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Quarta-feira, 2 de Abril de 2008
O INCRÍVEL FESTIVAL DA BICHARADA
As palavras mentem. As histórias verdadeiras provavelmente são ficções, e as ficções ocultam possíveis verdades. Mas nada é sério, nada é certo, tudo é meio confuso, como o mundo, como palavras
(F.Pessoa)
A FESTA DOS BICHOS
Contam, que certa vez ao chegar a casa, o Dr. Francisco Louçã ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal.
Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados patos, gritou-lhe assim:
- Oh, bucéfalo anácroto!
Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que reduzir-te-ei à qüinquagésima potência do que o vulgo denomina por nada.
O ladrão, confuso, diz:
- Doutor, levo ou deixo os patos?
Série: A Fauna de Minas Novas se diverte:
UM PATO
UM GATO E
UM RATO
(Onde estaria o Sapo?)
São todos eles animais irracionais, sendo o primeiro uma ave e os demais mamíferos, tendo eles em comum o fato de viverem bem próximos dos humanos com seus comportamentos muito característicos e curiosos.
Esses três animais, apesar de terem apenas a primeira letra a alterar-lhes o nome e as sílabas sonoras a facilitar-lhes a rima, entre eles existem incríveis diferenças tanto no jeito deles de ser como no de viver.
O PATO
Pato é bípede, sem ser humano,
Sendo também um ser palmípede
Que vive no lago sempre boiando
Ou planando aprendendo a voar
Um pato só tem duas patas
Enquanto cada pata pode ter vários patos
Dos quais nascem vários patinhos
Todos como o pai, patetas e amarelinhos.
É ave que nada e também pode voar
E, como seus primos gansos,
que nadam, mas não gasnam,
Não figuram nem no jogo de azar.
Pastam gramas, não gramaticais,
E ambos viram peças valorizadas
Como deliciosas pastas comestíveis
Nos cardápios internacionais.
O GATO
O gato é bicho muito sabido
e leva a vida mansa sem trabalhar.
Dorme durante o dia—tão sofrido!
Sempre encima do saco a ronronar
Gato tem trânsito livre no bicame
Como feliz dono de um harém
É o grande xodó da madame
Vivendo muito, sempre muito bem
Bichano é caboclo escolado
Que nunca é de bater cartão
Jamais ficha-se empregado
Pois é dodói da dona do patrão
Não mora debaixo de ponte
Como um qualquer pobretão
Também não almeja horizonte
E Nem mesmo ter uma profissão.
O PATO
Um pato pode ser um selvagem
Bicho doméstico ou comestível.
É uma presa fácil da malandragem
Uma triste figura de mané risível.
Gato nunca é bicha e pode ser uma fera,
Mesmo manso não é desfrutável
Como espetinho de morro e da galera
Não é comida de sabor apreciável.
O RATO
Ratos são bichos muito nojentos
Que não vivem bem na claridade
Invadem as casas e os aposentos
Corroem os bens da humanidade.
São pragas imundas, abomináveis,
Inimigas mortais dos humanos
Pelos gatos podem ser consumíveis
Como boa dieta dos bons bichanos.
O GATO
Os Gatos, esses bichos bonitos,
que têm os pelos lisos e limpos,
Alimentam-se desses inimigos
Tão sujos, asquerosos e famintos.
Moram os ratos dentro da casa
Parece isso um enorme desplante
Pois fora dela dorme o seu guarda
O cão, o companheiro fiel vigilante.
Sendo melhor amigo do homem
Não é com o cão que esse cochila
Mas com o gato ou com uma gata
De lindo visom ou de cara chinchila.
O decano dos domésticos animais,
Sempre esperto e mais sabido vivente
Aprendeu, ainda nos tempos imemoriais,
Os segredos de viver no meio de gente
Vivendo com o cão sempre às turras,
Até sob as barbas do homem,
Deste nunca sofre as duras surras
Nas quais os cães se consomem.
Como o fazem esposas e maridos,
Mesmo os de exemplares casais,
Vivem entre latidos e os alaridos
Brigando nas alcovas e nos quintais.
