sexta-feira, 3 de julho de 2015

ANÁLISE DE UMA CRISE QUE SE REPETE



Jornalista sem diploma que sou, além do fato de ser auto-ditada (pois cursei apenas o ensino fundamental do antigo Ginásio Minas Novas), foi a partir da firme base adquirida naquele saudoso educandário que aprendi o pouco que hoje sei, mas foi, também, através da leitura constante de bons livros, de bons autores e, principalmente, de textos escritos por bons jornalistas que hoje arrisco a me aventurar como Blogueiro. É que sempre tive o hábito de ler e ainda tenho a mania de guardar os livros (que sempre compro e nunca os tomo emprestado!) contendo as anotações que faço à mão em cujas margens, ou em tirinhas de papel que ficam marcando a página, assim como fazer recortes de jornais e revistas (costume que conservo e que, além de muito trabalho, custa-me dinheiro, ocupa-me tempo, entope arquivos e gavetas e me rende muito xingamento da minha esposa que gosta de ver tudo muito bem arrumadinho, mesmo no meu “quartinho da bagunça”, antiga DCE, onde não cabem mais prateleiras). 
Atualmente estou às voltas com o desafio de digitalizar todo o acervo de recortes das publicações que, durante mais de 50 anos, li em folhetos, em jornais e em revistas, tudo que vou pacientemente catalogando por autor, por data e por assunto, num árduo trabalho que me permitirá o acesso rápido, quando eu precisar de alguma informação e não encontrá-la no Google, o que, aliás, atualmente é caso raro de acontecer, principalmente quando se tem as manhas de buscas pela internet através dos instrumentos adequados, além de contar com uma boa disponibilidade de banda-larga, de memórias e de drives externos. Contudo, para quem tem um pouco da “síndrome de acumulador de bugigangas”, não deixa de ser um grande martírio ter que se desfazer dos originais. 
E essa mania, que acredito ser o tormento de muitos leitores, não me permite o contentamento em ler os livros digitalizados (e-book), mesmo que os lendo, ainda assim, obriga-me a adquirir um exemplar impresso, com a finalidade de sentir o prazer de ter aquela obra literária nas mãos e naquele volume fazer os “rabiscos” que bem desejar. Morando em apartamento, onde os espaços são limitados, logo serei obrigado a providenciar outro local para conservar meus livros, enciclopédias, dicionários, álbuns e arquivos físicos, o que, para mim, será um grande tormento, vê-los distantes e sob o cuidado de terceiros. 
Creio que essa síndrome deva ter cura, mas no momento não me ocorre procurá-la, até por que esta acaba sendo uma atividade prazerosa a preencher minhas horas de aposentado.
A propósito do que acima expus, deparei-me hoje com o texto que adiante publico, uma obra-prima do saudoso mestre LUÍS AURELIANO, brilhante jornalista e cientista político que faleceu em março/2013, com apenas 67 anos de idade, mas deixando um invejável legado para todos que sabem apreciar as boas letras e o bom jornalismo. 

Luis Aureliano Gama de Andrade era PhD pela University of Michigan, foi presidente da Fundação João Pinheiro e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Consultor de políticas públicas e planejamento da OEA, do BID e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), foi também autor de diversas publicações sobre educação, planejamento, desenvolvimento e modernização da administração pública.
A matéria que se segue, apesar de publicada há mais de 10 anos, reflete com clareza cristalina toda a sabedoria desse jornalista que, como ninguém, sabia analisar os fatos daquela época, de forma cirúrgica, além de apontar com toda segurança as possíveis saídas para cada situação de conflito.
O tema continua muito atual e instigante. Porém, chama-nos a atenção o fato de que hoje, muito mais que naquela época, a CORRUPÇÃO que corrói a FIFA não é muito maior do que aquela que está liquidando com a PETROBRÁS e que está levando todo o Brasil para uma situação caótica sem precedentes,  aterrorizando o povo brasileiro que já não sabe a quem recorrer, pela falta de rumos e prumos em todos os TRÊS PODERES DA REPÚBLICA BRASILEIRA.

CONJUNTURA BRASIL – Luís Aureliano

Política e futebol
(Publicado no Jornal “O Tempo”, de 08.09.2001)

Maior que a crise que assola a política no Brasil é a que atinge o nosso futebol.  Antigamente, costumava-se dizer que dentro das quatro linhas do gramado o futebol brasileiro ia bem. Ruim, só do túnel pra dentro.
Hoje, esse julgamento precisaria ser atualizado: no futebol brasileiro, tudo vai de mal a pior, no campo e fora dele.
Mas não falemos de táticas e estratégia, da limitação dos jogadores, dos treinamentos e dos treinadores, que são assunto, aliás, apaixonantes. Falemos da organização política do futebol, causa determinante da maior parte dos males que nos afligem.
Os clubes, as federações e esse indefectível CBF (ou indefectível seria o seu presidente?) tornaram-se, em não poucos casos, meros instrumentos para enriquecer seus controladores. Cartolas desonestos ganharam poder nos grandes clubes e principalmente nas federações e nada lhes acontece. Vez por outra, algumas vozes se levantam nos clubes, questionam a lisura dos procedimentos de seus dirigentes.
Não é incomum que a acusação parte de alguém que já esteve no rolo e que depois foi excluído.
A corrupção e a desorganização andam de mãos dadas no futebol. Na política, há o “rouba, mas faz”; no futebol, não. Quem rouba, rouba, deixando atrás de si um clube (ou federação) arrasado, com dívidas, sem crédito e frequentemente sem time. Por quê?
Há que fazer distinções. Atlético, Corinthians e Flamengo parecem mais vulneráveis a essas administrações demolidoras, enquanto Cruzeiro e Palmeiras, por exemplo, parecem menos atingidos por esses males.
Suspeito que a causa de tudo isto – do caos e da corrupção no futebol – esteja no arranjo institucional de sua estrutura política e na divisão de forças políticas.
Os conselhos dos clubes são estruturas que eternizam e garantem o caráter oligárquico do jogo político nas agremiações de futebol. Os clubes sãos instituições públicas que lidam com grandes somas de dinheiro, e seus conselhos não estão aparelhados para exercer o controle que deles se espera.
O conselho seria um órgão de fiscalização e acompanhamento da administração do clube. Mas não é o que acontece. Seus membros são escolhidos entre os amigos dos diretores e do presidente. Há também os conselheiros natos ou eméritos, mas eles raramente levam a sério esse papel de fiscalização.
Quando a oposição não consegue fazer-se representada, os conselhos dos clubes tornam-se confrarias, onde faz número grande de membros e o time vai mal, inferniza a vida política dos que estão no poder.
É imprescindível democratizar o futebol, tanto os clubes quanto as federações. Talvez a saída seja dar voz às torcidas.

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