embora de forma bissexta, no que já me vou encaminhando através desta experiência, estando mais disponível para me dedicar à minha tarefa preferencial que sempre foi a leitura de bons livros.

Tenho em casa uma modesta estante cujo acervo estou ampliando, servindo-me da possibilidade de acesso pela internet por onde vou garimpando novos títulos, adquirindo-os a baixo custo através das ofertas encontrada em sebos virtuais que existem pelo Brasil afora.

Dessa maneira tenho conseguido juntar algumas raridades literárias, sobre as quais desejo comentar mais adiante, neste mesmo blog.

É a INTERNET um recurso extraordinário que muito está facilitando a minha nova vida de "estudante", naturalmente não só pela disponibilidade dos portais de busca, além desta interessante ferramenta de Blog e de muitas outras, como as de acessos a arquivos de textos, de imagens, de sons e até mesmo e-book de escritores famosos do mundo todo.

Com tanta facilidade que temos hoje em qualquer lugar, mesmo lá no Vale do Jequitinhonha, continuará analfabeto somente os que não tiverem inteligência, juízo ou vergonha na cara.

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Das coisas boas que existiam antigamente e das quais se me fosse possível adequar-lhe o uso aos espaços de que hoje disponho, bem que gostaria de ter em minha casa (ou melhor, apertamento) um bom fogão de lenha, igualzinho àquele que havia lá na nossa velha casa em que morávamos na Rua do Amparo, s/nº, de meus bons tempos de criança na cidade de Minas Novas.




Sei que isto é algo quase impossível, mas afinal sonhos são sonhos ...

Um fogão de lenha, para mim, continua sendo simbolo de amor, de aconchego e de solidariedade.

Quando vejo um desses modernos fogões a gás, lindos, asseados e decorativos, não consigo associá-lo ao ambiente saudável de um lar verdadeiro como aquele em que fui criado, nutrido na abundância simples e fortalecido na disponibilidade dadivosa daquele saudável trambolho.

A vida naquele tempo era tão simples e humilde, e os nossos desejos tão limitados, que não sentíamos falta de nada, pois toda a felicidade de que precisávamos orbitava ao derredor da nossa família, naquele espaço preferencial da cozinha, lugar que se apresentava como o melhor dos universos e no qual o sol era as chamas que subiam de uma fornalha sempre acesa, fonte de calor, luz e aquela magia dos cheiros que se espalhavam pelo resto da casa, anunciando as mais variadas iguarias que ali se preparavam a partir de um quase nada, multiplicando-se na fartura revelada a cada momento em que se destampavam os caldeirões milagrosos (ou seriam eles mágicos?) generosos e eternamente fumegantes.

Recordo-me, vendo-me ao pé do enorme fogão, das veneráveis figuras de meus bisavós, entre as feições de tantos outros parentes e as imagens daqueles inúmeros familiares que amiúde frequentavam o nosso lar, onde todos compareciam sempre a fim de receber -- e ao mesmo tempo ali retribuir de forma multiplicada -- todo amor, carinho e respeito, conferindo em nós os preciosos valores ensinados por nossos pais, como se estivessem atiçando o braseiro de afeto que existia no peito de cada um, fôssemos nós os filhos, os netos ou todos os demais que deles se acercavam, sempre ouvindo a recomendação de que, no futuro, chegada a nossa vez de fazê-lo, transmitíssemos de igual modo, as nossas boas experiências e saberes, fazendo-as chegar até às nossas próximas gerações.



Este era o instrumento da oralidade na qual já estávamos, inconscientemente, sendo iniciados.
Trata-se de uma preocupação que hoje quase que não mais se justificaria, apesar de que sua eficiência e importância possam ser comparadas com a dos demais recursos hoje disponíveis nas mídias eletrônicas, e até mesmo com a escrita, esta que para mim continuará insuperável e definitiva.

Mas o fato é que a nossa memória histórica, em Minas Novas, não foi registrada em livros e, ao que me parece, muito pouco tem sido feito no sentido de se garantir que as notícias do presente sejam conhecidas pelos pósteros.

Daí este meu projeto que transformo em BLOG, sem a pretensão de substituir a necessidade de edição em livros impressos, por parte dos verdadeiros historiadores, das muitas obras que desejamos que apareçam para, de forma mais abrangente e bem conduzida, registrarem-se os fatos históricos de nossa terra.

Infelizmente as publicações que circulam com os temas relacionados a nosso município são poucas e precárias e seus conteúdos, no geral, muito deixam a desejar pois se reportam aos fatos de forma superficial e enfocam, com amplitude, somente amenidades, saudosismos e registros sociais de menor importância, sem o compromisso de uma crítica construtiva, desprovido da coragem necessária para um posicionamento definido diante de temas polêmicos que devam ser debatidos com mais profundidade e visando, democraticamente, encontrar soluções de problemas estruturais e políticos ou contribuir para retirar de pauta os temas que reflitam apenas os interesses corporativos de alguns grupos dominantes.

Ademais não existe a cultura do saber, a busca de conhecimentos técnicos, científicos e filosóficos que são as mais poderosas ferramentas que abrem caminhos de progresso, pois nas poucas e mal estruturadas escolas é claramente perceptível o descompromisso, por parte dos pretensos educadores, de se esmerarem na arte pedagógica e na tarefa sublime de ensinar a ler, escrever, raciocinar e entender, através do incentivo à boa leitura, no debate de ideias, no ensinamento de humanidades e na prática da vivência social e comunitária.

A única biblioteca pública existente em nossa cidade não recebe investimentos adequados, não dispões de recursos logísticos suficientes e nem conta com um quadro razoável de pessoal habilitado, no que resulta estar ocioso o seu acervo.
Os poucos arquivos que ainda resistem, sejam os oficiais, notários, cartoriais, particulares, de paróquias e da própria municipalidae foram todos atingidos por algum evento sinistro: ou "atacados" por traças, ou roídos por "cupins", ou sofreram "incêndio" ou seus armários foram "levados" pelas diversas inundações do Rio Fanado, estas fantásticas catástrofes de que temos notícias apenas pela fantasiosa imaginação dos enganadores ou pelas manchetes fraudulentas dos corruptos.
Mesmo assim tenho certeza de que, da mesma forma como se deu comigo, existirão em nosso município outros gravadores alimentados a feijão, que pensam e que são ambulantes, muitos deles detentores de memórias até melhores que as minhas, onde devem estar guardados registros interessantes sobre aqueles momentos vividos, desde a infância de cada um, fatos que bem poderiam se prestar se me fossem relatados e, ao serem confiados como subsídios a enriquecer este BLOG garantiriam a preservação de dados sobre coisas que foram vistas e acontecidas, desde que importantes para a memória coletiva. E desta forma, ao me enviarem o relato desses "causos" eu os poderia publicar como uma maneira de comprovarmos, junto aos descrentes e pessimistas, como eram bons e produtivos aqueles tempos -- simples mas felizes -- quando havia a determinação de uma convivência harmoniosa, na solidariedade e no compromisso social com outras pessoas de diversas origens, classes e idades, todos estes importantes valores que deixaram as marcas positivas das pessoas que se foram, é bem verdade, mas de quem nunca vamos esquecer, pois a lembrança delas continua sendo incentivo, bálsamo e também combustível para levarmos avante essa missão de informar e instruir.

