ESCOLAS ADMIRÁVEIS
(em  extensos ciclos históricos)
Geraldo Mota
A escola é uma instituição concebida  para o ensino de alunos acolhidos em  um espaço físico ou ambiente definido como uma sala ou um conjunto de salas de  aula, geralmente sob a orientação de uma pessoa mais experiente, que seja capaz  de transmitir conhecimentos. Como lugar onde se pratica o ensino,  surgiu a cerca de 500 anos antes da era cristã, lá na antiga Grécia, onde já era conhecida  a figura do pedagogo, ou seja, aquele preceptor – muitas das vezes um aio ou  escravo especial – ao qual era encarregado a tarefa de conduzir as crianças mais  afortunadas em suas atividades lúdicas, religiosas, culturais, de  entretenimento e de aprendizagem, daí a etimologia da palavra "pedagogo".  Na atualidade, a pedagogia é exercida por  profissionais habilitados em suas competências e está condicionada às normas  estabelecidas em programas específicos. Contudo, à primeira vista, quando se  fala em Escola, surge-nos a figura de um edifício, singelo ou amplo, no qual  tenhamos ingressado, algum dia, com a expectativa de ali encontrarmos com o  conhecimento, com as primeiras letras, com a aprendizagem dos rudimentos aritméticos, de  cálculo e de lógica, da sabedoria, da cultura, da ciência, do civismo, das  relações sociais e dos demais instrumentos necessários à formação intelectual e  humanística. E nem sempre é aquele espaço físico o fator preponderante, de fato  necessário, na avaliação de uma escola, no contexto de seu objetivo social.
Desde os tempos mais antigos,  através de seguidas gerações, passando-se pela atualidade e, muito certamente que continuando  pelo futuro das civilizações, a ESCOLA e, por conseguinte, o ENSINO e a  EDUCAÇÃO, é a instituição fundamental e insubstituível na formação integral do  cidadão, qualquer que seja seu objetivo dentro da comunidade em que esteja ele  inserido. Sem dúvida alguma, em qualquer lugar do mundo jamais houve, não há, e  não haverá, a possibilidade de progresso, de desenvolvimento e de paz social se  não houver – na base da organização comunitária – a concorrência de um trabalho  intensivo e coordenado de uma ESCOLA, por mais simples, original ou humilde que  seja o seu perfil na composição do cenário arquitetônico e urbanístico. Aliás,  nenhum exagero é afirmar que, na inexistência de uma Escola, seria impossível surgir  uma comunidade organizada e ativa, de vez que, o próprio LAR – na sua essência,  como alicerce da sociedade – sendo o sagrado abrigo de uma família – é ela  também, a escola, um conceito que se pode aceitar ao contrário, ou seja, também  a ESCOLA é uma legítima extensão do LAR, sendo ambas, estas instituições,  definidas como células embrionárias, pedras fundamentais e esteios da  organização social, dentro da amplitude de um Estado e de uma Nação. 
Instituições de ensino e suas  instalações são muitas as que existem e que se destacam pela suntuosidade dos seus prédios, dos seus laboratórios e dos equipamentos modernos adotados, assim como pelo  marketing que tornam consagrados seus métodos, para atrair os melhores currículos  para seus quadros docentes e logísticos. E não são raras essas organizações  educacionais, mesmo de nível infantil, maternal ou pré-escolar, que funcionam  como grandes empresas, demandando capitais e altíssimos investimentos em  sofisticadas estruturas tecnológicas, em todos os segmentos da modernidade, pelas  quais são cobradas aos alunos ali matriculados verdadeiras fortunas a título de  mensalidades.  E em muitas dessas  "escolinhas", para nelas se ingressarem os filhos de famílias de consideráveis rendas, antes devem os interessados se inscreverem com bastante  antecedência em concorridas listas de espera, razão pela qual, dadas às  condições do mercado, são bem mais atrativas e substanciais as remunerações  pagas aos professores e auxiliares que nesse emprego encontram condições  invejáveis para o exercício do magistério, em detrimento do gradativo  esvaziamento e da perda de qualidade das escolas mantidas pelo poder público. 
Por outra vertente, há muito que,  principalmente no Brasil, consolidou-se a má fama das escolas públicas, em  razão de uma série de fatores negativos que têm produzido o empobrecimento  cultural das populações concentradas nas periferias das grandes cidades e  também aquelas confinadas ao abandono da maioria dos municípios interioranos que,  em tese, são compostos pelas classes marginalizadas que pressionam as estatísticas vergonhosas  traduzidas pelos IDHs.. Esse triste quadro social, porém, ao contrário da  falácia existente acerca deste fenômeno, muito pouco está relacionado ao  sucesso daquelas escolas particulares, de vez que, na verdade, a culpa maior  pela falência do ensino e da educação oficial está na irresponsabilidade do próprio  poder público que visivelmente se omite no cumprimento do seu dever  constitucional em prover os recursos orçamentários necessários e priorizar esses  setores vitais do arcabouço comunitário.
