terça-feira, 9 de junho de 2015

ESCOLAS ADMIRÁVEIS


ESCOLAS ADMIRÁVEIS
(em extensos ciclos históricos)

Geraldo Mota

A escola é uma instituição concebida para o ensino de alunos acolhidos em um espaço físico ou ambiente definido como uma sala ou um conjunto de salas de aula, geralmente sob a orientação de uma pessoa mais experiente, que seja capaz de transmitir conhecimentos. Como lugar onde se pratica o ensino, surgiu a cerca de 500 anos antes da era cristã, lá na antiga Grécia, onde já era conhecida a figura do pedagogo, ou seja, aquele preceptor – muitas das vezes um aio ou escravo especial – ao qual era encarregado a tarefa de conduzir as crianças mais afortunadas em suas atividades lúdicas, religiosas, culturais, de entretenimento e de aprendizagem, daí a etimologia da palavra "pedagogo".  Na atualidade, a pedagogia é exercida por profissionais habilitados em suas competências e está condicionada às normas estabelecidas em programas específicos. Contudo, à primeira vista, quando se fala em Escola, surge-nos a figura de um edifício, singelo ou amplo, no qual tenhamos ingressado, algum dia, com a expectativa de ali encontrarmos com o conhecimento, com as primeiras letras, com a aprendizagem dos rudimentos aritméticos, de cálculo e de lógica, da sabedoria, da cultura, da ciência, do civismo, das relações sociais e dos demais instrumentos necessários à formação intelectual e humanística. E nem sempre é aquele espaço físico o fator preponderante, de fato necessário, na avaliação de uma escola, no contexto de seu objetivo social.
Desde os tempos mais antigos, através de seguidas gerações, passando-se pela atualidade e, muito certamente que continuando pelo futuro das civilizações, a ESCOLA e, por conseguinte, o ENSINO e a EDUCAÇÃO, é a instituição fundamental e insubstituível na formação integral do cidadão, qualquer que seja seu objetivo dentro da comunidade em que esteja ele inserido. Sem dúvida alguma, em qualquer lugar do mundo jamais houve, não há, e não haverá, a possibilidade de progresso, de desenvolvimento e de paz social se não houver – na base da organização comunitária – a concorrência de um trabalho intensivo e coordenado de uma ESCOLA, por mais simples, original ou humilde que seja o seu perfil na composição do cenário arquitetônico e urbanístico. Aliás, nenhum exagero é afirmar que, na inexistência de uma Escola, seria impossível surgir uma comunidade organizada e ativa, de vez que, o próprio LAR – na sua essência, como alicerce da sociedade – sendo o sagrado abrigo de uma família – é ela também, a escola, um conceito que se pode aceitar ao contrário, ou seja, também a ESCOLA é uma legítima extensão do LAR, sendo ambas, estas instituições, definidas como células embrionárias, pedras fundamentais e esteios da organização social, dentro da amplitude de um Estado e de uma Nação.
Instituições de ensino e suas instalações são muitas as que existem e que se destacam pela suntuosidade dos seus prédios, dos seus laboratórios e dos equipamentos modernos adotados, assim como pelo marketing que tornam consagrados seus métodos, para atrair os melhores currículos para seus quadros docentes e logísticos. E não são raras essas organizações educacionais, mesmo de nível infantil, maternal ou pré-escolar, que funcionam como grandes empresas, demandando capitais e altíssimos investimentos em sofisticadas estruturas tecnológicas, em todos os segmentos da modernidade, pelas quais são cobradas aos alunos ali matriculados verdadeiras fortunas a título de mensalidades.  E em muitas dessas "escolinhas", para nelas se ingressarem os filhos de famílias de consideráveis rendas, antes devem os interessados se inscreverem com bastante antecedência em concorridas listas de espera, razão pela qual, dadas às condições do mercado, são bem mais atrativas e substanciais as remunerações pagas aos professores e auxiliares que nesse emprego encontram condições invejáveis para o exercício do magistério, em detrimento do gradativo esvaziamento e da perda de qualidade das escolas mantidas pelo poder público.
Por outra vertente, há muito que, principalmente no Brasil, consolidou-se a má fama das escolas públicas, em razão de uma série de fatores negativos que têm produzido o empobrecimento cultural das populações concentradas nas periferias das grandes cidades e também aquelas confinadas ao abandono da maioria dos municípios interioranos que, em tese, são compostos pelas classes marginalizadas que pressionam as estatísticas vergonhosas traduzidas pelos IDHs.. Esse triste quadro social, porém, ao contrário da falácia existente acerca deste fenômeno, muito pouco está relacionado ao sucesso daquelas escolas particulares, de vez que, na verdade, a culpa maior pela falência do ensino e da educação oficial está na irresponsabilidade do próprio poder público que visivelmente se omite no cumprimento do seu dever constitucional em prover os recursos orçamentários necessários e priorizar esses setores vitais do arcabouço comunitário.
