sábado, 23 de janeiro de 2010

VAMOS FALAR DE CINEMA (II)?

As décadas de 1940 e 1950 foram os Anos Dourados da invasão cultural norte-americana no Brasil, iniciada antes da Segunda Guerra Mundial. Os meios de comunicação, principalmente o cinema, projetavam de maneira sutil, mas intensa o American Way of Life. Até o início do século XX a maior parte das capitais brasileiras vivia uma vida social calma e tranqüila que girava em torno da movimentação comercial, algumas apresentações culturais e competições esportivas. A primeira exibição cinematográfica, como atividade comercial, foi em 1898, na cidade de Natal (RN) e o interesse dos natalenses por essa nova forma de arte só fez aumentar. A abertura de casas exibidoras na década de 1910 marca uma mudança na vida cotidiana da cidade.

Durante as décadas de 1930 e 1940 há um aumento das casas exibidoras, em todo o país, e a partir da década de 1940 uma verdadeira invasão de filmes norte-americanos que acentuou não só a preferência pelos filmes norte-americanos como a incorporação de alguns de seus hábitos e costumes que eram amplamente divulgados através de seus filmes.

CINEMA E SOCIEDADE: O AMERICAN WAY OF LIFE EM NATAL

Cristiane Monteiro Aragão
Rosangela Monteiro Aragão

O cinema, até meados da década de 1950, quando surge a TV, foi o principal veículo de propaganda do estilo de vida americano, que através de seus filmes propagava a prosperidade econômica pela qual o país estava passando. Foi graças ao cinema que os EUA puderam consolidar o American of Life pelo mundo. Após a Segunda Guerra Mundial os EUA intensificaram sua influência cultural, começada nas décadas de 1930 e 1940, utilizando os meios de comunicação de massa, principalmente o cinema, como veículos difusor da sua cultura.
O cinema norte-americano passou a difundir muitos traços próprios de sua cultura, que logo foi absorvida pelos países que compravam seus filmes. Na década de 1950, por exemplo, foi através de filmes como Juventude Transviada, que os jovens descobriram o jeans, as jaquetas de couro e os óculos Raybam. No Brasil, a partir da década de 1930 a influência norte-americana se intensificou. O país passa a importar não só ciência, arte e tecnologia, mas o estilo de vida exportado pela América que foi nos moldando aos seus padrões, a fim de consumir e produzir, o que lhes era mais favorável:

a introdução massiva e maciça de elementos culturais norte-americanos, tanto materiais quanto imateriais, no dia-a-dia de quase todos nós, transformando-nos em milhões de brasileiros americanizados (...) que bebe coca-cola, fuma Hollywood, pratica surf, curte rock, veste jeans (...), acredita que no mundo capitalista há chances para todo mundo, que dinheiro não traz felicidade (... mas ajuda), repudia o socialismo e pode se emocionar até as lágrimas com cenas do filme Love Story.


