terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


DE VIRA-LATA A JUIZ E DEPOIS MARECHAL

Na década de 1950 a vida do interior de Minas era pacata e essas picuinhas que são hoje chamadas de política eram coisas lembradas apenas na época das eleições, quando havia muita festa, discursos acalorados e animados foguetórios e nada mais que isto. Foi com a morte de Getúlio Vargas[1] que começou ficar esse tempo assim tão quente, quando todos se viram obrigados a se preocupar com a política nacional, o que antes não se ouvia dizer e nem se via, a não ser no tempo da guerra.

Meu bisavô, que chamávamos de Vovô Domingos, era o encarregado de tomar conta da Santa Casa de Caridade, único hospital de toda aquela sofrida região e que contava apenas com uma dezena de leitos. Esse bom velhinho é que ficava, na cidade, encarregado de cuidar de tudo e de todos, sempre muito preocupado só de se lembrar de como é que ficaria a situação do povo do nosso município de Minas Novas caso se instalasse, novamente, o tempo da “dictadura” que não muito havia cessado.

O problema de sua preocupação -- segundo ele mesmo não escondia – era o fato de que, naquele tempo horrível, em que o interventor no município, durante 15 anos foi o Dr. Chico Badaró, da corrente dominada pelos varguistas, as coisas andavam ainda bem pior do que estava, pois o sofrimento do povo naquele período não podia nem mesmo ser comparado, tamanho era o descaso que o tal político tinha para com seus conterrâneos. E na sua avaliação, era até um alívio ter o médico longe da cidade, sob o pretexto de assim ser obrigado para cumprir seus compromissos de homem público, mesmo tendo que morar, com toda sua augusta família, lá no Rio de Janeiro, aonde seguiam cumprindo a sina de cuidarem do mandato dele, como deputado federal, e da obrigação que tinham de ajudá-lo naquela vida sofrida, lembrando-o, de vez em quando, de enviar pelo aviãozinho teco-teco do Correio Nacional as receitas médicas que vinham junto das amostras-grátis de sulfato ferroso, pílulas de lússen, ankilostomina, água inglesa e xarope de grindélia, medicamentos raros, importantes, eficientes e necessários para a cura dos eleitores que sob seu cuidado ficavam, todos muito doentes e carentes, ali naquele velho e distante município do Vale do Jequitinhonha.

O Dr. Chico Badaró era um desses grandes homens que, apesar de ser até muito baixo, não abria mão de ser o único médico da sua histórica e folclórica cidade, mesmo que para isto fosse obrigado a ficar dela constantemente ausente. Era considerado homem rico e importante, o que justificava suas razões de não poder viver numa cidade tão atrasada, sendo obrigado a morar, com sua augusta família, lá nas capitais para poder cuidar do interesse de seu povo amado, necessitando assim de acumular os diversos cargos, como o de provedor da Santa Casa, com o de chefe do posto de saúde, com o de médico da prefeitura de Minas Novas, além dos demais cargos importantes que acumulava lá na capital da república como o de chefe de gabinete do governo do Distrito Federal, secretário particular do Ministro da Saúde e da Justiça, suplente de deputado e diretor do Ipsemg, recebendo naturalmente por cada um destes serviços prestados: O velho Domingos Mota que se virasse para dar conta dos doentes internados na sua milagrosa e misericordiosa Santa Casa, cuidando dos pobres assistidos pela Conferência de São Vicente de Paulo, além de se desdobrar para fornecer a bóia que alimentava os presos da Cadeia Pública, única verba com a qual se dispunha para arcar com todas as demais despesas, no que era sempre auxiliado pelas cozinheiras, da época da escravidão, que se chamavam Rita Tramelot, Maria Cutuca, Da Cruz e Bastiana Mingau. Pobres mulheres que se achavam, contudo, privilegiadas com aquela situação...

