terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A RAZÃO DA OCORRÊNCIA DE TERREMOTOS E OUTROS EVENTOS NATURAIS

EXSURGE DOMINE!

QUARE OBDORMIS?

 

-Geraldo Magela Mota Coelho-

 

Estaria, de fato, o Deus Todo Poderoso dormindo ou simplesmente permanecido omisso e insensível aos acontecimentos catastróficos do Haiti?

 

Esta é uma terrível indagação que a HUMANIDADE (imagino eu) lança a si própria, diante da lamentável dimensão dos fatos que aterrorizaram o mundo: O terremoto que aconteceu no Haiti há poucos dias, quando se abalaram terrivelmente as estruturas materiais, morais e sociais de toda uma nação, já por demais sofrida e abandonada por parte das grandes potências econômicas do mundo, ceifando ali, naquele jovem país, centenas de milhares de inocentes e destruindo completamente os já minguados avanços de uma nação marcada pelo sofrimento.

 

Esse fenômeno natural que em parte poderia ter sido atenuado nos seus efeitos - posto ser um evento previsível, se houvesse cuidados e investimentos nesse sentido - abalou o sentimento mundial que se une na busca de socorro e na solidariedade comovente de potências, estas que, por mais que se  mostrem empenhadas em prestar, agora, sua ajuda material, vêem-se diminuídas, desafiadas e quase que impotentes diante da magnitude dessa verdadeira hecatombe.

 

 

Exurge quare obdormis, Domine?

Exurge, et ne repellas in finem.

 Quare faciem tuam avertis, oblivisceris inopiae nostrae et tribulationis nostrae?

Exurge, Domine, adjuva nos et redime nos propter Enomen tuum.

 

(Salmo XLIII)

 

Exurge! Quare obdormis, Domine?

"Querer argumentar com Deus e convencê-lo com razões, não só dificultoso assunto parece, mas empresa declaradamente impossível, sobre arrojada temeridade.

 O homo, tu quis es, qui respondeas Deo? Nunquid dicit figmentum ei qui se finxit: Quid me fecisti sic?

 "Homem atrevido – diz S. Paulo – homem temerário, quem és tu, para que te ponhas a altercar com Deus?

Porventura o barro que está na roda e entre as mãos do oficial, põe-se às razões com ele e diz-lhe: por que me fazes assim?"

 Pois se tu és barro, homem mortal, se te formaram as mãos de Deus da matéria vil da terra, como dizes ao mesmo Deus:

 - Quare? Quare?

 – Como te atreves a argumentar com a sabedoria divina, como pedes razão à sua Providência do que te faz ou deixa de fazer?

Quare obdormis? Quare faciem tuam avertis?

Venera suas permissões, reverencia e adora seus ocultos juízos, encolhe os ombros com humildade a seus decretos soberanos, e farás o que te ensina a Fé e o que deves à criatura. Assim o fazemos, assim o confessamos, assim o protestamos diante de vossa Majestade infinita, imenso Deus, incompreensível bondade:

Justus es, Domine, et rectum judicium tuum. Por mais que nós não saibamos entender vossas obras, por mais que não possamos alcançar vossos conselhos, sempre sois justo, sempre sois santo, sempre sois infinita bondade; e ainda nos maiores rigores de vossa justiça, nunca chegais com a severidade do castigo aonde nossas culpas merecem.

Se as razões e argumentos da nossa causa as houvéramos de fundar em merecimentos próprios, temeridade fora grande, antes impiedade manifesta, querer-vos argüir. Mas nós, Senhor, como protestava o vosso profeta Daniel: Neque enim in justificationibus nostris, prosternimus preces ante faciem tuam, sed in miserationibus tuis multis: os requerimentos, e razões deles, que humildemente presentamos ante vosso divino conspecto, as apelações ou embargos que interpomos à execução e continuação dos castigos que padecemos, de nenhum modo os fundamos na presunção de nossa justiça, mas todos na multidão de vossas misericórdias: In miserationibus tuis multis. Argumentamos, sim, mas de vós para vós; apelamos, mas de Deus para Deus – de Deus justo, para Deus misericordioso. E como do peito, Senhor, vos hão de sair todas as setas, mal poderão ofender vossa bondade. Mas porque a dor quando é grande sempre arrasta o afeto, e o acerto das palavras é descrédito da mesma dor, para que o justo sentimento dos males presentes não passe os limites sagrados de quem fala diante de Deus e com Deus, em tudo o que me atrever a dizer seguirei as pisadas sólidas dos que em semelhantes ocasiões, guiados por vosso mesmo espírito, oraram e exoraram vossa piedade."

Extraí e estou usando nessas minhas reflexões, parte do texto do "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda" (da obra monumental do Padre Antônio Vieira).

 

Recorro de tal artifício para justificar a natural "revolta" que possamos ter, em relação ao Deus Criador, neste momento de fraqueza em que nos deparamos frente ao inexplicável.