O PATO
Todo pato tem o pé chato
Não é bem um bicho musical
Nem sempre vive no mato
Sendo muito pouco social.
Parentes próximos dos gansos,
Os patos não se afogam, pois sabem nadar.
E o ganso que nem sempre é manso
É que gosta de, às vezes, se afogar.
O GATO
Já o liso gato é manhoso e mia
Tem grande fôlego e destreza
Nunca sendo um bom vigia
Pois gosta mesmo é de moleza
Tem andar macio e de leveza
Pra agarrar até um Passarim
Mas seu couro é uma beleza
Pra se fazer um tamborim
Como músico não é bamba
E pra dança não tem vocação
No Morro em dia de samba
Se mancar vira cuíca e marcação
O PATO
Um pato é sempre um pateta
Um chato, um bobo, um lelé
Mas no meio de sua patota
Vira comida do esperto jacaré.
O GATO
No morro, gato é luz de barraco
Garoto bem sarado na malhação.
No asfalto é no bicho desprezado
E na praia é paquera no calçadão
O RATO
O rato — este lixo já é um porém:
Tanto pode ser ele um bicho
Como um chibano, também
Pois ao povo só causa dano,
Vale nada, nem um por cada vintém.
Com ele entra-se é pelo cano
Coisa ruim, presta para ninguém!
TODA A BICHARADA:
Mas no cerco dessa bicharada,
Existe muito desengano:
Sua lida é sempre uma charada
A todo tempo, cada dia, mês e ano.
E na lida que é uma pilhéria
Uma turba de eterna gozação
Enquanto uns ficam com a miséria
Outros gozam o seu bem-bão
E o tempo vai-se passando
Como as águas do regato
O pato continua pastando
E tateia o cego no seu tato.
Onde todo gato é bichano
nem todo bichano é gato
Nem todo rato é chibano
Mas todo chibano é rato!
E assim, no meio dessa incrível fauna, onde já até mandam alguns fuinhas alienígenas e exóticos, mesmo que continuemos combatendo implacavelmente todos os roedores e tendo já o nosso bom e pacato povo chegado a afastá-los da prefeitura durante algum período, temos de admitir que os ratos, os mais gordos, continuam poderosos como nunca, multiplicando-se como pragas daninhas, um mal endêmico da maior periculosidade que se alastra a partir dos ambientes sombrios e lúgubres, como as latrinas e os esgotos—estes lugares horríveis onde nascem, crescem e saem aos bandos, durante a escuridão e as tempestades, para se alojarem dentro de nossas casas para roubar-nos os alimentos, danificarem as roupas guardadas, os documentos, os objetos de arte, o nosso precioso dinheiro, e para destruírem as plantações dos pobres lavradores e para espalharem em todos os cantos todo tipo de doenças e prejuízos.
Sabemos que é muito difícil exterminá-los definitivamente, mas temos a certeza de que não será impossível – um dia – acabarmos com tais flagelos.
Precisamos, ainda, é de treinarmos melhor as nossas armas — que são as urnas -- e aplicar-lhes com mais eficiência o veneno que eles merecem:
Aos ratos, o nosso desprezo na hora do voto consciente.
É muito importante, também, que estejamos sempre vigilantes e cuidadosos para mantê-los bem longe de nós e de nossa cidade.
Temos que agir como os gatos, sempre com o imenso cuidado de não virarmos cuícas e espetinhos durante o samba-do-crioulo-doido que se instalou na prefeitura, pois está muito bem claro que a maioria da bicharada que ali se enfurnou, na realidade não é nada além de uma récua de patos, quase todos iludidos e confusos com a malandragem do chibano-chefe, este sim, um rato tão eclético e onisciente que tem diversos ninhos em locas e tocas diferentes, não só em nosso município, mas também em Formiga e na Capital, principalmente nesta, onde comanda um grande covil sempre muito freqüentado por uma confraria de ratos de longas togas, de casacas NEGRAS, de colarinhos brancos e que ocupam vistosas cadeiras enormes e do mais alto espaldar.
Jan/2005 -MN- Geraldo Mota.
geraldo mota
http://geraldomotacoelho.blogspot.com/