E, sendo assim, seu trabalho frente a tantas responsabilidades, mesmo sem contar com as verbas correspondentes que ficavam lá na origem, correria sérios riscos de ficar prejudicado, em razão da morte de Getúlio Vargas, pois voltando o Dr. Chico para cuidar pessoalmente da Santa Casa, não tendo lá mais os seus cargos, na capital do Brasil, esse fato lhe causava generalizada aflição, pois era lá que deveria continuar a residência do “pai da pátria”, muito embora fosse a morte do verdadeiro Pai do Povo que causava temeridades no resto do Brasil, pois todos pensavam que os brasileiros passariam a ficar órfãos e voltariam, com este lamentável suicídio, a caírem nas garras do terrível comunismo, um tipo de governo que permitia que as criancinhas fossem comidas pelo sistema e que os pobres fossem assados em grandes fornos nos quais eram colocados, ainda vivos, para tomar banho de vapor, o que, na verdade, ali eram introduzidos para serem escaldados até virar sabão russo, aristolino, lifeboy ou então reduzidos a óleo de baleia para ser usado como gasolina nos aviões de Hitler, Mussolini e do terrível e maior inimigo que era o Carlos Lacerda
[2]

Vovô Domingos, que era o meu bisavô, tinha um filho muito importante, chamado de Dr. Zeferino Mota, o qual morava em Belo Horizonte, onde exercia o cargo de Delegado da Policia Civil da Capital. Esse nosso tio-avô era muito bravo (estando em serviço!) e não seguia muito ao vovô, em suas orientações políticas, pois não se conformava com o fato de ser o seu velho pai assim tão explorado em sua bondade de homem simples e trabalhador, cujo senso de caridade, confundido pelo político como fidelidade naquela sua disposição de trabalhar de maneira tão sacrificada, jamais poderia ser justa se houvesse justiça naquele lugar.

E assim sendo, estando ele em sua cidade natal, ao invés de ter a amizade do prefeito e da turma chibana, o Dr. Zeferino preferia ser amigo e conselheiro, justamente, daqueles que eram os eleitores que votavam contra o Dr. Chico, mesmo que para isto fosse necessário, ter que se deslocar frequentemente da cidade onde morava com a família, para não deixar de contribuir com o processo democrático daquele triste curral eleitoral onde nascera.

Para completar, ainda mais, os desgostos do vovô, esperançoso que era de ver um dia o filho como um fiel seguidor dos chibanos, esse ao contrário, na família era esse filho ilustre a liderar e ser apoiado pelos irmãos Dominguinhos (comerciante ambulante e jogador de cartas), Elias (alfaiate) e Zé de Araujo (pintor de paredes e auxiliar de pedreiro), além do sobrinho Zeca Motinha, que era o filho mais velho do finado irmão José Felipe, os quais eram tidos como parentes rebeldes, e assim sendo, como não aceitavam a imposição política do chefe local e em razão desta condição se sentiam livres para cuidar de seus ofícios liberais, vivendo dessas lides e de seus trabalhos como produtores rurais nos sítios do Baú e na Chácara do Bonsucesso, todos esses dando apoio aos candidatos que fossem indicados pela oposição.

Esses tios, por questão de afinidade, seguiam a orientação do tio Zeferino, já que os demais tios, juntos de uma infinidade de sobrinhos, seguiam a orientação do vovô, pois cada um cuidava de não se envolver em política partidária contrária aos interesses do PSD, para não perderem seus respectivos empregos, como era o caso do tio Fúlvio, que era o chefe dos Correios, do tio Gabriel (casado com tia Alice Mota) que exercia as funções de escrivão do fórum criminal, do tio Zeca Figueiró (casado com tia Maria Mota), que respondia como avaliador judicial da comarca, e a tia Ambrosina, que era viúva de Guilhermino Ramalho, a qual, por respeito à memória do finado marido, que em vida era um “chibano” inveterado, preferia ela, também, ficar neutra para assim garantir a sinecura dos filhos, um deles, de nome Domingos Neto, que era casado com a professora Zarinha Badaró, uma sobrinha do Dr. Chico, de quem era, por seu turno, um dos principais “quarteirões” do referido morubixaba.

O Dr. Zeferino Mota, porém, era muito amado por todos os parentes, indiferentemente da orientação política que tivessem, e para não causar muitos problemas ao vovô, que dele muito se orgulhava pela condição de bacharel, só comparecia na cidade, eventualmente nos tempos de natal, ano-novo, carnaval, semana santa, festa do Divino ou festa do Rosário e nunca nos dias das eleições. Mas sempre o fazia nas demais épocas, quando sempre vinha em uma viatura da polícia civil, com a sonora sirene acionada e trazendo consigo alguns policiais, seus colegas, muito bons de música e de farra, munidos de seus violões e trazendo presentes para distribuir à meninada que os seguiam, em farra, por todo o canto em que compareciam, levando brinquedos, pirulitos, gostosões, balas prediletas e cédulas novinhas de 1 cruzeiro, as quais eles jogavam para cima, em frege, aos maços, como se fossem simples confetes, junto dos confeitos e balas delícias, além das odiosas figurinhas com propagandas eleitorais da UDN, sem fazer referência a qualquer candidato, em particular, o que fazia apenas para se contrapor à turma do PSD, e assim ir fazendo suas patacoadas e proporcionar a alegria de todos por onde passava.