Lembro-me perfeitamente de tudo e de todos, daquele tempo, e a saudade se multiplica quando revejo, durante as minhas andanças, alguma manifestação artística como as festas populares de cidades interioranas, ao contemplar as antigas imagens sacras, vislumbrar as paisagens e sítios bucólicos de nossas cidades históricas, tanto em Minas, como no Rio de Janeiro, no interior de Goiás, em Salvador e no Sertão Baiano, como alguns que certamente ainda existem na minha terra mas que não estão recebendo os cuidados de que merecem.

Nas minhas viagens fico comparando as imagens que vejo com as que conservo em minha memória e a tristeza então me invade ao recordar que por aquelas bandas de Minas Novas já não se vêem mais fogões, folias, quintais, pilões, amizades, serestas, parentes, procissões, compadres, namorados, respeito, cultura e outros tão simples componentes que deveriam ser inalienáveis ao homem integral, mas que o desenvolvimento e o progresso só não conseguiu destruir onde a cultura do povo foi preservada com incentivos, com planejamentos e com responsabilidade.
Lastimável é observar-se que em nossa cidade esse cuidaddo se deu justamente ao contrário do que se observa nas cidades mais desenvolvidas, pois a cultura que nos tem sido imposta é a de destruição, de sucateamento e a de que os tempos modernos não podem conviver com a memória de um passado, só por que o que restou dele se resumiu em um monte de lembranças.

Alerto, porém, que essas lembranças são riquezas muito valiosas pois é o saldo que herdamos de todo aquele grande acervo deixado pelos nossos antepassados. E somente através dessas memórias -- preciosidades imateriais -- é que nos será possível reconstruir as riquezas materiais que já perdemos.

E por esta razão que devemos ficar tristes ao assistirmos, dia a dia, a riqueza de nossas tradições e os nossos mais caros valores culturais -- tesouros intangíveis -- serem jogados no lixo, pelo descaso de governantes analfabetos, insensíveis e irresponsáveis. Não podemos aceitar que nosso folclore, nossas artes e nossos costumes, que se afirmaram ao longo de quase 300 anos de história, continuem a ser tratados com o maior desprezo e com tamanha falta de visão, o que de resto tem-se acentuado em cada governo que se sucede, tornando-se marca registrada da atual administração municipal.

Mas essa pasmaceira não poderia ser diferente em um beócio que, diante de valores que ele nunca viu, fique assim embasbacado como nos contos infantis, da mesma forma que também ficara o famoso boi de presépio ou aquele outro que se quedou ao vislumbrar o palácio encantado e esplendoroso, nos Contos Maravilhosos dos Irmãos Grimm.

Como seria ótimo se nossos vereadores também não agissem com a mesma displicência e não se posicionassem como coniventes do executivo pois, certamente, entre as nove cabeças que se prezam, deveria haver algumas pensantes, de mais juízo e melhor cultura, para não permitirem que um prefeito xucro continue cometendo o estrago como os produzidos por um pato ou um marreco selvagem solto dentro de uma loja de cristais finos e porcelanas.

É preciso mostrar a ele e também aos demais incultos, a todos esses carentes de luzes e pobres de espírito, que em cidades importantes como Rio de Janeiro, Salvador, Ouro Preto, São João Del Rey, Mariana, Diamantina, Montes Claros, Serro e tantas outras, que são históricas da mesma forma que a nossa Minas Novas, que lá também -- de forma respeitável e civilizada -- acontece o carnaval, existem congados, teatros, bibliotecas, folias, bandas de músicas, procissões e muitos outros espaços importantes para a cultura e eventos populares que são a base da indústria mais promissora da atualidade que é o Turismo.

Seria providencial, ainda, que as demais autoridades, e também as lideranças em todos os segmentos da sociedade, se convencessem de que o município é muito importante para continuar sob o comando de um parvo, de um grosseiro ou de um imbecil.

Em tudo, naturalmente, é necessário que haja critério, respeito e bom-senso. Esse desleixo cultural está liquidando com os valores que nos foram legados por nossos antepassados, três séculos de história em que se produziu o rico acervo que aqui se vai perdendo em razão do descaso, sob a batuta da ignorância, da irresponsabilidade e da desonestidade de muitos dos que se dizem lideranças, sendo que um, o chefe deles, é por sinal, o dirigente de uma renomada Academia de Letras, o que poderia parecer um contra-senso se lógica existisse no comportamento dos crápulas. ===
Se não, vejamos ...

Esse descaso e estado de coisas deprimentes se revelam, assim, muito mais graves e preocupantes pois demonstram ser clara determinação de quem esteja -- de fato-- muito empenhado em eliminar as nossas raízes culturais e, se nada for feito para barrá-lo, com urgência, muito em breve as nossas crianças não saberão nem mesmo quem são seus avós -- os pais de seus pais -- e muito menos terão chance de reconhecerem o que seja folclore ou artesanato, pois as únicas informações que recebem são da anticultura, a exemplo dos trio-elétricos, dos bailes funks, dos remelexos de axés e outros eventos alienígenas que poderiam até mesmo ser admitidos como amostras, como espetáculos eventuais, nunca como regra fixa em nosso meio, na mesmice que agride o bom-gosto e inibe a capacidade criadora da nossa juventude, tirando-lhe as chances de acesso ao que realmente poderia ser belo e construtivo.

É preciso que a cultura do bom-gosto seja restaurada em nosso meio, pois não se justifica, nos dias atuais, a política do "panem et circenses".

Até os circos chegam em determinado local e ali permancem por um curto período e depois continuam o itinerário, seguindo em caravanas com suas jornadas de mambembes. Sua cultura é a da arte passageira, consumo de massa, entretenimento barato que muito pouco tem a agregar e esses artistas de picadeiro são conscientes das suas próprias limitações e conhecem suas funções, evitando não se tornarem enfadonhos e repetitivos, até mesmo por questões de sobrevivência, para garantir o ganha-pão. E assim deveria ser com os artistas ridículos que, infelizmente, nos visitam a peso de ouro e aqui voltam com lamentável frequência, deixando satisfeitos seus consumidores de baixarias.

A arte é instrumento de cultura e os investimentos aplicados devem ter resposta imediata em outros segmentos como na economia, transformando-se em oportunidades de geração de empregos e renda, fixação do trabalhador em sua comunidade, enfim, na organização da sociedade. E quando se refere à sociedade, nela se incluem todos os segmentos e tendências, inclusive as relacionadas aos néscios e beócios, pois estes, ao se configuraram como cidadãos, mesmo que desclassificados, são dignos de dó e necessitam de boa convivênica para terem oportunidades de aprender.

Cumpre à própria sociedade reagir contra seus agentes perniciosos, pois uma cebola podre põe todo o balaio a se perder.
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Apesar do grande apreço que tenho pela Igreja Católica, para mim é forçoso admitir que, juntamente com aqueles mandões de nossa cidade, os antigos políticos, também ela tem a sua parcela de culpa por não se impor como um corpo de missionários -- como, via de regra, deveriam ser os padres e freiras -- pois a par da condição de religiosos deveriam seguir a de educadores e de bons agentes comunitários, posicionando-se de forma efetiva e determinada, não como meros observadores ou críticos eventuais de nosso processo cultural, mas na condição de guardiões, de fieis depositários das diversas riquezas (materiais) que seus antecessores lhes confiaram como o legado de muitos sacrifícios.

