BLOG DE GERALDO MOTA (O BLOG DO LALAU) tem como objetivo divulgar a arte, o folclore, as notícias do cotidiano e as pontencialidades econômicas de toda região fanadeira. ESTA FOTO ACIMA É UMA HOMENAGEM A "ZÉ DE DURVAL", meu pai, que muito se orgulhava de ter sido "Rei do Rosário" e que me ensinou a valorizar o trabalho honesto, as tradições, o folclore, o artesanato, como verdadeiro exemplo de cidadania e de amor à cidade histórica de Minas Novas.
sábado, 20 de fevereiro de 2021
LENDAS DA VETUSTA CIDADE DE MINAS NOVAS
ZÉ DO GRÓ
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Zé do Gró era um menino muito levado e malvado que não obedecia a sua
mãe, desrespeitava os mais velhos, não ia à missa e naquele tempo já era viciado
em uma droga que ele mesmo sabia como extrair do carapiá nativo da beira do
ribeirão Bonsucesso. Vivia ele atirando pedras nos teiús e preás, armando laços
e arapucas, no seu intuído malévolo de pegar andorinhas e corujas, espalhando
paris malvados, arapucas e alçapões tinhosos para apanhar traíras e piabanhas,
mesmo nas épocas das piracemas: era um terrível, inimigo da natureza, terror das
famílias e das lavadeiras que viviam reclamando de suas malasartes e estripulias
nas beiras de rio. Tendo ele, certa vez, desmanchado o ninho de uma inofensiva
garricha, esta lhe jogou pragas pelo mau que estava causando a seus inocentes
filhotes e, como todos sabem, “praga de mãe”, mesmo que seja de uma inofensiva
passarinha, pega fogo que nem faísca de raio em candeia seca. Dias depois deste
fato, quando o biltre, mais uma vez, roubava os ovos no ninho da coruja,
tradicional moradora da torre esquerda da igreja do Rosário, o mocho que ali se
posicionava de plantão, aplicou-lhe uma forte bicada no cocuruto da cabeça, o
que lhe causou repentina cegueira, da qual mais nunca se recuperou. E, destarte,
cego e desorientado, resultou em sua triste sorte de perambular de porta em
porta, passando a depender da caridade pública e se sujeitar ao tormento das
pilhérias e aprontações que lhe faziam os antigos companheiros de malvadezas,
isto até que certo dia, sentindo-se desprezado e só, desapareceu da cidade e não
foi mais visto andando em lugar algum. Passaram-se anos e anos, quando – certo
dia - os zeladores da igreja do Rosário resolveram reformar a torre do relógio,
encontrando no vão do forro de madeira e do telhado, um corpo já bem seco, em
completa decomposição, - pele e ossos - do cadáver daquele endiabrado que não se
sabe como, ali foi parar, talvez para fugir de si mesmo, na dor de sua
consciência, para purgar de seus tantos pecados. Retiraram daquele local o corpo
esquelético do finado Zé do Gró, aquela ossada inconveniente mais parecida a um
quiabo chocho ou a um sapo seco e, como ninguém quisesse enterrá-lo,
colocaram-no provisoriamente em um esquife, posicionado de pé, perto da grande
caixa do relógio, e ali ficou ele "esquecido" durante muitos anos, talvez para
dar exemplo aos meninos maus da cidade, até que um dia seus restos foram,
finalmente, levados ao cemitério pelas mãos caridosas de Corinto e Joaquim
Camargos, dois dos zeladores daquele templo, tendo assim a Igreja do Rosário
ficado livre daquele incômodo esqueleto e a igreja, também, dos voos acrobáticos
dos morcegos que tanto a empestavam.
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SÃO BENEDITO DOS NEGROS DE MINAS NOVAS LENDAS E CAUSOS ANTIGOS DE MINAS NOVAS
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“O’ SÃO BENEDITO, OLHA LÁ, OCÊ ANDA
COMIGO DEVAGAR”...!
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“Oia o tolete, o’ calunga...” As lendas e os “causos” fazem
parte da lembrança de um povo, principalmente quando se trata de uma cidade tão
antiga, como é o caso de Minas Novas, onde a oralidade ainda presta um grande
serviço à memória, possibilitando que os valores tradicionais sejam renovados e
que jamais se perca o fio condutor de nossa cultura, a qual vem lá da remota era
da mineração que, antes dos bandeirantes de origem paulista, aqui já era uma
atividade amplamente exercida pelos nossos antepassados sefarditas, que
mineravam o ouro em parceria com os escravos fugidos que na Vila do Fanado e na
Vila de Santa Cruz buscavam abrigo e proteção contra os feitores e capitães do
mato. E será, exatamente, dessa tradição judaica que, no decorrer dos tempos, de
forma indelével resultou algum ranço que desde aquele tempo alimentava a
“pirraça” entre cristãos e os “hereges” que somente muito tempo depois vieram a
se converter ao catolicismo, pela força das circunstâncias e pelo temor que
produzia a fogueira da “Santa Inquisição”. Ouvi e guardei em meus registros
muitos desses causos e lendas, que me foram contados pelas pessoas mais idosas
de nossa cidade, com os quais eu convivi no meu tempo de criança, como meu
bisavô Domingos Mota, minha bisavó Idalina Sena, além de meus tios José de
Araújo, Aristides Cristianismo (casado com minha Tia Ritinha Barreiros Chagas),
meu avô Durval Coelho e também primos de meu pai, como Zé de Aristides, Zé
Branco e outros, todos que vinham de antiga linhagem de grandes figuras como o
famoso Jacinto Acarajé, Ana Cirina, Cônego Barreiros, Padre Joaquim do Espírito
Santo e outras figuras da maior importância em nosso passado fanadeiro, com os
quais muitos deles foram contemporâneos. São casos e lendas, a meu ver
fabulosos, mas que eram contados como verídicos e que causavam (e ainda causam)
grande curiosidade e, em certas situações, levam-nos a reflexões sobre sua
procedência e se na realidade contêm alguma verdade, tamanho o significado e a
expressividade do conteúdo daquelas narrativas. São muitos os casos de milagres,
de benções, de acontecimentos maravilhosos e ternos, mas também muitos de
assombrações, de “visões e miragens” e, enfim, até de terríveis pragas, castigos
com destruição, raios, ventanias, trovões, tempestades, enchentes, inundações,
doenças, desastres e muitas mortes. Contaram-me, certa vez, que lá pelos idos do
final dos anos 1800, havia em nossa cidade um rico fazendeiro, de origem judaica
(sefardita), que guardava no porão de seu sobrado um verdadeiro tesouro que
vinha desde o tempo das minerações, o que lhe permitia uma vida de nababo,
vivendo da usura, como agiota, e com o tráfico dos ex-escravos, que ele atraia
para seu serviço de mineração, escravizava-os novamente e os revendia de forma
sórdida e covarde. O sobrado que servia de residência da família ficava próxima
à antiga Igreja Matriz de São Pedro, cujo campanário era composto de estridentes
