sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CELINA CHAGAS COELHO, ADEUS!!


CELINA, nome de origem latina, etmologicamente significa "filha do céu". E, de fato, era essa uma mulher muito especial, não somente pelo significado do seu nome, mas no conjunto de suas ações como pessoa humana, amiga dedicada, cidadã honrada e, principalmente, como educadora. 
Quando morre uma professora é como se tombasse uma frondosa árvore frutífera.

As professoras, assim como as Mães são eternas, pois seu amor e suas lições permanecem vivas no coração e mente de cada aluno e serão sempre lembradas como aquelas figuras maravilhosas determinantes na formação integral do caráter, da sabedoria, da educação, dos melhores sentimentos, da dignidade e da verdadeira cidadania.

Nenhum cidadão digno – em qualquer momento de sua vida – jamais se esquece de sua professora e, assim como a lembrança  das boas árvores que povoam a saudade da infância, a memória da professora que morre continua como uma luz eterna a clarear a vida dos alunos que ficam.

Professora por vocação e índole, foi verdadeira mestra de tempo integral, nunca se afastando das lides pedagógicas e direcionando todo o seu potencial a favor do magistério, ao ponto de abrir mão de muitos de seus direitos, como mulher, inclusive o de se tornar mãe biológica e, apenas mais recentemente, permitiu-se à ventura de adotar uma filha a quem dedicou todo o seu amor materno, como a mãe mais legítima, afetuosa, terna e exemplar.

Celina volta à morada do Pai, deixando sua luz a uma legião imensa de alunos, parentes e amigos, todos agora órfãos, mas segue na absoluta certeza do dever cumprido e nós, que aqui ficamos cheios de saudade, mesmo sabendo da imensa lacuna que se abre em nosso município, rendemos graças ao Divino Criador, pela felicidade, pela alegria e pelo exemplo de grande mulher que foram seus atributos maiores, e que ficarão eternamente como  principais contribuições deixadas a todos que com ela conviveram. 



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FICO VELHO E MUXIBENTO
MAS NÃO SAIO DO ZÉ BENTO
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Quando terminei o curso primário no Grupo Escolar Coronel José Bento Nogueira, que era a única escola da cidade (isto lá pelo ano de 1963), eram poucas as professoras "normalistas" que existia em Minas Novas, isto é, aquelas que haviam terminado o curso Normal para se habilitarem como "mestras".

A maioria das professoras, naquele bom tempo, era de servidoras leigas, ou seja, que havia freqüentado - no máximo - o curso ginasial na vizinha cidade de Araçuaí, ou mesmo, algumas delas como Dona Maria Lopes, segundo ela mesma afirmava, que não tinha terminado nem mesmo o primeiro grau, o que não lhe impedia, porém, de ser respeitada pela sua competência e pela insuperável capacidade de reger uma classe e de fazer com que seus alunos se alfabetizassem e, muito mais do que isto, que se tornassem pessoas de bem, trabalhadoras, honestas, bons filhos, exemplares pais de família e mães dedicadas.

Era um tempo em que a professora primária se desdobrava como MÃE, dona-de-casa, lavadeira, cozinheira, pedagoga, disciplinária, catequista, regente de classe, auxiliar de saúde, nutricionista e na comunidade era a vigilante que impunha respeito a toda pessoa, adulta ou criança, mesmo que não fosse ainda aluno daquela escola ou que estivesse em qualquer lugar, dentro ou fora dos limites do Grupo Escolar. Um simples olhar de uma professora, dirigida ao aluno, colocava-o atento e em posição adequada de sentido e de respeito, para que não motivasse qualquer reparo ou oportunidade de repreensão ou admoestação.

Na sala de aula levava-se em conta, para efeito de avaliação do desempenho do aluno, não só o seu conhecimento das lições, mas toda a vivência e relacionamento social, tomando-se em todos os detalhes o comportamento na escola, no recinto do lar, na igreja e nas relações comunitárias.

Tudo o que se passava com o aluno, na sala de aula, nas ruas e no convívio familiar era motivo de preocupação e avaliação por parte da escola e da professora, sendo esta – na maioria das vezes – quem tinha o poder de resolver problemas caseiros e até íntimos, que tendiam fugir do controle doméstico.

