domingo, 6 de setembro de 2015

OS DOIS HÓSPEDES



'"Entre muitos hotéis da cidade, aquele era o mais aristocrático.
Situado num dos pontos mais altos, era ali que se hospedavam os viajantes mais ricos e respeitáveis, alguns dos quais acabavam fixando residência no edifício. 

A Bondade, a Ternura, o Ódio, a Saudade, moravam nele. 

Jovem e sadia, a Alegria ocupava uma torre esguia e clara que o Sol fazia faixar, logo que amanhecia.

A Tristeza, sempre vestida de negro, vivia num quarto sem luz, que apenas os morcegos visitavam.

A hipocrisia habitava um subterrâneo, e a mentira, um compartimento estreito, cercado de portas falsas, que lhe facilitavam a fuga à simples aproximação da Verdade.

Era nesse edifício que morava, chamando a atenção de todos, um cavalheiro moço, forte, musculoso, que, às vezes se mostrava doce, polido, gentil, tolerante, e outras, irritado, hostil, intransigente, e, não raro, malcriado.

Era vizinho do Ciúme e, sob o menor pretexto, alternava com ele, que era, em geral, secundado pela Dúvida, cujos aposentos ficavam juntos e tinham secreta comunicação interna.
Certo dia, esse cavalheiro, após uma discussão com os outros hóspedes, resolveu abandonar o quarto que ocupava no hotel. 

Foi um escândalo. Gritos, súplicas, desmaios, bater de portas e tampas de malas, tudo isso chegou até fora, alertando a vizinhança. 


O cavalheiro foi-se, porém, embora, deixando vazio o quarto em que o iam visitar, alternadamente, a Verdade e o Tormento.

À tarde, bateram à porta do hotel.

Era uma senhora tímida, modesta, fisionomia bondosa, modos recatados, que desejava aposento.

"Temos apenas um quarto, minha senhora. Foi desocupado hoje mesmo." explicou o dono do hotel. E, indicando-lhe o compartimento:

"Entre! - Aqui morava, até ontem, o Amor."

"Quem?" - estranhou a pretendente.

"O Amor."

"Ah! Não serve!" - tornou a candidata, retirando-se. "Eu não posso residir onde esteve esse senhor."

´E a senhora, quem é?"

"Eu sou a Amizade!" - explicou a recém-chegada. E desceu, um a um, os degraus do edifício, que tinha, não se sabe porquê, a forma de um coração..."

(HUMBERTO DE CAMPOS)

https://www.youtube.com/watch?v=nn6cqqTqN14


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