Mesmo apartada do Estado, salvo melhor entendimento, continua sendo responsabilidade da Igreja a boa orientação e a formação de nossos jovens, e estes, principalmente em nossa cidade, já há algumas décadas se afastam dos cultos religiosos como autênticos pagãos pois têm sido eles prejudicados, se não pela omissão, mas pela intransigência e pela imposição de alguns religiosos, parte deles vindo lá da Europa com táticas doutrinárias preparados para intervenções que não mais necessárias e/ou adequadas, que já não se justificam nem mesmo quando aplicadas a povos do "terceiro mundo", muito menos no nosso meio, embora assim o continuem a considerar, como se estivéssemos fadados a ficar eternamente nesse estágio cultural, o que não corresponde à realidade. pois o fato de sermos pobres e humildes não significa -- necessariamente -- sermos todos, ou a maioria como eles pensam, incultos e rudes.

Lutar pelas tradições, conservar os valores culturais, preservar os sítios e monumentos históricos é prova de nosso compromisso com o futudo de progresso e, ao mesmo tempo, de busca pelo desenvolvimento que desejamos, e estes são valores muito sagrados, que existem e pedem para que sejam respeitados.


As intromissões inadequadas em nossos costumes estão em direção oposta da tradição católica que é a de prestigiar a cultura, a de fomentar a boa formação intelectual, a de estimular as expressões e produções artísticas, como atestam a realidade de acervos fabulosos que esses estrangeiros deixaram em seus países, como no próprio Vaticano onde se concentra toda aquela suntuosidade e pompa, com seus ritos, rapapés, saracoteios e salamaleques ou mesmo na simplicidade amena de liturgias consagradas que aqui eles, cinicamente, condenam e censuram.

Aquelas são maravilhas e resplandecências que só valem no Velho Continente: lá são tesouros intocáveis, onde tudo é criteriosamente vigiado pelos Governos de homens sérios -- cultos e responsáveis-- que de fato protegem o interesse público, exigindo-se até mesmo da Igreja que tudo seja bem conservado, convictos de que Patrimônio Cultural é propriedade de toda humanidade, onde não há mais espaços para os bárbaros, os vândalos e os iconoclastas.

Aqui, no entanto, a ordem é destruir tudo o que for antigo.

Vender as antiguidades.


Eliminar os vestígios do ciclo do ouro como se o passado ameaçasse a fé que devemos ter no presente.


E este posicionamento, para um certo político que aqui ainda manda, tem sido providencial, como o mel na sopa.

A culpa dessa aberração que os minasnovenses aceitam, é algo cuja origem vem de longe. Trata-se de um processo de desmonte iniciado com a chegada à Minas Novas de um bacharel-promotor, vindo lá de Piranga, com um efeito devastador que se propaga na ação de um de seus netos e se concentra agora, nos feitos de um títere, no servilismo de um inocente útil daquele agente deletério que o manobra, este uma entidade malígna, figura abominável que se esconde sob a aparência moderna e sábia de um intelectual, no fausto onde vive, mas que se dedica cada vez mais, nas sombras a que se adaptou, a agir no sentido de liquidar com as riquezas do folclore, do artesanato e dos costumes tradicionais do Vale do Jequitinhonha e mais ainda, com os poucos valores que sobraram em nossa terra, nada fazendo para apoiar ou incentivar iniciativas preservacionista, mas concorrendo de forma decisiva para deixar morrer a "galinha dos ovos de ouro": eliminar todo o potencial que ainda resta e que poderia se transformar em um novo filão aurífero para a economia local se aqui houvesse a disposição de bem administrar essas riquezas que aqui se esvaem.


Se este manancial fértil, pelo menos uma parte dessa potencialidade estivesse em solo de qualquer outro município de homens mais previdentes, há muito já estaria produzindo os bons frutos que se colhem através da indústria turística.

Saliento aqui o fato de que sem o necessário apoio, sem incentivos reais e efetivos, e até mesmo sendo ridicularizados os agentes culturais em suas tentativas isoladas de mecenas, os grupos e as pessoas sensíveis a esses valores, que em nossa velha terra são negligenciados, acabam eles procurando o que melhor fazer em ouros lugares, para cuidarem de outros interesses, ao tempo em que a nossa cultura vai cada vez mais para a ralo do esgoto, para a lata do lixo globalizante, a exemplo do que tem acontecido com o nosso Carnaval, hoje transformado em orgia, em pagode de mau gosto e em oportunidade para um prefeito, deslumbrado e teleguiado, seguir contratanto as péssimas bandas de axé com o único objetivo de superfaturar cachês, servindo-se desse recurso para rechear o escandaloso caixa-dois a ser aberto na próxima campanha eleitoral.

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De qualquer forma, ainda com alguma esperança, anima-me assistir a louváveis esforços, como é o caso desse grupo que se vê na foto, que participa de um descontraído, saudável e tão agradável corso carnavalesco pelas ladeiras, que se parecem com as nossas ruas, mas que são lá em Raposos --tão próxima de Belo Horizonte-- uma aprazível e bem preservada cidade antiga e histórica de Minas Gerais, que muito poderia servir de modelo para nós.

Há mais de 10 anos me mudei de Minas Novas, quase lá não vou, mesmo assim continuo com meus pensamentos nessas coisas do passado, com o sentimento de quem percebe lampejos de luzes sobre fatos e coisas que ainda podem ser salvas, em benefício da memória e da cultura, para possibilitar que, a qualquer momento, apareça uma boa cabeça política que pense em termos de futuro e resolva tirar melhor proveito do que ficou como remanescente da legendária Vila do Fanado.

O que se percebe, ao cotejar a nossa história é que, de certa forma, a ação desse antigo político se explica, por ser bem calculada e assim encaminhada no sentido de elminar vestígios inconvenientes, memórias de seus antepassados cujos feitos e lembranças é bem melhor permancerem no mais absoluto sigilo ou irreversível esquecimento.

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Corro o risco de parecer piegas e de ser confundido com algum mentecapto, mas continuo firme: temos, nós da roça, o esdrúxulo zelo de guardar quinquilharias que acabam. de certa forma, provocando desconforto e desavenças, dentro de casa, pois em apartamento não existe espaço suciente para se acumular essas miudezas -- esses entulhos para os modernistas -- a exemplo de fotos antigas, livros velhos, recortes de revistas e jornais -- não diria um fogão de lenha mas, vamos lá, de alguma peça mais interessante que gostaríamos , nós os saudosistas, de as conservarmos como relíquias. Nesse sentido, com o intúito de fazer a minha parte, estou tentando, na medida do possível e com muito sacrifício, conservar o que vou garimpando e recolhendo por onde ando. Estou providenciando um caixote (baú) onde quero acondicionar algumas memórias que estão em meu poder e que, da próxima vez que eu for à minha terra, vou levá-lo comigo, abarrotado de estimados cacos, com o objetivo de lá deixar com alguém que esteja interessado e em condições de receber o que tenho zelosamente ajuntado. Por enquanto, o que posso vou registrando através do arquivamento por scanner e outros meios a meu alcance. Em outra derivação, por onde vou seguindo devagar, estarei escrevendo neste blog, que criei com a finalidade de escarafunchar o passado e espero, por parte das pessoas que não se sentirem ofendidas com as revelações que aqui forem surgindo, é de poderem elas também me ajudar a lembrar das coisas que precisam ser lembradas, pois muitas não podem cuntinuar esquecidas, de vez que cumpre-nos o dever de admitir, a despeito de tantas frustrações que, se as coisas continuarem andando como estão indo, daqui a pouco as nossas crianças, em Minas Novas não poderão reconhecer sequer um sino de igreja, uma terrina de ambrosia ou um simples caroço de pequi.

