domingo, 12 de julho de 2015

SAUL MARTINS é um mestre que está fazendo falta à nossa cultura mineira.








Tive o prazer e a subida honra de conhecer o Cel. Saul Martins, certa vez em que estávamos, ambos, numa área aberta que fica entre o Palácio das Artes e o Parque Municipal, de onde, cada um no seu canto, isoladamente, admirávamos a beleza daquele maravilhoso logradouro que é o pulmão da capital mineira. 

Chovia então, um chovisco fino naquela tardinha, quase à boca da noite, numa QUARTA ERUDITA, mesmo assim era grande o público que aguardava naquele imenso saguão para assistirem à apresentação do QUARTETO DE TROMBONES DA CIDADE DE OURO PRETO, dentro do projeto TROMBOMINAS.

Ao adentrarmos aquele diminuto espaço, contudo muito aconchegante e de ótima acústica, que é a SALA JUVENAL DIAS, para a minha felicidade, tive a sorte de ficar ao lado daquele senhor, já idoso, mas muito saudável, distinto e elegante, sendo que, enquanto a apresentação dos músicos não se iniciava, fomos tomando conhecimentos mútuos, com a gentil iniciativa dele se apresentar, de forma muito discreta e singela, na qual não pude perceber tratar-se de uma figura tão importante, conforme logo depois me foi dado conhecer. Trocamos algumas considerações vagas, sobre a música, eu como um simples tabaréu, que muito mal sabia apenas admirar, até então, algumas bandinhas do interior ou, mais de perto, os dobrados da saudosa EUTERPE CONCEIÇÃO, da distante MINAS NOVAS, minha querida terra natal. 

Dados os primeiros acordes daquele interessante grupo, um dos músicos, deixando de lado o seu instrumento, desceu do palco e de imediato veio rápido em nossa direção e tomou pelas mãos o meu novo amigo, que tão logo os dois chegaram àquela tribuna, surpreso e ao mesmo tempo envaidecido fiquei sabendo tratar-se de uma das mais importantes e festejadas figuras do meio cultural da Capital Mineira. Ele, que foi pego de surpresa, não sabia que receberia aquela homenagem. Aliás, ninguém o estava sabendo, pois foi um ato improvisado daquele músico, que já conhecia o Cel. Saul, mas não esperava que ele ali estivesse, naquele local, ocorrendo-lhe, por acaso, de visualizar a figura humilde dessa grande personalidade que estava lá no fundo da plateia, anônimo, justamente onde também eu estava, de vez que nós dois quase que não conseguimos aqueles últimos lugares, em virtude da grande demanda que, por sinal, talvez a própria organização do evento não imaginasse que seria tão grande, quando se deliberou pela dispensa da exigência de ingressos. 
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A seguir, com a presença do convidado em lugar de destaque no palco, foi apoteótica a apresentação daqueles TROMBONISTAS, um grupo por mim desconhecido e que me encantou com uma sequência de chorinhos, polcas e pequenas peças da música clássica e da MPB, fazendo-me recordar dos grandes músicos de minha cidade, como Sebastião Domingos, João Batista Alecrim, Zé Moreira e Lourival César, como se fossem eles que estivessem, ressuscitados e reencarnados, ali naquele espetacular grupo que mais nunca me saiu da memória. 

Tempos depois, sabendo estar acamado, fui visitar o meu amigo SAUL em sua residência, quando ele, muito amável e gentilmente, me presenteou com uma de suas diversas e importantíssimas obras já publicadas, conforme a ilustração que fiz no início desta crônica. Poucos dias depois tive a infausta notícia de seu passamento. A nossa cultura havia perdido um grande pesquisador, mestre, produtor e incentivador do conhecimento e da arte em todos os segmentos.

Saul Alves Martins (Januária, 1º de novembro de 1917 - Belo Horizonte, 10 de dezembro de 2009) foi um antropólogo e folclorista, professor da UFMG. Formado em Ciências Sociais, com mestrado e doutorado na área, se dedicou durante anos ao estudo e ao ensino da antropologia, com ênfase no folclore e na tradição de Minas Gerais.
Histórico do Antropólogo
Defendeu sua dissertação de mestrado com a biografia do cangaceiro Antonio Dó e sua tese de doutorado com o título “Contribuição para o estudo científico do artesanato”, ambos publicados na forma de livro.
Contribuições de Saul Alves Martins para a antropologia
Escritor atento às nuances da “cultura popular” e das formas de sociabilidade “tradicionais” expostas no interior de Minas Gerais, especialmente as rodas de São Gonçalo, Saul Alves Martins deixou um legado na descrição e na sistematização das formas de expressão cultural do interior do Brasil. Defendendo um estudo sistemático dessas formas de expressão, e profundamente influenciado pelo positivismo de Auguste Comte e de Émile Durkheim, o antropólogo folclorista defendia o folclore como a forma “primeira” (ou, usando o jargão durkheimniano, a “forma elementar”) de expressão da cultura de um povo.
Empresta seu nome ao Museu do Artesanato Saul Alves Martins, localizado na cidade de Vespasiano/MG, categorizado como um dos cinco melhores museus de cultura popular do Brasil2 . Cabe salientar que o museu possui em seu acervo uma grande quantidade de obras doadas pelo antropólogo, fruto de suas pesquisas.
Nos tempos em que a antropologia vêm redescobrindo os estudos folclóricos, não apenas como fonte de dados para posteriores análises, mas também como um rico material de discussão, a obra de Saul Alves Martins aponta como de grande relevância para a construção teórica.

Versos do Poeta
Saul Alves Martins também foi poeta, tendo publicado vários livros neste gênero literário, além de contribuições em coletâneas. Como exemplo de sua produção nesta área cabe ressaltar o poema "Flores do Campo" 3 considerado um dos dez melhores sonetos da fase contemporânea em Minas Gerais, que gerou ao antropólogo o prêmio recebido pela Academia Mineira de Letras em 1951. Segue um trecho do soneto:




“Belas flores de pétalas bordadas,
De raro odor e de aparência austera,
Lindo jardim que a natureza gera
Para alegrar a vida nas chapadas.”


Além de seu trabalho como antropólogo, tornou-se coronel e comandou batalhões na capital mineira. É autor do hino oficial da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG), o que aponta para seu viés poético. Saul Alves Martins também se dedicou a poesia.

 

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