Ressalte-se que, não bastasse à exigüidade do espaço físico da Escola (10 salas), não havia suficiente pessoal de apoio administrativo, faltavam móveis e equipamentos, era enorme a carência de recursos de toda ordem como material escolar e material pedagógico, ninguém ouvia dizer se existia ou não merenda ou uniformes, nem cozinha, nem banheiro ou até mesmo água canalizada e luz elétrica, muito menos geladeira, liquidificador, fogão a gás e forno microonda, copiadora, impressora e computadores, como temos hoje, em todos os educandários.

E os salários? Além do fato de que as professoras quase que não tinham salários compatíveis com o tanto de hora que trabalhavam, só recebiam seus pequenas humildes proventos depois de passados vários meses, quando já estavam devendo muito além do que recebiam, pois tinham que comprar fiado nos estabelecimentos comerciais de tudo o que necessitavam para comer, para ajudar os alunos mais necessitados e para sustentar suas próprias famílias.

Mesmo assim, diante de tanto abuso, pobreza e sofrimento, as professoras não deixavam transparecer estas mazelas e faziam da escola um ambiente agradável e respeitoso onde o clima era de contentamento, de alegria, de civismo, de patriotismo e de camaradagem.

O Grupo Escolar não era cercado de muros, não havia cercas de arame farpado  ou grades e a maioria das portas nem mesmo tinha chaves e, portanto, ficavam abertas dia e noite sem sofrer qualquer dano. Os quadros, as gravuras, os mapas e os cartazes permaneciam constantemente perfeitos e conservados, sempre afixados nas paredes sem sofrer qualquer sujo, rabisco ou rasgão, podendo ser utilizados por vários anos e em diferentes classes escolares.

Qualquer pessoa que chegasse ao recinto da sala de aula, mesmo não estando a serviço, em visita ou para tratar de qualquer assunto, era respeitosamente recebido – de pé – tanto pela professora, como pelos alunos. E era esse o procedimento em relação a qualquer visita, ainda que não fosse uma autoridade, pois era assim o que determinava a obrigatoriedade de que todos os alunos, também, ficassem de pé e em silêncio - em sinal de atenção, de respeito e consideração -, assim permanecendo até que fosse dada a permissão para se assentarem novamente e cada um voltasse a cuidar da leitura ou dos trabalhos a que estivesse obrigado naquele momento.

As pessoas mais idosas, os policiais, as senhoras de qualquer idade e as autoridades eram todos tratados com absoluto respeito em qualquer local, mesmo se fora do ambiente de serviço. Quando, por motivo rotineiro faltasse uma professora, fosse por apenas um dia ou durante um período maior, se ocorresse não haver a disponibilidade de uma eventual substituta, e para que a classe não ficasse sozinha e sem atividade, a diretora ou a secretária assumia de imediato comando dos alunos e convocava, para o dia seguinte, a presença de uma mãe ou de outra pessoa reconhecida como responsável no meio da comunidade, para que ali ficasse de plantão, no cumprimento de tarefas simples, para rezar, fazer pequenas leituras, exercitar ditado de palavras, ensaiarem cantigas, hinos, trovas, poemas, conjugação de verbos ou para, simplesmente,  acompanhar a turma em pequenos passeios a algum lugar próximo da escola, ao que se chamava de "excursão".

Assim era que, as professoras mais requisitadas não podiam adoecer ou tirar licença para maternidade. Aposentar? ..., nem pensavam nessa possibilidade, pois a ausência delas colocava em risco o próprio funcionamento da Escola. E mesmo que na cidade houvesse muitas moças que desejavam estudar para se tornarem professoras, não existia oferta de um curso de formação – Curso Normal, como se chamava – para suprir a demanda crescente de alunos.

