segunda-feira, 28 de junho de 2010

Há mais de dois anos lancei neste blog um alerta sobre a questão da mecanização dos canaviais, no Estado de São Paulo, assunto que agora volta ao debate. Veja adiante o que foi publicado em 09.06.2008:

CANA PARA AS LIDERANÇAS DE MINAS NOVAS!


OS MIGRANTES QUE SE DESLOCAM ANUALMENTE PARA SÃO PAULO, ONDE SE DEDICAM AO CORTE DE CANA PARA A PRODUÇÃO DE AÇUCAR E DE ÁLCOOL, MUITO EM BREVE SERÃO SUBSTITUIDOS PELO TRABALHO MECANIZADO, FATO QUE É UMA DAS EXIGÊNCIAS DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS AO SETOR SUCROALCOOLEIRO DE NOSSO PAÍS, PARA QUE O MERCADO CONSUMIDOR DO CHAMADO 'PRIMEIRO MUNDO" POSSA CONSIDERAR A ATIVIDADE LIVRE DO TRABALHO DEGRADANTE E NÃO DISCRIMINE O NOSSO PRODUTO.

É obrigação de nossas lideranças cuidar do futuro de nossa gente e de buscar se antecipar nas providências para minimizar o impacto de fatos previsíveis.

O assunto é muito grave.

É importante, porém, que se esclareça que os desafios surgem para que as pessoas inteligentes – honestas e trabalhadoras – convençam-se de que são capazes de solucioná-los de forma racional, planejada e eficiente.

Todos sabemos que o tema do momento é a busca de novas fontes de energia para substituir a decadente matriz petrolífera e que uma das mais viáveis e promissoras é a cultura de biomassas como a que se obtém através da cana-de-açúcar.

No nosso município temos clima favorável, abundância de terra, possibilidade de regulação dos recursos hídricos através da construção de várias barragens para irrigação e para geração de energia, além da oferta de mão-de-obra "especializada" representada pela força de trabalho dos milhares de migrantes que em breve estarão voltando para nossa região e aqui terão de se fixarem com suas famílias.

O que poderia ser um grande problema para toda a região, poderá resultar numa benéfica e providencial solução!

Nada menos do que cinqüenta chefes de estado participaram nesta semana da reunião promovida pela FAO, em Roma, para tratar da crise mundial de alimentos. Lula esteve presente, e sua enfática defesa do etanol brasileiro teve ampla repercussão.

No esforço de mostrar que a produção de etanol a partir da cana não compromete a produção de alimentos, nem ameaça a preservação da Amazônia, as duas acusações mais freqüentes contra o álcool brasileiro, Lula apontou diversas causas que incidem sobre a agricultura, provocando a atual crise. Em primeiro lugar, a alta injustificável do petróleo com sua repercussão no preço dos insumos e do transporte. Depois, a especulação dos mercados financeiros em cima dos estoques de alimentos, e o aumento de consumo de países que estão melhorando a condição de vida de suas populações, entre os quais estão a China, a Índia e o Brasil. E não deixou de fustigar de novo "as absurdas políticas protecionistas na agricultura dos países ricos".

A propósito deste último fator, os dados são de fato estarrecedores. Em 2006 os países ricos do primeiro mundo empenharam 372 bilhões de dólares em subsídios a suas agriculturas. O Diretor da FAO, Jacques Diouf, ressalta o absurdo da situação atual: bastariam 30 bilhões de dólares para acudir à fome de 862 milhões de famintos, enquanto se gasta doze vezes mais em subsídios para proteger a agricultura dos países ricos!

Se de um lado fica difícil entender a razão destes subsídios, ao menos eles acabam mostrando quanto a agricultura é estratégica para um país. Ela não pode ser reduzida a um simples negócio, como qualquer outro. A política agrícola precisa fazer parte do projeto nacional de cada país. Ela precisa fazer parte de um projeto global de sobrevivência da humanidade.

No que se refere aos migrantes, para agora enfocar um assunto muito afeto ao Vale do Jequitinhonha, esta poderá ser uma oportunidade de se repensar as bases de nossa economia, estabelecendo-se novos rumos para Minas Novas, pois torna-se o cultivo da cana muito favorável para a região, o que dever ser verificado com a maior urgência, pois vem vindo a galope para esta região uma multidão de trabalhadores especializados nesta atividade, e torna-se imprescindível olhá-la com discernimento e equilíbrio.

Não podemos demonizar a cana, como se ela fosse totalmente perversa, nem canonizá-la como se fosse imune a qualquer inconveniente. A cana tem muitas virtudes, que precisamos reconhecer, mas traz consigo muitos riscos, que devem ser evitados.

Entre as virtudes da cana, está sua grande capacidade natural de absorver os ingredientes da natureza. E' um produto robusto, que se dá bem com a terra, o calor e a chuva. E tem um potencial fabuloso de aproveitamento, em forma de açúcar e álcool. Não estranha, portanto, que encontre facilidade de cultivo. O interesse pela cana aumentou extraordinariamente com a crise ambiental e a escassez de combustíveis fósseis, contexto que propicia à cana muitas vantagens como alternativa de combustível limpo e renovável.

Mas a cana traz consigo alguns sérios riscos, que precisam ser bem ponderados. O primeiro deles é a exploração do trabalho humano, sobretudo dos cortadores de cana. A produção de álcool combustível não pode, de maneira nenhuma, implicar o retorno das condições de trabalho dos tempos da revolução industrial, quando a sede de lucro levava a exaurir as forças dos trabalhadores, que em poucos anos de trabalho perdiam sua saúde e comprometiam sua vida. E' urgente uma profunda reversão da situação em que vivem hoje os cortadores de cada nas grandes usinas de álcool em nosso país.

Outro risco da cana é sua tendência à monocultura. Pela padronização da tecnologia do seu plantio e de sua colheita, e pelos grandes capitais implicados na produção do álcool, surge fácil a tentação de desistir de outros cultivos, para deixar que a cana tome conta de todas as lavouras. Isto mostra a urgente necessidade de uma política agrícola municipal que limite o espaço da cana, para garantir outros cultivos, que devem ser apoiados e incentivados.

Neste contexto, encontra espaço a indispensável preocupação pela prioridade da agricultura na produção de alimentos, que não pode faltar em qualquer debate sobre o uso da cana para produzir etanol.

Estas breves considerações só acenam para a necessidade de aprofundar a reflexão para equacionar com equilíbrio nossa preocupação com a produção de alimentos, a crise ambiental, e as alternativas energéticas. A cana tem o mérito de mostrar a urgência deste debate.
Para o Vale do Jequitinhonha – e principalmente para o município de Minas Novas, que é um dos principais fornecedores de mão-de-obra barata para os canaviais do sul – é muito importante que suas lideranças se adiantem na busca de soluções para o problema de acomodar seus lavradores-migrantes, procurando alternativas inteligentes e abrindo possibilidades do aproveitamento deste grande contingente humano no cultivo de lavouras para a produção de alimentos nas imensas glebas agricultáveis que foram invadidas pelo eucalipto.

E ISTO TEM DE SER ENCARADO COM SERIEDADE E URGÊNCIA!!!

GERALDO MOTA COELHO (09-junho-2008)

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