sexta-feira, 14 de agosto de 2009

L A L A U
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)
STANISLAW PONTE PRETA,
que na verdade se chamava Sergio Porto, ficou também conhecido no Brasil pelo apelido de LALAU, por força de sua coluna jornalística que escrevia com o título de “CERTINHAS DO LALAU”, enfocando a sociedade do Rio de janeiro, com suas belas garotas e as paradisíacas praias cariocas, inspiradoras de suas crônicas e as fofocas que incendiavam a sociedade de todo o país, naquela saudosa época de efevercência cultural e política séria, antes do período em que vigorou o regime militar que muito o perseguiu, devido à sua posição crítica de muita pilhéria, ironia e fino humor que mexia com os brios dos milicos e censores de plantão.
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Era um jornalista de primeira água, competente, culto, corajoso e, acima de tudo, criativo e sincero.
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Era um sentimental e um grande amante das artes e da vida.
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Sérgio Porto, por ele mesmo:

"Auto-retrato do artista quando não tão jovem"
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"ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário.
OUTRAS ATIVIDADES: Marido, pescador, colecionador de discos (só samba do bom e jazz tocado por negro, além de clássicos), ex-atleta, hoje cardíaco. Mania de limpar coisas tais como livros, discos, objetos de metal e cachimbos.
PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES: Mulher.
QUALIDADES PARADOXAIS: Boêmio que adora ficar em casa, irreverente que revê o que escreve, humorista a sério.
PONTOS VULNERÁVEIS: Completa incapacidade para se deixar arrebatar por política. Jamais teve opinião formada sobre qualquer figurão da vida pública, quer nacional, quer estrangeira.
ÓDIOS INCONFESSOS: Puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista.
PANACÉIAS CASEIRAS: Quando dói do umbigo para baixo: Elixir Paregórico. Do umbigo para cima: aspirina.
SUPERTIÇÕES INVENCÍVEIS: Nenhuma, a não ser em véspera de decisão de Copa do Mundo. Nessas ocasiões comparativamente qualquer pai-de-santo é um simples cético.
TENTAÇÕES IRRESISTÍVEIS: Passear na chuva, rir em horas impróprias, dizer ao ouvido de mulher besta que ela não tão boa quanto pensa.
MEDOS ABSURDOS: Qualquer inseto taludinho (de barata pra cima).
ORGULHO SECRETO: Faz ovo estrelado como Pelé faz gol. Aliás, é um bom cozinheiro no setor mais difícil da culinária: o trivial.
Assinado, Sérgio Porto, agosto de 1963."
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EIS AQUI UMA DE SUAS FRASES:
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- No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.
- Antes só do que muito acompanhado.
- Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo “eu sou coronel, eu sou coronel”, o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: “Fora esse, qual o outro mal do qual o senhor se queixa?”
- Ser imbecil é mais fácil.
- Está dando mais do que cará no brejo.
- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia.
- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.
- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.
- Desligou o telefone com uma violência de PM em serviço.
- Mais monótono do que itinerário de elevador.
- Macrobiótica é um regime alimentar para quem tem 77 anos e quer chegar aos 78.
- Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.
- Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante.
- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado é aquele que tem um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso.
- Quem não tem quiabo não oferece caruru.
- Mania de grandeza é a desses suplementos literários que têm um aviso dizendo que é proibido vender separadamente.
- Pode-se dizer a maior besteira, mas se for dita em latim muitos concordarão.
- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no escuro.
- Todo homem previdente sorri sem falha no dente.
- Mulher expondo teoria sobre educação infantil é solteira na certa.
- Menino mijado, bode embarcado e chefe de Estado, nunca fica despreocupado.
- Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!
- Esperanto é a língua universal que não se fala em lugar nenhum.
- Pra quem gosta de jiló, coruja é colibri.
- Era desses caras que cruzam cabra com periscópio pra ver se conseguem um bode expiatório.
- O terceiro sexo já está quase em segundo.
- As coisas que mais contribuem para avacalhar a dignidade de um homem são, pela ordem, bofetão de mulher e tombo de bunda no chão.
- Caetano Veloso confunde velocidade com trepidação.
- Hoje em dia ninguém é bonzinho de graça.
- A polícia prendendo bicheiros? Assim não é possível. Respeitemos ao menos as instituições!
- O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.
- Às vezes é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela.
- Mais inútil do que um vice-presidente.
- Mais mole que bochecha de velha.
- A polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos.
- Ninguém se conforma de já ter sido.
- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.
- Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática.
- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.
- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é catarro, nem toda mulher eu agarro.
- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o que é lógica.
- A diferença entre o religioso e o carola é que o primeiro ama a Deus, o segundo, teme.
- Pediatra sempre capricha na pronúncia quando anuncia sua especialidade, pra evitar mal-entendidos.
- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que correm menos.
- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.
- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.
- O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.
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UMA DE SUAS PÉROLAS:

- Da minha janela vejo o pátio de um colégio e quando a campainha toca para o intervalo das aulas eu paro de trabalhar e fico olhando, como se estivesse no recreio também.
- O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês.


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Stanislaw Ponte Preta, nosso querido Sérgio Porto (1923/1968), teve sua vida esmiuçada por Renato Sérgio no livro Dupla Exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta, editado pela Ediouro Publicações S.A. - Rio de Janeiro, 1998. Dali extraímos os frases acima (pág. 266 e seguintes), muitas das quais refletem o clima em que vivia o autor face à “revolução redentora de 1964″, como ele costumava dizer.
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Filho de Américo Pereira da Silva Porto e de D. Dulce Julieta Rangel Porto, Sérgio Marcos Rangel Porto, um cidadão acima de qualquer desfeita, nasceu no Rio de Janeiro em pleno verão, no dia 11 de janeiro de 1923, e ficou famoso anos depois sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, emprestado à Oswald de Andrade (vide Memórias de Serafim Ponte Grande).
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Foi casado com Dirce Pimentel de Araújo, com quem teve três filhas:
Gisela, Ângela e Solange.
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Dizem seus estudiosos que no citado livro teria encontrado seu grande filão: a irreverência.
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Começou uma obra carioquíssima, até hoje insuperável, transpondo para jornais, livros e revistas o saboroso coloquial do Rio de Janeiro.
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Afirmam, também, que as melhores crônicas são aquelas onde a disposição de desfazer o sentido de uma palavra ou de uma situação não se manifesta apenas no final do enredo, mas parece atingir a estrutura da narrativa; quer dizer, a partir de pistas falsas, a história é conduzida visando a um final que não acontece, substituído por outro, totalmente inesperado.
(vejam Menino Precoce e A Charneca, por exemplo).
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Era um mestre das comparações enfáticas:
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"Mais inchada do que cabeça de botafoguense"
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"Mais assanhado do que bode velho no cercado das cabritas"
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"Mais suado do que o marcador de Pelé"
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"Mais duro do que nádega de estátua"
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"Mais feia do que mudança de pobre"
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"Mais murcho do que boca de velha"
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Traçou, em 12 palavras, o retrato de uma época , os tais anos dourados nada permissivos, quando o preconceito prevalecia, principalmente em matéria de sexo:
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"Se peito de moça fosse buzina, ninguém dormia nos arredores daquela praça".
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(Antes da liberação sexual, as praças e outros cantinhos escuros eram, então, um buzinaço).
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Criador de Tia Zulmira, Rosamundo e Primo Altamirando, foi com seu Festival de Besteira que Assola o País - FEBEAPÁ, lançado em plena vigência da Redentora, apelido do golpe militar de 1964, que ele alcançou seu grande sucesso. Stanislaw afirmava ser difícil precisar o dia em que as besteiras começaram a assolar o Brasil, mas disse ter notado um alastramento desse festival depois que uma inspetora de ensino no interior de São Paulo, portanto uma senhora de nível intelectual mais elevado pouquinha coisa, ao saber que o filho tirara zero numa prova de matemática, embora sabendo tratar-se de um debilóide, não vacilou em apontar às autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista
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FICA AÍ, PORTANTO, MINHA HOMENAGEM AO CHARÁ ILUSTRE, DO QUAL, NÃO SEI PORQUÊ, TOMARAM EMPRESTADO O MEU APELIDO.

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