Esse tio, um homem saudável, alegre e brincalhão, que lá na capital era autoridade, tão logo chegava a Minas Novas se transformava no cidadão comum, dado à boa vida interiorana, visto em sua cidade, porém, como o terror dos donos das casas em que havia galinheiros, pois todas as noites ele, com sua turma de cachaceiros e de udenistas, promovia serenatas pelas ruas da sua terra, enquanto que uma equipe bem treinada e urdida na arte de surrupiar penosas comparecia junto aos poleiros dos quintais, que eram adredemente escolhidos, para ali buscarem aquelas aves que estivessem mais apropriadas para uma gorda galinhada festiva de fim de noite. E esta era a justificada razão de os donos dos finados galináceos, logo ao amanhecer do dia seguinte, comparecerem na delegacia de polícia para se queixarem do furto sofrido, durante aquela noite passada, colocando o pobre do delegado em apertos, pois sendo esta uma “autoridade de calças curtas”, via-se o mestre Joaquim Lopes melindrado de tomar alguma atitude contra o colega, bacharel e importante. Contudo, para não ficar de todo desmoralizado, recorria-se ao vovô, seu compadre, a quem não sobrava alternativa senão a de pagar pelo prejuízo, desembolsando, assim, valores que daria para comprar todo o galinheiro - com quintal e tudo - mas o que ele fazia de bom grado e depois exigia do filho o justo ressarcimento, antes de lhe repetir o tradicional, recorrente, velho e inócuo sermão, sob os risos e pilhérias do debochado biltre.

Mas não era apenas naquelas datas que o Dr. Zeferino comparecia à sua terra natal, fazendo-o também por ocasião da colheita do pequi, cujo preparo para o consumo, adicionado ao arroz na panela de barro, era um dos quitutes de que era um dos maiores apologistas. E assim acontecia durante a safra de milho verde, para degustar os famosos acarajés fritos na beira do rio, ou na época de moagem da cana, quando era colocado em funcionamento o velho engenho da Chácara Bonsucesso, que se transformava em palco de alegria geral, onde só não poderiam comparecer os “puxa-sacos” ligados aos chibanos, nessa condição incluídos os sobrinhos que militassem no partido “do contra”, os quais ficavam remoendo de inveja e raiva.

Contudo, por ser o tio Zeferino muito bem relacionado na Capital, recebia na Chácara a visita das autoridades da cidade, excetuando-se destas o prefeito, naturalmente, por que nem mesmo era convidado, considerado que era o principal “pau-mandado” do Chico Badaró Nogueira (chi-ba-no), além de ser o morador da cidade cujo quintal de sua residência era o “privilegiado” em receber, com mais freqüência, a visita dos ditos seresteiros, sem direito de jamais se queixar, pois passada aquelas temporadas, teria todo o seu plantel imediatamente renovado com novos frangos de raça que o próprio delegado-bacharel fazia empenho em lhe mandar entregar, junto da conta a ser quitada pela prefeitura, quando as novas aves chegavam-lhe para a engorda, trazidas em gaiolas próprias, por Wilson César e Vicente Faria (que eram proprietários de caminhões e estavam sempre em viagens de negócios a Belo Horizonte, e que freqüentavam sua casa por serem casados com suas sobrinhas - Doía e Guilhermina-, respectivamente) ou pelo caminhão de Fábio (filho do seu irmão Fúlvio), sobrinho, também caminhoneiro, que também o visitava sempre na capital.

Num desses eventos realizados na chácara do Bonsucesso, uma pequena propriedade rural que ainda hoje se localiza a poucos quilômetros do centro da cidade, compareceram várias pessoas ilustres do lugar, dentre elas o novo vigário que tinha chegado a Minas Novas(o padre Villy, que jamais se deixou cooptar pelos chibanos), além do juiz de direito e do promotor de justiça (autoridades estas que só conseguiam lugar na comarca, se estivessem claramente afinadas com o chefe político local), os quais foram todos muito bem recebidos pelo vovô Domingos, este, como anfitrião, se mostrando muito orgulhoso de estar sendo prestigiado com aquelas ilustres e honradas figuras.