E, a respeito dessa triste realidade, só para conferir e comprovar esta minha teoria, tente perguntar a um sobrinho seu, ou ao filho inteligente de seu vizinho, se por acaso eles sabem enumerar o nome de seus avós, de seus parentes a partir do segundo ou do terceiro grau, no que você vai verificar a razão desse meu pessimismo. E por causa destas e de outras, e mais ainda por gostar de ser tão ranzinza e atrasado como o povo simples de antigamente, que prefiro seguir sonhando com a Euterpe Conceição, com a Malhação do Judas, com os Tambores do Rosário, com o Poço do Moinho e com a Casa do Miolo, a ter que assistir aos espetáculos deprimentes que lá na minha espoliada terra são patrocinados por quem se passa por moderno e culto, que se arvora de controlar tribunais e academias, mas que, já declinante não resiste a seus próprios fantamas.

Sou daqueles que precisam saber onde pisa para seguir em frente. Continuarei com essas catilinárias se verificar algum retorno. Havia jurado não me intrometer em coisas relacionadas à comunidade dos Pequilandenses, mas para tudo há um limite. Afinal trata-se da minha terra, continuo gostando de roer pequi, de dançar caboclo e mangangá e sempre que posso compareço aos locais onde se desenvolvam atividades populares e assisto, aqui mesmo no Bairro da Concórdia, as bonitas evoluções do Congado de Nossa Senhora do Rosário, tão emocionante como os antigos reizados de nossa terra.

Tenho um amigo recente, que fiquei conhecendo durante uma apresentação dos Congados no Museu da UFMG, um senhor já bastante idoso mas bem conservado e muito agradável, de nome Manoel Ramiro, que durante mais de 60 anos residiu em Pirenópolis (GO), onde se esbarrou depois de muito andar, levado por um padre que passou por Minas Novas durante uma missão religiosa no ano de 1922, quando ele tinha apenas 16 anos. Hoje esse nosso conterrâneo tem apenas 101 primaverss mas se mantém saudável e lúcido, e tem sido essa bissexta mas tão oportuna amisade a fonte segura, o meu livro predileto, a minha enciclopédia, o meu inestimável gravador, a minha máquina falante inesgotável de informações acerca daquela época.

Segundo o que me tem dito, apesar de nunca ter voltado a Minas Novas, mesmo no prolongado período em que morou no interior de Goiás recebia notícias de Minas Novas através de garimpeiros e mesmo pelas poucas cartas que recebia de parentes que ele descobriu que estavam morando em Chapada do Norte. A última parente, de Minas Novas, de quem teve alguma notícia foi de uma irmã, de nome Rosalina Benta.

Para minha surpresa e maior encantamento, quis o bom destino que eu me encontrasse com uma figura tão valiosa e que, além de tudo, fosse ele um dos muitos afilhados da minha bisavó Nazinha Mota, que eu não tive a ventura de conhecer, mas da qual ele afirma ter sido uma mulher muito bondosa, elegante e culta, justamente de acordo com as imagens que conferimos nos velhos retratos e nas informações saudosas dos parentes..

Esse meu amigo foi criado na Casa da Senhora Benta Amaral, da rua da Barra, e a sua mãe, que ele diz não se lembrar muito bem, teria sido uma das várias mendigas que se abrigavam nas ruínas da Igreja de São Pedro e que morrera quando ele era bem novo. Uma de suas irmãs, que se chamava Rosa, ele a deixara jovem, trabalhando como doméstica na casa do Coronel João André. Que das lembranças de nossa terra, que sempre o acompanha de forma mais marcante, uma é a grande crise ocorrida por volta de 1916-1919 quando uma grande seca deixou o rio Fanado quase totalmente seco e que as pessoas mais humildes não davam conta de enterrar os seus mortos, pois não era raro ocorrerem vários óbitos num só dia e numa mesma casa, pelo que se viam obrigados a amontoar os cadáveres em covas rasas providenciadas, às pressas, nos fundos dos quintais, pois não havia cemitério além dos pisos das sacristias e os porões sagrados das igrejas onde só podiam ser enterradas as pessoas brancas ou de posses. E se ainda não bastasse essa tragédia, provocada pela febre que se contraia nas catas de ouro, que ainda era abundante no leito seco dos córregos, a parte mais significativa das colheitas que se apuravam nas bateias tinha que ser, obrigatoriamente, entregue ao Coronel Zé Bento.



A memória prodigiosa do Meste Manoel Ramiro é tamanha que ele descreve em detalhies várias tragédias de que foi testemunha na sua infância, sendo uma delas a assombrosa passagem do Cometa de Haley, em 1910, quando ele tinha apenas 4 anos, mas que muito o marcou pois se encontrava tomando banho de rio, junto de várias outras crianças, quando morreu afogado um de seus irmãos mais velhos. Nessa época era vigário o Cônego Barreiros e este, no meio de todo aquele sofrimento, foi acusado pelo dito coronel da cidade, que não o tolerava como adversário político, tendo então mandado espalhar a nótícia entre aquela população desesperada, de que tudo de ruim que estava acontecendo era castigo mandado pelos poderes ocultos aos seguidores da igreja, sendo do Padre Barreiros a culpa maior por aquele sofrimento do povo. Fazendo-se valer da pobreza e da igonorância do povo, implantou no meio deste uma tamanha revolta que o religioso não teve outra saída senão a de se transferir para a cidade de Rio Pardo de Minas, onde moravam alguns familiares e lá permaneendo por muitos anos, até voltar novamente como vigário, chegando triunfalmente na cidade em Missão Especial, com a presença do Bispo Dom Serafim Gomes Jardim, de Diamantina. que logo depóis seria nomeado o primeiro Bispo de Arassuaí.



Muita coisa eu ouvi e aprendi com o Vovô Domingos, com meu avô Durval Coelho (uma enciclopédia de causos), com meus diversos tios-avós com os quais muito me relacionei (principalmente Timinguinho, Tio Zeferino, Tio Elias, Zé de Adélia e Maria de Araujo), de minha bisavó Idalina, do Tio Rodolfo, dos saudosos amigos Joaquim Martins, Miguel Mendes, Agenor Santos, Gabriel Borges, Edgard Pereira, Zé Coelho, Zé Branco, Waldemar César, Bastiana de Roxo, Corinto Fidélis, Joaquim Camargos,, Zé Vieira, Zé Brandão, Ana de Sinhá Júlia, Gentil Fernandes, Zé de Ana, Zé de Chico, Chico Louro, Zé Louro, João de Manezinho, Dona Celula, Dona Neide Freire, Zé de Calu, Dona Joana Machado, César Lopes, Julião, Zezé Amaral, Chico de Lioca, Padre Willy, Joaquim Barroso, Jovelino, Maria Félix e tantos outros, além das entrevistas que fiz com muitos idosos da zona rural dos municípios de Minas Novas, Chapada, Berilo, Francisco Badaró, Leme do Prado, Capelinha, Turmalina, Veredinha, Jenipapo e José Gonçalves de Minas, lugares do Vale do Jequitinhonha que tive a grata oportunidade de esquadrinhar, palmo a palmo, como funcionário do Banco do Brasil durante mais de 20 anos nessa região.
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Para mim, no entando, encontrar com o "tio" Mané, em Belo Horizonte, em pleno século 21 foi um dos mais extraordinários tesouros que já pude conhecer e nos seus causos, que ouço com a maior atenção, escuto a repetição daqueles que ouvi lá no Jequitinhonha, na confirmação viva daquelas histórias, que agora posso ir gravando com o maior deleite e o maior cuidado para que nada se perca e fique devidamente registrado com todos os detalhes.