sinos e estes, durante a celebração em honra a São Benedito, ao ser bimbalhado
para saudar a procissão que passava, fez afugentar a sua mula predileta de
montaria, quando chegava de uma viagem, quando foi arremessado ao chão, de onde
se levantou encolerizado e se arremeteu contra o andor que vinha pela rua,
dirigindo impropérios e gestos acusatórios ao santo, provocando verdadeiro
tumulto junto à multidão de fieis, de vez que era um coronel temido, chegando ao
cúmulo da falta de respeito de propor ao cônego Pacífico Peregrino de Melo e
Silva, que era o sacerdote que realizava a festa, que lhe vendesse, como
escravo, “aquele negro arrogante que estava sendo venerado por um bando de
desocupados”. Naturalmente que aquele saudoso vigário de nossa paróquia, um dos
religiosos mais prestigiados de toda a Diocese, reagiu indignado com aquela
demonstração de heresia e o ameaçou com o castigo da excomunhão, pelo que o dito
cujo nem se preocupou e ainda desafiou o poder da igreja, afirmando que tudo
faria no sentido de que aquele templo fosse colocado ao chão. E, de fato, com
seu poder econômico liderou o tal coronel, herege e vingativo, uma acirrada
perseguição aos padres, daquela época, o que culminou com a derrocada do projeto
que o cônego Pacífico acalentava de promover a paróquia em diocese, conforme
estava tudo em andamento, obrigando que fossem espalhados pelas demais igrejas
da cidade a vasta coleção de santos e alfaias. Consta, porém, que toda a fortuna
do dito nababo logo veio a sofrer a ruína, o que foi atribuído como um castigo
divino, pois sua riqueza, antes composta de muitos imóveis, fazendas, numeroso
plantel de animais de carga e montaria, uma das maiores tropas de toda região,
tudo foi eliminado, não sobrando sequer uma cabeça de gado, nem colheitas das
lavouras, que ficaram improdutivas. O fazendeiro, vendo assim que o “feitiço
estava voltando contra o feiticeiro”, arrependeu-se, embora tardiamente, e para
aplacar a maldição e propôs doar a São Benedito todos os seus escravos – que
eram mais de uma centena deles – mas o bom vigário, aceitando a oferta,
condicionou que os cativos fossem imediatamente libertos (alforriados) e também
admitidos como membros livres da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, isto
ainda no ano de 1862, portanto 26 anos antes de ser promulgada a Lei Áurea, pela
Princesa Izabel. Eis aí, portanto, uma das origens da bicentenária Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, da qual o milagroso
SÃO BENEDITO é um dos mais festejados padroeiros. Pelas referidas narrativas,
deduz-se que essa lenda tem ligações que fatos reais relacionados aos
“entreveros” entre os ditos religiosos e o coronel Sérgio Reis, ao qual é
atribuído o “crime” da demolição da Igreja de São Pedro, fato histórico que,
segundo os descendentes do coronel Zebentão, com este não tem qualquer relação,
apesar da fama ter ficado, na memória popular, na conta do referido morubixaba.
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A LENDA DE SÃO BENEDITO
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Na belíssima igreja do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, além dos altares, das pinturas existentes no teto e das
joias que enfeitam as imagens nos dias de festa, chama atenção a beleza barroca
de vários santos esculpidos em madeira, do tamanho normal de uma pessoa. A
imagem de Nossa Senhora do Rosário, com o "Deus Menino" nos braços, nu e
gracioso, tem um olhar penetrante como se estivesse nos fitando e vasculhando
dentro de nossa alma. No dia da sua festa é ela transportada em andor pelas
ladeiras da cidade, carregado nos ombros dos irmãos de opa, que se revezam
piedosos, alheios ao peso imenso que lhes aliviam os pecados, seguindo, durante
aquela penitência tão piedosa e tão concorrida, andando descalços pelo sinuoso
percurso da procissão que faz lembrar, com seus altos e baixos, o próprio curso
irregular e pedregoso de suas pecadoras vidas. Nessa cerimônia, secular e
comovente, seguem solenes, também, os andores levando as imagens de São João
Batista, o precursor de Jesus, Santo Antônio de Lisboa, lembrando a devoção dos
brancos portugueses, e as imagens negras de Santa Rita, Santa Ifigênia e São
Benedito, padroeiros, respectivamente, dos bantos, nagôs e cabindas (os povos de
origem da maioria dos membros daquela grande irmandade). Pela tradição, São
Benedito, que teria sido cozinheiro de nobres, é o santo que inspira, no profano
da irmandade, os banquetes e as guloseimas que se consomem durante todos os dias
daquela centenária comemoração festiva que dura, praticamente, todo o mês de
junho de cada ano. A imagem de São Benedito, em seus trajes de frade
franciscano, também tem olhos impressionantemente vivazes, num rosto negro
perfeito que contrasta com a alvura do Menino Jesus que ele carrega em seus
braços como o símbolo de sua dedicação e apreço pelas crianças abandonadas, das
quais é considerado como o eterno padrinho. Consta a lenda que, certa vez, um
antigo e malvado zelador da igreja, às escondidas, aproveitando-se de que os
altares estavam passando por reformas, torrou no cobre a imagem de São Benedito,
vendendo-a para o antiquário Salomão com o qual combinou de esperá-lo, com a
encomenda, na vizinha vila de Piedade. Segundo o que afirmam as pessoas mais
velhas do lugar, na calada da noite ia o zelador, soturno ladrão, carregando a
imagem imensa e pesada, enrolada e camuflada em uma coberta de algodão,
levando-a pelos caminhos tortuosos da Vila da Piedade, enquanto se ouvia, lá
dentro do mato, a cantoria dos caboclos - os espíritos dos africanos - batendo
em seus tambores: “Oi, São Benedito, óia lá, Quem anda comigo, Vai devagar...
“Oi, São Benedito, óia lá, Quem anda comigo, Vai devagar... Chegando à vizinha
cidade de Turmalina, o larápio ali não se encontrou – como fora combinado - com
o tal antiquário comprador, por mais que o procurasse por todos os cantos
daquele lugar, pois talvez tenha-se escafedido em razão de ter sido alertado
sobre o risco que corria, e assim, ali ficou ressabiado, perambulando pelas
ruas, ensandecido, desorientado e sem rumo e mais nunca voltou para a Vila do
Fanado, tendo assim desaparecido e jamais dando qualquer de suas notícias. A
imagem de São Benedito, misteriosamente, já pela manhã, reapareceu na porta
principal da Igreja do Rosário, na cidade de Minas Novas, todo vestido e
paramentado como se fosse um sacerdote pronto para a hora de celebrar uma missa!
