segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

CARTAS: PORQUÊ ESCREVÊ-LAS?

CARTAS, CARTAS E CARTAS

Sou do tempo, não muito distante, em que o meio de comunicação mais comum era a CARTA, a velha escrita, devidamente endereçada, envelopada, subscrita e selada, principalmente em Minas Novas onde o telefone foi inaugurado somente em 02 de outubro de 1980, quando todo o resto do país já era beneficiado por esta já antiga invenção de Grambell (ALEXANDRE GRAHAM BELL - Ele nasceu em 3 de março de 1847, em uma cidade chamada Edinburgh, na Escócia, e faleceu em 2 de agosto de 1922 com 75 anos me uma cidade chamada Halifax no Canadá. Foi o físico naturalizado americano que inventou o telefone em 10 de março de 1876).

Até o ditoso ano de 1980 o único telefone que existia em Minas Novas era um arcaico aparelho, dotado de manivela, que ficava na casa de Jacu, lá na bucólica Barragem, enfeitando a parede da usina como peça decorativa de vez que não funcionava desde a época da inauguração daquela pequena hidrelétrica. Naquele ano folclórico o município completaria 250 exercícios de existência política e o ditador-presidente da república (General Figueiredo) viria à cidade para as festividades que estavam programadas para a efeméride e, desta forma, seria de bom tom preocupar-se em inaugurar alguma coisa de útil, além do novo prédio do Banco do Brasil (o qual, para funcionar a sua agência que atendia 10 municípios, na maior dificuldade e total carência de infra-estrutura da cidade) valia-se do recurso antiquado do sistema de radio PCX para fazer suas comunicações.

Foi então, que resolvemos – gerente Francisco Carlos Campos Coelho liderando alguns funcionários do referido banco -- liderarmos uma campanha na cidade para a instalação de uma central telefônica mono-canal com apenas 100 terminais interligados à rede de Diamantina, contratando para isto os serviços de uma empreiteira da Ericson do Brasil, que planejou, orçou e instalou o sistema em menos de 30 dias, sem a necessidade de qualquer intervenção do poder público. Mesmo assim as ligações interurbanas só passariam a ser possíveis de se completar um bom tempo depois, havendo funcionado "pró-forma", simbolicamente, no ato da inauguração pelo dito ditador, para, logo depois ficarem mudos os aparelhos e tudo voltar ao velho sofrimento do "cambio, escuta, cambio" ao microfone das espeluncas, ainda por longo tempo.

Das cem (100) primeiras assinaturas, as pioneiras foram: 08 linhas para o próprio Banco do Brasil (setores da agência, residências do gerente e gerente-adjunto e AABB), 03 para a central telefônica, 03 para a prefeitura, sendo as demais, uma para cada assinante: Minascaixa, Delegacia de Polícia, Quartel da PMMG, Paróquia, Cobal, Acesita, IBGE, ECT, Campo-Vale, Fundo-Cristão, Hospital, Posto de Saude, Forum, Cartório Imobiliário, DAE e 10 linhas destinadas aos funcionários que se cotizaram no investimento, sendo as demais para serem vendidas a particulares, com a facilidade de financiamento. Algumas dessas linhas, porém, foram reservadas a determinados "medalhões" da cidade e até ,mesmo instaladas com prioridade, mas ficaram no "ora, veja", sem a contra-partida do pagamento devido e, assim, o custo das mesmas teve de ser arcado pelos pobres cidadãos comuns que pagaram pelo progresso, muito embora essas mesmas linhas continuem em nome dos caloteiros, que até hoje nada pagaram e delas continuam se beneficiando.

De qualquer forma, mesmo depois de implantado o telefone e por não ser o sistema aqui muito confiável -- sabendo-se que havia constantemente um funcionário designado para a "escuta" -- sob o ponto de vista de sua operacionalização, as CARTAS continuaram e continuam tendo prestígio e eu continuo delas me servindo, pois não vejo outra forma mais agradável, direta, segura e eficaz de me comunicar, qual seja este insubstituível costume de se valer da velha e sempre recorrente correspondência epistolar.

Afinal, paredes têm olhos e ouvidos até nos gabinetes do STF, quanto mais em nossas devassáveis casas e indefesos escritórios.

Muitas são as modalidades de correspondências das quais se podem utilizar e me proponho, a partir desta, fazer algumas demonstrações que haverão de reafirmar a importância das Cartas escritas e, na medida do possível, vamos divulgar algumas, a exemplo destas que se seguem:

PRÓLOGO

"Amigo leitor: arribou a certo porto do Brasil, onde eu vivia, um galeão, que vinha das Américas espanholas. Nele se transportava um mancebo, cavalheiro instruído nas humanas letras. Não me foi dificultoso travar com ele uma estreita amizade, e chegou a confiar-me os manuscritos, que trazia. Entre eles encontrei as Cartas chilenas, que são um artificioso compêndio das desordens, que fez no seu governo Fanfarrão Minésio, general de Chile.

