segunda-feira, 5 de julho de 2010

É desse jitim mes!

From: Maria Herculana Mendes Santos- SINHÁ
Date: 2010/7/4


Lalau, será ques cara é besta ou é bobo? o dintirinzim a gente fala é4 desse jitim mes...

- No qui me toca de entender, ele é mêmo é um bocó: Tomara qu'êsse sujeito num desse cum seus burro n'água lá nu Fanado- mormente lá no buteco di Eva-  pois aí, sim, é qu'êle haviria de ver o quié muié linda.
P.S: Cê sabia qui Juaquim Fidaputa ispichous as canela?  Tava bem usado, perrengue, malacafento... discançou, uai.. qui Deus o tenha!

O Sotaque das Mineiras -


Felipe Peixoto Braga Netto (1973) afirma que não é jornalista, não é publicitário, nunca publicou crônicas ou contos - não é, enfim, literariamente falando, muita coisa, segundo suas próprias palavras. Paulistano, mora em Belo Horizonte e ama Minas Gerais. Ele diz que nunca publicou nada, mas a crônica que abaixo foi extraída do livro "As coisas simpáticas da vida", Landy Editora, São Paulo (SP) - 2005, pág. 82.


O SOTAQUE DAS MINEIRAS

(F.P.B. Netto)


O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.. Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: "ouvi-la faz mal à saúde". Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: "só isso?". Assino, achando que ela me faz um favor
.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.
Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho. Não dizem: pode parar, dizem: "pó parar" Não dizem: onde eu estou?, dizem: "onde queu tô."

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa?" Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário...

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc)
O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: "- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô."

Esse "aqui" é outra delícia que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer "olá, me escutem, por favor". É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que,"apaixonado com".
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: "Ah, eu apaixonei com ele...". Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com
todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.
Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - "Eu preciso de ir."
Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta... Só não me perguntem!
Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório.
No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente.. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente.. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com
pena,suspirará:
"- Ai, gente, que dó."

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras... Não vem caçar confusão pro meu lado! Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão". Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Ah, e tem o "Capaz..."
Se você propõe algo a uma mineira, ela diz: "capaz" !!! Vocês já ouviram esse "capaz"?
É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer "ce acha que eu faço isso"!? com algumas toneladas de
ironia.. Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: "ô dó dôcê". Entendeu? Não? Deixa para lá.


É parecido com o "nem...".
Já ouviu o "nem..."?
Completo ele fica: "- Ah, nem..." O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou
não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum. Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?".
Resposta: "nem...."
Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?
Preciso confessar algo: minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.

Se você, em conversa, falar: "Ah, fui lá comprar umas coisas..."...
- Que' s coisa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo Sai das coisas e vai para o 'que'!
Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade".
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:
- Ele pôs a culpa "ni mim".
A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: "preocupa não, bobo!".
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras. nem se
espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo assim.
Fórmula mineira é sintética. e diz tudo.

Até o tchau, em Minas, é personalizado. Ninguém diz tchau, pura e simplesmente. Aqui se diz: "tchau pro cê", "tchau pro cês".

É útil deixar claro o destinatário do tchau...

AMEI...
NÃO BRIGUEM COMIGO, ESTOU APENAS REPASSANDO UAI!!!!

BEIJOS



--
geraldo mota
http://geraldomotacoelho.blogspot.com/

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