Tratou-se de uma penetração cultural planejada e elaborada de forma pacífica, da qual nem nos damos conta. No Rio Grande do Norte o contato com a cultura norte-americana possibilitou uma série de mudanças e inovações na sociedade.
Pensar em cinema nos remete a um complexo mundo onde mil e um interesses diferentes estão interagindo constantemente. A engrenagem que move a indústria cinematográfica envolve vários elementos, desde o gosto particular de cada indivíduo da platéia por determinado tipo de gênero até aos aspectos mercadológicos: a publicidade, as empresas produtoras, as distribuidoras, as salas de exibição e o próprio filme em si. A história do cinema é fundamentalmente a história de uma indústria, e também a história de uma arte. Sua primeira sessão pública, paga pela platéia data o nascimento do cinema como uma indústria.
Mas o cinema não nasceu de uma vez, foi um processo demorado ao longo de mais de um século. A partir de uma máquina curiosa, passatempo de cientistas e pesquisadores, no decorrer de mais de cem anos de realizações e progressos, o cinema se distingue das outras formas de arte por suas características próprias e distintas das outras áreas, bipolarizou-se em duas direções nítidas e demarcadas: o cinema-arte e o cinema-indústria, se transformando num imenso e complexo sistema industrial “cujos tentáculos penetram em todos os países do mundo.” .
Segundo Jean-Claud Bernardet o que permite que o cinema conquiste um público cada vez maior é a ilusão de que o filme reproduz a realidade, que seja a vida transportada para a tela. Embora se saiba que a imagem cinematográfica é fixa e imóvel, que o cinema não passa de um brinquedo óptico, enquanto dura o filme, tem-se a impressão de que as cenas são reais, as fantasias adquirem vida própria e o sonho se materializa na tela. .
Por vários motivos o cinema exerceu uma grande influência nas sociedades Ocidentais na primeira metade do século XX. Nesse período a moda no mundo capitalista e o comportamento social, principalmente da juventude, foram ditados pelo cinema. Foi o primeiro período em que a cultura norte-americana se impôs sobre o mundo. O cinema passou a influenciar o comportamento das massas, e mais que influenciar, serviu de veículo para a expansão cultural norte-americana.

O mundo conheceu a América, através do cinema, e para muitos a América foi apenas o cinema. Uma sala escura dedicada à narração de um longo sonho, onde o cowboy, o mocinho, o cidadão honesto e a moça pobre sempre venciam (...). Hollywood criou esta América, onde o bem derrotava o mal, o amor se realizava e as pessoas de vida pequena sonhavam com a grande vida.

Quando se dá à primeira exibição cinematográfica em Natal no final do século XIX os natalenses levavam uma vida calma e tranqüila onde “a movimentação do comércio e alguns empreendimentos culturais não deixavam cair na rotina”. A primeira exibição oficial do cineatographe ocorreu em 1898, trazido por Nicolau Parente, essa exibição ocorreu na antiga Rua do Ouvidor (atual Rua Chile), no Bairro da Ribeira, tendo agradado bastante ao público e saudada pelos jornais da época como mais uma das grandes aplicações da eletricidade.
Sendo considerado uma das melhores diversões gozadas foi anunciada pela imprensa local como uma das melhores formas de espetáculos apresentados até então, essas primeiras exibições agradaram ao público e causaram grande emoção à platéia por apresentar filmes religiosos:

São de melhores efeitos, as cenas principais da vida e paixão de Cristo são representados aí de modo a sentir o espectador algo de tocante e impressionante, pela evolução memorável da tragédia, pelas recordações pungentes que tais cenas acordam no espírito e no sentimento dos circunstantes. Dos quadros exibidos destacamos os que mais agradável impressão nos deixaram (...): A adoração dos Reis Magos e Pastores, A Ressurreição da Filha de Naim, Jesus no Monte das oliveiras, A Crucificação, A Ressurreição.

A partir da década de 1910, períodos em que foi implantada a iluminação elétrica na cidade, e ao longo das seguintes são inaugurados vários cinemas na

