O GRANDE DITADOR
Curado, mas ainda com amnésia, Chaplin retorna à sua barbearia no gueto
judeu, ainda sem saber da situação política da
Tomânia. O barbeiro fica chocado quando tropas de choque quebram a
janela de sua loja. Encontra, depois, um amor, Hannah, uma linda moradora do
gueto.
Enquanto isso,
Schultz, que recebeu várias promoções nesses vinte anos, reconhece o barbeiro e
dá ordens às tropas de deixá-lo em paz. Hynkel tenta diminuir a repressão aos
judeus quando tem oportunidade de obter empréstimo com um banqueiro judeu.
Obcecado com o poder, Hynkel aspira à dominação mundial. Numa cena clássica
Hynkel brinca com um globo inflável, para acidentalmente estourá-lo no final.
Eventualmente, o empresário judeu recusa o acordo, e Hynkel reinstaura a
perseguição aos judeus.
Schultz é contra a
invasão ao gueto que Hynkel está planejando. O ditador manda o general para um campo de concentração.
Schultz foge para o gueto e começa a planejar junto com os outros moradores do
lugar uma forma de tirar Adenoide Hynkel do poder. No fim, ambos (Schultz e seu
amigo barbeiro) são presos.
Hynkel disputa com Benzino Napaloni (Jack Oakie), ditador de Bactéria, a primazia na
invasão de Osterlich, que é o primeiro passo para o ditador interpretado
por Chaplin conquistar o mundo. Napaloni visita Hynkel em Tomânia para ambos discutirem
um tratado para que nenhum dos países invada Osterlich, uma vez que Napaloni posicionara suas tropas na
fronteira com aquele país. Depois de diversas tentativas dos dois ditadores
mostrarem sua superioridade, eles culminam em uma divertida discussão sobre um
tratado de paz (que inclui guerra de comida) entre os dois líderes. Uma vez
assinado o tratado e com Napaloni fora do caminho, Hynkel inicia a invasão.
Hannah, que tinha fugido para Osterlich com os moradores da pensão onde vivia
no gueto em Tomânia, mais uma vez se encontra encurralada pelo regime de
Hynkel.
Schultz e o barbeiro
escapam do campo de concentração usando uniformes de soldados. Guardas
confundem o barbeiro com o ditador Hynkel (com quem ele se parece muito). Ao
mesmo tempo, Hynkel é preso pelos seus próprios soldados que acreditam que se
trata do barbeiro fugindo do campo de concentração.
O barbeiro, que havia
assumido a identidade de Hynkel para não ser preso, é levado para a capital da
Tomânia para um discurso de vitória. Tal
discurso é o total oposto das ideias anti-semitas de Hynkel, expondo as ideias democráticas há muito na cabeça do barbeiro.
Hannah ouve a voz do barbeiro no rádio, e fica surpresa
quando ele se dirige a ela:
"Hannah, está
me ouvindo? Onde quer que esteja, olhe para cima! Olhe para cima, Hannah! As
nuvens estão subindo, o Sol está abrindo caminho! Estamos fora das trevas, indo
em direção à luz! Estamos indo para um novo mundo; um mundo mais feliz, onde os
homens vencerão a ganância, o ódio e a brutalidade. Olhe, Hannah!".
O filme termina com
Hannah olhando para cima, com um sorriso no rosto.
Adenóide Hynkel e
Benzino Napaloni são paródias a Adolf Hitler e Benito Mussolini, respectivamente. O nome de Napaloni é também
uma vaga referência a Napoleão Bonaparte. A
terra de Osterlich referencia a Áustria, cujo nome em alemão é Österreich. Paulette Goddard, que faz a
personagem Hannah, era esposa de Chaplin. No momento em que o Barbeiro Judeu
faz a barba do careca e faz toda aquela coreografia toca a 5ª dança húngara de Brahms.
"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu
ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de
ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por
que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para
todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos
extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as
muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e
os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados
dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e
cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas,
precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e
doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza
dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à
fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha
voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados,
homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres
humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não
desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da
cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso
humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que
do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a
liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que
vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos,
as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo,
que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e
que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E
com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se
fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo
sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do
homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em
vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar
felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de
faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos
desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que
a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à
velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas,
só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores
liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo,
abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam
à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos! ( segue o estrondoso aplauso da multidão ).
Então, dirige-se a Hannah :
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês,
Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva
para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens
estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A
alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a
luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!."
Nota: Observe o quanto se faz necessária, no presente,
a mensagem desse discurso. Veja como Chapplin, como se fosse ele um profeta – e
ao que me parece ele o é, de fato – refere-se às mazelas daquele período e que
ainda hoje se fazem vivas e dilacerantes. Seria de grande importância, a meu
ver, que este filme fosse obrigatoriamente exibido nas classes escolares, nos quartéis
e nas fábricas, pelo menos uma vez por ano.
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