sábado, 8 de maio de 2010

Estrangeirismo - Vale a pena ir até o final.

 

A língua é nossa pátria

"É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade." - Allan Kardec

A minha pátria é a língua portuguesa
por Fernando Pessoa

 

(Domínio Público - Foi mantida a ortografia original.

 Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.

Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

 

Lamentável sabujice * *

Eça de Queirós **

Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.

Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo...

Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em idiomas estranhos -- isto é: o esforço para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de essencialmente característico, o Verbo -- apaga nele toda a individualidade nativa. Ao fim de anos, esse habilidoso, que chegou a falar absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de espírito, porque as suas ideias forçosamente devem ter a natureza incaracterística e neutra que lhes permita serem indiferentemente adaptadas às línguas mais opostas em carácter e génio. Devem, de facto, ser como aqueles corpos de pobre, de que tão tristemente fala o povo, que cabem bem na roupa de toda a gente.

Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de não sermos nós mesmos de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio — o Vocábulo. Ora isto é uma abdicação da dignidade nacional.

Não, minha Senhora! Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros!...

* de "A Correspondência de Fradique Mendes", 2ª. ed. Porto, 1902. pág. 142. In "Paladinos da Linguagem", 1º vol., Antologia organizada por Agostinho Campos. :: 24/10/1997

Sobre o Autor

1846-1900. Escritor português, nascido na Póvoa do Varzim, autor de romances notáveis como "O Primo Basílio", "O Crime do Padre Amaro", "Os Maias", "A Relíquia", entre muitos outros.

 

«Os povos que dependem económica e intelectualmente de outros não podem deixar de adoptar, com os produtos e ideias vindas de fora, certas formas de linguagem que lhes não são próprias. O ponto está em não permitir abusos e limitar essa importação linguística ao razoável e necessário. Contido nestes limites, o estrangeirismo tem vantagens: aumenta o poder expressivo das línguas, esbate a diferença dos idiomas, tornando-os mais compreensivos, e facilita, por isso mesmo, a comunicação das ideias gerais. Uma coisa é necessária, quando o estrangeirismo assentou já raízes na língua nacional: vesti-lo à portuguesa.». Manuel Rodrigues Lapa, in Estílistica da Língua Portuguesa, sobre os excessos e os limites — mas também a inevitabilidade — do recurso aos estrangeirismos. 

Estrangeirismos

 

Talvez esta seja uma das mais metediças modas. O estrangeirismo é o sucessivo bombardeamento de expressões estrangeiras misturadas com a nossa língua materna, o português.

Ora o que é verdade é que são poucos os que descartam a utilização de algum destes vocábulos,  As consequências são várias, mas a mais letal é a perda de identidade da nossa língua!

Esta vontade de juntar duas línguas não é de agora, dando um exemplo mais mediático, o escritor Eça de Queirós, na sua maior obra-prima – Os Maias – usava um sem número de expressões que naquela altura se encontravam na moda…

Na altura de Eça e até bem pouco tempo utilizava-se maioritariamente o francês, a língua que era dominante durante vários anos. De facto, o uso desta língua seria mais tolerável por ambas as línguas – o português e francês – vem da mesma base, ou seja, vêm as duas do Latim, sendo que tem um passado em conjunto bastante forte e vincado.  

Actualmente, as coisas são diferentes. O inglês, que vem das línguas germânicas, parece tomar conta do mundo, tendo já colocado os seus fervorosos tentáculos na língua portuguesa.

Pouca gente não utiliza termos recorrentes como "download, "wc", se formos a ver até na estrada temos sinais em inglês, como o famoso "stop". Mas não precisamos de ir muito longe. Encontramo-nos numa plataforma chamada "Sapo Blogs", ora vejamos que a palavra "blog" não é portuguesa… Está a ser usado um estrangeirismo quando podia muito bem usar a palavra portuguesa. Por isso onde se encontra "blogs" devia estar "blogues".

Esta prática é uma machadada na nossa língua materna e tem que culminar o mais rápido possível, sob pena de uma distorção a nível linguístico de toda uma língua. 

---(como se pode ver, também na "santa terrinha" é alarmante o problema da invasão dos vocábulos estrangeiros).

 

Não há porque desmerecer a quinta língua mais falada do mundo, e sexta mais escrita: o Português é um idioma poderoso, e ganha mais força com o novo acordo ortográfico.

Quem garante isso são alguns dos mais importantes estudiosos da língua que os brasileiros herdaram de Portugal. O que, aliás, não é verdade, pois a língua portuguesa que conhecemos surgiu mesmo na Galícia, ou Galíza, hoje uma importante região da Espanha – conhecida pelos brasileiros por conta da cidade de Santiago de Compostela.

Lá, como lamenta a vice-secretária da Academia Galega de Língua Portuguesa, Concha Rodrigues Peres, o idioma perde espaço para o espanhol, por conta da política de unificação cultural das diferentes regiões do reino.

Afinal, a língua é a mais eficiente maneira de unir povos.


Pode parecer exótico, mas o presidente da comissão executiva dos Colóquios de Lusofonia, Chrys Crystello, é australiano.

– Tenho grande orgulho de minha origem portuguesa. Nós dos colóquios somos independentes, trabalhamos gratuitamente e não precisamos de subsídios – explica.

A lusofonia pode ser classificada como o conjunto de identidades culturais existentes em países, regiões, estados ou cidades falantes da língua portuguesa.

Como a mais impactante novidade para os povos que falam e escrevem em português foi o acordo ortográfico adotado no ano passado, estarão em debate as mudanças que deverão ampliar o papel do idioma na união dos povos que o adotaram.

– O acordo é uma arma fundamental, une a grafia, mas não mexe na oralidade – explica o professor Vasco da Costa Pereira, de Coimbra.

Língua é falada por 230 milhões

Mas como lembra o professor João Malaca Casteleiro, da Academia de Ciências de Lisboa e patrono do evento, somados os brasileiros, portugueses, galegos, africanos e habitrantes de colônias portuguesas na Ásia e em outros países, a população que fala nossa língua chega perto de 230 milhões de pessoas.

– A língua é poder, e é importante, hoje, levar os políticos a entender esse fato
– destaca.

 

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