Da mesma maneira que acontecera com a imagem de São Benedito, esta que seria tão
difícil de se esconder dado o seu imenso tamanho, ao contrário as imagens de
Santa Rita e Santa Ifigênia que, são bastante diminutas, parecem não ter tido
tanta importância como objeto de arte, embora se saiba que, na realidade, são
essas imagens bastante valorizadas não só pelo falto de merecerem grande
veneração por parte de seus fieis, como pela preciosidade que de fato são
consideradas no mercado negro da arte sacra, razão pela qual, também, são muito
cobiçadas pelos facínoras e, por este motivo, até já foram vítimas de roubos em
seus respectivos altares, muito embora nesses eventos, logo-logo os referidos
furtos fossem imediatamente desvendados e descobertos com seus paradeiros
devidamente localizados e os ladrões presos e punidos os quais, por
consequência, passavam a serem – misteriosamente - acometidos de terríveis
provações, enquanto estavam de posse daqueles objetos sacros roubados, retirados
dos altares, sofrendo eles de estranhas vibrações, como doloridos castigos que
eram sentidos pelos próprios ladrões, reduzidos a mequetrefes - pulhas e
abomináveis, cujos comportamentos se revelavam cada vez mais desprezíveis e
indignos, pelos quais se viam obrigados a devolverem-nos, imediatamente, ao
local de origem. E era assim que, de acordo com depoimento de João de Deus,
velho guardião da irmandade que faleceu com idade de 101 anos no ano de 2001,
quando ocupava o cargo de "general" da Guarda do Rosário, desde o tempo de seu
pai que se chamava Rufino e que a ele lhe passara o comando da Irmandade, ele,
quando ainda eram menino, naquela oportunidade ele mesmo assistiu à "consumição"
em que, numa situação idêntica, ficara um triste e pobre rapaz que tentou roubar
uma dessas imagens, tendo o tal do endiabrado sofrido com tamanhas e fortes
convulsões e inexplicáveis cãibras de sangue, até o momento em que se viu
obrigado a clamar perdão e ser obrigado à devolução do objeto roubado. Essa
misteriosa simpatia, que tem protegido o patrimônio material da Irmandade do
Rosário - e que já foi comprovada como da maior eficiência – contudo não elimina
a preocupação que os membros da irmandade têm tido na disposição de vigiá-la,
seja através da maior atenção e zelo da própria Guarda, bem assim através da
existência de um catálogo minucioso de todas as peças, da boa administração e da
preocupação atual de se instalar modernos equipamentos eletrônicos destinados a
sua constante proteção contra qualquer tipo de sinistro. O fato é que, das
igrejas da cidade, graças talvez a essa simpatia, a mais segura e que de fato
tem sido bem preservada é a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a
única que tem intacto o seu rico patrimônio, ao contrário das demais que já
foram saqueadas até mesmo por bandidos já identificados como pessoas do meio
eclesiástico, mas que – infelizmente - continuam impunes. A MULA-SEM-CABEÇA
Afirmava Vicente Nicho, antigo acendedor dos lampiões da antiga iluminação
pública, que certa vez ele próprio teria visto, de bem perto, a figura da
terrível Mula. Segundo sua narração, estava ele abastecendo de carbureto um dos
lampiões que se localizavam próximos à Casa da Câmara, os únicos que tinham de
permanecer acesos durante toda a noite. Já era "mortas as horas" e o restante da
cidade já se encontrava totalmente às escuras e em absoluto silêncio. Os outros
lampiões, já apagados, eram abastecidos com querosene. O carbureto, naquele
horário, tinha como razão o fato de produzir uma claridade mais intensa -
necessária à melhor proteção do local – contudo com o inconveniente do cheiro
forte e desagradável que dó não perturbava a saúde dos moradores, porque as
casas de residências ficavam mais afastadas daquele local. De repente, notou o
funcionário foguista que a chama das lâmpadas iam aumentando, num crescendo
descomunal, em direção ao animal - ali surgido como por encanto - e que o
monstro possuía, no lugar da cabeça, um grande cadinho, para o qual o enorme
bicho sugava, para dentro de si, toda a luminosidade emanada do carbureto, como
se este fosse o seu combustível. Depois de sorvida toda a luz que emanava dos
lampiões a gás de carbureto, a mula sem cabeça, com sua imensa tocha flamejante
como se fosse um maçarico andante, saiu veloz e trotando pela Rua Direita,
tirando fogo na calçada, quando aplicou um violento coice na altura da última
janela do Sobradão, derrubando-lhe um pedaço do beiral do telhado, seguindo em
direção do largo das Cavalhadas e, no que ele pôde perceber, a fantasmagórica
figura, como se conhece muito bem o caminho, buscou seu refúgio e alojamento na
estrebaria da antiga Pousada, cuja porteira já estava aberta como se a esperasse
e para a acolher. Segundo o antigo funcionário municipal, naquela mesma data e
no exato momento da estranha visita, acabava de falecer, na cidade, uma senhora
"de boa família", que as más línguas diziam ter sido "mulher do padre", ou seja,
camareira piedosa do antigo vigário. Assim, ficou esclarecida a origem da
aterrorizadora personagem que ainda hoje, nas sextas-feiras sem lua, apavora e
amedronta a população de Minas Novas.
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DE COMO A IGREJA DE SÃO FRANCISCO FICOU SEM AS DUAS TORRES E O PORQUÊ DA CIDADE ESTAR, ATÉ HOJE, MAL
ASSOMBRADA ---
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Em minha terra natal, a gloriosa cidade de Minas Novas, empoleirada
sobre um dos bucólicos e hospitaleiros espigões do espoliado Vale do
Jequitinhonha foi ali que, no início do século passado, sucedeu uma das mais
reais e espetaculares incursões de Belzebu. Tudo aconteceu em virtude de um
antigo trato que naquela altura, certamente, transcorria esquecido pela parte
devedora e então cobrada. A insólita façanha se deu pelo fato de que o Coronel
Zebentão, então conhecido pela alcunha de Ferrabraz, desgastado chefe político
que ainda sonhava com os tempos da monarquia, haver-se empenhado corpo e alma
com Mefistófeles, em troca de poderes e riquezas. E assim, nos termos do
combinado, e já transcorrido e expirado o prazo que pactuaram, eis que em pleno
meio-dia o tempo se azedou, justamente quando uma forte ventania vinha lá das
bandas canhotas, com violentos raios, repetidos trovões e um lúgubre redemoinho,
quando apareceu o horripilante tinhoso surrupiando o ilustre defunto que já se
encontrava bem ataviado para o seu solene sepultamento, conforme programado. O
“dito cujo”, o “imundo”, o “coiso”, voou levando consigo o defunto,
desaparecendo dentro duma nuvem negra e impregnada de enxofre, carregando pelos
ares o presunto daquele que era o objeto da referida negociata e no lugar do
corpo escafedido, os seus familiares colocaram um boneco confeccionado de tronco
de bananeira devidamente complementado e encimado com uma oportuna caveira de
jumento, que acharam no quintal, recheando o féretro e ultimando assim, para
contornar o vexame, os preparativos do cortejo fúnebre até ao local dos enterros
que, segundo os costumes daquela época, era realizado nos porões da igreja que
hoje é a atual matriz de São Francisco de Assis, naquele tempo chamada Igreja da
Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição do Bom Sucesso. Transcorrendo-se as
exéquias e no exato momento em que um dos prelados ali presentes aspergia o
ataúde, houve um pavoroso estrondo e o sol abruptamente se escondeu
irrompendo-se uma nova tempestade cujos raios, violentos, ceifaram as duas
