domingo, 6 de dezembro de 2015

VIVA BELELÉU, NO SALÃO DA LIGA CATÓLICA ”JESUS, MARIA E SÃO JOSÉ”


O Salão da LIGA era lindo e um lugar sagrado para a reunião dos “liguistas” que ali se congregavam, devotamente, para saudar a figura do “Patriarca São José”, o operário exemplar e chefe da Sagrada Família de Nazareth, para ali receberem os ensinamentos contidos na cartilha de FREDERICO OZANAN e de HENRIQUE BELETABLE, através da catequese bem administrada pelos confrades LUIZ LEITE e LEVY MARIA DE SÃO GERALDO.
Era, também, aquele local, um ambiente de cultura e entretenimento, de onde era transmitida, pelo possante serviço de auto-falantes, uma bem programada resenha de músicas populares, com anúncios variados, noticiário local, da agenda social e, principalmente, dos interesses relacionados aos liguistas e à Sociedade Rural que, pela união dos lavradores, seus associados, pelo resultado do suor de seus rostos, conseguiam manter aquela entidade como uma das mais atuantes e bem sucedidas no seu propósito de defender a classe, de buscar os poucos benefícios que tinham direito e de se fazerem ouvir como o sustentáculo da economia, embora esse galardão jamais lhes fossem reconhecido em nosso município.
A importância da LIGA e sua força, em todos os segmentos de nossa comunidade, não ficaram despercebidas pelos políticos e até mesmo pela Igreja Católica, cujo Bispo Diocesano da época, por receber pressões “vindas de cima”, no período pós 1964 resolveu desestimular os ânimos dos liguistas e se apressou a colocar na berlinda aquela instituição, como se fosse uma peça perigosa aos interesses comunitários.
Sobre esta questão política, que afetou a existência da LIGA, voltarei a abordar em tempo oportuno. No momento, recordo-me dessa saudosa organização apenas no intuito de fazer referência a um fato muito interessante e bucólico, ao qual presenciei no meu tempo de menino, e que transcorreu no interior daquele lindo salão de festas, onde o povo em geral, logo depois da missa dominical das 10 horas se reunia para o tradicional “Chá dos Liguistas”. Naquela manhã, além da inauguração solene do retrato do fundador da LIGA, o grande religioso, nosso vigário, que era o Monsenhor Otaviano Magalhães, haveria a estreia do novo equipamento do Serviço de Auto-Falantes, além de toda a nova decoração do palco, com suas cortinas grenás (pano de boca) com corrediças mecânicas e outras atrações, como um lindo relógio CUCO que foi colocado numa das colunas do prédio, de onde, a cada 60 minutos, dava o “ar de sua graça” anunciando com precisão as horas, marcadas no vai-e-vém daquela interessante avezinha que cantava quantas vezes fossem as horas transcorridas. E aquela, como não poderia deixar de ser, era uma das maiores novidades, para grandes e pequenos que se reuniam, em frente daquele engenhoso relógio, para admirar aquele lindeza de façanha.
Até aquele tempo, o tempo decorrido e marcado pelas horas dos relógios, também era anunciado pelas batidas do martelo ao sino da Igreja do Rosário, que era acionado precisamente pela imensa máquina do centenário relógio que ficava na sua torre esquerda, cujo funcionamento era controlado pelo mecânico Victor Nery. O Sineiro daquela igreja era recomendado sempre no sentido de não interferir naquele mecanismo, devendo usar somente o sino da torre da direita, todas as vezes que tivesse de utilizar aquele instrumento musical para suas finalidades usuais.
E, sendo assim, o sineiro nem mesmo chegava perto daquela “máquina”, cujo acesso era permitido tão somente ao zelador Miguel Mendes e ao referido mecânico, encarregado de sua manutenção periódica.
Como todas as pessoas normais, uma são mais curiosas, e desse jeito o sineiro BELELÉU não se continha no desejo de ver como funcionava aquela máquina, tão inteligente, que dispensava os seus serviços e, além do mais, sabia como ninguém observar o tempo e informar as horas com tanta presteza e exatidão.
E a chegada daquela nova máquina, muito mais moderna e encantadora, tinha a mais aquele ingrediente, que era um atrevido e impertinente passarinho que, a partir daquele dia, seria muito mais importante para a população que, certamente, haveria de se esquecer do velho relógio da torre da igreja do Rosário, quando seu anuncio fosse transmitido pelo microfone e pelas diversas cornetas de auto-falantes espalhadas pela cidade. E, a respeito disto, o jovem sineiro se sentia vingado do “relógio de Seu Victor” e ali também ficou prostrado a admirar a miraculosa aparição do passarinho que, muitas vezes, logo abriria aquela janelinha e surgiria alegre e radiante, emitindo seu canto agudo anunciando cada hora no compasso melodioso e encantador para a dança, o rodopio e o bater frenético de suas asas.
Havia, já. um bom tempo que soaram-se as onze horas e o sineiro, cuja curiosidade aumentava a cada minuto que se passava, posicionou-se bem próximo do relógio para, quando fossem dadas as 12 horas do meio dia, ele haveria de descobrir as razões daquela maravilha e, no exato momento, de repetidas aparições, não se contendo em si de prazer e de encantamento, com as duas mãos agarrou o CUCO e este, não tendo como voltar para dentro de seu esconderijo, trouxe consigo, para fora daquela caixa de madeira torneada, as engrenagens e os eixos do lindo e precioso relógio, cujas peças se espalharam pelo salão.
E foi assim que o Salão da Liga Católica ficou sem o seu CUCO e o nosso sineiro Beleléu, para pagar pela sua curiosidade, foi obrigado a prestar seus serviços especializados, tendo-se de desdobrar, cada vez mais, como sineiro das demais igrejas, capelas e também do cemitério da cidade, ofício no qual, aliás, ele se revelou inigualável profissional, em cujo mister ele continua sendo insuperável.
E em parte, tinha ele lá as suas razões: Como é que um pássaro tão pequenino e forasteiro poderia ser mais importante que o minas-novense José Maria Fernandes, legítimo neto de dois grandes músicos e mestres (Frederico Roxo e João Benedito) ???
E, apesar do lastimável destino do CUCO, um pássaro que nem existe no Brasil, e que nem tanta falta nos faz, VIVA O NOSSO ETERNO E BENFAZEJO BELELÉU!!!

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