Infelizmente, grande parte dos  gestores municipais, que são políticos carreiristas, de pouca formação  intelectual, incapazes culturalmente, desprovidos de sensibilidade, pessoas de  pouco compromisso com a realidade e reduzida visão de futuro, tende a confundir como dispêndios, e não considera  como investimentos de médio prazo, as despesas realizadas sob a rubrica  daqueles dois setores vitais de uma administração que se preze digna, competente  e responsável. É lastimável que seja assim esta nossa dura constatação, não pela humilde condição social, carência de recursos  materiais minimamente necessários a uma simples escola, falta  de investimentos adequados à boa formação intelectual e profissional do quadro  docente, mas principalmente pelo pouco caso à verdadeira cultura, pela demagogia que ronda o  ambiente que deveria ser o das realizações intelectuais, de agregação e  valorização das letras e do saber, assim como pelo total e ignominioso desprestígio  das lideranças e autoridades do setor educacional, para não se falar em  questões materiais como a péssima remuneração de todo o pessoal empregado na  área de ensino público. 
Mesmo assim, em que pesem tantas  mazelas, é inegável a existência de escolas exemplares, onde todo esse quadro  de agruras é minimizado ou compensado  pelo denodo e altruísmo de algumas lideranças, possibilitando o louvável  exercício de professores e outros profissionais do ensino que podem ser  classificados como verdadeiros sacerdotes, pois estes não medem sacrifícios pessoais  em seus particulares projetos pedagógicos para bem servir ao município – na  cidade, nos distritos e povoados - afirmando-se como legítimos mestres ao conseguirem façanhas de  estabelecer marcas invejáveis de aproveitamento de grande parte de seus alunos.
E é justamente a propósito desse  aspecto tão positivo, evidenciado em experiências isoladas, quase sempre humildes  e desprovidas de qualquer outro objetivo senão o de ser útil à comunidade, como instrumentos subsidiários ao trabalho pedagógico desenvolvido em todas as escolas,   que devemos acreditar na força dos bons  propósitos e no poder das boas propostas e das iniciativas que visam o aprimoramento do magistério, que tenham legitimidade, transparência e compromisso com os bons resultados, na certeza de que este milagre depende da conscientização coletiva e do engajamento de cada cidadão, muito mais que da capacidade intelectual, que do próprio dom  natural que existe latente no fundo da alma de cada um de nós, como pais de  família e como educadores, todos nós que um dia já fomos crianças e  também alunos, mas que continuamos a fazer parte integrante de uma família e que  desejamos sempre o melhor para nossa terra e toda nossa gente. 
Esse "milagre" – é importante que  se esclareça – é tão possível de que venha novamente acontecer em nossa terra,  que o fato não seria inédito, nem desconhecido da população, algo que possa ser  fantástico ou associado às tentativas quiméricas, consideradas descabidas e levianas, julgada como um sonho ou uma ilusão,  pois aqui mesmo em Minas Novas, temos notícias históricas de que, em outros tempos, igualmente  de incríveis dificuldades como as atuais, ainda na fatídica época do carrancismo e logo depois  de abolido o regime da escravatura, tínhamos em funcionamento a famosa ESCOLA  NORMAL DO SOBRADÃO, que foi pioneira na formação de muitos conterrâneos, ainda  hoje reconhecidos, que daqui se espalharam pelo Nordeste Mineiro, como  apóstolos do ensino e do progresso em diversas áreas, criando escolas em  distritos, povoados, vilas e cidades importantes de nossa região, que de fato foi um projeto arrojado  para aquele tempo, mas que durou menos de duas décadas e se inviabilizou pela  ação impatriótica de políticos retrógrados, opressores e inimigos do progresso  social, os quais optaram pelo fechamento daquele bendito educandário, eliminando  o sonho de muitos jovens e prejudicando hereditariamente várias gerações, fato que  marca insidiosamente o início de um esvaziamento populacional e econômico de  nosso município, empurrando-o ao declínio cultural, político e social, no prolongado  ciclo de trevas, de pobreza e de sofrimento que nefastamente refletiu no atraso de grande  parte do restante do Vale do Jequitinhonha, consequentemente espoliado,  abandonado e relegado ao pior destino, em relação à realidade de municípios vizinhos  que, naquela mesma época, mereceram melhor sorte com a atenção de seus governantes.  
Porém, no desenrolar desse  martírio e após toda uma demorada purgação nesse "vale de lágrimas", quis o  Poder da Divina Providência que decorridos cerca de 50 anos da fatídica expulsão do bacharel  pernambucano Francisco Martiniano de Oliveira, fundador e líder da Escola  Normal de Minas Novas, que novamente aqui se aportasse mais um visionário com uma proposta de resgate da nossa dignidade e cidadania, na figura austera e benfazeja de um  simples médico chamado DR. AGOSTINHO DA SILVA SILVEIRA. E foi assim que mais um  milagre se realizou em nosso município, inspirado nos moldes da antiga Escola  Normal, consubstanciando-se no GINÁSIO MINAS NOVAS, cujo cinquentenário de formatura  de sua primeira turma de alunos agora  comemoramos neste ano de 2015.