Logo que li estas Cartas, assentei comigo que as devia traduzir na nossa língua, não só porque as julguei merecedoras deste obséquio, pela simplicidade do seu estilo, como, também, pelo benefício que resulta ao público, de se verem satirizadas as insolências deste chefe, para emenda dos mais, que seguem tão vergonhosas pisadas.

Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico.

Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para as acomodar melhor ao nosso gosto. Peço-te que me desculpes algumas faltas, pois, se és douto, hás de conhecer a suma dificuldade que há na tradução em verso. Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários sobre a pessoa de Fanfarrão. Há muitos fanfarrões no mundo, e talvez que tu sejas também um deles, etc."

... Quid rides? mutato nomine, de te Fabula narratur...

(Horat. Sat. I, versos 69 e 70.)


DEDICATÓRIA AOS GRANDES DE PORTUGAL

Ilmos. e Exmos. senhores,

"Apenas concebi a idéia de traduzir na nossa língua e de dar ao prelo as Cartas Chilenas, logo assentei comigo que Vv. Exas. haviam de ser os Mecenas a quem as dedicasse. São Vv. Exas. aqueles de quem os nossos soberanos costumam fiar os governos das nossas conquistas: são por isso aqueles a quem se devem consagrar todos os escritos, que os podem conduzir ao fim de um acertado governo.

Dois são os meios por que nos instruímos: um, quando vemos ações gloriosas, que nos despertam o desejo da imitação; outro, quando vemos ações indignas, que nos excitam o seu aborrecimento. Ambos estes meios são eficazes: esta a razão por que os teatros, instituídos para a instrução dos cidadãos, umas vezes nos representam a um herói cheio de virtudes, e outras vezes nos representam a um monstro, coberto de horrorosos vícios.

Entendo que Vv. Exas. se desejarão instruir por um e outro modo. Para se instruírem pelo primeiro, têm Vv. Exas. os louváveis exemplos de seus ilustres progenitores. Para se instruírem pelo segundo, era necessário que eu fosse descobrir o Fanfarrão Minésio, em um reino estranho! Feliz reino e felices grandes que não têm em si um modelo destes!

Peço a Vv. Exas. que recebam e protejam estas cartas. Quando não mereçam a sua proteção pela eloqüência com que estão escritas, sempre a merecem pela sã doutrina que respiram e pelo louvável fim com que talvez as escreveu o seu autor Critilo.

Beija as mãos

De Vv. Exas.

O seu menor criado..."

"Escrever é sempre dizer por extenso. (...) a passagem à escrita, mesmo que gerada num impulso, implica uma certa solenidade. Verba volant scripta manent, as palavras esvoaçam e a escrita permanece (...). Ao escrever, estamos mais empenhados, somos mais definitivos, ficamos mais comprometidos. O escrito é como um freeze frame, imobiliza um momento histórico, um determinado espírito, uma força ou fraqueza do instante"

Pedro Mexia,

in "Primeira Pessoa"

Inicialmente, é preciso destacar dois tipos básicos de carta. O primeiro é a correspondência oficial e comercial, que nos é enviada pelos poderes políticos ou por empresas privadas (comunicações de multas de trânsito, mudanças de endereço e telefone, propostas para renovar assinaturas de revistas, etc.). Este tipo de carta caracteriza-se por seguir modelos prontos, em que o remetente só altera alguns dados. Apresentam uma linguagem padronizada (repare que elas são extremamente parecidas, começando geralmente por "Vimos por meio desta...") e normalmente são redigidas na linguagem formal culta. Nesse tipo de correspondência, mesmo que venha assinada por uma pessoa física, o emissor é uma pessoa jurídica (órgão público ou empresa privada), no caso, devidamente representada por um funcionário.

Outro tipo de correspondência é a carta pessoal, que utilizamos para estabelecer contato com amigos, parentes, namorado (a). Tais cartas, por serem mais informais que a correspondência oficial e comercial, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem coloquial. Nesse caso o remetente é a própria pessoa que assina a correspondência.

Embora você passa encontrar por aí livros que trazem "modelos" de cartas pessoais (principalmente "modelos de carta de amor"), fuja deles, pois tais "modelos" se caracterizam por uma linguagem artificial, surrada, repleta de expressões desgastadas, além de serem completamente ultrapassados.

Não há regras fixas (nem modelos) para se escrever uma carta pessoal Afora a data, o nome (ou apelido) da pessoa a quem se destina e o nome (ou apelido) de quem a escreve, a forma de redação de uma carta pessoal é extremamente particular.
No processo de comunicação (e a correspondência é uma forma de comunicação entre pessoas), não se pode falar em linguagem correta, mas em linguagem adequada. não falamos com uma criança do mesmo modo que falamos com um adulto.