É através do conhecimento sobre o pretérito que se pode conjugar o presente, em todos os modos, para se planejar o futuro, em todos os seus tempos.

Certamente não gostará da história aquele que a sua memória o incomoda.

Temos pela frente muitos causos ... Aguardem!
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BOAS, SEU CHICO MENDANHA:
OLHE, QUE A PALMEIRA VAI CAIR
VEJA SÓ, QUE COISA ESTRANHA,
SEM VENTO, SEM RAIO OU PRAGA DE NAIR.
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Sou bisneto de DOMINGOS MOTA, homem íntegro, reto como uma palmeira, mas que, na realidade se transformou em um árvore imensa e frondosa, com suas raizes aprofundadas na história de trabalho, de muita luta e de cons exemplois. Este é o pai de meu avô FELIPE MOTA que, por sua vez é o pai de minha mãe, que se chama ELISA MOTA. Também pelo tronco materno, sou bisneto de Idalina Sena, uma figura maravilhosa, a saudosa mãe de minha avó LOURA, esta que, por sua vez, é a mãe de minha mãe.
Convivi toda a minha infância, até aos 11 anos de idade, com esses meus bisavós, sendo que dos demais tive as melhores referências, pois meus avós, bem como os meus pais, sempre me contaram sobre suas histórias e me informaram a respeito de suas amáveis figuras. Com o "vovô Domingos" e com a "vovó Idalina" eu tive a felicidade e o privilégio de ouvi-los falar sobre os costumes, sobre as pessoas e sobre as coisas de nosso município, fatos que remontam aos meados do século 19, pois ambos viveram boa parte daquele período, e eram muito bem relacionados e atuantes na cidade. Suas casas eram cheias de parentes e havia uma imensa camaradagem, de agradável relacionamento entre as pessoas, cada uma cuidando de sua tarefa comunitária e assumindo responsabilidades, cuidados e orientações aos mais jovens.
Ter respeito aos mais velhos era um imperativo, mas nós, os meninos que éramos muitos, tínhamos a boa formação nesse sentido, pela qual recebáimos a recompensa de uma atenção meiga, carinhosa e pedagógica, permitindo-nos participar de um mundo de aventuras e de contentamento, com razoável carga de informações que bem poderíamos classificar, nos parâmetros modernos, como holísticas.

Domingos Mota, segundo ele mesmo, era filho adotivo de um cônego, que o tomou para criar, de Ana a irmã mais nova do padre, mãe-solteira que, muito jovem e indefesa, fora seduzida por um rico comerciante de diamantes e com o qual não foi permitida se casar por impedimentos religiosos da época, pois se tratava de um judeu sefaradino (marrano) mais tarde convertido ao catolicismo, na condição de cristão-novo.
Na região mineradora que compreendia ambas as margens do Jequitinhonha, a maior parte dos principais comprdores de ouro e diamante era de marranos (tempos atrás perseguidos pela Inquisição Portuguesa) vindos da região de Ribeirão do Carmo (hoje a cidade de Mariana). A família OLIVEIRA MOTA tem sua raiz na região de Setúbal (Estremadura dos Olivais e Guimarães), em Portugal, sendo que os descendentes daqueles primeiros mascates que compravam diamantes distrito diamantífero, fixaram-se no arraial de São João da Chapada, onde ele nasceu DOMINGOS MOTA. De lá foi trazido para Sucuriú (hoje Francisco Badaró), pelo seu padrinho o Cônego Zeferino Figueiró E, com a nomeação desse prelado para a Freguesia de Capelinha da Graça (hoje a cidade de Capelinha), ficou ele entregue aos cuidados do Cônego José da Cunha Barreiros, recém-nomeado Vigário Geral da Paróquia de São Pedro do Fanado, sede religiosa que naquela época era considerada como um verdadeiro bispado de toda a vasta região do Jequitinhonha/ Mucuri, não tendo a figura de um bispo apenas por questões relacionadas às divergências que existiam entre o mando político local e a direção da igreja. Os coroneis não admitiam a presença, em seus domínios, de qualquer pessoa influente que pudesse o contrariar ou ameaçar-lhe a hegemonia.

O cônego Barreiros, cujo pai era comerciante no Porto de Belpmonte, um rico comprador de diamantes e dono de várias concessões de lavras no rio Jequitinhonha, como era praxe entre os poderosos de então, conseguira aquela nomeação eclesiástica no ato de sua tonsura e ordenação paramentado em púrpura e já ornado com barrete branco, em Salvador, tendo sido imediatamente enviado como o sucessor do Cônego Pacífico Peregrino de Melo e Silva, então Coadjutor da Paróquia, já ancião e que seguiria como missionário na catequese dos índios da região de Poté, em razão de implicações políticas e pendências não resolvidas com o Coronel Zebentão.

Estas são algumas das memórias que guardei do meu bisavô. Lembro-me da sua figura simpática e respeitável, como zeloso administrador da Santa Casa de Caridade. Até ali, nonagenário, já havia exercido vários ofícios como escrivão de cartório, auxiliar de saúde, enfermeiro, boticário, sacristão, sapateiro, alfaiate, ourives, comerciante, fazendeiro e um misto de tudo isso, pois em cada uma dessas atividades demonstrava muito orgulho e jamais deixava de exercer os conhecimentos que possuia, para suprir as suas necessidades ou para socorrer alquém que lhe solicitava algum serviço. Era ele, por assim dizer, um mestre de várias artes e ofícios, que deixou espalhados discípulos em toda a região. Tomado de tantas atividades, procurava sempre cuidar de seu espírito e mantinha em sua casa um lindo oratório dedicado à Nossa Senhora do Carmo, em frente do qual, nos dias de sábado, reunia os parentes para a reza do ofício. Visitava as casas de parentes e aos amigos, cuidava de doentes e dava assistência aos presos. Admitia em sua residência e na chácara de sua propriedade as pessoas desamparadas, inclusive antigos escravos e seus familiares, dos quais zelava como legítimos parentes. Procurava atualizar-se através da leitura de muitos livros e jornais, ouvia lindas canções em um velho gramofone e era exímio músico. Seu instrumento musical predileto era o oficlide, uma curiosa e complicada combinação de tuba com saxofone que, para meu enlevo e admiração, tovaca nos dias de festa, nas novenas e nas missas solenes da igreja do Rosário.
Instrumento de sopro da família dos metais, assim como a tuba e a trompa, o OFICLIDE era dotado de chaves abafadoras no lugar dos pistos e bocal ao invés de boquilha com palheta. Era um cone fundido de cobre, crescente e curvado sobre si mesmo, muito apreciado durante o século XIX. Foi patenteado pelo fabricante francês Halary em 1821. A palavra "ophicleide", do francês ophicléide provém do grego "ophis", que significa serpente e "kleis", que quer dizer tampa ou abafador, combinação que pode ser traduzida como "serpente de chaves". O nome oficlide, criado para denominar o instrumento maior do grupo abrangido pela patente de Halary, logo se tornou genérico para todos os tamanhos. Os oficlides eram construídos com nove a 12 chaves, com inúmeras referências no ambiente da música popular, mas, devido as dificuldades do seu aprendizado, foi paulatinamente substituído nas orquestras e bandas pela tuba. No Brasil, seu grande instrumentista foi Irineu Batina, que em 1913 passou a atuar no grupo "Choro Carioca", participando da primeira gravação de Pixinguinha com a obra "São João debaixo d'água", tango do próprio Irineu, no qual este atuava ao oficlide e Pixinguinha na flauta.
Em Minas Novas, além do vovô Domingos existia um outro músico, aliás maestro, que também tinha um destes instumentos, que era seu cunhado, o oficial-escrivão de cartório João Lídio de Miranda Costa.