Infelizmente, grande parte dos gestores municipais, que são políticos carreiristas, de pouca formação intelectual, incapazes culturalmente, desprovidos de sensibilidade, pessoas de pouco compromisso com a realidade e reduzida visão de futuro, tende a confundir como dispêndios, e não considera como investimentos de médio prazo, as despesas realizadas sob a rubrica daqueles dois setores vitais de uma administração que se preze digna, competente e responsável. É lastimável que seja assim esta nossa dura constatação, não pela humilde condição social, carência de recursos materiais minimamente necessários a uma simples escola, falta de investimentos adequados à boa formação intelectual e profissional do quadro docente, mas principalmente pelo pouco caso à verdadeira cultura, pela demagogia que ronda o ambiente que deveria ser o das realizações intelectuais, de agregação e valorização das letras e do saber, assim como pelo total e ignominioso desprestígio das lideranças e autoridades do setor educacional, para não se falar em questões materiais como a péssima remuneração de todo o pessoal empregado na área de ensino público.
Mesmo assim, em que pesem tantas mazelas, é inegável a existência de escolas exemplares, onde todo esse quadro de agruras é minimizado ou compensado pelo denodo e altruísmo de algumas lideranças, possibilitando o louvável exercício de professores e outros profissionais do ensino que podem ser classificados como verdadeiros sacerdotes, pois estes não medem sacrifícios pessoais em seus particulares projetos pedagógicos para bem servir ao município – na cidade, nos distritos e povoados - afirmando-se como legítimos mestres ao conseguirem façanhas de estabelecer marcas invejáveis de aproveitamento de grande parte de seus alunos.
E é justamente a propósito desse aspecto tão positivo, evidenciado em experiências isoladas, quase sempre humildes e desprovidas de qualquer outro objetivo senão o de ser útil à comunidade, como instrumentos subsidiários ao trabalho pedagógico desenvolvido em todas as escolas,  que devemos acreditar na força dos bons propósitos e no poder das boas propostas e das iniciativas que visam o aprimoramento do magistério, que tenham legitimidade, transparência e compromisso com os bons resultados, na certeza de que este milagre depende da conscientização coletiva e do engajamento de cada cidadão, muito mais que da capacidade intelectual, que do próprio dom natural que existe latente no fundo da alma de cada um de nós, como pais de família e como educadores, todos nós que um dia já fomos crianças e também alunos, mas que continuamos a fazer parte integrante de uma família e que desejamos sempre o melhor para nossa terra e toda nossa gente.
Esse "milagre" – é importante que se esclareça – é tão possível de que venha novamente acontecer em nossa terra, que o fato não seria inédito, nem desconhecido da população, algo que possa ser  fantástico ou associado às tentativas quiméricas, consideradas descabidas e levianas, julgada como um sonho ou uma ilusão, pois aqui mesmo em Minas Novas, temos notícias históricas de que, em outros tempos, igualmente de incríveis dificuldades como as atuais, ainda na fatídica época do carrancismo e logo depois de abolido o regime da escravatura, tínhamos em funcionamento a famosa ESCOLA NORMAL DO SOBRADÃO, que foi pioneira na formação de muitos conterrâneos, ainda hoje reconhecidos, que daqui se espalharam pelo Nordeste Mineiro, como apóstolos do ensino e do progresso em diversas áreas, criando escolas em distritos, povoados, vilas e cidades importantes de nossa região, que de fato foi um projeto arrojado para aquele tempo, mas que durou menos de duas décadas e se inviabilizou pela ação impatriótica de políticos retrógrados, opressores e inimigos do progresso social, os quais optaram pelo fechamento daquele bendito educandário, eliminando o sonho de muitos jovens e prejudicando hereditariamente várias gerações, fato que marca insidiosamente o início de um esvaziamento populacional e econômico de nosso município, empurrando-o ao declínio cultural, político e social, no prolongado ciclo de trevas, de pobreza e de sofrimento que nefastamente refletiu no atraso de grande parte do restante do Vale do Jequitinhonha, consequentemente espoliado, abandonado e relegado ao pior destino, em relação à realidade de municípios vizinhos que, naquela mesma época, mereceram melhor sorte com a atenção de seus governantes. 
Porém, no desenrolar desse martírio e após toda uma demorada purgação nesse "vale de lágrimas", quis o Poder da Divina Providência que decorridos cerca de 50 anos da fatídica expulsão do bacharel pernambucano Francisco Martiniano de Oliveira, fundador e líder da Escola Normal de Minas Novas, que novamente aqui se aportasse mais um visionário com uma proposta de resgate da nossa dignidade e cidadania, na figura austera e benfazeja de um simples médico chamado DR. AGOSTINHO DA SILVA SILVEIRA. E foi assim que mais um milagre se realizou em nosso município, inspirado nos moldes da antiga Escola Normal, consubstanciando-se no GINÁSIO MINAS NOVAS, cujo cinquentenário de formatura de sua primeira turma de alunos agora  comemoramos neste ano de 2015.