torres que até então guarneciam aquele templo. Naquele prodigioso momento a
multidão, em desespero, procurou ganhar o Largo de São Francisco donde vinham
levantadas diversas vacas assustadas que ali se recolhiam devido ao repentino
escurecimento do dia, levando pessoas e padres nos chifres e a outros pisoteando
pelo caminho, causando uma azáfama sem precedente. Contou-me o ocorrido uma
velha tia-avó, que a tudo presenciou naquele fatídico dia de sua juventude,
quando ela própria sofreu sérios ferimentos, quebrando pernas e ficando aleijada
dos quadris pois foi arremessada aos ares por uma chifrada jamais esquecida,
tendo vivido apavorada e capenga, até há pouco tempo quando veio a falecer com
mais de cem anos de idade e tendo muitas outras revelações de passagens que
pontificaram a história de nossa cidade e de nossa gente, casos que procurei
registrar com bastante fidelidade, pelos quais tenho algum receio em divulgá-los
somente para não constranger os parentes das personagens envolvidas. O presente
caso, de qualquer forma, poderia ter sua autenticidade confirmada por um
acadêmico famoso, que se diz natural daquela antiga e mal assombrada comuna e
onde ainda existem bodes fantasmas, lobisomens, mulas-sem-cabeça e a fama de que
ali nada vai pra frente por causa do enterro de uma queixada de burro no lugar
de um defunto que fora excomungado até sua última geração. E para quem não
acredita em almas penadas e em outras entidades do mal é só visitarem a cidade
de Minas Novas onde se pode identificar, com bastante clareza, que ali estão
reavivadas as pegadas deixadas pela ação malévola daqueles que sempre carregam a
praga do atraso e do abandono, onde tudo hoje tem a chancela e a orientação no
sentido de uma derrocada sempre crescente, onde o clamor do povo e seu murmúrio
de forma inequívoca, dão a certeza de ter sido ele ludibriado e duramente
infelicitado com o resultado da união daquilo que sempre fora ruim com a outra
parte, também da pior escória, oriunda dos cafundós tenebrosos de onde só
poderiam ter vindo mais bagagem de rancores, dores e sofrimentos. E isso não é
brincadeira, não ... Nota Dizem que o castigo deu-se em virtude de que o coronel
José Bento Nogueira (Zé Bentão), declaradamente ateu e contrário à instalação do
bispado na Vila do Fanado, foi um grande perseguidor do Cônego Barreiros, tendo
ainda promovido a ruína e a demolição da Igreja Matriz de São Pedro, lindíssimo
e amplo templo que foi construído para ser a Catedral Sé da nova diocese. Como o
mesmo foi excomungado até à sua quinta geração e não podia ser enterrado em
terreno sagrado (dentro de uma igreja) tiveram que levar o ataúde, o seu caixão
contendo o arranjo que colocaram no lugar do corpo, para o terreno onde depois
foi construído o atual cemitério, cujo mausoléu ainda existe e fica do lado
esquerdo da capelinha atualmente desativada (Lá dentro da carneira, porém, se
forem desenterra-lo, haverá de ser encontrada a famosa caveira de um burro
velho.
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A VIOLA DE JOVELINO --
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“Oi, Jovelino, eu vim aqui pra passear, Oi, Jovelino,
eu vim aqui pra passear.”
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“o melhor da galinha é o ovo e a miséria do mundo é o
povo!”
"- Eu é quem não sabia que a ave sabiá era assim tão sábia...)"
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Jovelino, o caipira que verseja a sua filosofia de roceiro simples e analfabeto,
além de carapina - dos melhores que já vi e conheci - era um pensador que
matutava sobre tudo e que, para tudo que havia em riba da terra, tinha ele uma
sábia resposta.
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Às vezes, no meio da labuta de um desengrosso, ele largava a
tora de pau bruto, deixando-a ali de lado, assuntava o tempo, matutava na sua
cachola, chamava Rosa para junto de si, pedia-lhe um gole de café agarrava-se à
viola e ali ficava matutando, como se tivesse enfiando nas cordas os pensamentos
que tinha, estes que, como os circuitos de relâmpagos distantes, sem trovão,
estavam de repente ali traduzidos, como em transe a lhe atormentar, um banzo lhe
cutucando a lembrança, a cisma, a vontade de "num sei o quê" ou aquele
formigamento íntimo que ele não sabia de onde vinha, sem explicar o porquê de
ali estar, e que, dentro dele - um preto e pobre analfabeto - tinha de ficar ali
parado, remoendo na cabeça o que queria sair, mas que tinha dificuldade de
entender, querendo saltar pra fora, como se ele é que devesse de ter a sina de
adivinhar, de ser o portador de mensagens esquisitas e descabidas, mas que, logo
logo, ia clareando e permitindo-lhe começar, com os dedos, a traduzir em
ponteados e sonoridades, no formato de canções que faziam calar até o barulho do
tempo e que tudo, em sua volta, quedava-se para admirar o recado que nascia
daquele rústico instrumento que ele mesmo, um dia, fabricou a partir de um
pedaço de cedro.
-
“Oi, Jovelino, eu vim aqui pra passear, Oi, Jovelino, eu vim
aqui pra passear.”
-
Mas Jovelino vivia mesmo era de seu serrotão traçador, com a
sua velha e afiada enxó, com os formões, trados e toda aquela traia antiga que
se constituía em sua tenda(*). Fazia portas, janelas, travamentos, pilão, canga
de boi, roda de carro, moendas de descaroçar cana, algodão ou mamona,
almanjarras de engenhos, trempes, teares, coronhas de trabucos e polveiras,
pilão de gangorra, caixotão de purgar açúcar, esteios e soalhos, barrotes de
casas e de pontilhões, tábuas para fazer esquife de defunto e, com a sobra das
madeiras, fazia violas, rebecas, tambores e reco-recos. Mesas, camas, cadeiras,
armários e guarda-louças ele até que sabia fazer e às vezes fazia, mas não
gostava de fazer, não porque era arte difícil, mas porque isso era coisa pra
gente de luxo, freguês que gostava de dar palpite na arte, coisa para qual a
paciência dele era pouca. Escolhia o pau, lá dentro da mata, e ele mesmo o
derrubava, se a fase da lua assim o permitisse, arrastando sozinho levava o
tronco para a tripeça que ele armava ali perto, e o desfiava com o traçador, na
medida exata da encomenda, naquele vai-e-vem do seu velho, bem untado e
entre-travado serrotão que há mais de quarenta anos era a fonte de ganha-pão de
toda sua imensa e unida família. Contudo, como um legitimo ‘panta’(*), toda vez
que se dirigia à mata, para buscar uma tora de madeira, antes ele alisava o
tronco daquela árvore escolhida, ficava ali por muito tempo acariciando-a, a
admirar-lhe o porte, como se estivesse conversando com a arvore, justificando-se
perante a natureza, para dela receber a autorização de ser o encarregado daquele
sacrifício, e , segundo o que ele mesmo confessava, era para ele uma dor imensa
quando ele ouvia o som da árvore, ao ser derrubada ao solo. E, com o coração aos
pedaços, reunia mais forças para pedir o perdão, também aos passarinhos
desalojados, e recomendar-lhe, e também às sementes, para não se esquecerem de
cuidar da sombra para o descanso dos viajantes e que jamais se negassem de
servir-se como a fonte do calor, no inverno, e como fornecedores de flores e de
frutos para alegrar e para nutrir o homem, o filho mais amado de Deus, para o
qual todos os outros seres foram criados apenas para servir. --
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“Ai, que saudades dos violeiros
Lá do meu tempo de menino,
Já não existem mais carpinteiros
como o nosso saudoso Jovelino!.”