A linguagem que utilizamos quando discutimos um filme com os amigos é bastante diferente daquela a que recorremos quando vamos requerer vaga para um estágio ao diretor de uma empresa. Em síntese: a linguagem correta é a adequada ao assunto tratado (mais formal ou mais informal), à situação em que está sendo produzida, à relação entre emissor e destinatário (a linguagem que você utiliza com um amigo íntimo é bastante diferente da que utiliza com um parente distante ou mesmo com um estranho).

Na correspondência deve ocorrer exatamente a mesma coisa: a linguagem e o tratamento utilizados vão variar em função da intimidade dos correspondentes, bem como do assunto tratado. Uma carta a um parente distante comunicando um fato grave ocorrido com alguém da família apresentará uma linguagem mais formal. Já uma carta ao melhor amigo comunicando a aprovação no vestibular terá uma linguagem mais simples e descontraída, sem formalismos de qualquer espécie.

As Expressões Surradas

na produção de textos, devemos evitar frases feitas e expressões surradas (os chamados clichês), como "nos píncaros da glória", "silêncio sepulcral", "nos primórdios da humanidade", etc. Na carta, não é diferente. Fuja de expressões surradas que já aparecerem em milhares de cartas, como "Escrevo-lhes estas mal traçadas linhas" ou "Espero que esta vá encontrá-lo gozando de saúde" (originais, não?)

A Coerência no Tratamento

Na carta formal, é necessário a coerência no tratamento. Se a iniciamos tratando o destinatário por tu, devemos manter esse tratamento até o fim, tomando todo o cuidado com pronome e formas verbais, que deverão ser de segunda pessoa: se, ti, contigo, tua, dize, não digas, etc. Caso comecemos a carta pelo tratamento você, devemos manter o tratamento em terceira pessoa até o fim: se, si, consigo, o, a, lhe, sua, diga, não digas, etc.
Nesse tipo de carta, são comuns os erros de uniformidade de tratamento como o que apresentamos abaixo:

Você deverá comparecer à reunião. Espero-te ansiosamente.
Não se esqueça de trazer tua agenda.

Observe que não há nenhuma uniformidade de tratamento: começa-se por você (terceira pessoa), depois passa-se para a segunda pessoa (te), volta-se à terceira (se), terminando com a segunda (tua).

Ainda com relação à uniformidade, fique atento ao emprego de pronomes de tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência, etc. Embora se refiram às pessoas com quem falamos, esses pronomes devem concordar na terceira pessoa. Veja:

Aguardo que Vossa Senhoria possa enviar-me ainda hoje os relatórios de sua autoria.
Vossa Excelência não precisa preocupar-se com seus auxiliares.

EPÍSTOLA

Composição datada e escrita por um indivíduo ou em nome de um grupo com o objetivo de ser recebida por um destinatário. O termo tem uso antigo e constitui modo literário importante a partir do conjunto de textos do Novo Testamento que ficaram conhecidos por epístolas. Neste sentido, distingue-se uma epístola de uma carta comum, pois não se destina à simples comunicação de fatos de natureza pessoal ou familiar, aproximando-se mais da crônica histórica que procura relatar acontecimentos do passado. A utilização do termo alarga-se, depois, a todo o tipo de correspondência privada ou oficial, literária ou filosófica, religiosa ou política, pelo que a partir desta generalização se torna difícil estabelecer com rigor a diferença entre uma epístola e uma carta. À arte de escrever epístolas ou formas registradas de correspondência escrita entre indivíduos dá-se o nome de epistolografia; à teoria e prática da escrita de cartas ficcionais, convém chamar-se epistolaridade. De notar que alguns epistológrafos não incluem as epístolas poéticas no espaço de investigação deste tipo de textos, porém sendo o ponto de partida de uma epístola poética a forma e a função pragmática da carta, parece-nos fazer sentido incluir no modo epistolar o estudo das formas poéticas, mesmo que estas partilhem também as características do modo lírico.

Epístolas Paulinas é como são conhecidas o conjunto de cartas do apóstolo Paulo reunidas no Novo Testamento.

Paulo escreveu as epístolas para as comunidades que visitara, pregando e ensinando as máximas cristãs. As cartas relacionadas a seguir (conhecidas como Corpus Paulinum) são aquelas que tradicionalmente são atribuídas a Paulo:

Por fim, apesar de condenadas por um político local que não tem hábitos democráticos, às vezes fazem-se necessárias as ditas cartas anônimas, a exemplo de "hebreus", pois quase sempre estas são bastante diretas e claras e dizem de coisas sérias que são do conhecimento geral e do público, mas têm conteúdo contundente cujo objetivo, decididamente, é atingir e ferir de morte os interesses do coronel. Por esta razão, alcançando a sua finalidade precípua, que fique a ladrar aquele cuja carapuça lhe calce a injusta cachola.

E assim é que teremos:

Gouvêa Fanadino

Barão de Itararé

Cruz e Souza

Gregório de Matos

Guerra Junqueiro

Bocage

Challaça

E muitos outros


--
geraldo mota
http://geraldomotacoelho.blogspot.com/

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