A história deste Ginásio é um grande exemplo de que milagres, voltamos a afirmar, são possíveis quando a própria comunidade toma consciência de sua injustificável inércia e dela se desvencilha, com o despertar e o impulso da liderança de um homem desprendido, abnegado e corajoso, quando o povo simples se deparou com novas perspectivas, num momento inadiável de tomada de decisão para a recomposição de seus brios, no fortalecimento de seus princípios e na realização de seus mais acalantados sonhos.
E o resultado desse milagre aí está como prova de sua materialidade, na figura de cada um daqueles alunos que teve a glória e a ventura de estudar no Ginásio do Dr. Agostinho, uma ESCOLA da mais alta  qualidade, em todos os sentidos, muito embora seu regime noturno de funcionamento em instalações precárias e em prédio compartilhado com outra escola, ali desenvolvendo o trabalho sem a disponibilidade de recursos adequados, mínimos que fossem, sem qualquer dotação financeira, sem a definição das fontes garantidoras de seus orçamentos, mas que conseguiu congregar ideias, ideais, coragem e voluntarismo de um grupo unido, sem vínculos ideológicos, partidários, religiosos ou empregatícios, de pessoas que jamais exigiram vantagens ou remuneração em troca do grande serviço prestado, todos se entregando ao projeto com o maior entusiasmo, demonstrando competência e galhardia na tarefa de ensinar e imediatamente revertendo todo aquele velho ambiente de caos em um agradável cenário de energia, solidariedade, disciplina e esperanças por dias melhores, resultando nos melhores frutos que hoje justificam todo o esforço e todo o sacrifício daqueles inúmeros benfeitores que granjearam respeito e reconhecimento e assim serão eternamente reverenciados como verdadeiros heróis, por parte de centenas de ex-alunos que se destacaram, e se destacam ainda hoje, como grandes homens e mulheres, profissionais, políticos, religiosos, artistas, educadores e pessoas da maior importância, pelo Brasil afora, que ilustram a tradição de nossa terra e que elevam ao maior conceito o nosso orgulho de sermos MINAS-NOVENSES.
O Ginásio Minas Novas deu origem à atual Escola Estadual Dr. Agostinho que, felizmente, também com o meritório esforço de seus professores e auxiliares, dá continuidade ao projeto original de transmitir conhecimentos e formar cidadãos, com o louvável compromisso de levar adiante o grande exemplo dos professores pioneiros e, principalmente, não deixando jamais arrefecer a tradição e a marca registrada de amor pela juventude minas-novense, que é o legado maior do inolvidável patrono.
Mas o momento atual é de novos desafios e outros embates já se anunciam, convocando as verdadeiras lideranças para cerrarem fileiras, desta vez para a concretização de mais um grande milagre, viabilizando a alvissareira instalação do CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UNIMONTES em nosso município. E nesta próxima empreitada, onde muitos companheiros de boa cepa já estão decididamente empenhados, espera-se a adesão consciente e determinante de outros tantos conterrâneos que precisam quebrar as resistências incabíveis como paixões e complexos não resolvidos, ou até mesmo para a cura de síndromes e frustrações, para assim  superarmos o quadro degradante de monotonia e marasmo e o entediante bucolismo que perdura teimosamente em alguns segmentos dessa nossa vetusta e amada aldeia, rompendo-lhe as amarras caiçaras das vaidades injustificáveis, espantando de vez e  corajosamente os caiporas e anhangás que se incorporam e se esforçam para permanecer entre nós, envenenando o nosso clima e incentivando antigos preconceitos, para que, depois de solucionados estes obstáculos, possamos seguir,  todos irmanados e fortalecidos, o roteiro indicado pela saga desassombrada do empreendedorismo e de lideranças como a Professora IRENE BARBOSA, que tem na sua ascendência, do lado materno, a determinação corajosa dos Barreiros e, pelo costado paterno, o DNA caraíba que inspira esse projeto, partindo resolutamente para a conquista de novos horizontes e fixando os marcos de fronteiras mais amplas que devem ir muito além de nossas limitadas ocaras, cafundós e mocambos, pois a evolução do inhangatu, há muito desvencilhado do arcaico discurso, hoje coincide perfeitamente com a linguagem dos modernos significados onde o melhor protagonismo é aquele que conjuga trabalho com produção, quimeras e anseios com fatos concretos e tem o poder de transformar sonhos, não em fantasias e passos alegóricos, mas em magias palpáveis, que sejam equânimes, factíveis, potencialmente duradouras e  em benéficas realidades.
E sendo assim, nada mais havendo para propor, que a UNIMONTES, em nosso meio, seja REALMENTE (como diria nosso saudoso mestre Dr. Agostinho nas suas positivas afirmações diárias...) uma benfazeja realidade à qual poderemos, com muito orgulho, brindar como mais uma ESCOLA ADMIRÁVEL!

Belo Horizonte, 09 de junho de 2015

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