domingo, 24 de maio de 2015

PLANTAR LAVOURAS - SAÍDA PARA A ATUAL CRISE BRASILEIRA


AQUECIMENTO GLOBAL E PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL

Como se adequar às mudanças


Ao apresentar os resultados de seu estudo, os pesquisadores Eduardo Assad (Embrapa) e Hilton Pinto (Unicamp) foram categóricos: existe saída para evitar os danos, mas é preciso começar a mudar já. "Os dados deste trabalho não têm o intuito de fazer terrorismo, mas alertar para a necessidade de adotar imediatamente medidas de mitigação e adaptação", afirmou Pinto. "Fechar os olhos para isso não é certo. Só teremos realmente um problema se formos irresponsáveis", complementou Assad.

Segundo eles, o modo de produção agrícola precisa mudar. Algumas perdas talvez sejam inevitáveis, visto que o país só agora começou a conhecer sua vulnerabilidade e ainda não tomou as atitudes para evitar os impactos. Mas ainda é possível adotar medidas de mitigação, assim como adaptar as culturas para as novas situações. Essas atitudes, lembram os pesquisadores, têm o potencial de transformar a agricultura, de atual grande emissora de gases de efeito estufa, em sumidouro de carbono, revertendo sua contribuição para as mudanças climáticas.


Várias pesquisas conduzidas em unidades da Embrapa, nas empresas estaduais de pesquisa e em universidades brasileiras vêm buscando soluções nesse sentido. Em termos de adaptação, já estão sendo desenvolvidas em laboratório, por exemplo, variantes genéticas de soja, milho, feijão, café, mandioca e algumas frutas mais tolerantes às altas temperaturas e ao déficit hídrico. Os estudos estão avançados, mas, ponderam os pesquisadores, mesmo que os trabalhos resultem em plantas mais resistentes, o melhoramento genético tem um limite. Se a temperatura subir mais do que 2°C, ele não terá como combater o problema pois a planta passa a ter dificuldade em fazer fotossíntese.


A regra de ouro é, portanto, trabalhar 


Simultaneamente medidas de mitigação. Diversas práticas agrícolas já conhecidas são capazes de diminuir as emissões de carbono do setor e ainda aumentar o sequestro do gás da atmosfera, como a integração entre pecuária e lavoura, a utilização de sistemas agro florestais e o incentivo ao plantio direto. A ideia por trás delas é aperfeiçoar o uso do solo, melhorando o manejo das culturas e das áreas de pasto. As culturas consorciadas, por exemplo, evitam que a terra fique nua em alguns períodos, o que diminui os riscos de erosão e aumenta a quantidade de carbono no solo.


Plantio direto


Boas práticas de manejo do solo também contribuem para o sequestro de carbono. A mais usada é a do plantio direto, que promove o cultivo sobre a palha deixada no solo pela cultura anterior, sem a necessidade de remoção do solo. De acordo com levantamentos de Carlos Clemente Cerri, do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP, e de Carlos Eduardo Cerri, da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz), o sistema de plantio direto desenvolvido hoje em cerca de 30% da agricultura nacional evita a emissão de 9 milhões de toneladas de carbono por ano no país. É quase o suficiente para compensar a emissão direta anual das atividades agrícolas brasileiras referentes ao período de 1975 a 1995, que foi de cerca de 12,6 milhões de toneladas por ano. O valor não inclui as emissões provenientes da conversão de vegetação natural, que é a principal fonte de emissões de gases-estufa do Brasil.


O modelo convencional predominante, no entanto, ainda é o de preparação do solo com a passagem do arado para a semeadura. Ocorre que, quando o solo é revolvido dessa maneira, libera-se quase todo o carbono contido nele. Os micro-organismos que vivem debaixo da terra retiram da matéria orgânica sua fonte de energia e, ao se multiplicar, emitem gás carbônico. Quando a agricultura revolve a terra, o micro-organismo sai de seu estado de latência, aumenta sua atividade, consome mais matéria orgânica e acaba produzindo mais CO2. Na Europa, de onde o Brasil importou o modelo de limpar a terra, esse processo não é tão problemático porque, com temperaturas baixas, os micróbios não são muito ativos – o contrário do que acontece no Brasil.


O plantio direto minimiza esse impacto ao fazer pequenas aberturas no solo suficientes apenas para deslizar a semente, deixando o resto intocado. E ainda mantém mais carbono sequestrado, uma vez que, ao deixar os resíduos da colheita no solo, permite que os micro-organismos os decomponham. Eles retiram o carbono da matéria orgânica e o depositam no solo.


Carlos Clemente e Carlos Eduardo Cerri trabalham atualmente em uma série de cálculos para tentar incluir o plantio direto em projetos de créditos de carbono. Esse método está sendo encarado como uma das soluções para a agricultura também em outros países, como Argentina, Canadá, Austrália e Estados Unidos, um dos maiores adeptos da técnica. David R. Huggins, especialista em solo da Unidade de Pesquisa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), vem defendendo que a prática, se adotada em larga escala, pode protagonizar uma revolução na preservação, ao evitar a degradação do solo. Para ele, o uso do arado é uma das principais causas desse problema e, por consequência, uma ameaça à produção de alimentos.
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