cidade: Polytheama (1911), Phaté Cinema (1913), Royal Cinema (1913), Cine São Pedro (1930), Cine Rex (1936), Cinema São Luiz (1946), Cine do Alecrim (1947), Cine Rio Grande (1949), Cine Nordeste (1958).
O Polytheama, um dos primeiros cinemas da cidade, oferecia em sua estrutura além da sala de projeção, salas de jogos, serviço de bar, sorveteria e palco para apresentações teatrais, “o maior e melhor cinema de então estava também na Ribeira: o cinema Politeama, com seu imenso salão de bilhar, grande sala de espera pintada a óleo. Este cinema tinha uma área livre, em seu interior que muito arejava a sala de projeção” .
Com o sucesso do Politeama, em 1913 inauguram-se mais dois cinemas: o Phaté e o Royal, que por muitos anos monopolizariam a exibição de filmes na cidade. Este ultimo “dominou por muitos anos a vida alegre da cidade (...) como único cinema da Cidade Alta, era muito freqüentado. Aos domingos o canalhismo era tremendo (...) ‘o porteiro comia fogo nas mãos dos insubordinados’.” Durante aproximadamente duas décadas esses cinemas controlaram a exibição dos melhores filmes vindos das distribuidoras norte-americanas. Quando um cinema passava um filme o outro só começava suas exibições quando o anterior terminava. Sendo uma grande mistura de gêneros, as exibições cinematográficas agradavam a todos os gostos, e de maneira sutil e definitiva foram substituindo as antigas diversões do natalenses. A cidade representava um mercado consumidor ávido pelas novidades cinematográficas.
Durante a década de 1940 há uma proliferação dos filmes norte-americanos, contribuída também graças ao período de guerra que instalou na cidade uma Base Naval Militar para os soldados brasileiros e estrangeiros, principalmente norte-americanos. Nesse período a preferência do público quanto ao que assistir no cinema era influenciada tanto pelas temáticas dos filmes quanto pela presença dos soldados estrangeiros. A presença dos soldados norte-americanos incentivava a população a incorporar certos hábitos e costumes repassados nos filmes que eram vistos pela população local, “Nosso coração pulsava ao ritmo do cinema americano. A seu respeito e de seus mitos queríamos saber tudo” , acabamos por conhecer um novo mundo pelas frestas do cinema, e aos poucos fomos incorporando sua moda e seu estilo de viver.
Até a década de 1950 foram inaugurados vários outros cinemas na cidade, o Cine São Pedro no Alecrim que logo após a sua inauguração se transformou no ponto de encontro do bairro, o cinema Rex que transformou-se em ponto de encontro da Cidade Alta, o Cine São Luiz O Palácio Encantado do Alecrim como ficou conhecido e o Cinema Rio Grande que marca uma nova fase na vida social da cidade.
Com a iluminação elétrica na cidade, as exibições que ocorriam esporadicamente passaram a ser regulares devido à abertura de várias casas de exibição cinematográfica. As exibições de filmes se popularizaram e ganhou novos fãs.
A abertura dos primeiros cinemas na capital marca uma nova fase no seu desenvolvimento. Os natalenses passam a ter contato com novas formas de culturas através dos filmes, além de fornecer uma nova forma de diversão e entretenimento constante a população.
Esses cinemas representaram uma mudança nos hábitos da sociedade de então, pois ofereciam à cidade um ponto de encontro onde as pessoas poderiam se encontrar não apenas para assistir filmes mas para desfrutar dos outros serviços que os cinemas ofereciam. Por muito tempo o cinema dominou a vida alegre da cidade.
Durante a década de 1940 há uma verdadeira invasão de filmes norte-americanos no mercado cinematográfico local, acentuada pela presença dos soldados norte americanos que incentivavam a população a incorporar certos hábitos e costumes repassados pelos filmes. “indagava-se a causa de tanta admiração sobretudo no meio feminino aos alegres guerreiros (...) galãs de cinema, ídolos, homens e mulheres, cujos nomes eram repetidos em todas as conversas e seus retratos afixados para a visão fácil de seus fã.” , conhecemos um novo mundo pelas frestas do cinema, e aos poucos fomos incorporando sua moda e seu estilo de viver.
O aumento das casas exibidores no período de guerra foi fruto do crescimento da cidade e de sua população. Houve uma mudança dos hábitos e costumes natalenses, tendo no cinema uma das principais diversões. Os filmes norte-americanos reinavam plenos e absolutos no gosto do público e nas salas exibidoras.
Como acontecia no resto do país, a Cidade de Natal não fugiu à regra do monopólio cinematográfico norte-americano. No entanto, não esqueçamos as suas especificidades: essa influência mais visível só ocorreu devido ao contato muito grande entre natalenses e americanos, uma vez que Natal foi sede de uma base militar norte-americana durante o período da guerra.
Os grandes clássicos do cinema norte-americano da época eram sucessos de público e bilheteria nos cinemas locais. Tanto o Rio Grande quanto o Rex, o São Luis e o São Pedro, principais cinemas na época, passavam esses filmes que lotavam suas salas exibidoras.
Com o crescimento da Cidade durante a década de 1940, o cinema se torna bastante popular na sociedade e, ao lado dos programas de auditórios das rádios constituíam a principal forma de diversão da maioria dos natalenses. Seu público era bastante diversificado, abrangendo todas as classes sociais, que procuravam na tela do cinema uma forma de distração. Ir ao cinema passou a ser um acontecimento social servindo como ponto de encontro para os jovens da época.
No começo da década de 1950, por exemplo, o cinema Rex, atendendo a pedido do público, volta a apresentar a Sessão das Moças, sessões da década de 1940 destinada a exibições de fitas românticas. Essas sessões possuíam um ritual próprio para a platéia:

As moças saiam da Escola Domestica com suas boinas e iam para o Rex. No Rex então havia o flerte. (...) ir ao cinema era uma magia. (...) a moça ia muito bonitinha. Elas ficavam de um lado da calçada do Rex e do outro lado os rapazes. Elas entravam, os rapazes entravam com elas, começava o namoro, o flerte. (...) eles escolhiam filmes água com açúcar (como Uma Janela Para o Céu), quando era sábado passava épicos, de guerra; durante a semana westes ou filmes que retratavam a decada, principalmente a de1940 e 1950.

Essas sessões serviram de cenário para muitos romances da época. Muitos jovens desejavam vivenciar romances parecidos com o que viam nos filmes, além de procurarem ficar parecidos com os seus ídolos “houve uma influência muito grande da Juventude Transviada (...) os rapazes na época procuravam aqueles casacos de couro, óculos, blusões, maneiras de pentear o cabelo. Os gestos que aprendiam na tela tentavam imitar” . As moças procuravam imitar as atrizes de cinema como Natalie Wood, por exemplo, usando roupas, cabelos e trejeitos de suas personagens.
A fascinação pelo mundo do cinema era completada pelo grande número de publicação dedicada ao universo cinematográfico “o que você quisesse sobre cinema tinha. Na revista Filmelândia e Cinelândia tinha tudo sobre cinema. Essas revistas eram compradas nas cigarreiras e tinham sessões de fofoca sobre artistas, de perguntas e respostas sobre cinema e artistas, comentários sobre a parte técnica” .
Na década de 1940, em frente ao cinema São Luiz, no alecrim, quando foi inaugurado as sessões matinais dedicada as crianças com filmes em forma de seriado o público mais jovem que freqüentava o cinema criou uma feira de troca, compra e venda de revistas sobre os seriados que eram exibidos nas matinês que assistiam “aí os meninos desenvolviam uma espécie de mercado de revista em quadrinhos: o Zorro, Tomix, Tarzan. (...) aquela tuma de meninos em frente ao cinema trocando e vendendo revistas. (...) devido a esses seriados passarem muito naquela época e serem admirados pelos meninos” .
Mas, principalmente o que levava o público aos cinemas, como hoje em dia, além de um bom filme – uma boa história bem realizada tecnicamente – eram os grandes astros e estrelas Hollywoodianos. Segundo Marinho as salas lotavam quando eram exibidos filmes como, por exemplo, Suplício de uma Saudade, Os Dez Mandamentos, O Maior Espetáculo da Terra, Por Quem os Sinos Dobram, Sansão e Dalila, Uma Janela Para o Céu, Sete Noivas Para Sete Irmãos, Juventude Transviada, A Noviça Rebelde, entre outros. O público corria para ver seus astros e estrelas favoritas nos filmes que passavam nos cinemas.
Como meio de diversão e entretenimento, segundo Fernandes o cinema foi muito assistido por todos os natalenses, independente de sua classe social, que muitas vezes em maior ou menor grau se deixavam influenciar pelos costumes e hábitos repassados pela grande tela. Os cronistas da época falavam muito sobre as personalidades do cinema, utilizando-as em seus discursos como aconteceu “no jornal A República de 1957 um cronista ao relatar um acidente escreve: ‘fui visitar ontem a noite o meu particular amigo Albinar Marinho vítima de um lamentável acidente ao saltar de um ônibus a velocidade James Dean’”. Ou ainda usavam expressões do tipo ri tanto quanto num filme do Carlitos .