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A perfeição milimétrica das esquadrias, os encaixes, os cachimbos, as espigas e
os alongamentos que ele produzia na peça de madeira, era algo de causar espanto,
principalmente quando se tinha em conta que, além da precariedade dos recursos que
ele dispunha, e também a ausência dos cálculos, das planilhas e das escalas, das quais,
geralmente fazem uso os engenheiros e construtores, aquele trabalhador, além de analfabeto,
faltava-lhe as forças de um dos braços, atrofiado que era esse seu membro superior, que mal lhe permitia
segurar o garfo para comer ou o para firmar, contra o ombro, a sua viola na hora
de executá-la os ponteios. Como ele se arranjava, disto não se sabe, e nem ele
próprio explicava, esquivando-se até quanto às indagações da origem daqueles
seus conhecimentos.
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A casa onde morava Jovelino e sua família, lá na COMUNIDADE QUILOMBOLA DO MACURI, era sempre cheia de parentes e de
amigos que ali iam para buscar o calor de sua amizade, de vez que era esta a
única coisa que sobrava para dar, pois as bocas eram muitas e iam sempre
aumentando, na medida em que ali todos eram acolhidos da melhor forma possível.
Por lá, passei diversas vezes, vindo da Bandeira Grande, no tempo de meu avô
Durval.
-
E hoje em dia, fico eu cá com meus botões, matutando e avaliando sobre
tudo aquilo, e logo me convenço de que, após tanto tempo, foram-se com Jovelino
os segredos que naquele bom tempo continham essas suas reflexões, no que ele, na
sua natural sabedoria, queria repassar através daquelas cantorias dolentes e
cifradas, em línguas esquisitas que poucos entendiam e somente os moradores do
lugar às vezes assimilavam, ali do Macuco, pois eram evidentes o entendimento
que transmitia, das quais me foi impossível guardar qualquer registro.
-
Tenho, contudo, na minha lembrança, laivos de como que era emocionante de se ver, sob o
luar soturno do Macuco, talvez ali na reminiscência de um velho quilombo, a ação
involuntária de um simples carpinteiro, acompanhado de sua esposa Rosa, sempre
movido pelo seu instinto de calunga, nagô ou de cabinda convidando aos presentes
para acompanhá-lo, na improvisada e repentina “dança dos nove”, quando,
recitando seus versos, onde dizia da labuta diária, da vida de sua gente, da
sina de seu povo, ele se esmerava na sonoridade de sua viola, de uma forma tão
dolente e maviosa, linda se vê e ouvir, buscando antigos enlevos não mais
possíveis de serem encontrados nas folias de agora, quando não se transmitem os
sentimento de tanta beleza do passado, um cenário empobrecido e cada vez mais
sem perspectiva e sempre diminuído em razão de uma cultura que se vê apequenada
e menos civilizada.
----------------------------------------------------------------
“OI JOVELINO, EU VIM AQUI PRA PASSEAR,
OI JOVELINO, EU VIM AQUI PRA TI LOUVAR.”
“OI JOVELINO, EU VIM AQUI PRA PASSEAR, PARA VÊ-LO COM A
ROSA NESSE BELO MANGANGÁ”
----------------------------------------------------------------
LENDA TRISTE DO BOI QUILEU E DO PRIMO QUINÃO-O-ENTENDEU:
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PASCHOAL:
-
“ - Passaqui paçoca, boi kalunga, Bicho alado, mau e mal bolado, Malungo do velho boi-mideu”...
Ocê foi pro baile, estropiado, como um boi-de-manta, no conhecido bailado de boi erado na buscada da Santa? Um
famoso boi, este não era o seu Mas de João Lelé ou de Canjola, De Chico-Panta ou
de Zé de Quileu?
Mas vamos dançar este boi?
Pois bem: em festa de Jacu, boi errado não entra,
E, quando entra, é oito ou oitenta,
Vira vaca ou se espaventa.
Triste sina deste boi fraco,
Que caiu no samba desse balé de um boy que sempre foi atoleimado...
Pois foi lá qu'ele, de um boi ralado comeu Ou, se ralou para
comer do dito boi, Que caiu n'água, afogou-se e morreu.
Coitado desse boi que se foi Tão cedo assim, ou se foi assado, que se atoleimou quando a tabuleta não
leu.
Foi-se a força do boi, como um boi doido que o chifrou e doeu. Como foi
qu'ele que ralou um boi de mamão, Sem ser sanhaço e mesmo assim sofreu? E foi-se
como um boi de mamão Que se deu uma demão em seu quibebe, Quando, lá, daquela
água babenta, Tanta baba de boi bebeu... E como não comeu do quibebe e do mamão,
se foi como uma demão de boi ralado, Tudo assim como o que se deu...
Pois foi lá na dita manga, onde se comia, junto do boi de Quileu, E ali, nem uma vaca ,
ainda se ralou só, se nem Si, nem Ré, nem Lá, sem Dó e nem Mi, Consigo, lá não
se ralaram? E quando foi que o boi Calado, Engalanado como o Veludinho de
Canjola, Foi-se enganado lá para o Brejo E lá se atolou, como uma vaca
atoleimada? Justo no Buraco do Córrego da Telena?
E por lá foi ficando Berola, Saindo fumaça pelas ventas, Sempre um boi do mugido amofinado,
Amorfo e mal falado? Um boi fugido e mal pago, Um boi Rufino, mufino e mal fadado Espoliado e
destinado a ser rifado ou Rufiado A ficar perdido na boca do povo Como um
lambe-sola ou rolabosta?...
Mesmo sem ser boi novo, um boi-do-cu-branco, Perdido
e agora achado nas barrancas do Fanado Continuará marido de uma vaca de
presépio, Amasiada com o touro que lhe enfeitou a testa com um par de cornos
acesos de vela e duas velas acesas no olho do Caracu, No dia do mastro, antes da
Festa de Jacu? (ou seria um cabresto, um látego, uma espora, ou as botas
perdidas de Judas com suas precatas sujas lhe enfiadas nas fuças?) Mas, afinal,
quem dançou o nove, Será o Mundinho que foi no dobrado da Banda de Taquara com o
Boi Careta Em dia de linda retreta Requebrando o trote pelas Pinguelas de Maria
Gorda, o estafeta? Ou foi o Zé do Gró, quem roubou o rosário de Nossa Senhora,
Uma ladainha comprida, Ou um cordão onde foi dado um nó? Ou se foi o Pontão, ou
foi o Zezão, Ou foi Pascoal, ou foi Tiago com o tição, na Rua da Pepeta,
sobrinha de Cesária? Todos, que naquela ora, Estavam dançando no salão de molas
Enquanto que Zé Goteira de opas Recolhia no balaio as esmolas? Ninguém viu e
agora chora. Aonde foi o boi-da-cara-preta, ao som do sino do Beleléu Que ao
sinal da sineta de finada Maria do Sininho, Pensou ser dia de Natal, sonhando
com a Vaca de Linda-Teta?
