22/09/2010
Íntegra do Manifesto em Defesa da Democracia, que  tem entre os signatários o jurista Hélio Bicudo, o cardeal Dom Paulo Evaristo  Arns, o poeta Ferreira Gullar, o ator Carlos Vereza e o historiador Marco  Antonio Villa.
"Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e  alma à soberania do povo.
Acima dos políticos estão as  instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados  com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime  democrático.
É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado  como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de  agressão a direitos individuais.
É inaceitável que a militância partidária tenha  convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de  pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
É lamentável que o Presidente esconda no governo  que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da  fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos  interesses do país, negando-se a qualquer controle.
É inconcebível que uma das mais importantes  democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita,  que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir  honestidade.
É constrangedor que o Presidente da República não  entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro  horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É  constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de  Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos  com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa  manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial  em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser  vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.
É aviltante que o governo estimule e financie a ação  de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo  mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação  às determinações de um partido político e de seus interesses.
É repugnante que essa mesma máquina oficial de  publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando  desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da  estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do  crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios  trouxeram ao nosso povo.
É um insulto à República que o Poder Legislativo  seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de  encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente  o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.
Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do  processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a  popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as  leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a  ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar  essa marcha para o autoritarismo.
Brasileiros erguem sua voz em defesa da  Constituição, das instituições e da legalidade.
Não precisamos de  soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos".
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