Mas essa foi uma característica geral da época, não só aqui em Natal como em todo o País. Novos padrões de beleza foram estabelecidos pelo cinema e os mais influenciados foram os jovens, que tentavam imitar o comportamento e a aparência dos astros e estrelas dos filmes das décadas de 1940 e 1950.
Em Natal, na década de 1940, além do cinema tivemos um contato direto com a cultura norte-americana através dos soldados americanos que chegaram aqui para trabalhar na Base de Parnamirim. Com eles veio um pedaço dos EUA, seus hábitos e costumes. Mas mesmo antes deste período já havia traços da influência norte-americana repassados pelos filmes que até então em sua maioria eram de origem americana. Nas décadas de 1920 e 1930 os westerns (faroeste) tomaram conta de jovens e adultos, principalmente das crianças que somaram as brincadeiras de mocinho e bandido aos jogos infantis que praticavam.
O impacto do star-sistem hollywoodiano também chegou a Natal por intermédio dos astros da época como, por exemplo, Rodolfo Valentino que quando aparecia nas fitas levava o público feminino à histéria. Quando ele morreu os efeitos emocionais foram os mais variados no público feminino “Houve moças que botaram luto fechado, participando dessa forma do cortejo internacional das ‘viúvas’ inconsoláveis desse canastrão celebre que tanto exacerbou o star-sistem”.
Muitos termos foram amplamente divulgados pelo cinema falado, e passaram a ser utilizado das mais variadas formas: Cowboy virou nome de brincadeira infantil, show foi incorporado ao nosso vocabulário juntamente com outras palavras como, por exemplo, screen, star, gangster, bang-bang, triler, short, close-up, black ground, baby, sherif, sex-appeal, milkshake, all right, my friend, thank you, beer, big, no, yes, OK.
À presença norte-americana na cidade, neste período, proporcionou que muitos artistas de Hollywood passassem pela cidade apresentando-se na Base de Parnamirim para as tropas norte-americanas como Humphrey Borgard, Nelson Eddy, Tyrone Power, Jack Power, Joe (boca-larga) Brown, Joan Berrel, Smievelyn Hamilton, Frederich Marh, Al Johnson, Bruce Cabot, Carole Ladis, Kay Francis, Mitz Mayfair, Martha Roy, entre outros.
Os cinemas, tentando agradar a esse novo público que estavam em trânsito na cidade, passaram a exibir exclusivamente filmes norte-americanos nas salas de exibições locais. Foi numa dessas exibições que o hábito de se freqüentar o cinema de sileque, sem chapéu e gravata foi permitido, traje exigido até então para entrar nas salas de cinema.
Sob a influência norte-americana, a população começou a usar calça Lee, camisas de cowboy, óculos Rayban, short e T-Shirt (camisa branca sem manga). As moças tiveram permissão de saírem acompanhadas pelos norte-americanos aos cinemas, teatros, sorveterias e clubes da época – antes as maças só tinham permissão de saírem de casa acompanhadas pela família ou as damas de compainha. As moças ficavam encantadas com os soldados que tinham um comportamento totalmente novo para elas e eram “eram aqueles jovens como réplicas dos artistas de cinema tão admirados (...) bem parecidos com os astros da Metro-Goldwyn-Mayer”. Os soldados chamavam a atenção das moças locais pois se portavam de maneira diferente das dos rapazes quando compareciam as festas que eram realizadas na cidade como, por exemplo,

