Jornalista sem diploma que sou,
além do fato de ser auto-ditada (pois cursei
apenas o ensino fundamental do antigo Ginásio Minas Novas), foi a partir da
firme base adquirida naquele saudoso educandário que aprendi o pouco que hoje sei,
mas foi, também, através da leitura constante de bons livros, de bons autores e,
principalmente, de textos escritos por bons jornalistas que hoje arrisco a me aventurar como Blogueiro. É que sempre tive o hábito
de ler e ainda tenho a mania de guardar os livros (que sempre compro e nunca os tomo
emprestado!) contendo as anotações que faço à mão em cujas margens, ou em
tirinhas de papel que ficam marcando a página, assim como fazer recortes de
jornais e revistas (costume que conservo e que, além de muito trabalho,
custa-me dinheiro, ocupa-me tempo, entope arquivos e gavetas e me rende muito xingamento da minha
esposa que gosta de ver tudo muito bem arrumadinho, mesmo no meu “quartinho da
bagunça”, antiga DCE, onde não cabem mais prateleiras).
Atualmente estou às
voltas com o desafio de digitalizar todo o acervo de recortes das publicações
que, durante mais de 50 anos, li em folhetos, em jornais e em revistas, tudo que vou pacientemente catalogando
por autor, por data e por assunto, num árduo trabalho que me permitirá o acesso
rápido, quando eu precisar de alguma informação e não encontrá-la no Google, o que, aliás, atualmente é caso
raro de acontecer, principalmente quando se tem as manhas de buscas pela
internet através dos instrumentos adequados, além de contar com uma boa
disponibilidade de banda-larga, de memórias e de drives externos. Contudo, para
quem tem um pouco da “síndrome de acumulador
de bugigangas”, não deixa de ser um grande martírio ter que se desfazer dos
originais.
E essa mania, que acredito ser o tormento de muitos leitores, não me
permite o contentamento em ler os livros digitalizados (e-book), mesmo que os
lendo, ainda assim, obriga-me a adquirir um exemplar impresso, com a finalidade
de sentir o prazer de ter aquela obra literária nas mãos e naquele volume fazer
os “rabiscos” que bem desejar. Morando em apartamento, onde os espaços são
limitados, logo serei obrigado a providenciar outro local para conservar meus
livros, enciclopédias, dicionários, álbuns e arquivos físicos, o que, para mim,
será um grande tormento, vê-los distantes e sob o cuidado de terceiros.
Creio
que essa síndrome deva ter cura, mas no momento não me ocorre procurá-la, até
por que esta acaba sendo uma atividade prazerosa a preencher minhas horas de
aposentado.
A propósito do que acima expus,
deparei-me hoje com o texto que adiante publico, uma obra-prima do saudoso
mestre LUÍS AURELIANO, brilhante jornalista e cientista político que faleceu em
março/2013, com apenas 67 anos de idade, mas deixando um invejável legado para
todos que sabem apreciar as boas letras e o bom jornalismo.
Luis Aureliano Gama de Andrade era PhD pela University of
Michigan, foi presidente da Fundação João Pinheiro e professor do Departamento
de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Consultor
de políticas públicas e planejamento da OEA, do BID e do Banco de
Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), foi também autor de diversas
publicações sobre educação, planejamento, desenvolvimento e modernização da
administração pública.
A matéria
que se segue, apesar de publicada há mais de 10 anos, reflete com clareza
cristalina toda a sabedoria desse jornalista que, como ninguém, sabia analisar
os fatos daquela época, de forma cirúrgica, além de apontar com toda segurança
as possíveis saídas para cada situação de conflito.
O tema
continua muito atual e instigante. Porém, chama-nos a atenção o fato de que
hoje, muito mais que naquela época, a CORRUPÇÃO que corrói a FIFA não é muito
maior do que aquela que está liquidando com a PETROBRÁS e que está levando todo
o Brasil para uma situação caótica sem precedentes, aterrorizando o povo brasileiro que já não
sabe a quem recorrer, pela falta de rumos e prumos em todos os TRÊS PODERES DA
REPÚBLICA BRASILEIRA.
CONJUNTURA BRASIL – Luís Aureliano
Política e futebol
(Publicado no Jornal “O
Tempo”, de 08.09.2001)
Maior que a crise que assola
a política no Brasil é a que atinge o nosso futebol. Antigamente, costumava-se dizer que dentro das
quatro linhas do gramado o futebol brasileiro ia bem. Ruim, só do túnel pra
dentro.
Hoje, esse julgamento
precisaria ser atualizado: no futebol brasileiro, tudo vai de mal a pior, no
campo e fora dele.
Mas não falemos de táticas e
estratégia, da limitação dos jogadores, dos treinamentos e dos treinadores, que
são assunto, aliás, apaixonantes. Falemos da organização política do futebol,
causa determinante da maior parte dos males que nos afligem.
Os clubes, as federações e
esse indefectível CBF (ou indefectível
seria o seu presidente?) tornaram-se, em não poucos casos, meros
instrumentos para enriquecer seus controladores. Cartolas desonestos ganharam poder
nos grandes clubes e principalmente nas federações e nada lhes acontece. Vez
por outra, algumas vozes se levantam nos clubes, questionam a lisura dos
procedimentos de seus dirigentes.
Não é incomum que a acusação
parte de alguém que já esteve no rolo e que depois foi excluído.
A corrupção e a desorganização
andam de mãos dadas no futebol. Na política, há o “rouba, mas faz”; no
futebol, não. Quem rouba, rouba, deixando atrás de si um clube (ou federação)
arrasado, com dívidas, sem crédito e frequentemente sem time. Por quê?
Há que fazer distinções.
Atlético, Corinthians e Flamengo parecem mais vulneráveis a essas administrações
demolidoras, enquanto Cruzeiro e Palmeiras, por exemplo, parecem menos
atingidos por esses males.
Suspeito que a causa de tudo
isto – do caos e da corrupção no futebol – esteja no arranjo institucional de
sua estrutura política e na divisão de forças políticas.
Os conselhos dos clubes são
estruturas que eternizam e garantem o caráter oligárquico do jogo político nas
agremiações de futebol. Os clubes sãos instituições públicas que lidam com
grandes somas de dinheiro, e seus conselhos não estão aparelhados para exercer
o controle que deles se espera.
O conselho seria um órgão de
fiscalização e acompanhamento da administração do clube. Mas não é o que
acontece. Seus membros são escolhidos entre os amigos dos diretores e do
presidente. Há também os conselheiros natos ou eméritos, mas eles raramente
levam a sério esse papel de fiscalização.
Quando a oposição não
consegue fazer-se representada, os conselhos dos clubes tornam-se confrarias, onde
faz número grande de membros e o time vai mal, inferniza a vida política dos
que estão no poder.
É imprescindível
democratizar o futebol, tanto os clubes quanto as federações. Talvez a saída
seja dar voz às torcidas.
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