Intensas
vidas vazias
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr - 22/08/2013
Uma das marcas do tempo presente é a pressa de
viver. As horas, os minutos e os segundos parecem escoar freneticamente pelo
impiedoso ralo da existência, levando consigo momentos e oportunidades que se
vão para nunca mais voltar. Diante do medo de não viver situações ou
possibilidades únicas, somos tragados para o centro de um redemoinho social que
nos cobra tudo, a todo momento.
As exigências não param: temos que ter sucesso,
fama e riqueza, sermos belos, jovens, inteligentes e ainda dar satisfação para
uma sociedade tantas vezes hipócrita e cada vez mais invasiva na privacidade de
cada um. Ah, se não quiseres fazer parte dessa patota, terás que conviver com
olhos de reprovação daqueles que se julgam superiores, embora talvez nunca
tenham tido a coragem de olhar criticamente para si e constatar uma pueril
superioridade pessoal.
Sim, viver em liberdade não é fácil e exige um
constante esforço individual. Aliás, viver é lutar com afinco pela própria
sobrevivência e, se possível, ainda ser feliz.
O narcisismo coletivo que impera nos dias atuais
faz pensar que nascemos sorrindo, quando, na verdade, choramos ao nascer. O
choro do bebê contrasta, paradoxalmente, com alegria dos pais e familiares. E o
que isso quer dizer? Ora, quer dizer que a vida é ambígua e contraditória, mas
são justamente nas ambiguidades e contradições humanas que temos que construir
nosso próprio caminho, nossas próprias escolhas, nossas opções de vida.
Portanto, ser livre é assumir definitivamente nossa
individualidade única, respeitar o outro e pouco ligar para a opinião alheia
quando a decisão for nossa. Isso, todavia, não é fácil. Não é fácil porque não
somos uma simples coisa que vive bem e feliz em qualquer canto ou ilha perdida.
Sabe-se lá porque, na linha de evolução da
humanidade adquirimos, com o desenvolvimento da linguagem, a capacidade de nos
relacionarmos uns com os outros, criando laços de afinidade. E assim, ao
contrário dos bichos que agem e se relacionam por instinto, o surgir da
intimidade humana e o nascer de vínculos afetivos interpessoais criaram
significados especiais para nossa pulsante existência racional.
Ocorre que, em uma sociedade marcada pela
celebração do sucesso efêmero, passamos a preferir a aparência de sorrisos
rasos à dificuldade de construir uma autêntica vida plena. Plenitude que não
significa perfeição, mas simplesmente assumir nossa limitada condição humana e,
com a ajuda do poder da razão, agir concretamente em um mundo opaco que requer
cores vivas, e não brilhos superficiais.
Atualmente, confundimos velocidade de sensações com
intensidade de sentimentos e, na angústia de não deixar o tempo passar,
acabamos por esvaziar profundos sabores vivenciais que precisam exatamente do
tempo para serem realmente sentidos em sua inteira potencialidade. O problema é
que o tempo passa, a intensidade vai e o vazio chega.
E você, por onde anda no turbilhão do
mundo?
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