O grande poeta MANOEL BANDEIRA escreveu, entre outros lindos poemas, este cujo nome a Polícia Federal toma emprestado para batizar a sua enérgica e muito bem conduzida operação em que prendeu uma quadrilha que vem roubando o Brasil há quase três anos, no meio da qual estão muitas autoridades, inclusive o prefeito de Minas Novas, além de alguns mais que em breve serão desmascarados
Algumas pessoas não estão entendendo a razão do nome e vêem nele uma ironia, por se tratar de algo poético aplicado a um fato que, em si, causa tristeza e repúdio.
Não se pode, porém, confundir IRONIA com HIPOCRISIA.
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
(Manuel Bandeira)
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
IRONIA ou não, respeito a opinião do autor e concordo plenamente com o texto, ao tempo que lamento o medo que as pessoas simples têm, mesmo na vigência do Estado de Direito e em regime de Plena Democracia, de assunirem posições críticas diante de fatos reais e que trazem prejuízo e indignação à sociedade minasnovense e ao povo em geral.
Fazer poesia, elogiar as pessoas e também demonstrar indignação -- no momento certo -- faz bem à saúde e à cidadania...
De qualquer forma não podemos desconhecer que se trata de algo inusitado, esse lamentável episódio em que se envolve o prefeito de Minas Novas.
A denominação dada pela Polícia Federal a esta operação -- que não deixa de se apresentar como uma ironia -- refere-se ao fato de que as pessoas envolvidas nos ilícitos em apuração, sendo autoridades e cidadãos conscientes de suas responsabilidades, certamente contavam com a tradicional impunidade que antes existia no país, em épocas recentes, quando os agentss públicos se viam em situações análogas e tudo terminava "em pizza". Assim confiantes, estariam certos de que poderiam contar com a tradicional "amizade do rei" . Este tempo, felizmente, já acabou e a realidade hoje é outra em que imperam a Lei e a Justiça, custe o que custar, pois da forma como sempre tem afirmado o nosso Presidente LULA, a Polícia Federal existe é para apurar, investigar e desbaratar as bandalheiras, e assim é que vai continuar a agir.
Ironia pode ser, também, um recurso literário, uma figura de linguagem, o que já não acontece com o termo HIPOCRISIA, este que é um recurso utilizado pelas pessoas que estejam querendo faltar com a verdade ou subverter a realidade, usando do poder de sedução e de artifícios demagógicos: A situação do prefeito de Minas Novas é muito delicada e somente dentro de alguns dias é que realmente vamos ficar sabendo até onde vai a extensão de sua responsabilidade nos fatos -- reais -- que estão sob investigação, podendo acontecer, até mesmo, que se chegue à conclusão de que ele seja inocente.
Um fato, porém, existe:
ONDE HÁ FUMAÇA HÁ FOGO!
Somente depois de terminadas as apurações é que saberemos quem serão os verdadeiros culpados. É bem verdade que existem mil e uma especulações, acerca do episódio, o que, de certa forma é compreensível. Mas os fatos existem e os culpados -- se é que existem -- logo serão conhecidos e poderão usar do direito amplo de se defenderem, contando com os bons serviços de seus ilustres advogados e assessores.
O que não se compreende é o posicionamento de uma emissora de rádio -- que é concessionária de um serviço público para divulgar notícias e informações isentas e imparciais -- quando o seu serviço de jornalismo (profissional) avoca o direito de defender o investigado, afirmando ser ele inocente e afirmando, categoricamente, que o prefeito seria apenas uma vítima das circunstâncias, nada havendo de prova que o incrimine. Ao assim se posicionar, coloca em dúvida a seriedade de uma organização do porte e da importância da Polícia Federal que apenas cumpre sua função constitucional que é a de agir e de apurar os fatos. Quem vai julgar, com base nos inquéritos que serão apresentados, na forma da Lei, será o PODER JUDICIÁRIO.
A nossa função não é a de julgar. Contudo podemos, protegidos pelo Direito de Opinião, de divulgar fatos que sejam públicos e notórios.
Aos orgãos da imprensa, também, cabe a obrigação de dar cobertura jornalistica aos fatos que sejam de seu conhecimento, transmitindo-os com clareza e correção, no formato de notícias que o público tem o direito de tomar ciência.
Uma emissora de rádio não pode transmitir somente as notícias que sejam do seu agrado ou que sejam do interesse de seu proprietário. O jornalismo é uma atividade séria e deve ser exercida com profissionalismo, não podendo -- jamais -- omitir ou descaracterizar a realidade dos fatos.
Não se trata de ironia, mas seria uma injustificável hipocrisia, o fato de estar essa rádio, desde a data de ontem, completamente muda na WEB e com o seu acesso na INTERNET interrompido, justamente enquanto vêm à tona o mar de lama que se abate sobre a prefeitura que até poucos dias estava sob o comando de seu único proprietário.
Tenho tentado -- em vão -- sintonizar-me com os sinais dessa emissora, que antes eram tão nítidos e fáceis de serem acessados via iNTERNET e, para certificar-me de que não seria um problema com meu equipamento, busquei informar-me com diversos outros "internautas" -- via telefone -- sendo que todos os que consultei estavam diante do mesmo problema e também estranhando a repentina situação de silêncio.
Será esta mudez um defeito técnico insanável ou seria uma decisão -- estrategicamente errada, diga-se de passagem - de se calar diante dos escândalos?
É sempre bom lembrar que o Sol não se tampa com uma peneira!
Tanto a culpa do prefeito, como o posicionamento omisso da Rádio -- para mim -- devem merecer análise apurada para que os fatos sejam, finalmente, esclarecidos.
Caberá à Justiça determinar o que for de direito.
geraldo mota
http://geraldomotacoelho.blogspot.com/
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