E quem, como rainha encostada, vem toda enfeitada de fita de seda pra ver a Festa de Junho Brincar no meio desta lenda, não seria uma
peta? Para que saborear do quentão com gengibre e canela Para que comer do
sobrecu do rei, Da galinha de cabidela, Se assim Tou Fraco ou capote? Se há sete
chaves guardando a senhora rainha, No meio do angu de caroço do Boi-Fubá do
Congado ou do boi-bumbá? Boi fugido quase na hora do doce e do frege, Levando na
cacunda o pote da comida da quinta-feira do angu Deixando pra trás, no cofre, o
seu dote? E não ficando nem aí, como se estivesse no ar, O eterno roedor de
pequi, carregador de defunto Que morreu lá nos cafundós do Gravatá Do Mata Dois,
do Macuco ou do Tamanduá?
Seria ele um boi sonso e insano, voador a sonhar, como
alma penada, Pobre sina a do Primo, vizinho de João Pio e Zé Louro, aquele que
ficou perrengue do juízo, e com pouco siso, ou de defluxo, sem nunca d'antes
conhecer luxo, virou o caboclo do beira-mar, Pois ficou sonso com uma bomba nas
mãos e os zóios acesos até embasbacar olhando o palácio do provedor da
Irmandade, em dias de girândola, que acabou de pipocar? (Ou seria essas bombas
acrobáticas Aquelas mesmas de Elias Piolho, a riscar? Ou uma Catirina de
Marcianinho, ou de Chico Fogueteiro a lhe purpurinar?
Ou essa artilharia não seria, Obra prima de Nego Tiné, a estoirar? Mas para quê teria ele, no meio de
seu proibido mister, Com um toco de braço e um pedaço de pé, Em arriscado
Espetáculo Pirotécnico cercado pelo círculo do Centauro, Tocado na cornija de
seu Migué, Rezando e tomando rapé? Mesmo não sendo um bravo boi, Ia ele de
janeiro a dezembro, Como um minotauro Sem fogos de artifício, Lançando-se ao
precipício? Quando o correto, o certo, o justo, o acertado, foi, é e sempre será
o eterno Boi-Mideu... de pé duro, treteiro, Magrinho, Sem carnes, Mateiro, Sem
terra, Sem dono, Sem dinheiro? Ser sempre um boi fino, Firme, fiel e todo seu?
Mas, agora, Óia o tulete, CALUNGA: Parangolé!!! Não seja sapo ou jacaré: Boi bom
é o que não baba Que sabe entrar na roda Que dança até rastapé.
Quem não é panda, nem ornintorrinco de eucalipto ou formigueiro, Não será um Boi doido, um boi sem
tino, Sem destino e em desatino, Poi sendo Boi Fanadeiro, Nunca si-fu, como se
foi... Mas, o fogo-apagou O carvão queimou Viu-se todo mato queimar. O Primo
endoideceu e feneceu!
Afogado, o Primo não morreu: Mesmo atoleimado, cismado, Foi pro céu: prá lá se arremeteu...
Geraldo mota. Minas Novas, sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
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BUMBA-MEU-BOI MIDEU
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Boi veludinho Eh! Boi de Sinhá. Ocê dança direitinho, Ou é mió num dançá ...
Boi veludinho, O’ véio gangá Cê vá rapidinho Pro brejo moiá.
Boi veludinho. Ô neguinho marruá: Ocê fica aí mansinho Ou nós vamu te assá!
Menininha bonitinha. Me dê cá seu cafuné Não entra aqui nesta dança,
Que não é coisa pra muié.
Minininha bonitinha. Dê-me aqui o meu boné, Não caia aqui nesta linha
Que não é festa prá muié.
Fui mexer lá na fogueira Tição rolou, queimou meu pé...
Dê um pulo na chaleira Traz pra mim um bom café.
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SHOTTING
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Aprendi dançar vilão Aprendi dançar vilão ... Não foi nesta terra, não
(bis) Aprendi com a alemoa (bis) Lá na terra do alemão BOI DE CANJOLA Boi
Veludinho Rabo de sola Boi bonitinho Boi de Canjola. Xô, xô, xô meu passarinho
Dia de Natal, branco e preto Tem que ir ver! Xô, xô, xô um passarinho Dia de
Natal, branco e preto Tem que viver! (Cantiga que acompanha a dança cadenciada e
ligeira que caracteriza o retorno dos candongueiros à Igreja dos Pretos, onde
vão recolher seus tambores após terem realizado suas "embaixadas" durante os
reinados e reisados). O BOI ME-DEU Boi, boi, boi Boi da coisa preta Dia de
Natal, Branco e preto Tem que vê Boi, boi, boi Boi da coisa preta Dia de Natal,
Branco ou preto Tem que vê.
O BODE DA MAÇONARIA –
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Com a transferência do “Dr. Magalhães”, levando para o Mucuri o seu estabelecimento comercial, sua banca de
advogado e sua loja maçônica, iniciou-se uma verdadeira corrida que culminou,
pouco tempo depois, com o completo esvaziamento da cidade de Minas Novas e o
consequente “inchaço” do distrito de Filadélfia, para onde se mudaram, também,
os principais comerciantes, fazendeiros, artesãos, oficiais e profissionais
liberais. Segundo a crônica popular, a antiga Vila do Fanado ficou como uma
cidade fantasma onde perambulavam os mendigos e os loucos que ficaram
abandonados, além de muitos dos animais que se negaram a acompanhar os antigos
proprietários, rumo à “terra prometida” de Todos os Santos e do Mucuri.
Dentre os animais, ficou da “arribada” um imenso bodogô, que por muitos anos foi o
mascote dos maçons, como era de costume haver um, daquela espécie, para os ritos
da Fraternidade, o qual não se deixou levar, de forma alguma, para o novo
endereço e tendo ficado ele, solto pelas cercanias do Fanado, onde passou a
imperar como requisitado reprodutor. Passando-se o tempo, o velho bode já não
contava com o vigor necessário para atender a imensa população caprina, que
passou a assediá-lo de forma mais intensa. Vendo-se acuado, certo dia, diante de
uma enorme fila de fêmeas que aguardavam sua vez, ele se apavorou e, procurando
fugir daquele aperto, subiu no telhado da Fazenda do Mirante e, dali,, alcançou
a torre da igreja, tendo sempre no seu encalço a multidão de cabras no cio, não
lhe sobrando outra alternativa senão a de se precipitar sobre os lajedos do
Córrego Manoel Luiz, onde teve morte trágica. Daí a fama, ainda hoje, do
histórico “Bode de Minas Novas”.
* * * *
(Fontes> Rubens Leite, Olympia Araújo, João Elisiário, Miné Cristianismo,
Monsenhor Otaviano, Manoel Magalhães, Lilia Mideldorff, Panjiru e Victor Nery.)