Os colégios mais próximos que existiam, para onde iam estudar os minas-novenses mais afortunados, localizavam-se em Araçuaí, Diamantina, Teófilo Otoni ou Itambacuri. Além destes locais, onde existiam os “colégios”, alguns alunos mais ricos iam estudar em Belo Horizonte, onde o custo de vida era proibitivo para os nossos padrões. Poucas, no entanto, eram as famílias que podiam custear a formação escolar dos filhos, os quais, com toda dificuldade, teriam de morar nessas cidades maiores e, por razões sabidamente naturais, a grande parte das pessoas que saiam para estudar acabavam não voltando mais para nossa humilde terra, por descobrirem lá fora suas novas vocações ou encontrarem nos centros mais desenvolvidos o ambiente adequado para a nova realidade de suas vidas.

Essa injusta situação permaneceu durante muito tempo e seus reflexos negativos podem ser observados ainda hoje, até mesmo no que se refere à estrutura familiar, de vez que houve dispersão de valores que poderiam ter sido agregados a favor de nossa comunidade e que se fixaram, por força dessas circunstâncias, em lugares distante onde passaram a frutificar, distantes do velho tronco ressecado e cada vez mais oco que, a duras penas, vem tentando se manter de pé e permitir que brotem novos galhos e novas folhagens.

Para corroborar estas minhas assertivas, acerca das ótimas professoras que passaram pela minha infância, recordo-me dos exemplos da ARTE DE ENSINAR, que naquele saudoso Grupo deram o máximo de si: refiro-me a Pedagogas (com “p” maiúsculo) como Dona Maria Geralda Silva, Elisa Mota Borges, Lilia Borges,  Adir Sena Costa, Neusa Sena Camargos, Rosarinha Badaró Ramalho. Augusta Gomes de Souza, Elza César Badaró, Celina Chagas Coelho, Nilza Gomes de Souza, Vany de Castro Maciel e, principalmente, das irmãs: ZARINHA, MYRIAM e ZÉLIA COELHO, estas as legítimas herdeiras do legado genético (DNA) de verdadeiras mestras, todas essas grandes minas-novenses que deixaram marcas indestrutíveis na minha formação e na memória histórica do GRUPO ESCOLAR CEL. JOSÉ BENTO NOGUEIRA.

Ainda bem que retiraram do nome dessa velha e querida escola o "coronel" aproveitando-se da oportunidade da mudança de nomenclatura para "Escola Estadual, deixando apenas o "José Bento" que, ainda assim, caso bem tivessem pensado, poderia ter mudado todo o nome, para um mais adequado a um educandário, homenageando-se, com justiça, a uma personalidade do Ensino como "Dona Flora Brasileira Pires César", "Mestra Ritinha Gomes". "Dr. Francisco Martiniano", "Dona Olídia Nepomuceno Leite", "Dona Neide Freire", "Mestre José Gomes". "Dona Saninha de Zeca", "Dona Maria Lopes", "Serviçal Gabrielzinho" ou "Serviçal Elias Evangelista", estes sim, a exemplo do Dr. Agostinho, que muito deram de si pela educação das crianças e da juventude de Minas Novas.

geraldo mota

Um comentário:

Anônimo disse...

Seu blog é maravilhoso, suas palavras têm um brilho contagiante, mas tenho algumas críticas a fazer sobre a Escola José bento Nogueira, com certeza na sua época ela era muito boa ,porém agora existem professores mal humorados, que saem de suas casas levando seus problemas para a sala de aula, e não conseguem passar uma boa energia e nem bons conhecimentos para os alunos, passam atividades e se esquecem que a teoria vem primeiro, e ainda dizem que estão transformando os alunos em cidadãos críticos e que eles mesmos podem construir seu conhecimento,mas todos nós precisamos de alguém para intermediar nosso dia a dia e nas nossas atitudes, a Diretora defende as professoras que agem mal na sala de aula , não ensinam mais História, Geografia e Ciências, acham que pelo fato da prova Brasil cobrar mais Português e Matemática, não precisam mais ensinar tais matérias, acho portanto que eles deveriam rever seus conceitos e melhorarem suas atitudes junto aos pais dos alunos, e deixar de lado a ambição de querer serem grandes demais, e ao mesmo tempo arrogantes, só com atitudes de valores conseguirão ter uma escola democrática .

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