No meio desse banquete, porém, surgiu uma grande rusga entre a cachorrada que existia no sítio, todos brigando entre si por causa dos ossos e restos das carnes assadas, quando Zé Motinha entrou no meio deles, com um cambito na mão, com o objetivo de os apartar, pelo que seguia pulando no meio deles e gritando com cada um, provocando grande algazarra::

_ sai prá lá Macaco... fique sossegado Milico...
e quieto Marechal!

Acalmados os ânimos beligerantes daquela matilha, o Dr. Juiz se mostrou curioso com aquele incidente e quis logo saber a razão dos nomes pelos quais cada cachorro atendia, pois ouvira com muita atenção, claramente, o curioso nome de cada um deles. Diante daquela interpelação foi informado que cada animal daqueles assim era chamado para homenagear algum político ligado ao presidente Vargas, de quem o Dr. Zeferino não tinha muita simpatia. Era esta a justificativa que lhe bastava, para confirmar a explicação que lhe foi dada por um dos sobrinhos, tido pelo Dr. Zeferino como adepto do lado chibano, o que assim confirmava o que já era sabido e que lhe fora adiantado por um dos parentes que, denunciando aqueles detalhes, assim agia por despeito e vingança.

E assim, de acordo com o batizado que recebera cada bicho, o “Macaco” lembrava Gregório
[3], “Milico” lembrava o homem da capa preta[4] e Marechal referia-se ao ministro Lott[5].
O magistrado, sem se mostrar surpreso, não fez qualquer comentário, naquele momento, mas no outro dia mandou que o promotor instaurasse um inquérito com o objetivo de apurar e punir aquele abuso, mas no seu ato determinou que se intimasse apenas ao Zeca Motinha. Foi iniciado o processo e o Dr. Zeferino, que não foi citado, intimado ou convocado, adiantou-se para depor e confirmar os termos da denúncia, chamando para si a responsabilidade pelos fatos que estavam sendo atribuídos à responsabilidade do sobrinho acusado. O pessoal da UDN ficou assustado com o fato e não queria que o tio Zeferino comparecesse, pois correria o risco de ser enquadrado naquele que, tinham certeza absoluta, era um esquema arquitetado nos moldes do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) órgão secreto do governo Vargas, que contava com alguns remanescentes na cidade, já reservados pelo Dr. Chico para cumprir aquela providência, como de fato ficou revelado posteriormente.

Mesmo assim o Dr. Zeferino, apesar da sua condição de Delegado da Polícia Civil, que na Capital do Estado de Minas Gerais teria direito às imunidades normais do cargo, preferiu comparecer ao gabinete do Juiz, em Minas Novas e se fez acompanhar do amigo Dr. Ataliba Pires César, que era o chefe local da União Democrática Nacional, ambos que eram admiradores do jornalista Carlos Lacerda, o pivô do episódio que teve como desfecho trágico o suicídio do Presidente Vargas, verificado no Palácio do Catete, há poucos dias lá na Capital Federal, fato cujos desdobramentos políticos deram origem a toda a bagunça generalizada de que ainda somos as principais vítimas.

No transcurso daquele famoso processo, quando o já decadente DIP
[6] não conseguiu desempenhar a função que lhe fora reservada, como seria se fosse naqueles bons tempos da ditadura, fracassando na oportunidade de “matar dois coelhos com uma única cajadada”, ou melhor, para matar um único “coelho” que tinha dois inimigos: os chibanos e os varguistas, o caso foi transferido para a Polícia Civil na Capital. E depois de algumas controvérsias, onde até o ex-governador Milton Campos[7] foi chamado a opinar, ficou decidido que a solução mais prudente seria a mudança de nome dos cachorros, pelo que o tio Zeferino não se mostrou muito contrariado, assinando um termo no qual se comprometia de escolher nomes adequados para cada animal, dando ciência às autoridades do município daquela sua providência, dentro de um determinado prazo.

