quinta-feira, 6 de março de 2014



Por uma nova política energética para o Brasil
 
 
Ivo Poletto
 
 
Lembro do dia em que um técnico do ministério de minas e energia, provocado pela pergunta: "por que o governo não exige e promove a repotenciação das usinas hidrelétricas existentes?", respondeu: "porque os estudos que fizemos demonstraram que a repotenciação geraria ganhos de produtividade insignificantes, e por isso as empresas não estão interessadas nela."

Agora, diante da pesquisa da dra. Elisa Podestá Gomes, publicada no Jornal da Unicamp, no dia 24 de fevereiro, e no dia 26 no IHU, que dirão os técnicos, o ministro e a própria presidente Dilma, que foi da área e tem a responsabilidade de ter desestruturado, em 2004, segundo testemunho do Dr. Sérgio Sauer, o projeto de política energética elaborado em 2002 para o governo Lula? Certamente dirão que os dados e a conclusão da tese não são seguros, pois são contestados pelos estudos das empresas e dos técnicos do Ministério de Minas e Energia, ligados às empresas! E poderão até encomendar e pagar por novas pesquisas que "demonstrem" que não vale a pena repotenciar as usinas.

Contudo, a conclusão da tese, baseada em detalhada análise da realidade das usinas hidrelétricas, é desafiadora: se houvesse vontade política, em pouco tempo e com custos baixos, seria possível aumentar a energia elétrica disponível em 11.000 MW! Sem nenhuma grande obra, sem estragar rios, sem causar conflitos sociais, sem agredir o ambiente vital, o ganho em energia seria igual ao anunciado como produção da hidrelétrica de Belo Monte. Mas como se sabe que, por causa da variação do rio Xingu, a produção média de Belo Monte será muito mais baixa, entre 3 e 4 MW, a repotenciação pode gerar três vezes mais energia do que essa hidrelétrica.

É isso que apavora as empresas construtoras e as que ganham com venda de energia: que o povo saiba que há outras formas mais baratas e racionais de produzir energia. Por isso, o governo, para ser democrático e fazer boa gestão dos recursos públicos, não pode consultar as empresas para decidir o que fazer como política energética, pois isso é igual a consultar as raposas sobre o que se deve fazer  para "cuidar" das galinhas!

Junto com a repotenciação, é urgente uma decisão política de promover a eficiência energética em todas as formas de uso de energia, desde a produção até consumo, passando pelas linhas de transmissão, em que se perde entre 20 e 30%, um índice inaceitável no mundo e no tempo de hoje. Quantas Belo Monte poderíamos deixar de construir se cuidássemos de gastar o mínimo de energia em todas as atividades de produção e de consumo público e doméstico?

Finalmente, mas sendo o mais importante, por que não produzir a energia que realmente precisamos - depois de cuidar da repotenciação, da eficiência energética e da redefinição da política minerária e de outras prioridades industriais - utilizando o sol que se oferece risonho e gratuito em todo o território nacional, produzindo-a de forma descentralizada? Não vale consultar e decidir com as empresas que lucram com venda de energia, pois para elas isso seria um desastre! Que seja consultado o povo, depois de ampla e verdadeira informação sobre o que se está fazendo e o que se pode fazer diferente em relação à produção e consumo de energia.

Para promover publicamente este debate, um conjunto de entidades brasileiras, e entre elas o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, está organizando um Fórum Social Temático sobre Energia: para que, para quem e como? Será realizado em Brasília, de 7 a 10 de agosto de 2014, e todas as entidades, movimentos, organizações e pastorais estão convidadas a participar ativamente dele. Em breve estará no ar um blog com informações e um Site de intercomunicação. Mas podem entrar em contato desde já através do email fst.energia@gmail.com

 
*Ivo Poletto é assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

Uma outra solução, de curto prazo, seria a retomada de projetos como a USINA DE SANTA RITA nas confluências dos rios Araçuai e Fanado, abrangendo os municípios de Minas Novas, Leme do Prado e Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha. 

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