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O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
==========================
Somente durante a tradicional Festa do Rosário, que em Minas Novas anualmente se realiza durante
todo o mês de junho, principalmente nos dias 23, 24 e 25, quando a irmandade
está reunida, é que se retiram dos cofres as joias de Nossa Senhora, um razoável
acervo de medalhas, moedas, broches, cordões, brincos, diademas e coroas, de
prata, ouro e pedrarias, que fica depositada em custódia especial do Banco. De
todas as joias, entretanto, a mais valiosa e digna de admiração é o maravilhoso
rosário todo confeccionado com pedrarias encastoadas de ouro. Este rosário foi
um dos presentes ofertados à irmandade pela Princesa Isabel, bem antes da
abolição da escravatura, pois também foram presentes da Família Imperial, muitos
dos objetos de prata de lei que compõem o acervo, como pálios, tocheiros,
ostensórios e ambulas que durante as cerimônias sacras são utilizadas
solenemente. O vistoso rosário por um bom tempo ficou desaparecido, fazendo
recair em várias pessoas a suspeita de roubo, causando grande sofrimento não só
às famílias dos acusados, mas em toda a irmandade que congregava, praticamente,
toda a população da cidade, naquela época. A cada festa sentia-se aquele
constrangimento geral com o extravio da importante peça. Os festejos já nem eram
comemorados com tanta pompa e entusiasmo. As investigações não cessavam e certa
vez, resolveram apertar um dos suspeitos levando-o até a delegacia onde ele, aos
prantos e jurando sua inocência, pediu clemência a Nossa Senhora do Rosário
rogando-lhe que apontasse de alguma forma o verdadeiro culpado. Como estava
muito velho e doente, deixaram-no solto e ele retornou a sua casa, onde já
acamado e delirante, afirmava que o larápio seria encontrado, a qualquer
momento, morto e seco junto do precioso objeto desaparecido. Passado algum tempo
e aproximando-se o dia da festa, quando a irmandade, segundo os costumes se
reúne para a Lavação da Igreja, ao mandarem corrigir uma goteira encontraram um
ninho de coruja na cumeeira do telhado e entre velhos ovos não eclodidos a
ossada e as penas da ave, reluziam as lindas contas de brilhantes. Correram
todos à casa do principal suspeito para dar-lhes a boa nova: Encontraram-no já
agonizando, mas sorridente e com a expressão serena e calma das pessoas de bom
coração e de consciência tranquila, tendo sobre si uma velha bandeira azul e
vermelha com a qual durante muitos anos fazia na zona rural o "giro" da Folia de
Nossa Senhora do Rosário, um rito antigo que os padres ainda teimam em proibir
por julgá-los profano, encontrando nele laivos do candomblé, motivo da injusta
perseguição por parte das autoridades, utilizando-se dele como "bode expiatório"
naquela triste situação.
------
PRAGA DE PADRE
==============
-
As pessoas mais antigas já diziam: “cuidado com o que o padre fala, pois praga de
padre é coisa muito perigosa”.
E, de fato, nas cidadezinhas do interior, quando os padres se manifestavam e demonstravam sua inconformidade ou contrariedade em
relação a fatos daquela época, era porque alguma coisa de errado, e muito séria,
estava ocorrendo. E, invariavelmente, não se passava muito tempo para que se
aflorassem os motivos daqueles posicionamentos que eram considerados, no
entendimento dos coronéis, como intransigentes, implicantes e retrógrados pelas
partes contestadas por aqueles religiosos. E sobre essas “pragas”, o que o povo
simples não entendia, é que se tratava do óbvio: os padres, por serem pessoas
dedicadas aos estudos, sendo cultos, experientes e observadores, eram mais
previdentes e podiam ver ao longe, sabiam analisar e calcular, estavam mais
preparados para avaliar, para aconselhar, orientar e opinar sobre atitudes e
antever, com clarividência, os resultados a partir de ações em que eram
importantes a observância dos fatores de risco e a lógica do planejamento
estratégico. Não se tratava, pois, de futurologia, de poder sobrenatural, dom de
adivinhação, de sortilégios ou outras crendices iguais a muitas em que ainda
hoje muitos, por serem ignorantes e cabeças duras, continuam acreditando. A
manutenção da miséria e a manipulação da ignorância do povo simples sempre
constituíram em poderosa condição habilmente utilizada pelos políticos
corruptos, de todos os tempos, com o objetivo de se perpetuarem no poder. E
qualquer liderança mais equilibrada, responsável e bondosa, dotada de visão e de
inteligência para enxergar criteriosamente a realidade, suas consequências e
seus desdobramentos futuros, era imediatamente taxada como pessoa visionária,
como agente perigoso e, portanto, combatido como feiticeiro, bruxo e inimigo. -
Nesse sentido, são muitos os exemplos de antigos padres tidos como “milagreiros”
que passaram para a história como verdadeiros profetas. No Vale do Jequitinhonha
tivemos vários deles, que foram combatidos pelos coronéis, perseguidos
ferrenhamente pelos fazendeiros e políticos que viam naqueles sacerdotes grandes
opositores de seus regimes de opressão e de exploração do povo sofredor e
ignorante. - Em Chapada do Norte (a vetusta e histórica Vila de Santa Cruz da
Chapada, que fica a menos de 3 léguas de nossa cidade) tivemos o exemplo do
Monsenhor Mendes, cuja vida de contestação a seus próprios parentes, é um triste
episódio da igreja católica em nossa região, pelas injustiças que foram
cometidas contra aquele grande benfeitor, cuja vida foi de sacrifícios,
tormentos e privações, como descreve em seu livro uma de suas sobrinhas que se
tornou famosa em razão de ser a primeira mulher mineira a se formar em medicina.
- Em Francisco Badaró, (a aprazível vila de Sucuriu, que fica logo depois de
Chapada do Norte), é venerada a memória do Cônego Bernardino, que em razão de
sua ferrenha defesa dos interesses de seu povo e de sua gente, foi sacrificado
em toda sua existência, passando por perseguições políticas e religiosas de toda
espécie. - Em Minas Novas tivemos, no final do século XIX e início do século XX,
a figura benfazeja do Cônego José Barreiros da Cunha que passou por atentado
contra sua vida, quando lançaram, do alto do Sobradão, um imenso bloco de
granito que perfurou o teto da casa e esmagou o catre em que ele sempre dormia,
mas que, por milagre, naquela noite o religioso tinha preferido ficar
contemplando seu breviário, orando em frente de seu crucifixo, na pequenina sala
de sua residência que ficava ao lado daquele antigo prédio. E toda sua vida,
como pároco dessa cidade, foi uma sucessão de calúnias e de perseguições, de
toda natureza, que, inclusive, inviabilizaram seu acalentado projeto de
transformar a paróquia em Diocese de São Pedro do Fanado, culminando com a
criminosa demolição da magnífica Igreja Matriz dedicada ao Príncipe dos
Apóstolos, em que os iconoclastas se valeram até do poder de dinamites para
derrubar as paredes daquele templo, como forma de eliminar qualquer
possibilidade de que fosse retomado o ambicioso plano. Consta da tradição que
aquele vigário, indignado com o posicionamento passivo do povo, a favor dos
políticos de então, vaticinou o crescente atraso que se abateria sobre a região,
pelo menos enquanto durasse o poder e o mando daqueles que o perseguiram. E aí
estão os resultados, que todos podemos ver e sentir, refletidos nos baixos
índices de desenvolvimento humano, números vergonhosos se comparados com os
apresentados até mesmo por cidades vizinhas. Seriam pragas? Evidentemente que
não, pois se trata, tão somente, do resultado de ações passadas, da somatória
dos efeitos perniciosos que ao longo de décadas vem produzindo os antigos males
do tradicional costume de dominação, desde aquela época do carrancismo, quando
os mandões só sabiam enganar e explorar a boa-fé da população, distribuindo
migalhas em troca de votos e de bajulações. E para conseguirem perpetuar esse
domínio, reproduzido pelos seus sucessores e seguidores jamais permitem o
desenvolvimento cultural, a melhoria das condições de educação e de ensino, no
esforço contínuo e determinado para que todos continuassem, ainda como hoje, na
ignorância, na dependência e na miséria, esperando pelos empreguinhos, pelas
sinecuras e pelos favores.