No prazo que lhe foi marcado, mandou um ofício ao Juiz de Minas Novas comunicando-lhe que encaminhara recomendação a seu sobrinho José Motinha, para que este procedesse à mudança dos nomes de cada um dos cães de sua propriedade, devendo o cachorro Macaco passar a se chamar Quinca (agora em homenagem a Joaquim Lopes, que era o delegado municipal), o Milico passar a se chamar Urinas (agora em homenagem ao Prefeito Urias Sena) e o cachorro de nome Marechal passava a responder pelo nome de Sidônio, com o qual, naquele ato, estava homenageando o próprio magistrado, que assim também assinava.

E o bravo do cão “Sidônio”, tão logo o seu xará foi transferido para outra comarca, de juiz foi promovido novamente à patente de Marechal, com a qual viveu ainda por longos anos e depois morreu e foi enterrado, já velho, com as honras devidas e com a presença de toda a turma da UDN que naquele dia compareceu em peso ao aeroporto local para ali receber o Dr. Zeferino que chegava em grande estilo para o funeral do cão amigo, em cuja oportunidade aconteceu um novo rega-bofes digno de constar nos anais da velha Vila do Fanado, pois houve até “te-déum” na missa celebrada em alemão, pelo padre Willhamus Joannes Lelliveld (Vily), em sufrágio da alma do falecido Marechal e em ação de graças pelo falecimento do “pai dos pobres”.

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Dessa famosa missa resultou que o vigário perdeu o seu posto e foi suspenso de sua ordem eclesiástica, tendo sido obrigado a se mudar para o Lamarão, para o imóvel rural que havia adquirido com a intenção de fundar o Patronato de Lelivéldia, além dos outros benefícios que, posteriormente, deram origem ao principal distrito de Berilo, onde hoje está construída a Hidrelétrica de Irapé.

NOTAS EXPLICATIVAS:

[1] Getúlio Dornelles Vargas (19/4/1882 - 24/8/1954) foi o presidente que mais tempo governou o Brasil, durante dois mandatos. De origem gaúcha (nasceu na cidade de São Borja), Vargas foi presidente do Brasil entre os anos de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Entre 1937 e 1945 instalou a fase de ditadura, o chamado Estado Novo. Revolução de 1930 e entrada no poder - Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930, após comandar a Revolução de 1930, que derrubou o governo de Washington Luís. Seus quinze anos de governo seguintes caracterizaram-se pelo nacionalismo e populismo. Sob seu governo foi promulgada a Constituição de 1934. Fecha o Congresso Nacional em 1937, instala o Estado Novo e passa a governar com poderes ditatoriais. Sua forma de governo passa a ser centralizadora e controladora. Criou o DIP ( Departamento de Imprensa e Propaganda ) para controlar e censurar manifestações contrárias ao seu governo.Perseguiu opositores políticos, principalmente partidários do comunismo. Enviou Olga Benário, esposa do líder comunista Luis Carlos Prestes, para o governo nazista.

[2] O principal inimigo de Vargas era o jornalista Carlos Lacerda, um ex-comunista que havia passado para a extrema-direita nos anos 40 e editava o jornal Tribuna da Imprensa. Para Lacerda, Vargas não só era excessivamente tolerante para com os comunistas como seu governo era minado pela corrupção endêmica e pelo descarado favorecimento dos seus aliados. Entre estes se encontrava o jornalista Samuel Wainer, proprietário da Última Hora, um jornal fundado para dar cobertura ao governo de Vargas. O sucesso jornalístico de Wainer atraiu contra si toda a grande imprensa proporcionando a Lacerda uma motivação política para atacar violentamente Vargas. Wainer terminou submetido a uma CPI do Congresso, em abril de 1953, e condenado a 15 dias de cadeia por negar-se a informar quem eram os seus financiadores.




[3] Indignado com a violência dos ataques pela imprensa, rádio e televisão (na TV-Tupi do Rio de Janeiro) movidos por Carlos Lacerda contra seu patrão Getúlio Vargas, o chefe da guarda palaciana Gregório Fortunato, contratou dois pistoleiros para executarem Carlos Lacerda. Na noite de 5 de agosto de 1954 quando o jornalista se aproximava do seu apartamento, na Rua Toneleros, foi vítima de um atentado. As balas que mal o feriram no pé foram, no entanto mortais para o major Rubens Vaz da FAB que lhe fazia informalmente o papel de segurança. Imediatamente todas as evidências voltaram-se para o Palácio do Catete, sede do governo. Oficiais da FAB resolveram fazer um inquérito por conta própria visto que alegavam não poder confiar na polícia de Vargas. Formou-se a chamada "República do Galeão", um inquérito dirigido por integrantes da FAB a revelia das autoridades constituídas. Em pouco tempo os criminosos foram detidos e Gregório Fortunato preso. O poder de Vargas esvaziou-se por completo. Antes de suicidar-se já estava politicamente morto.