À qual compareceram todas as famílias do nosso pequeno, porém distinto grand monde (...) Eunice saiu da clausura, deslumbrante num soirée confeccionado pela modista Lurdes Cid, e penteada à la Deanna Durbim (...)
Para ela os americanos pareciam caídos do céu (...). Saudáveis e extremamente gentis, cativaram-na pelos mínimos gestos, como o de puxar a cadeira para ajudá-la a levantar e sentar, coisa que (...) nenhum outro nunca tinha feito.

Novos comportamentos foram aparecendo como “botar os pés em cima da mesa nos bares, sentar no meio fio para esperar o ônibus, beber água e coca-cola na boca da garrafa e usar sileque por fora das calças” . A grande aproximação entre natalenses e norte-americanos acabou por influenciar ainda mais a preferência do público pelos filmes norte-americanos facilitando a absorção de seu modo de vida, sua moda, seus hábitos e costumes.
Na década de 1950, com o surgimento do Rock’n’roll, ocorreu uma verdadeira ruptura nos costumes dos jovens norte-americanos, bem como nos vários países sobre sua influência. Em Natal os rapazes tentavam imitavam principalmente James Dean: usavam cabelos curtinhos dos lados, topetes caídos na testa, calças americanas, camisas de malha; as moças, o estilo “bem comportado” das atrizes das comédias românticas, imitavam os cabelos, as roupas, as bijuterias e a maquiagem. A diversão dessa juventude era escutar rock’n’roll nos bares da época ou na casa de amigos, isso quando não iam ao cinema ou aos programas de auditórios das rádios da época.
Num mundo, onde as sociedades estão inseridas num contexto cultural, o cinema norte-americano, principalmente entre as décadas de 1930 a 1950, tentou passar uma imagem de sociedade cujo comportamento, hábitos e costumes poderiam se imitados por todos. Muitos produtos e valores eram apresentados sutilmente nos filmes com o aval das personagens através de seus discursos ou dos cenários e contextos nos quais estavam inseridos, com grande impacto e eficácia de doutrinar a incorporação de tais valores como referências de moralidade e comportamento.
Como maior veículo audiovisual até o advento da televisão, o cinema, através de seus filmes, conseguiu, com sutileza e eficácia interferir no processo educativo das massas. Assim, muitos dos ensinamentos dos valores morais anteriormente restritos aos grupos primários como família, igreja e escola forram disputados pelos filmes comerciais norte-americanos, que com sua superioridade tecnológica se expandiu pelo mundo ocidental influenciando mais rapidamente do que anos de uma educação formal.
Desta forma podemos perceber que o cinema foi um dos principais veículos de divulgação dos costumes norte-americanos até a década de 1950, pois, além do alto nível técnico possuía uma cinematografia que agradava ao mais eclético público: musicais, comédias, suspenses, faroestes, policiais e épicos. Assim, várias gerações de brasileiros até a década de 1950 desenvolveram-se permeadas por estereótipos e clichês, falando, cantando, vestindo-se e penteando-se como os americanos. Em Natal, a facilidade da cultura norte-americana em inserir-se no nosso cotidiano se deu, além de seus filmes, devido ao contato direto das duas culturas através dos norte-americanos que aqui chegaram para trabalhar na Base de Parnamirim no período da Segunda Guerra Mundial. Porém, além de ditar moda, que foi seguida principalmente pelos jovens, não podemos deixar de perceber que o cinema possibilitou aos natalenses, desde as primeiras exibições ainda no final do século XIX, uma nova visão de mundo, conhecer outras formas de culturas e obter informações do que estava ocorrendo no Brasil e no mundo.

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