terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MARIA EREMITA DE SOUSA,
A SAUDOSA “MESTRA PIQUITITA”
DA CULTA E HISTÓRICA CIDADE DO SERRO


(Geraldo Magela Mota Coelho)

Maria Eremita de Souza, mestra da arte de ensinar, muito mais que professora, foi uma grande educadora e produtora ímpar de conhecimentos, fonte indeclinável dos estudiosos de fatos relacionados a toda a região do Serro e, por conseguinte, de todo o Vale do Jequitinhonha. Era carinhosamente conhecida por Dona Piquitita, essa mulher guerreira, batalhadora e extraordinária no exemplo deixado de civilidade e amor patriótico ao Brasil e à sua querida Vila do Príncipe.

Essa respeitável senhora e valiosíssimo arquivo vivo da história de todo o nordeste mineiro, tinha o hábito exemplar de estar constantemente garimpando livros remanescentes de antigas administrações públicas, de cartórios, de anotações das freguesias e paróquias, compulsando correspondência epistolar entre antigos moradores e colecionando artigos publicados em jornais dos séculos 19 e 20, abastecendo sua saudável curiosidade nos registros escritos e nos que se conservaram pela tradição oral, com os quais estudava os costumes, as tradições e buscava descrevê-los com precisão, isenção e graciosidade, através de uma visão objetiva e a lente privilegiada de quem tinha nas veias o DNA dos pioneiros, contextualizando suas narrativas ao ambiente que, a um só tempo, era o cenário original e o seu campo de convivência e de dedicação científica e pedagógica. Foi desta forma que resultou, no curso de sua longa e produtiva existência, uma obra considerável, uma produção literária que está a exigir e a merecer ampla divulgação em edições a serem URGENTEMENTE colocadas à disposição da rede de ensino, em todos os níveis e segmentos, dada a sua importância para o conhecimento de uma história tão rica, quanto desconhecida, que é a história dessa região mineira hoje compreendida pela área conhecida como Vale do Jequitinhonha, mas que, na verdade, comporta também as dimensões geográficas banhadas pelos rios Mucuri, São Mateus e Rio Doce.

Tive a honra e o privilégio de conhecê-la e com ela conviver durante vários dias em que estive na aprazível cidade de Serro, em julho de 1979, na condição de pesquisador, em missão confiada pelo Sr. Luiz Gonzaga Gomes Leite, Secretário Geral da Comissão Municipal Organizadora das Comemorações pelos 250 anos de Fundação da Vila do Fanado, evento que culminou com a visita, em 02 de outubro de 1980, do Presidente da República, General João Batista Figueiredo, de inúmeras autoridades governamentais, de grandes empresários e de turistas à cidade de Minas Novas, numa série de acontecimentos e inaugurações que, finalmente, muito contribuíram para melhorar as condições calamitosas na qual se penalizava uma população ordeira e trabalhadora, mas completamente degredada naquela paupérrima região, onde passei a trabalhar, por mais de duas décadas, como funcionário de carreira do Banco do Brasil.

A professora Piquitita, lúcida e meiga, elegante no trato, admirável pela educação e respeitada pela sua estatura moral de exemplar cidadã e operária incansável no labor comunitário em prol de todo o município do Serro, era querida e admirada por todos que dela se acercavam. De simplicidade franciscana, tinha porém o porte soberano das pessoas bem formadas para o exercício da liderança responsável e produtiva de ações em benefício da coletividade, com o desprendimento que bem caracterizam estes seres raros e, por isto mesmo, especiais.

Dela tenho as melhores recordações e conservo na memória o seu jeito terno e carinhoso, quase que solene, de tratar dos assuntos relacionados à história de sua amada terra natal, de cuja saga marcou presença em momentos significativos, mas também de forma segura se reportando às origens, aos primórdios, ao desenrolar de toda uma existência na qual se entrelaçam todos os fatos comuns a ambos os municípios, de que nos ocupávamos como estudiosos, mormente aos que a mim me interessavam mais diretamente, aqueles associados à Vila do Fanado, primeira porção a ser desmembrada do território do Serro, a qual era por ela denominada de “Filha Predileta, cuja separação foi a mais pranteada e sofrida pela mãe Vila do Príncipe”.

Da antiga Vila do Príncipe recebi as mais preciosas informações históricas para, a partir delas, estabelecer cronologicamente os fatos que determinaram a colonização, a época distrital da mineração de ouro e diamante, os embates pela definição administrativa que se revezavam entre os governos mineiro e baiano, cujas administrações, cada uma interessada em ludibriar as autoridades portuguesas, preferiam que o Vale das Riquezas Minerais permanecesse isolado, oculto, selvagem, ignorante e ignorado, para assim ser mais facilmente espoliado sob o manto de uma omissão orquestrada que era interessante a ambas províncias. Aliás, esse triste desígnio tem sido o opróbrio dessa infelicitada região, o que se tem revelado pelo comportamento administrativo de todos os governos estaduais e federais que vêm se sucedendo deste a época do Brasil Colônia, como se infere desta própria história, com os desenlaces e consequencias que aos poucos se revelam pelas memórias escritas de Dona Maria Eremita de Souza e de outros escribas que se dedicaram à crônica da Vila do Fanado mas, muito mais do que pela história, pelos atos de rapinagem de políticos corruptos que ainda hoje entravam o progresso e o desenvolvimento do nordeste mineiro e, mais grave e acentuadamente, a debilitada e exaurida região do Fanado das Minas Novas.

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