[4] O Marechal LOTT estudou no Colegio Miliar do Rio de Janeiro, foi Comandantes do Batalhão Escolar em 1910, na Escola Militar de Realengo. Sua formatura como aspirante a oficial foi em 1914. Foi adido militar do Brasil em Washington, Estados Unidos da América. Em 1944 chegou ao generalato. Na crise de 1954, quando as forças conservadoras à direita se opuseram ao sindicalismo à esquerda, assinou o documento em que os generais exigiam o afastamento de Getúlio Vargas do poder.
Caracterizava-se pelos seus hábitos metódicos, pelo seu respeito à hierarquia militar e ao governo constituído. Após o
suicídio de Vargas, Café Filho assumiu a presidência da República e nomeou Teixeira Lott ministro da Guerra - visando especialmente, com tal ato, afastar a influência do general pró-Vargas Newton Estillac Leal sobre os militares. Quando Juscelino Kubitschek e João Goulart venceram as eleições em outubro de 1955, respectivamente para presidente e vice-presidente da República, houve uma divisão das Forças Armadas, pró e antigetulistas. A facção antigetulista, com o apoio do principal partido político de direita do país, a UDN, procurou invalidar a eleição, sob a alegação de que JK tinha a simpatia dos comunistas, e não tivera maioria absoluta dos votos. Em 11 de novembro o general desencadeou o movimento militar, dito "de retorno ao quadro constitucional vigente". Houve então a declaração do impedimento do presidente em exercício, Carlos Luz (Café Filho havia sofrido enfarte e afastado da presidência), a entrega de seu cargo ao presidente do senado Nereu Ramos e a garantia da posse dos eleitos, em obediência à Constituição. No início de 1956, continuou como ministro da Guerra no governo de JK. Nas décadas de 1950 e 1960, se distinguiu pelo legalismo e por suas convicções democráticas. Em 1960, marechal na reserva, concorreu à eleição presidencial pela mesma coligação entre PTB e PSD que elegera JK. Recebeu um apoio frio de Juscelino - então mais interessado em voltar ao poder para um segundo mandato eletivo em 1965 - e foi muito atacado pelos setores da direita, inclusive pela Igreja Católica, apesar da sua bem conhecida devoção, pelo apoio recebido dos comunistas. Derrotado por Jânio Quadros, tentou ainda permanecer na vida pública. Em 1961 declarou-se contrário à tentativa de golpe planejada pelos ministros militares para impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio, o que lhe rendeu uma prisão domiciliar. Por fim, após o Golpe Militar de 1964, residindo em Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, foi declarado inelegível por falta de domicílio regular pela Justiça Eleitoral ao se lançar em 1965 a candidato ao governo do então estado da Guanabara. A verdadeiraa ojeriza despertada aos udenistas, contra o marechal Lott, era em razão dele ter-se posicionado a favor da posse de Juscelino Kubstechek (PSD) à presidência da república, o que não era admitito pelos políticos liderados por Carlos Lacerda que consideravam ilegal o resultado das eleições em que foi JK eleito com pequena margem de votos a seu favor.




[5]O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) foi criado em 1939, em substituição ao "Departamento de Propaganda e Difusão Cultural" (DPDC) que, em 1934, havia substituído ao Departamento Oficial de Propaganda (DOP), cuja estrutura obsoleta obrigou ao governo a ampliar sua abrangência. A História do Brasil passou a ser escrita de maneira muitas vezes distorcida e tendenciosa, com a saudação de eventos como o surgimento do Estado Novo, uma agressão à verdade e à liberdade que passou a fazer parte do cotidiano escolar das crianças e adolescentes da década de 1940. O DIP criou cartilhas para serem distribuídas às crianças nas escolas e para a imprensa, curtas para exibição obrigatória antes dos filmes nos cinemas e o programa radiofônico nacional "Hora do Brasil", retransmitido em horário nobre, antes das radionovelas ouvidas por praticamente toda a classe média e alta brasileira. O DIP tornou obrigatória a presença da foto oficial de Getúlio em lugar de destaque em todos os estabelecimentos comerciais do país (padarias, boticas, armazéns, etc), divulgando e impondo a figura do ditador em todas as instâncias da vida política e social do Brasil, numa reprodução dos métodos implantados na Alemanha nazista por Joseph Goebbels, mentor de Filinto Muller, torturador e colaborador de Vargas. Além de implantar a revista Cultura Política, no Rio de Janeiro, para fazer propaganda do governo, o DIP instituiu o dia 19 de abril, aniversário do presidente Getúlio Vargas, como o "Dia do Presidente" e, por intervenção direta ou por meio da censura, obriga a imprensa a fazer propaganda da ditadura. [1]