A história deste Ginásio é um  grande exemplo de que milagres, voltamos a afirmar, são possíveis quando a própria  comunidade toma consciência de sua injustificável inércia e dela se desvencilha, com o despertar e o impulso da  liderança de um homem desprendido, abnegado e corajoso, quando o povo simples se deparou com novas  perspectivas, num momento inadiável de tomada de decisão para a recomposição de seus  brios, no fortalecimento de seus princípios e na realização de seus mais  acalantados sonhos.
E o resultado desse milagre aí está  como prova de sua materialidade, na figura de cada um daqueles alunos que teve a  glória e a ventura de estudar no Ginásio do Dr. Agostinho, uma ESCOLA da mais  alta  qualidade, em todos os sentidos, muito embora seu regime noturno de funcionamento em  instalações precárias e em prédio compartilhado com outra escola, ali desenvolvendo o trabalho sem a disponibilidade de recursos adequados, mínimos  que fossem, sem qualquer dotação financeira, sem a definição das fontes garantidoras de seus orçamentos, mas  que conseguiu congregar ideias, ideais, coragem e voluntarismo de um grupo unido, sem vínculos ideológicos, partidários, religiosos ou empregatícios, de pessoas que jamais exigiram  vantagens ou remuneração em troca do grande serviço prestado, todos se entregando ao projeto com o maior entusiasmo, demonstrando competência e galhardia na tarefa de ensinar e imediatamente revertendo todo aquele  velho ambiente de caos em um agradável cenário de energia, solidariedade, disciplina e  esperanças por dias melhores, resultando nos melhores frutos que hoje  justificam todo o esforço e todo o sacrifício daqueles inúmeros benfeitores que  granjearam respeito e reconhecimento e assim serão eternamente reverenciados  como verdadeiros heróis, por parte de centenas de ex-alunos que se destacaram,  e se destacam ainda hoje, como grandes homens e mulheres, profissionais, políticos, religiosos,  artistas, educadores e pessoas da maior importância, pelo Brasil afora, que ilustram a tradição de nossa terra e que  elevam ao maior conceito o nosso orgulho de sermos MINAS-NOVENSES. 
O Ginásio  Minas Novas deu origem à atual Escola Estadual Dr. Agostinho que, felizmente, também  com o meritório esforço de seus professores e auxiliares, dá continuidade ao  projeto original de transmitir conhecimentos e formar cidadãos, com o louvável compromisso  de levar adiante o grande exemplo dos professores pioneiros e, principalmente,  não deixando jamais arrefecer a tradição e a marca registrada de amor pela juventude  minas-novense, que é o legado maior do inolvidável patrono. 
Mas o  momento atual é de novos desafios e outros embates já se anunciam, convocando as  verdadeiras lideranças para cerrarem fileiras, desta vez para a concretização  de mais um grande milagre, viabilizando a alvissareira instalação do CAMPUS  UNIVERSITÁRIO DA UNIMONTES em nosso município. E nesta próxima empreitada, onde  muitos companheiros de boa cepa já estão decididamente empenhados, espera-se a  adesão consciente e determinante de outros tantos conterrâneos que precisam  quebrar as resistências incabíveis como paixões e complexos não resolvidos, ou até mesmo para a cura de síndromes e frustrações, para assim  superarmos o quadro degradante de monotonia e marasmo e o entediante bucolismo que perdura  teimosamente em alguns segmentos dessa nossa vetusta e amada aldeia, rompendo-lhe  as amarras caiçaras das vaidades injustificáveis, espantando de vez e  corajosamente os  caiporas e anhangás que se incorporam e se esforçam para permanecer entre nós, envenenando o nosso clima e incentivando antigos preconceitos, para que, depois de solucionados estes obstáculos, possamos seguir,  todos  irmanados e fortalecidos, o roteiro indicado pela saga desassombrada do empreendedorismo e de  lideranças como a Professora IRENE BARBOSA, que tem na sua ascendência, do lado  materno, a determinação corajosa dos Barreiros e, pelo costado paterno, o DNA  caraíba que inspira esse projeto, partindo resolutamente para a conquista de novos  horizontes e fixando os marcos de fronteiras mais amplas que devem ir muito além de nossas limitadas  ocaras, cafundós e mocambos, pois a evolução do inhangatu, há muito  desvencilhado do arcaico discurso, hoje coincide perfeitamente com a linguagem  dos modernos significados onde o melhor protagonismo é aquele que conjuga trabalho  com produção, quimeras e anseios com fatos concretos e tem o poder de  transformar sonhos, não em fantasias e passos alegóricos, mas em magias palpáveis,  que sejam equânimes, factíveis, potencialmente duradouras e  em benéficas realidades. 
E sendo  assim, nada mais havendo para propor, que a UNIMONTES, em nosso meio, seja REALMENTE (como diria nosso saudoso  mestre Dr. Agostinho nas suas positivas afirmações diárias...) uma benfazeja  realidade à qual poderemos, com muito orgulho, brindar como mais uma ESCOLA ADMIRÁVEL! 
Belo Horizonte, 09 de junho de 2015
 
 
 
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