domingo, 5 de fevereiro de 2012

NAQUELAS PLAGAS MARANHENSES, NÃO SÓ AS PRAGAS CORROEM, MAS TAMBÉM HÁ AS SARNAS E OS SARNEIS.



Sermão do Bom Ladrão

"O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno; os que não só vão mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue S. Basílio Magno: Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes roubar a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões e começou a bradar - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos".

Pe. António Vieira in "Sermão do Bom Ladrão"

O intróito é a primeira das três partes de um sermão que diz o plano que se utilizará na análise. O intuito do Pe. Vieira era que basicamente todos pudessem imitar ao Rei dos Reis. Inicia-se discorrendo sobre dois ladrões que haviam sido condenados e executados através da crucificação. Narra que quando o bom ladrão (Dimas) pediu a Cristo que se lembrasse dele no seu reino, o Senhor teve a lembrança de que ambos se vissem no Paraíso. A subjetividade, a emoção e o convencimento são expressados no texto através de figuras de linguagens. “Êste sermão, que hoje se prega na Misericórdia de Lisboa” Percebe-se aqui a presença da metonímia. A segunda parte de um sermão é o seu desenvolvimento o qual nos apresentará o sermão propriamente dito. Uma das características do barroco era a religião como alívio para as angústias; a literatura barroca procurou conciliar o espiritualismo medieval com o materialismo do classicismo renascentista numa tentativa de equilibrar os contrários,  por exemplo: O DIVINO E O HUMANO, O BEM E O MAL, O PECADO E A VIRTUDE, A VIDA TERRENA E A ETERNA, O SAGRADO E O PROFANO, O AMOR PURO E O PECADO, A DÚVIDA E A CERTEZA. “Nem os Reis podem ir ao Paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os Reis. Isto é o que hei de pregar. Ave Maria.” Nesta citação nota-se o conjunto de idéias com a presença de antíteses bem como o reflexo das oposições acima citadas. São várias as características barrocas que podem ser encontradas neste sermão, que se apresentam por marcas lingüísticas e floreios literários presentes em todo o texto e também por fatores como a necessidade do perdão e as maneiras de se alcançá-lo. Para Pe. Vieira, sem a restituição do alheio não se poderia alcançar a salvação. Não se perdoava o pecado sem se restituir o roubado quando o ladrão tivesse possibilidade de restituí-lo. As restituições do alheio sob pena da salvação estavam sujeitos tanto os súditos quanto os reis. Os ladrões de quem fala o padre neste sermão não são os miseráveis a quem a pobreza obriga a agir de maneira incorreta, mas os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera. É narrado que Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu repreendeu um pirata que fora trazido à sua presença porque roubava os pescadores; porém o pirata respondeu que ele por roubar em uma barca era considerado um ladrão e que Alexandre ao usar uma armada para roubar era considerado imperador. O Pe. Vieira insinua, metaforicamente, que os reis adquirem um passaporte para furtar. O vocabulário rico, as comparações, as metáforas, além da dubiedade de sentidos aparecem em muitas passagens do texto, mas há um trecho bastante longo, porém bastante interessante que se apresenta em mais evidência, é guando ele explica as maneiras de furtar: no modo indicativo, imperativo, mandativo, optativo, permissivo, infinito; acrescenta ainda que esses modos sejam conjugados em todas as pessoas e ainda furtam por todos os tempos.
A terceira parte de um Sermão é a Peroração que é o momento que além de finalizá-lo, os ouvintes são conclamados a seguirem a prática das virtudes propostas como se percebe quando ele faz com que o ouvinte (em nosso caso: o leitor) pense sobre sua citação: não se pode calar com boa consciência, ainda que seja com repugnância, é força que se diga ou ainda quando ele narra baseado no que disse Cristo, que é melhor ir ao Paraíso manco, aleijado e cego, que com todos membros inteiros ao inferno. Finaliza fazendo uso de repetições, pedindo a Deus que ensine com o seu exemplo e inspire com a sua graça a todos os reis de tal forma que evitem os furtos futuros e ainda devolvam os passados para que no lugar de os ladrões os levem ao inferno que vá ao Paraíso os ladrões juntamente aos reis.

Contudo, foi no Maranhão (hoje feudo de Sarney), onde viveu e pregou por muitos anos que o Pe. Vieira descobriu que o verbo furtar (roubar) ali se conjugava em todas as maneiras: no modo indicativo, imperativo, mandativo, optativo, permissivo, infinito; acrescenta ainda que esses modos sejam conjugados em todas as pessoas e ainda furtam por todos os tempos.

E como se pode constatar, as pregações e as orações desse santo Padre Vieira (um verdadeiro profeta!) mui pouco alcançaram seus objetivos naquelas plagas do Maranhão, onde as pragas, ácaros, sarnas e sarneis continuam a dominar todos aqueles tesouros.

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