Certamente outra figura muito curiosa era o avô de CHICO DE CECÍLIA, de quem meu bisavô Domingos sempre se lembrava como santeiro e, segundo consta, foi ele quem construiu os retábulos da Igreja do Amparo. Por causa dessa nobre arte, igualável à de escultor, ele era conhecido por Teodorim Nicho. Também este inolvidável cidadão, de origem espanhola, era um homem muito culto, não se sabendo onde que ele estudou e adquiriu tanta sabedoria. Mas, o certo é que ele era bom conhecedor de química e de farmacologia, colocando no bolso muito doutor da cidade, segundo o meu bisavô. No quintal de sua residência o artista Teodoro Martins mantinha uma imensa oficina, dotada de forja, torno e caldeira onde ele fazia de tudo, desde ferramentas, pregos, calhas, tachos, almofarizes e alambiques, passando por engrenagens e muitos instrumentos musicais, como era o caso de um conhecido por Cobrão (cobra de cobre), do qual existia um exemplar, muito antigo e já em péssimas condições, na antiga tenda de ferreiro do saudoso Gentil de Odília, sucata que foi transformada em tacho, em capelo de engenho.

Foram várias as relíquias e maravilhas que a falta de conhecimento e incúria de algumas pessoas, associadas à esperteza e desonestidade de outras, como as de Salomão – antiquário que aqui apareceu, trazido pelo amigo Badaró, que se esbaldou e aproveitou da simplicidade de Olavo e de Alfredão, produzindo em pouco tempo o maior esvaziamento, em nosso município, de suas preciosidades e raridades, depreciadas até à condição de lixo, num processo de absolescência cultural programada com esse fim, levando para os museus dos grandes centros milhares de peças sacras, ferramentas, máquinas, equipamentos e instrumentos antigos, como os acima referidos, além de um belíssimo gramofone que existia na casa do meu bisavô e outro que pertenceu ao Mestre Ramiro, peças raras que daqui saídas a baixíssimo custo, mas produzindo lá fora fortunas para a velada sociedade estabelecida entre aqueles espertalhões.

Foi o Mestre Nicho que construíu, na cidade, um eficiente sistema de iluminação pública, que era alimentado a óleo de mamona, cujos candeeiros eram acesos por Vicente Pichileiro, na porta de cada pessoa interessada no seu serviço, pelo qual ele cobrava uma pequena taxa. Por causa desse serviço, ou melhor por causa da taxa cobrada e não dividida com a Dona Sinhazinha, a esposa brasileira do coronel, esse humilde e zeloso acendedor de lampião foi, certa vez, parar nas mamorras da velha cadeia onde ficou mofando até dar conta da renda. Era ele o pai dos irmãos Gentil e de Zé Odília, este último um folclórico solteirão e eterno pinguço, boêmio, seresteiro, ótimo alfaiate e músico que conhecia as três claves, de frente pra trás e de trás pra frente, como virtuoso pistonista.

Volto já ...

Estou coletando mais algumas informações para escrever sobre alguns temas interessantes, causos curiosos e intrigantes sobre nossa pouco conhecida história da VILA DO FANADO DE MINAS NOVAS.
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Aliás, falando de HISTÓRIA (assim grafada em MAIÚSCULAS), recebi e já reli pela décima vez, um dos livros mais importantes que tenho lido nos últimos tempos: O título do livro é "CAMINHANTE" uma resenha extraordinária de memórias, contos e crônicas, no mais elegante e primoroso estilo literário produzido por um MINASNOVENSE, um cidadão na mais completa acepção dessa palavra, um conterrâneo da mais nobre estirpe, um profissional do direito como não conheço outro igual, um empresário rural de maior sucesso, um amigo leal de mais de 40 anos de admiração e respeito, enfim, uma dessas pessoas iluminadas que são raras nos dias atuais pois reune em si, além de todas as qualidades que já enumerei, uma lista de tantas outras tão importantes e humanas da mesma forma que são sublimes e verdadeiros os seus sentimentos em relação à terra em que ele nasceu e na qual viveu apenas sua infância, de vez que o destino reservou-lhe a graça de frutificar em solos mais generosos.
O escritor de quem eu falo é JOSÉ TRANSFIGURAÇÃO FIGUEIREDO, um mestre da palavra perfeita, da ideia bem articulada, da poesia profunda, da música encantadora e do amor refletido nos mínimos detalhes. Poucos foram os livros que produziram em mim tanta emoção, tanta saudade e, diante de tanta beleza que dele abstraimos, senti grande orgulho pelo fato de ser uma obra-prima nascida do coração de uma pessoa tão especial e tão querida.
Ao cumprimentar o ilustre autor dessa preciosidade, porém, os meus efusivos parabéns são para a boa terra de ITAMBACURI, aquela cidade abençoada que o recebeu e o tem como legítimo filho, de vez que, sendo eu da mesma origem fanadeira, pelas vias do destino, desse fabuloso e eclético escritor me tornei duplamente conterrâneo e duplamente orgulhoso.
Primorosa, também, não podendo deixar de ser admirada, é a apresentação da obra, elaborada com o sentimento nobre da Professora Zenólia Pimenta de Figueiredo, uma das mais respeitadas mestras do interior mineiro e que transformou o Grupo Escolar Coronel Coelho de Capelinha numa referência pedagógica até hoje insuperável.
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Pena que a primeira edição de "O CAMINHANTE" já esteja esgotada mas espero que em breve uma segunda tiragem seja possível, inclusive para que aconteça uma especial rodada de autógrafos lá em Minas Novas, pelo que aqui fica a minha humilde sugestão.


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Eu sou o Lalau, amigo da Lili e também já tive um cão chamado Lobo, que nada tinha de mau!