-
Nas décadas de 1950-1960 e 1970 tivemos a valente atuação do Padre WILHEMUS JOHANNES LELILEVEL, o saudoso PADRE VILLY, sempre
lutando contra a exploração política do povo, principalmente das comunidades
localizadas ao longo da Chapada de São Domingos e Rodovia da Definitiva, desde o
município de Carbonita, até Virgem da Lapa, abrangendo toda a região dos atuais
municípios de Turmalina, Leme do Prado, Minas Novas, José Gonçalves de Minas,
Chapada do Norte e Berilo, passando pelas localidades de Acauã, Posses,
Mandassaia e Leliveldia. Esse religioso jamais concordou com a ideia de se
entregar essas chapadas, através da Ruralminas, para que nelas fossem
implantados os projetos de reflorestamento, o que só vem acontecendo depois da
sua morte, o que aconteceu a menos de 10 anos, pois enquanto ele teve vida e
forças ele sempre desafiou o poder das autoridades regionais, denunciou a ação
coordenada dos políticos, grileiros, advogados de reflorestadoras, juízes e
donos de cartórios, que durante décadas montaram uma verdadeira quadrilha para
transformar em devolutas todas as terras da região e entregá-las a preço vil às
grandes empresas do Eucalipto, muitas que ainda atuam na degradação ambiental,
sob frequentes mudanças de titularidade, com a condescendência, a anuência e a
conivência das prefeituras e das lideranças que nada fazem a favor da população.
-
O padre Villy, em razão de seu trabalho em defesa dos sertanejos, dos groteiros,
dos migrantes e dos menos favorecidos pela lei, ele foi perseguido por políticos
de grande influência em todo o Vale do Jequitinhonha, foi suspenso de sua ordem
religiosa e proibido pelo bispo de Araçuaí de exercer suas funções sacerdotais.
-
Por várias vezes teve que comparecer ao Fórum de Minas Novas, onde era humilhado
e ameaçado. Contudo, jamais se deu por vencido e dizia sempre que a implantação
do eucalipto era a maior miséria que poderia acontecer em todo o Vale do
Jequitinhonha. Seu desejo maior era que o governo construísse diversas barragens
(como Irapé), para a geração de energia e implantação de pequenos projetos de
lavouras irrigadas, o que poderia transformar toda a Chapada de São Domingos
numa região de grande produção de alimentos (grãos e de frutas), a exemplo da
região do Jaíba.
-
O mesmo processo de perseguição foi orquestrado contra os
saudosos Padres JUSTINO e JOSÉ LÁVIA, cujos falecimentos prematuros têm
características que levam à evidentes suposições de terem eles sofrido
constrangimentos psicológicos e traumas de várias naturezas que resultaram em
doenças graves e irreversíveis. E também ambos deixaram documentos escritos em
que revelam suas indignações, ao tempo que conclamam o povo para melhor refletir
sobre esses males que entravam o progresso e o desenvolvimento de nossa região.
- Nunca houve, de fato, qualquer “praga de padre”. - Houve, sim, em grande
quantidade, muita imprevidência e falta de Inteligência por parte da população.
-
E tudo o que ocorreu, depois, não foi por falta de boa orientação e de alertas, por parte daqueles mesmos
padres, os quais foram simplesmente ignorados.
- E um dos principais alertas, que ferem nossos ouvidos e doem em nossa alma - nos dias atuais - é contra a nossa absurda
impotência de reagir contra os desmandos e o pior, o de nada podermos fazer para
obrigar a SÃO PEDRO nos trazer bastante chuva para revitalizar nossos rios,
riachos, córregos e lagoas, de vez que, Infelizmente não temos direito nem
credibilidade, junto ao Santo Padroeiro de nossa Paróquia, justamente porque
preferimos, no passado, ultrajá-lo e deixar que nossas antigas lideranças
colocassem abaixo a sua gloriosa Igreja Matriz. Essa, sim, talvez seja uma
vingança ou uma praga, mais que justa e verdadeira, da qual só o Bom Deus, quem
sabe um dia, poderá nos livrar, a todos, de seus terríveis efeitos. Lalau Mota
terça-feira, 8 de dezembro de 2015 MINAS NOVAS – UM EXEMPLAR RARO DE GEMA
MINERALÓGICA Minas Novas - pedra rara, talvez um diamante de tamanho impar, de
beleza insuperável e de valor incalculável. Na literatura mineralógica ha a
referencia do termo “minas novas” como uma espécie de gema desaparecida, isto é,
variedade mineral exaurida e extinta no meio natural. Os exemplares raros -- dos
quais se tem vagas noticias -- possivelmente estão entesourados, não catalogados
ou ainda guardados a sete chaves em poder de colecionadores e museus. O termo se
refere, também, aos novos descobertos de veios auríferos na região do rio Fanado
(Tamboá), cujas ocorrências se verificaram no século XVIII, logo após a
decadência das “lavras velhas” ou “minas velhas”, referência às regiões de Ouro
Preto, Mariana, Sabará, Raposos, Caeté, Congonhas, Santa Barbara e outras. As
pedrarias sempre foram muito valorizadas, no entanto era o ouro o mineral mais
cobiçado pelos colonizadores, pois ate mesmo os diamantes eram desconhecidos no
Brasil, ate quando foram reconhecidos, acidentalmente, no antigo arraial do
Tijuco (hoje Diamantina) onde as referidas pedras eram utilizadas apenas como
tentos para marcar jogos de gamão.
-
O antigo município de Minas Novas (Vila do Fanado), que compreende o território onde se localizam todos os municípios do
Vale do Mucuri e a maioria dos municípios do Vale do Jequitinhonha, é
considerado como uma das maiores províncias minerais do mundo, com uma enorme
variedade de elementos raros e valiosos, dentre eles alguns muito pouco
conhecidos como o urânio, o lítio, o wolfrand, o silício, o tungstênio e o
antimônio, além do diamante (minas novas?), ouro e pedras coradas de grande
importância econômica e cientifica, na indústria bélica, de instrumentos
ópticos, de aparelhos de precisão e na joalharia. Está comprovada a ocorrência,
na região do Ribeirão do Meio, Forquilha e do Bonsucesso, onde permite-se
exploração econômica ainda não viabilizada, de calcita (caulim), florita e talco
(minerais largamente utilizados na indústria farmacêutica e de cosméticos), de
barita (bário, utilizado em material fotográfico), na região de Jacu, Rubim e
Debaixo da Lapa, monazitas (bório, ítrio, etc) nas Mangabeiras, Pimenteiras e
Ribeirão da Folha, rochas de itabirito (ferro) na região do Cansanção e
Capivari,, de quartzos (para cerâmica branca e vidros) em quase todo o
município) e silicato de berilio (crisoberilo “olho de gato”, safiras escuras,
esmeraldas, malacacheta, etc.) na região do Gonçalo – Caieiras - Olaria –
Córrego das Almas.
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