EU FUI PASSEAR MONTADO NA ÉGUA DE MINHA COMADRE JANDIRA –
Mesmo que coloquialmente devemos
ter muito cuidado com a nossa maneira de expressar, escrevendo ou falando, para
não incorrermos em situações vexatórias com o uso inadequado de cacófatos,
pleonasmo e outros vícios de linguagem que soam mal aos ouvidos e que até podem
ofender pessoas a quem nos dirigimos. Mas, também, os cuidados devem ser
observados quanto ao uso de outros recursos linguísticos que podem tornar-se
inadequados, conforme o contexto em que estejam empregados.
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A Metáfora, por exemplo, é uma figura de linguagem que produz sentidos
figurados por meio de comparações implícitas. Ela pode dar um duplo sentido à
frase. E com a ausência de uma conjunção comparativa, pode assumir uma feição
adversa àquela que desejaríamos. Também é um recurso expressivo, cujo uso
deve ser parcimonioso.
"Fulano é um gato"; Minha prima é uma flor; meu
amigo é um galinha; você é um pão.
No meu tempo de juventude, desde aquela época, tive muito
cuidado para não ser chamado de “burro” e me esforçava para não passar como
“asno”. Convivi com colegas, muito vaidosos, uns que gostavam de serem
considerados como “gatos”, outros como “feras” e tenho um primo que gostava de
ser chamado “pão”. Eu, que sempre fui muito humilde e acanhado, preferia que me
tratassem, no máximo, pelo apelido de “Lalau”, com o qual passei ser designado
desde o dia em que, no segundo ano do curso primário, minha professora me fez
participar de um auditório em que encenava a história tirada da Cartilha de
“Lili, Lalau e o Lobo Mau”, evento escolar em que me sai como um aplaudido
ator, ao lado da Lili que também continuou com esse nome e que desde aquela
época nunca mais vi, pois ela, sim, era de fato uma artista mirim de circo e
estava de passagem por minha velha Minas Novas, na companhia de seu pai, o
palhaço Gastura. Desde aquela época passei considerar, como curioso, o fato de se
“batizar” as pessoas com outros nomes diferentes daqueles que receberam na pia
batismal e no registro cartorário, ao tempo em que, mesmo como sobrenome,
muitas pessoas carregam referências a nomes estranhos, que normalmente nos lembram
de lugares, árvores, animais e profissões. Nossa família, por exemplo, desde o
mais remoto ascendente, adotou o “Coelho”, mas conheço muitas outras que são
“Pinto”, “Carneiro”, “Galo”, “Leão”, “Barata”, “Cordeiro”, “Leitão”, “Vieira”,
“Camarão”, “Peixe” e até “Veado”, mesmo que figuras saltitantes dessa natureza
estejam, às vezes ocultas, até mesmo nas melhores famílias de nossa sociedade.
São inúmeros os “Silva”, os “Pereira”. “Pinheiro”, “Carvalho”, “Nogueira”, Oliveira,
Pimenta, Lima e outras árvores, sem se falar na série dos Almeidas, Rochas, Lages,
Rodrigues, Magalhães, Sousa, Azevedos, Brandão, Mota, Caldas, Guedes, Borges, Sena,
Ferreira, Guimarães, Setúbal, Silveiras, Ramalhos, Costa, Esteves, Dias,
Cavalcanti, Leite, Colares, Fernandes, Santos, Couto, Moreira, Figueiredo, Casais,
Amaral, Chagas, Neves, Ribeiro, Monteiro, Queluz, Teixeira, Bento, Bessa,
Ramos, Pires, Camargos, Barbosa, Tavares, Abreu, Lemos, Batista, Sena,
Junqueira, Vaz, Brito, Pedra, Madeira, Ferro, Barros, Terra, Braga, Luz,
Pimentel e até Neves, etc. etc. A maioria, porém, é mais conhecida por
apelidos. Aliás, na minha cidade, não sei o porquê, é muito comum as pessoas
serem conhecidas por apelidos com referência a animais, como “cobra”, “bode”, “jiboia”,
“cabra”, “tatu”, “jacu”, “soim”, “cutia”, “carrapato”, “lesma”, “boi”,
“lambari”, “cascudo”, “muriçoca”, “lagartixa”, “cupim”, “chupão”, “ratinho”,
mas ninguém gosta de ser chamado de “burro”, “mula”, “jumento”, “jegue”,
“égua”, “cachorro”, “cavalo”, “veado”, “anta”, “galinha”, “rato”, “porco”,
“asno”. Ultimamente um apelido que tem sido considerado muito ofensivo é “vaca”
e não vejo qualquer razão para essa implicância. Chamar uma pessoa de vaca tem
sido motivo de grande contrariedade e muita briga.
Eu sempre considerei, o fato de xingar e emitir impropérios,
uma atitude deselegante, incorreta e que destoa do "bom tom" que os
falantes devem dar à comunicação, mesmo que informal, ou coloquial, no seu
quotidiano. Antes de tudo, considero ser uma grande injustiça considerar a vaca
como incompetente, mal-educada, corrupta ou merecedora de outro adjetivo, com
conotações pejorativas, quando todos sabem que a vaca, sendo animal doméstico e
muito útil, para ser valorizada precisa ser, tão somente, boa pastadeira, boa
parideira e boa leiteira. Essa mania nacional, que agora é a de colocar em
discussão os méritos da PRESIDENTA, como tal, não tem qualquer sentido quando
alguém, movido por qualquer arroubo, lança mão de recursos inadequados,
idênticos a esse, quando se sabe que, com um mínimo de inteligência e
observação, pode-se optar pelo uso apropriado dos adjetivos, com a extensão dos
significados semânticos que indicam nosso entendimento sobre determinados
assuntos, em específicas situações e momentos. Quanto à vaca, é muito
recorrente a expressão, nem sempre cabível no contexto, que nos remete ao
brejo, lugar que nem sempre as vacas se sentem muito à vontade, e nem sempre pode
ser comparado a um lamaçal, pois nestes, sim, chafurdam outros viventes pouco
asseados, mas que deveriam zelar pelas atitudes e aparência, para se darem ao
respeito como pessoas e autoridades.
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