 

Afinal, é muito atual e procedente a interpelação do Apóstolo São Paulo: 

"Homem atrevido

 (insolente, digo eu)

 homem temerário, quem és tu,

para que te ponhas a altercar com Deus?

Porventura o barro que está na roda e entre as mãos do oficial, põe-se às razões com ele e diz-lhe: por que me fazes assim?"

 Pois se tu és barro, homem mortal, se te formaram as mãos de Deus da matéria vil da terra, como dizes ao mesmo Deus."

Por acaso poderia o automóvel, ao ser montado em uma fábrica, determinar, ao operário que o constrói, a cor que desejaria receber para a pintura de sua lataria?

Kayrós – o Tempo de Deus

Sob a ótica teológica, qual seria a justificativa para as tragédias humanas, os assassinatos, os seqüestros, as corrupções, o terrorismo, a tortura, o tráfico e o consumo de drogas, o aborto, o desrespeito aos direitos de animais, crianças, mulheres e pessoas idosas?

Seriam estes fenômenos catastróficos como os  furacões,  tsunamis e  terremotos,  os sinais do "fim do mundo", uma  vingança do Criador, um castigo dos céus  ou, simplesmente, um "cochilo" de  Deus?

NÃO!!!

DEUS é a suprema Verdade, a suprema Sabedoria, o supremo Poder, o supremo Amor e a suprema JUSTIÇA! Nele não se comportam a dúvida, a mentira, o engano, a ignorância, a fraqueza, o ódio e a miséria.

A Criação de Deus é perfeita e eterna, em seu conjunto, onde a pessoa humana é apenas um complemento, entre outros tantos que recebeu dons, virtudes e atributos especiais – segundo o merecimento de cada um como pequena criatura–  dádivas espontâneas e aleatórias, as quais devem ser administradas com critério e senso de justiça. pela nosso livre-arbítrio e no sentido da melhor administração (alimentar, animar, movimentar, estimular, etc) todo processo incessante de vida que existe, pelo menos na dimensão terrestre que é a que nos foi confiada viver e que continua sendo a única de fato conhecida, habitada por seres inteligentes.

Toda Criação é perfeita e segue exatamente o planejado, tendo um modelo definitivo e exclusivo. Nada acontece por acaso, dentro do plano geral da criação de Deus. A dinâmica do universo, desde o átimo de uma molécula, passando pelo átomo, pela célula, pelo verme, pelo fungo, pela bactéria, pelo grão de pó ou de areia, até às dimensões dos planetas e infinitudes de astros e sistemas que se multiplicam e vibram suas energias pela imensidão incalculável do cosmo e do universo, tudo foi minuciosamente calculado e cronologicamente ajustado à sua função, que tem uma duração previamente definida, necessária ao tempo de ser substituída por outra igual ou similar que vai garantir a continuidade incessante e eterna da "Maravilhosa Invenção Divina" que é o MUNDO.

 É opinião quase unânime entre os astrônomos e astrofísicos de hoje que o universo, no formato aproximado do que é hoje, teve sua conformação organizada há cerca de quinze bilhões de anos, em uma magnífica explosão de um átomo primordial.

Segundo a teoria, em poucos segundos todo o universo foi criado a partir desta explosão. Da energia (que é a essência de Deus e que já existia dominando todas as coisas) e  desta grande explosão originou-se toda a matéria – considerando-se que energia é matéria e vice-versa, conforme demonstrado por Einstein, em sua famosa fórmula: e = mc2. E assim até o espaço e o tempo foram definidos a partir desta explosão.

Alguns astrônomos famosos, como Fred Hoyle, Thomas Gold e Herman Bondi, entre outros, não aceitam esta teoria, que ficou conhecida como a Teoria do Big-Bang. Eles preferem acreditar em um universo estável.

Para os Cristãos, como eu, que prefere, pelas suas limitações acadêmicas, não se divagar pelas elucubrações da metafísica,  mesmo considerando a verdade que existe na Bíblia (vide Gênesis) essa teoria do big-bang, embora muita polêmica, a meu humilde entendimento, tem sintonia perfeita, guardadas suas características semânticas, com o criacionismo judaico-cristão, segundo o qual DEUS (Jeová) disse "Fiat Lux", e o universo – no formado do mundo de hoje -  foi de fato  criado.

Já dizia Lavoisier (1743-1794) que na Natureza (mundo) nada se cria, nada se perde e tudo se transforma. Concordo plenamente com ele, pois Deus ao criar o mundo não se esqueceu de nada e assim convenceu-se da necessidade de que fosse a sua Obra, tão perfeita, que para ser eterna, devesse ela própria, segundo seus planos e recursos, ser dotada de uma energia catalisadoras para a renovação contínua em todos os sentidos.

