O Coyote:
Postagem especial em homenagem a meu grande amigo ACHILES DE CASTRO MACIEL e outros amantes da boa leitura.
Postagem especial em homenagem a meu grande amigo ACHILES DE CASTRO MACIEL e outros amantes da boa leitura.
Após escrever um post sobre a estonteante Brigitte Montford, a famosa agente da CIA que atende pelo codinome de “Baby”, é evidente que não poderia esquecer de um outro personagem emblemático da outrora famosa e hoje saudosa Editora Monterrey. Estou me referindo ao “Coyote”, o justiceiro mascarado criado pelo escritor espanhol José Mallorqui.
Posso assegurar que tanto Brigitte Montford quanto
o Coyote foram os grandes responsáveis pelo sucesso editorial da Monterrey,
dando aos seus criadores, respectivamente, Lou Carrigan e José Mallorqui o
status de grandes estrelas, responsáveis pelo sucesso de vendas da editora.
Tudo bem que a Monterrey também publicava outros gêneros de livros de bolso;
lembro-me da série FBI e de outros livros de faroeste onde choviam balas prá
todo lado, mas essas publicações exerciam apenas o papel de coadjuvantes, já
que os grandes astros, sem dúvida alguma, eram o Sr. Coyote e a espiã, filha de
Gisele.
Mas como o assunto do post é o nosso bandoleiro
hispânico, vamos esquecer Brigitte Montfor – que já teve um post todinho seu –
e se concentrar nesse personagem de bigode, roupa negra ao estilo mexicano, com um sombrero,
duas pistolas e uma máscara que lhe cobria a metade superior do rosto.
O Coyote pode ser
considerado o pai dos livros de bolso no país, já que tudo começou com ele em
meados dos anos 50. Em 1956, logo após a sua fundação, a Monterrey lançaria o
formato no Brasil tendo como protagonista o justiceiro mascarado. Brigitte
Montford só apareceria anos depois. Por isso, o Coyote foi o grande desbravador
do gênero livro de bolso aqui na terrinha.
Tudo começou
quando os donos da editora Monterrey descobriram que o novo formato estava
fazendo o maior sucesso na Espanha, e assim, resolveram fazer uma experiência e
introduzi-lo também no Brasil. De quebra, os espertalhões (no bom sentido, é
claro) da Monterrey também ficaram sabendo que um herói parecido com o
Zorro estava alavancando milhares e milhares de vendas de uma editora espanhola chamada “Edições Cliper”, situada em Barcelona. O herói mascarado era um fenômeno de vendas por lá. A Monterrey não dormiu no ponto e comprou os direitos de publicação no Brasil, relançando em terras tupiniquins o emblemático herói mascarado. Com isso, a editora, recentemente inaugurada, teria dois trunfos na mão: seria a pioneira no lançamento dos livros de bolso por aqui e teria um personagem que poderia virar uma febre nacional. Não demoraram nem um minuto sequer e “soltaram” as novidades no país. O sucesso foi imediato e acabou estimulando outras editoras concorrentes, como a Bruguera e Tecnoprint, a lançarem, também, o novo formato de livros. Enquanto isso, “O Coyote” repetia no Brasil o mesmo sucesso que havia conseguido na Espanha.
Apesar das
histórias do Coyote terem sido lançadas no Brasil entre o final da década de 50
e início dos anos 60, a sua origem ainda é mais remota. Vem lá da década de 40!
Mallorqui escreveu a primeira história do justiceiro mascarado em 1944 (“A
Chegada do Coyote”), o personagem fez tanto sucesso entre os leitores, que Mallorqui
resolveu transformar a sua história – que a princípio deveria caber em apenas
um lívro, e Zefini – em uma série. Resultado: o autor espanhol acabou
escrevendo 192 títulos até 1953. Dessa forma, ele conviveu com o personagem
durante nove anos. E neste período, por quase uma década, o Coyote nunca cansou os leitores com as suas
aventuras, provando que já havia se transformado num verdadeiro ícone da pulp
fiction.