[6] A trajetória política de Miltom Campos:
Ingressou na
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais em 1918. Nesse ano, apoiou os candidatos oposicionistas da Reação Republicana aos governos de Minas Gerais e da República, respectivamente Francisco Sales e Nilo Peçanha, ambos derrotados. Ainda em seus tempos de universitário, travou amizade com jovens literatos da capital mineira, na sua maioria influenciados pelo modernismo, entre os quais Carlos Drummond de Andrade, Afonso Arinos de Melo Franco e Gustavo Capanema. Em 1934, elegeu-se deputado estadual constituinte em Minas Gerais, na legenda do Partido Popular (PP), agremiação que oferecia sustentação aos governos federal e estadual. Permaneceu na Assembléia Legislativa mineira até novembro de 1937, quando o golpe do Estado Novo decretou o fechamento de todas as casas legislativas do país. Nessa ocasião, manifestou-se contrário ao estabelecimento da ditadura varguista.Com o início do processo de redemocratização do país, em 1945, foi um dos fundadores da União Democrática Nacional (UDN), agremiação que reunia a oposição liberal ao Estado Novo. Em dezembro desse ano, elegeu-se deputado federal constituinte por Minas Gerais. Dois anos depois, ganhou a eleição para o governo mineiro, numa ampla coligação que, além da UDN, incluía dissidentes do Partido Social Democrático (PSD), o Partido Republicano do ex-presidente Arthur Bernardes, integralistas e comunistas. A princípio, a candidatura de Milton Campos pareceu quixotesca. "Era apenas uma candidatara de protesto, iniciada desportivamente: meia dúzia de udenistas percorrendo o interior do Estado, para levar a palavra esclarecedora daquele pregador cívico que semeava o trigo na terra árida dos 'eleitores de cabresto'.Uma verdadeira aventura romântico." Com a instalação, em Belo Horizonte, do Comitê Pró-Milton S. Campos, na Avenida João Pinheiro, a campanha udenista passou a crescer assustadoramente, realizou uma brilhante administração. Na área de educação, instituiu milhares de escolas primárias e nos setores de agricultura e energia elétrica, realizou notável obra administrativa, além de sustar o empreguismo e recuperar as finanças. A CEMIG começou a ser planejada no seu governo, quando foram realizados estudos sobre a questão da energia elétrica, com o objetivo de analisar as condições energéticas do Estado e propor a criação de uma empresa que fosse responsável pela execução desse projeto, dando suporte para a implantação de um parque industrial em Minas. A democratização do País seguia a passos largos, a despeito do governo reacionário do General Dutra. De fato, o mal-humorado ex-Ministro da Guerra conseguiu estagnar o processo de industrialização do País e emperrar a máquina governamental. Terminou seu mandato em janeiro de 1951, transferindo o governo a Juscelino Kubitscheck, eleito pelo PSD. Em outubro de 1954, voltou a eleger-se para a Câmara Federal. Em abril do ano seguinte, assumiu a presidência nacional da UDN, e nesse mesmo ano foi lançado como candidato udenista à vice-presidência da República, compondo chapa com o general Juarez Távora, sendo ambos derrotados pela chapa Kubitscheck-João Goulart. Em maio de 1957, afastou-se da presidência da UDN. Em outubro do ano seguinte, elegeu-se senador por Minas Gerais. Dois anos depois voltou a concorrer à vice-presidência da República, sendo novamente derrotado por João Goulart. Participou ativamente das articulações que levaram ao golpe militar de 1964, que afastou Goulart da presidência. Em abril desse ano, logo após a instalação do novo regime, foi nomeado ministro da Justiça pelo presidente Castelo Branco. Deixou o cargo em outubro de 1965, retornando ao Senado. Filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido criado após a instalação do bipartidarismo e base de apoio ao regime militar, renovou seu mandato de senador em 1966.

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