Meu nome de batismo é Geraldo Magela, que recebi ainda antes de haver nascido, para fazer cumprir a promessa de minha boa bisavó Dadá (Idalina Sena) que, além do nome tomado emprestado do Santo, comprometeu-se ela, também, de que minha primeira comunhão e também dali a algum tempo, a minha futura ordenação como padre, além dos demais sacramentos de minha obrigação cristã, todos haveriam de ser testemunhados pelo milagroso servo de Jesus, lá na sua linda e famosa basílica da cidade de Curvelo, que é o "coração de Minas". O meu batismo, por força deste voto, também era compromisso incluido na promessa mas assim não logrou de ser realizado porque naquele tempo os meios de transportes eram raros e caros, enquanto que as crianças de então não podiam ficar pagãs por muitos meses, ainda mais se a dita fosse raquítica e nascida de um casal de poucos recursos financeiros, como era o meu caso em particular, com a agravante da imensa dificuldade que se apresentava, como o fato de morarmos tão longe do local combinado para acontecer tanta cerimômia, distante mais de 300 km. do lugar onde nasci, a velha e maltratada cidade de Minas Novas.

Dessa situação episódica decorreu o fato de ter sido batizado, às pressas, na mesma pia da Igreja de São Francisco em que, há decadas, também fora ungido o menino Serafim, hoje o nosso Cardeal Serafim Fernandes de Araujo.

Não foi lá aquela cerimônia pomposa como desejava minha bisavó, em virtude de uma implicância que o meu bisavô Domingos Mota tinha, e não procurava dissimular, em relação do Padre Sacramento, vigário daquela época, que por minha sorte momentânea, foi substituido pelo Padre Jaime, novato na cidade.

Mas a bem da verdade, todo e qualquer sacrifício se justificaria diante de tantos milagres que atribuo ao meu bom santinho, com a mais absoluta convicção de que todos os favores celestiais foram obtidos com a intermediação dele.

E não bastasse haver-me livrado de tantas mazelas como o sapinho, a diarreia, o sarampo, a catapora e a caxumba, das quais escapei com vida e saude, várias foram as vezes que aliviou-me o lombo para receber as boas varadas de cipó de marmeleiro e os homéricos beliscões aplicados pelas mestras, estas terríveis monstras que tinham a incrível coragem de punir-me, logo a mim que era tido como um verdadeiro santo -- para minha vovó tão puro e tão mimoso como o padrinho - apesar de bem saber que o afilhado não era assim tão bom aluno como afirmava ser, pois ele próprio fazia questão de repetir o ano só por implicância com as professoras que o perseguiam e dele exigiam sua frequência naquele vetusto Grupo Escolar que até o nome dava medo: Coronel Zé Bento (cruz-credo!), pois antes fosse Zé, o Capeta Que o Carregue... Contudo, foi nesta longeva escola, que era a única existente num raio de 100 km que, a trancos e barrancos, eu consegui tirar o meu primeiro diploma, por obra e graça de Dona Elizinha, Tia Celina e Dona Augusta que, além de ótimas educadoras, a primeira era prima de minha mãe e casada com o irmão de meu pai; a segunda é minha tia de verdade, pois é irmã de meu pai, além de ser minha madrinha; e a terceira ser uma prima distante, tanto pelo lado de meu pai como pelo lado de minha mãe. sendo que, por esta justa razão, sempre estaria tudo resolvido, principalmente pelo fato de que eu não concordava nunca e jamais de estudar aritmética, soletrar lições, decorar verbos, além de não acreditar nos heróis e fatos da história do Brasil, declinando-se dessas aulas e só concordando ficar na biblioteca escarafunchando, por conta própria, os livros e arquivos que ali se empoeiravam. E foi justamente por causa de um desses livros, que eu muito gostava, que me apelidaram com o nome de um dos personagens (Lalau, Lili e Lobo)e a partir daí apaixonei-me, não só pela Lili mas também pelas aventuras e peripécias que naquelas poucas páginas se narravam.

Antes de terminar o quarto ano do curso primário, um belo dia fomos colocados num jipe, tendo o primo Rodolfinho ao volante, eu e minha vovó assentados a seu lado, e no banquinho de madeira, da parte de trás, os meus pais, minha irmã Anália (Santinha) e nossa querida amiga Ritinha de Cecília, todos muito compenetrados e piedosos, que seguíamos para a longínqua Curvelo, onde chegamos depois de 03 dias de sofrida viagem, num dia em que terminava o famoso jubileu dos Padres Redentoristas. Era esse o dia da Festa de São Geraldo do ano de 1959.

Logo depois da minha cerimoniosa primeira comunhão, no meio daquele mundaréu de romeiros, minha Vovó Idalina toda garbosa em seu vestido azul escuro, coberta com um chale de lã preta e uma manta negra de filó caindo-lhe da cabeça, levou-me ela pela mão até um dos padres ali de plantão e a ele, apontando-me o dedo, apresentou-me como o futuro bispo, já eliminando, de pronto, com a etapa da ordenação como padre, quase que já antevendo a minha canonização.

Aquela foi a nossa primeira viagem (minha e de minha vovó), que além de ter o ineditismo de ser motorizada, foi a única que, para ela, excedeu aos 20 km que havia entre a sua casa e a de sua neta, minha tia "Menininha" que morava na vizinha vila de Piedade, hoje a progressista cidade de Turmalina. Pouco tempo depois, para minha tristeza, resolveu a boa velhinha, na sabedoria de seus quase 90 anos, partir para uma viagem ainda mais longa, onde está até hoje, ao lado de seus companheiros celestes, esperando o cumprimento do restante de sua promessa. O pior é que a Igreja Católica, aqui no Brasil ainda não permite que homens casados se tornem padres, enquanto que as outras igrejas, que não permitem santos, até que aceitariam-me lá até na condição de Bispo, mas tal presunção não me parece justa, pois estaria a imitar aquela atitude de minha vovó, naquela apresentação do sacerdote de Curvelo, no dia em que recebi a primeira hóstia.

E assim tem sido a minha vida, como aquela romaria que fizemos, sendo bem parecidos os caminhos imprevisíveis das viagens que devemos enfrentar, mesmo as de muita aventura, que devem transcorrer segundo a vontade de quem, na verdade, é o Dono de Todos os Destinos. O meu, até aqui, tem sido acreditar na misericórdia de Deus, seguir em frente e amar com toda a força de meu coração a memória de minha bondosa Vóvó, com a qual aprendi, muito mais do que nas lições de minhas tias-mestras, que o que se deve buscar é a sabedoria da simplicidade, a grandeza da fé e a felicidade que existe em cada coisa, em cada passo, até mesmo no compasso miúdo, quase arrastado, como aquele de sejeitinho de caminhar dificultoso, como quem pisando em ovos, com os quais a minha vovozinha, mesmo assim, conseguir chegar onde queria ir e que não a impedia de visitar-me todos os dias, levando-me de presente um figo maduro, um pé-de-moleque, uma manga sapatinha ou então um pedaço de requeijão molhado no mel.

As lembranças que tenho dessa é época é doce como o néctar das abelhas, mas a minha vida, que não é tão doce mas da qual não posso dizer que tem sido muito amarga, vai seguindo com as bençãos do meu padrinho São Geraldo Majela; e faço o possível para que o meu percurso seja agradável, seguindo temperando o doce ora com o ciclamato, ora com a sacarina, quando a gligose é muita, a insulina pouca e enquanto o médico não recomenda cortar a rapadura, que bem sabemos é doce mas não é mole.