Confesso que na
minha adolescencia fui um dos grande fãs do Coyote e me arrependo de ter
perdido através dos tempos a minha coleção de livros com as histórias do
personagem. Lembro-me de que enquanto o meu irmão mais novo tinha o hábito de
trocar as histórias que já havia lido, eu fazia questão de guardar numa caixa
todos os meus livros de bolso. Por falar nisso, tinha duas caixas em meu
quarto: uma para os livrinhos da Brigitte Montford e outra para o Coyote. Para
mim não importava a baixa qualidade do material interno, ou seja, as páginas de
papel jornal, o que valia para mim eram as histórias emocionantes e
principalmente... bem... Ok, vou confessar: as capas... A arte das capas eram
de primeira, verdeiras obras primas e estimulavam a leitura. Acredito que se
aqueles livrinhos feitos com um papel vagabundo, de péssima qualidade tivessem
capas simplórias e sem nenhum atrativo, ninguém iria se interessar pelas suas
histórias e então, com certeza seria a falência certa da Monterrey e também da
Clíper.
Para você que era um leitor ávido das histórias do
Senhor Coyote, mas não se recorda muito bem da origem do personagem e do enredo
central da trama, vamos lá. Dom César de
Echagüe, filho homónimo de um rico fazendeiro californiano, regressa a suas
terras em 1851, recentemente incorporada aos Estados Unidos. A novela retrata
uma Califórnia habitada por uma próspera sociedade hispana mas recém conquistada pelos invasores
yanquis, que tratam de se apoderar por todos os meios das minas de ouro que os
californianos lhes ocultam. César de Echagüe é desprezado por todos na
Califórnia que acreditam ser ele covarde e afeminado. O rapaz é depreciado até
mesmo pela sua noiva Leonor de Acevedo e pelo próprio pai, Dom César. Eles não
sabem que o jovem César – tido como covarde e afeminado – na realidade, leva
uma dupla vida como O Coyote, um justiceiro mascarado que luta pelos direitos
dos hispanos.
O principal inimigo do herói
mascarado é o general Clarke, o tirano conquistador da Califórnia que procura
tirar as propriedades dos californianos à força, utilizando, inclusive, táticas
mafiosas. Como as terras do pai e dos familiares da noiva de Cesar são as
maiores e as mais ricas do país, o general Clarke torna-se obcecado em tomá-las
dos seus donos. Para isso, ele é capaz de tudo, desde contratar perigosos
pistoleiros até preparar armadilhas ardilosas com o objetivo de destruir Dom
César e Leonor.
Este enredo central foi
responsável pelas 192 histórias do Coyote que ao longo de quase uma década
trocou chumbo com vários capangas de Clarke e também com o próprio general.
Emoção, traição, amor, enfim, uma miscelania de sentimentos recheou as
histórias dos 192 livros escritos por Mallorqui, mas com certeza, o momento
mais marcante foi quando Leonor descobriu a identidade secreta de César. Quando
soube que o supostamente covarde e afeminado rapaz era na realidade o temido
Coyote, a sua paixão se transformou num rio de lava incandescente resultando em
casamento. Futuramente, Leonor viria a falecer no momento em que daria a luz ao
primogênito de César, que por sua vez, afogaria a tristeza nos braços de um
novo amor: Guadalupe Martinez.
Outro momento marcante na saga
do “bandolero” foi o dia em que após ter desmascarado o general Clarke, teve de
exilar-se do país para escapar com vida. Me lembro vagamente dessa história,
foi uma das minhas favoritas. O Coyote, espertamente, se passou por morto e
depois voltou para se vingar. Acho que foi depois disso que Leonor descobriu o
seu alter-ego, vindo a se casar com ele.
E então? Deu pra matar um
pouco de saudades do enredo do personagem? Espero que sim.
José Mallorqui criou o Coyote
inspirado em um outro mito: o Zorro, de Johnson Mc
Culley. O próprio Mallorqui afirmou que bebeu na fonte de Mc Culley para criar o seu personagem
hispânico. Se por um lado, o Zorro tem o costume de castigar os seus oponentes,
fazendo um “Z”com a espada no peito ou no rosto da vítima; o Coyote também tem
a sua mania, e diga-se, bem peculiar. Ele dispara um tiro na orelha do inimigo.
Dessa forma, aqueles que tiverem um ferimento a bala no ouvido ficam marcados
como os infelizes que cruzaram o caminho do justiceiro e se deram mal.
Além de ser um pistoleiro muito rápido e com excelente
pontaria, o Coyote é um cavaleiro experiente; mas sua principal arma é a
inteligência com que manipula os seus oponentes, chegando ao ponto de fazer com
que eles se matem por si próprios.
