sábado, 1 de agosto de 2015

UM RARÍSSIMO CASO DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL




UM RARO CASO DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL EM MINAS NOVAS:

 – Nos maravilhosos idos dos anos oitenta, a agência do Banco do Brasil de Minas Novas tinha tanto movimento que foi preciso construir um novo prédio, bem mais amplo e confortável, com dois andares, para o funcionamento de suas seções, principalmente do SETOP (setor de operações de crédito rural, que antigamente se chamava de CREAI) onde trabalhavam diariamente mais de 40 funcionários de carreira. A maioria desses funcionários tinha carro próprio e o amplo estacionamento estava sempre lotado. Para o trabalho de limpeza dos veículos, mantendo-os livres da poeira que era muita em função das estradas que não eram ainda asfaltadas, como hoje, os funcionários receberam autorização da gerência para contratarem um “flanelinha” que ali ficava o tempo todo à disposição para a execução daquele necessário serviço. E foi assim que JOSÉ MARQUES, o popular “Feijoada”,  na época ainda um garoto, era bem escurinho, trabalhador, falante e muito bem mandado. E, em razão dos seus bons serviços, presteza e honestidade, foi ficando de vez como contratado e, na confiança que foi conquistando entre os funcionários do banco, tinha livre acesso às dependências internas da agência, onde passou a prestar outros favores como ajudante de compras, na feira e no comércio, como engraxate e mensageiro de recados, de vez que o serviço de telefonia não existia na cidade. E assim, tornou-se muito útil o seu serviço, pelo que recebia gratificações pagas por cada beneficiário e o tempo foi passando. A liberdade era tanta, que o “Feijoada”, depois de executar suas tarefas, resolveu de fazer seu período de descanso nas luxuosas instalações da gerência, dotada de aparelho de TV, ar condicionado, sanitário privativo e onde se deitava confortavelmente numa daquelas imensas poltronas de couro, em apurado estilo colonial, decoração que de resto dominava todo o ambiente da imensa agência. Naquele horário todo o pessoal já estava em casa. Um fato que deve ser esclarecido é que no meio de todos os funcionários não havia um só indivíduo de pele negra. Eram todos mais clarinhos ou, no máximo, “morenos escuros”. Ainda não havia o costume de se usar o termo de “afro-descendentes”, hoje tão recorrente, apesar de que também não havia muita preocupação com essas diferenças nas características físicas das pessoas. O fato, ao qual desejo chegar, é que, certo dia, aportou um novo gerente na nossa bonita agência e este era bem escurinho, fisicamente muito parecido com o cantor Agnaldo Timóteo, que pela primeira vez estava ali para conhecer sua nova agência. E ainda em trajes de viagem, trajava uma bermuda, um boné na cabeça e portava uma maleta de mão. Estava ele admirado com a beleza das instalações, que de fato eram completamente diferentes do padrão das demais agências. Subiu, garboso, as escadas que levam ao segundo pavimento, acompanhado de outros colegas que ali o estavam aguardando e seguiram para o “Gabinete da Gerência”. Ao abrirem a porta, sentiram aquele clima de ar condicionado, em pleno mês de dezembro e, lá no recanto “vip”, o ronco estrepitoso do feijoada que fazia o seu tradicional descanso.  O próprio chegante se assustou com aquele quadro e se aproximou da poltrona e deu uma sacodidazinha naquele garoto folgado que, virando de lado, abriu apenas um dos seus olhos, pediu que não o incomodassem, pois estava muito cansado e coisa e tal... Nesse momento, um dos colegas se adiantou e deu um puxão mais violento no folgado e esse, assustado, levantou-se e foi informado que ali estava o novo gerente e que ele não podia estar ali fazendo uso daquele local para descansar. Feijoada, incrédulo, vendo a figura do novo gerente, olhou-o bem de perto, como se estivesse sendo gozado, deu uma risada e foi logo dizendo: “ – truco, caiana, onde já se viu preto como funcionário de banco, ainda mais gerente..? Esse ai deve ser é o guarda novo que tá sendo esperado para substituir o Wanderley ...  e voltou a se deitar, virando-se todo para a parede. E continuou ele a roncar tranquilamente, como se estivesse no seu quarto e na sua casa! E, para não incomodá-lo, todos desceram as escadas pé-ante-pé, para ver o que aconteceria no outro dia. Creio que eles se entenderam, pois logo o feijoada passou a ser até “ajudante de motorista particular do gerente”, que o convidava para levá-lo a todo canto da cidade. Era ele, de fato, na sua simplicidade e dedicação aos amigos, uma figura admirável: um BOM GAROTO!


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