 

Portanto, erguemo-nos, nós: por que nós é que estamos caídos, decaídos  e ignorantes em nossa fé, como se estivéssemos dormindo ou incapazes de reagir aos desafios da natureza, pois foi para isto fomos criados pelo DEUS, este Ser que é perfeito, onipotente e onisciente.

 

Não podemos cobrar de Deus uma culpa que não está Nele:

DEUS É PERFEITO E INFALÍVEL,

portanto isento de qualquer erro, maldade,  pecado, miséria e culpa pelas atribulações a que se sujeita a raça humana.

 

Nós, criaturas de Deus, é que somos os culpados por não buscarmos sabedoria, por não adaptarmos ao conjunto da obra e por vivermos em constante disputa com a própria natureza, na vã consciência que somos seres superiores, quando, na verdade, em relação à imensidão dos cosmos, somos também vermes invisíveis que não merecemos tratamento diferenciado das demais criaturas.

 

Ninguém nasceu para viver eternamente e devemos procurar aproveitar o tempo de vida, aqui no planeta Terra, para aprender os pontos em que podemos morar e buscar aqueles que julgarmos mais interessantes às nossas demandas. Fomos dotados de inteligência e do direito de escolhas, o livre arbítrio. Toda a obra divina foi planejada para funcionar de acordo com o projeto de Deus e disto ele não se afasta um milímetro.

 

Tudo o que acontece neste mundo está previsto e é imutável. Resta-nos o poder, que nos foi dado, de seguirmos sempre em frente, buscando a adaptação de nossa vida, às outras modalidades de vida que existem em nosso redor:  Existem terras férteis e terras áridas. Existem frutos bons e frutos venenosos, Existem seres inteligentes e amistosos e existem feras indomáveis. Existem planícies, desertos, abismos e cordilheiras. Existem lugares quentes e outros mais temperados.

 

Os elementos da natureza, como a atmosfera, as massas oceânicas, as massas continentais e até as massas que compõem os corpos celestes mais distantes e invisíveis – os quais são incontáveis e jamais acessíveis – são todos interligados umbilicalmente, gerando e compartilhando energias, vibrações, movimentos e reações que se fazem visíveis no calor do meio ambiente, nas mudanças climáticas, nas modificações das paisagens, nas ondulações das águas, nos fenômenos como furações, ciclones, tsunamis, eclipses, terremotos e mortes, mas que se revelam, também, pela renovação através do nascimento de novas criaturas e na busca do aprimoramento da vida através da ciência, da arte e da cultura.

A alegria, a felicidade, a riqueza, a paz, a justiça, o conforto, a saúde, o trabalho, o emprego, o progresso e todos os demais bens são atributos de Deus colocados ao dispor de suas criaturas, estas que devem livremente buscá-las de acordo com seus méritos e esforços.

 

A miséria, a tristeza, a doença, a guerra e o terror, assim como as trevas que são a ausência de LUZ, também essas aberrações decorrem do fator negativo que se contrapõe à vontade do Criador, mas que está fora Dele, desde o momento em que o poder de nosso livre-arbítrio é que gera esses conflitos e resultam seus efeitos deletérios.

 

Minha fé é medíocre, contudo, procuro ser sincero na demonstração acerca do que acredito e me submeto humildemente a uma força maior que nasce dentro de mim e me convence de que sou uma partícula do pó, daquele mesmo barro que Deus tomou em sua mão, soprou e disse:

 

"memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris"

 

(lembra-te, homem que és pó e em pó hás de tornar).

 

-Esta sentença, assim axiomática,  está escrita sobre o portão que dá acesso a um dos cemitérios do Haiti, que também foi arrasado. -

 

Eu, GERALDO MOTA, tenho absoluta certeza de que sou barro de Deus e, muito feliz, no momento exato do KAYRÓS, voltarei ao terreiro em que Ele, como Oleiro Divino, vai reaproveitar minhas cinzas e, na sua imensurável sabedoria, doçura, bondade e justiça, ao considerá-las adequadas, haverá de me honrar destinando-as, pelo menos, ao adubo de suas mais humildes verduras.

 

Erguei-Vos em todo o vosso poder, em toda a vossa misericórdia e justiça, para formar-Vos uma companhia seleta de guardas que velem a vossa casa, defendam vossa glória e salvem tantas almas que custam todo o vosso sangue, para que só haja um aprisco e um Pastor, e que todos Vos rendam glória em vosso santo templo: Et in templo ejus omnes dicant gloriam – Amen".

 

Belo Horizonte, 20 de janeiro de 2010

Dia dedicado ao Mártir São Sebastião,

que no sincretismo religioso é Oxóssi
Filho de Oxalá e Iemanjá

São Sebastião é o santo milagroso a quem se recorrem os católicos, em seus momentos de aflição, nos quais se costuma pedir-lhe sua poderosa intercessão junto a Deus, em casos de guerra, de fome e de eventos pestilentos.



--
geraldo mota
http://geraldomotacoelho.blogspot.com/

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