Acredito que
aqueles que estiverem lendo esse post e que em sua adolescencia foram fãs
incondicionais do Sr. Coyote tinham – ou ainda tem – uma curiosidade imensa em
conhecer um pouco mais a fundo a vida do criador do personagem: José Mallorqui
ou simplesmente J.Mallorqui. Pois é, encontrar material suficiente na Rede para
conhecer à fundo a vida desse escritor espanhol é coisa
para garimpeiro. Após fuçar em vários sites, quase nenhum deles em nossa língua
pátria, descobri que a vida de Mallorqui não foi fácil, com o surgimento
freqüente de um grande número de tragédias.
Antes de vir ao mundo, ainda no ventre de sua mãe,
Mallorqui já experimentava a sua primeira decepção. O seu pai abandonaria
a sua mãe, Eulalia Mallorquí Figueroa, momentos antes da criança nascer.
O pequeno Mallorqui foi, então, criado por sua avó Ramona que algum tempo
depois o matriculou num internado dos Salesianos.
Com professores excelentes que estimulavam,
principalmente, a leitura em seus alunos internos, o futuro criador do “Coyote”
adquiriu nesse ambiente o gosto pela escrita, passando a criar várias histórias
que faziam a alegria de seus colegas de internato.
Ainda criança, perto de atingir a adolescência, o
escritor receberia um novo golpe em sua vida; como ele mesmo escreveu anos mais
tarde, em 1967: "Num dia foram procurar-me à saída do colégio e
disseram-me que Ramona, minha avó, tinha morrido. Senti-me infinitamente só. E
assim estive até que conheci à que hoje é minha mulher".
Além da língua nativa, Mallorqui falava
fluentemente francês e inglês e trabalhou durante um bom tempo como tradutor em
uma biblioteca espanhola. O trabalho de tradutor o animou a arriscar escrever
os seus primeiros livros, nascendo assim, várias histórias de western para uma
coleção da Editora Cliper, em Barcelona,
chamada “Novelas do Oeste”. Esse seria o início para o surgimento de sua
maior criação:
“O Coyote”.
Fã incondicional do Zorro, Mallorqui teve a idéia de criar um personagem
baseado naquele herói, e assim surgiria o nosso “bandolero”.
Como já disse, a série atingiu 192 títulos até 1953
e tornou o seu criador famoso em toda Espanha. Com o fim do legado do
Coyote, Mallorqui ainda tentou se
aventurar em outros gêneros como ficção científica e terror, mas não deu certo,
já que as obras lançadas se tornaram grandes fiascos.
A tragédia continuaria a rondar a vida do escritor
espanhol quando na década de 60 acabou perdendo grande parte da audição. Alguns
anos depois, para ser exato em 1967, sua mulher viria descobrir que estava com
leucemia, morrendo poucos meses depois num leito de hospital.
No início de 1972, por causa de um grave problema
nas costas, Mallorqui ficaria impossibilitado de continuar escrevendo, sendo
obrigado a contratar uma secretária para escrever as suas histórias, enquanto
as ditava.
Muito depridmido por não ter mais a sua mulher, se
suicidou na madrugada de 7 de novembro de 1972. O bilhete que deixou
representava toda a sua angustia e solidão:: "Não posso mais. Mato-me. Na
gaveta de minha mesa há cheques assinados", e assinou "Papai". E
embaixo: "Perdão".
Cara! Quantas tragédias! Mas voltando a falar
do Coyote, um detalhe que muitos fãs desconhecem é que o personagem também
invadiu as telas dos cinemas. Isso mesmo! A obra de Mallorqui serviu de inspiração
para cinco filmes entre cinema e TV. Os mais conhecidos foram dois. O primeiro
deles, “O Coyote”, lançado em 1955, sob
a direção do espanhol Joaquim Luis Romero Marchent. O mesmo diretor produziria
no ano seguinte “A Justiça do Coyote”. Os dois filmes tiveram um sucesso apenas
razoável, curiosamente, não repetindo o grande sucesso dos livros de bolso.
Bem
pessoal, depois dessa viagem no tempo, juro que bateu uma “saudade doída” dos
meus livrinhos de bolso da Editora Monterrey com aquelas capas “chique nu
úrtimo”. Esse pistoleiro mascarado realmente marcou grande parte da minha
geração. Mas tudo passa... tudo passa... Sendo assim, só posso dizer: que pena.
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