domingo, 4 de outubro de 2015

VOCÊ PREFERE SER COMPARADO À ANTA, AO BUIRRO, À EGUA, AO VEADO, À GALINHA OU À VACA?


EU FUI PASSEAR MONTADO NA ÉGUA DE MINHA COMADRE JANDIRA –
Mesmo que coloquialmente devemos ter muito cuidado com a nossa maneira de expressar, escrevendo ou falando, para não incorrermos em situações vexatórias com o uso inadequado de cacófatos, pleonasmo e outros vícios de linguagem que soam mal aos ouvidos e que até podem ofender pessoas a quem nos dirigimos. Mas, também, os cuidados devem ser observados quanto ao uso de outros recursos linguísticos que podem tornar-se inadequados, conforme o contexto em que estejam empregados.
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A Metáfora, por exemplo, é uma figura de linguagem que produz sentidos figurados por meio de comparações implícitas. Ela pode dar um duplo sentido à frase. E com a ausência de uma conjunção comparativa, pode assumir uma feição adversa àquela que desejaríamos. Também é um recurso expressivo, cujo uso deve ser parcimonioso.
"Fulano é um gato"; Minha prima é uma flor; meu amigo é um galinha; você é um pão.
No meu tempo de juventude, desde aquela época, tive muito cuidado para não ser chamado de “burro” e me esforçava para não passar como “asno”. Convivi com colegas, muito vaidosos, uns que gostavam de serem considerados como “gatos”, outros como “feras” e tenho um primo que gostava de ser chamado “pão”. Eu, que sempre fui muito humilde e acanhado, preferia que me tratassem, no máximo, pelo apelido de “Lalau”, com o qual passei ser designado desde o dia em que, no segundo ano do curso primário, minha professora me fez participar de um auditório em que encenava a história tirada da Cartilha de “Lili, Lalau e o Lobo Mau”, evento escolar em que me sai como um aplaudido ator, ao lado da Lili que também continuou com esse nome e que desde aquela época nunca mais vi, pois ela, sim, era de fato uma artista mirim de circo e estava de passagem por minha velha Minas Novas, na companhia de seu pai, o palhaço Gastura. Desde aquela época passei considerar, como curioso, o fato de se “batizar” as pessoas com outros nomes diferentes daqueles que receberam na pia batismal e no registro cartorário, ao tempo em que, mesmo como sobrenome, muitas pessoas carregam referências a nomes estranhos, que normalmente nos lembram de lugares, árvores, animais e profissões. Nossa família, por exemplo, desde o mais remoto ascendente, adotou o “Coelho”, mas conheço muitas outras que são “Pinto”, “Carneiro”, “Galo”, “Leão”, “Barata”, “Cordeiro”, “Leitão”, “Vieira”, “Camarão”, “Peixe” e até “Veado”, mesmo que figuras saltitantes dessa natureza estejam, às vezes ocultas, até mesmo nas melhores famílias de nossa sociedade. São inúmeros os “Silva”, os “Pereira”. “Pinheiro”, “Carvalho”, “Nogueira”, Oliveira, Pimenta, Lima e outras árvores, sem se falar na série dos Almeidas, Rochas, Lages, Rodrigues, Magalhães, Sousa, Azevedos, Brandão, Mota, Caldas, Guedes, Borges, Sena, Ferreira, Guimarães, Setúbal, Silveiras, Ramalhos, Costa, Esteves, Dias, Cavalcanti, Leite, Colares, Fernandes, Santos, Couto, Moreira, Figueiredo, Casais, Amaral, Chagas, Neves, Ribeiro, Monteiro, Queluz, Teixeira, Bento, Bessa, Ramos, Pires, Camargos, Barbosa, Tavares, Abreu, Lemos, Batista, Sena, Junqueira, Vaz, Brito, Pedra, Madeira, Ferro, Barros, Terra, Braga, Luz, Pimentel e até Neves, etc. etc. A maioria, porém, é mais conhecida por apelidos. Aliás, na minha cidade, não sei o porquê, é muito comum as pessoas serem conhecidas por apelidos com referência a animais, como “cobra”, “bode”, “jiboia”, “cabra”, “tatu”, “jacu”, “soim”, “cutia”, “carrapato”, “lesma”, “boi”, “lambari”, “cascudo”, “muriçoca”, “lagartixa”, “cupim”, “chupão”, “ratinho”, mas ninguém gosta de ser chamado de “burro”, “mula”, “jumento”, “jegue”, “égua”, “cachorro”, “cavalo”, “veado”, “anta”, “galinha”, “rato”, “porco”, “asno”. Ultimamente um apelido que tem sido considerado muito ofensivo é “vaca” e não vejo qualquer razão para essa implicância. Chamar uma pessoa de vaca tem sido motivo de grande contrariedade e muita briga.
Eu sempre considerei, o fato de xingar e emitir impropérios, uma atitude deselegante, incorreta e que destoa do "bom tom" que os falantes devem dar à comunicação, mesmo que informal, ou coloquial, no seu quotidiano. Antes de tudo, considero ser uma grande injustiça considerar a vaca como incompetente, mal-educada, corrupta ou merecedora de outro adjetivo, com conotações pejorativas, quando todos sabem que a vaca, sendo animal doméstico e muito útil, para ser valorizada precisa ser, tão somente, boa pastadeira, boa parideira e boa leiteira. Essa mania nacional, que agora é a de colocar em discussão os méritos da PRESIDENTA, como tal, não tem qualquer sentido quando alguém, movido por qualquer arroubo, lança mão de recursos inadequados, idênticos a esse, quando se sabe que, com um mínimo de inteligência e observação, pode-se optar pelo uso apropriado dos adjetivos, com a extensão dos significados semânticos que indicam nosso entendimento sobre determinados assuntos, em específicas situações e momentos. Quanto à vaca, é muito recorrente a expressão, nem sempre cabível no contexto, que nos remete ao brejo, lugar que nem sempre as vacas se sentem muito à vontade, e nem sempre pode ser comparado a um lamaçal, pois nestes, sim, chafurdam outros viventes pouco asseados, mas que deveriam zelar pelas atitudes e aparência, para se darem ao respeito como pessoas e autoridades.

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