Da minha saudosa VOVÓ DADÁ muitas histórias eu vou contar neste meu BLOG. E será através de minha memória que eu desejo homenagear essas queridas personagens de minha vida, que ainda fazem parte das minhas doces fantasias. E serão muitas as pessoas de quem me lembro cujas histórias mecerem ser contadas, de forma que, fazendo essa viagem de retorno, nesta preciosa máquina do tempo, vamos também resgatando a memória não escrita de nosso velho município de Minas Novas.

PRIMEIRA MENSAGEM DO BLOG DO LALAU

Esta é a primeira página do blog do Lalau!

Não tenho ainda muita noção de como isto funcionará, ou melhor, sei o que desejo -- que é escrever e transmitir as minhas idéias -- mas não estou certo de que, sozinho, possa dar conta de executar esse trabalho seguindo apenas as orientações que for descobrindo "navegando" pela internet.

O problema que de imediato vejo é o meu costume antigo de viajar por estradas, guiando o meu carro, enquanto que agora a viagem que estou iniciando será através de janelas virtuais, em um veículo estático.

Tudo isso prá mim é coisa nova mas creio que, mesmo com as limitações técnicas, será esta viagem muito útil e agradável e assim vou me esforçar para chegar lá adiante, aprendendo sempre, utilizando deste moderno meio de comunicação.

Fico feliz pois finalmente poderei publicar alguma coisa que de há muito que desejava, mas vinha tentando fazê-lo através de jornais ou até mesmo de um livro, nada que fosse lá coisa muito primorosa ou importante, pois nunca tive e não terei quaisquer pretensões literárias, contudo humildemente espero que tenham alguma serventia para não deixar que certos temas sejam sepultados no esquecimento coletivo.

Quero antes de começar esta jornada, deixar bem claro que, além das citadas limitações técnicas, existirão os percalços e os tropeços que espero não inviabilizem o bom entendimento deste projeto, levando-se em conta o fato de saber-me quase analfabeto de pai, mãe e parteira.

Nessas condições publicar um livro seria complicado, pois depois de impresso um texto, este se torna definitivo. Pelo blog, ao contrário, sempre haverá a possibiliade de revisões e correções, mesmo durante o percurso da viagem, eliminado eventuais digressões e as prováveis agressões vernaculares que, na medida em que forem sendo observadas pelo leitor, espero que este se digne de denunciá-las, via deste mesmo BLOG, de vez que, com esta contribuição, desejo o aperfeiçoamento literário.

Sendo assim, as janelas se apresentam como providenciais mesmo sendo na condição virtual, pois aqui se abrem para socorrer-me e possibilar a minha aventura pela seara antes exclusiva dos intelectuais, que tanto admiro e invejo.

A vida passa, o tempo passa, a viagem passa. E como diria o grande Poeta: "Eta vida besta, meu Deus!" (*)

A própria história da humanidade, quando a observamos através da memória, são janelas que se vão abrindo, muitas delas que até mesmo ficaram fechadas durante muitos anos por falta da curiosidade de alguém chegar-se até elas para lhe descerrar as trancas. E janelas não foram imaginadas para ficarem fechadas. A função primordial delas será sempre a de permitir a ventilação, a oxigenação e, muito mais que isto, deixar que entrem luz e calor nos ambientes sombrios, eliminando os fungos, as bactérias e demais elementos nocivos que gostam da escuridão.

Minha finalidade não será outra senão a de colocar pra fora, através dessas janelas, umas ideias que tenho a respeito de projetos relacionados a Minas Novas e região, buscando sensibilizar conterrâneos e amigos daquele lugar a se engajarem numa campanha de libertação daquele marasmo, daquela inércia, para não dizer daquele lamentável atraso em que se encontra o nosso município em relação às demais regiões do Estado de Minas Gerais.

Muitas e muitas janelas estarão à nossa espera para que sejam abertas. Mas as portas também são muito importantes e devem estar posicionadas, de preferência, ladeadas por muitas janelas através das quais possam entrar os raios do sol da manhã e as bênçãos da Natureza.

Portas imensas com centenas de janelas -- como as que existem no Sobradão de Minas Novas -- porém, continuarão sem muito sentido, principalmente se as nossas construções seguirem no mau exemplo daquele velho ícone arquitetônico, tão imponente e bonito, mas que tem atravessado séculos como um espigão oco, desocupado, ocioso e cheio de fantasmas.

Vamos abrir as nossas portas e janelas, deixando entrar luz, espantar fantasmas e micróbios, mas deixando-as livres para entrarem os espíritos desarmados e, mais ainda, aqueles que forem portadores de bons flúidos, desejos e de muitas boas propostas.

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No último dia 10 de janeiro foi o aniversário do meu grande amigo MANOEL RAMIRO, data em que completou 102 anos de idade!

Convidado para a festa, fui até à casa dele, onde mora com vários companheiros idosos, todos muito cultos e solidários, que comungam do mesmo projeto de resgate dos valores relacionados à cultura afro-brasileira.

O grupo de amigos, com apoio de folcloristas, organizou uma linda comemoração, durante a qual o homenageado nos brindou com a declamação de vários poemas, alguns de sua própria autoria, tendo ele revelado, causando-nos muita emoção, todo o périplo de sua vida pelos diversos lugares em que trabalhou, sempre como fiel colaborador do serviço religioso, uma autêntica saga que está a merecer divulgação, o que me propuz a fazê-lo, naturalmente com a prévia aquiescência dele.

Esse incrível conterrânio -- apesar da idade -- tem uma vitalidade de fazer inveja a muito jovem: não descarta a possibilidade de fazer uma viagem a Minas Novas, tão logo ele tenha essa oportunidade, pois no momento encontra-se envolvido em vários compromissos inadiáveis assumidos com a Fundação Casa do Povo de Ingoma.

Segundo ele, depois de quase 80 anos distante é bem provável que não vá encontrar lá muita coisa que tenha restado do seu tempo de rapaz. Muito saudosista e sonhador, guarda consigo velhos recortes de jornais daquela época, tendo também algumas fotos antigas, dentre elas uma da década de 1940 que lhe fora enviada pelo seu amigo e admirador, o saudoso jornalista Nenem César, (com o qual manteve intensa correspondência, por algum tempo), retratando o sobradão sendo reformado.

A partir daquela foto (anexo 1, no início desta página) ele montou uma maquete (anexo 2) em papelão, que orgulhosamente enfeita a cabeceira de sua cama ao lado de uma imagem de São Gonçalo do Amarante.

A sua expectativa é a de que, com tanto progresso que espera ver em sua cidade natal, encontre lá muitas construções mais modernas e amplas, como a da foto (anexo 3) de um prédio que ele viu na cidade de Porto (Portugal), em uma de suas viagens à Europa, que consta de um lindo album que ele me mostrou, fotografia interessante que eu a copiei no scanner e que adiante reproduzo.

Fiquei pensativo e para não entristecê-lo ou decepcioná-lo, fiquei calado e nada comentei.
Por enquanto vou ficando por aqui e prometo que vamos ter muito assunto pela frente, agora que tenho a maravilhosa assistência desse grande amigo que, por feliz acaso, pouco antes do seu aniversário, encontrei durante uma festividade promovida pela UFMG em homenagem a seus antigos colaboradores, inclusive ao nosso ilustre minasnovense a quem, a partir de agora, vamos conhecer, respeitar e dele ter justificado motivo de orgulharmos.

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