Tive o prazer e a subida honra de conhecer o Cel. Saul Martins,
certa vez em que estávamos, ambos, numa área aberta que fica entre o Palácio
das Artes e o Parque Municipal, de onde, cada um no seu canto, isoladamente,
admirávamos a beleza daquele maravilhoso logradouro que é o pulmão da capital
mineira.
Chovia então, um chovisco fino naquela tardinha, quase à boca da noite, numa QUARTA ERUDITA, mesmo assim era grande o público que aguardava naquele imenso
saguão para assistirem à apresentação do QUARTETO DE TROMBONES DA CIDADE DE
OURO PRETO, dentro do projeto TROMBOMINAS.
Ao adentrarmos aquele diminuto espaço, contudo muito aconchegante e de
ótima acústica, que é a SALA JUVENAL DIAS, para a minha felicidade, tive a sorte de
ficar ao lado daquele senhor, já idoso, mas muito saudável, distinto e elegante,
sendo que, enquanto a apresentação dos músicos não se iniciava, fomos tomando
conhecimentos mútuos, com a gentil iniciativa dele se apresentar, de forma
muito discreta e singela, na qual não pude perceber tratar-se de uma figura tão
importante, conforme logo depois me foi dado conhecer. Trocamos algumas
considerações vagas, sobre a música, eu como um simples tabaréu, que muito mal
sabia apenas admirar, até então, algumas bandinhas do interior ou, mais de
perto, os dobrados da saudosa EUTERPE CONCEIÇÃO, da distante MINAS NOVAS, minha querida terra natal.
Dados os primeiros acordes daquele interessante grupo, um dos músicos, deixando de lado o seu instrumento, desceu do palco e de imediato veio rápido em nossa direção e tomou pelas mãos o meu novo amigo, que tão logo os dois chegaram àquela tribuna, surpreso e ao mesmo tempo envaidecido fiquei sabendo tratar-se de uma das mais importantes e festejadas figuras do meio cultural da Capital Mineira. Ele, que foi pego de surpresa, não sabia que receberia aquela homenagem. Aliás, ninguém o estava sabendo, pois foi um ato improvisado daquele músico, que já conhecia o Cel. Saul, mas não esperava que ele ali estivesse, naquele local, ocorrendo-lhe, por acaso, de visualizar a figura humilde dessa grande personalidade que estava lá no fundo da plateia, anônimo, justamente onde também eu estava, de vez que nós dois quase que não conseguimos aqueles últimos lugares, em virtude da grande demanda que, por sinal, talvez a própria organização do evento não imaginasse que seria tão grande, quando se deliberou pela dispensa da exigência de ingressos.
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Dados os primeiros acordes daquele interessante grupo, um dos músicos, deixando de lado o seu instrumento, desceu do palco e de imediato veio rápido em nossa direção e tomou pelas mãos o meu novo amigo, que tão logo os dois chegaram àquela tribuna, surpreso e ao mesmo tempo envaidecido fiquei sabendo tratar-se de uma das mais importantes e festejadas figuras do meio cultural da Capital Mineira. Ele, que foi pego de surpresa, não sabia que receberia aquela homenagem. Aliás, ninguém o estava sabendo, pois foi um ato improvisado daquele músico, que já conhecia o Cel. Saul, mas não esperava que ele ali estivesse, naquele local, ocorrendo-lhe, por acaso, de visualizar a figura humilde dessa grande personalidade que estava lá no fundo da plateia, anônimo, justamente onde também eu estava, de vez que nós dois quase que não conseguimos aqueles últimos lugares, em virtude da grande demanda que, por sinal, talvez a própria organização do evento não imaginasse que seria tão grande, quando se deliberou pela dispensa da exigência de ingressos.
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A seguir, com a presença do convidado em lugar de destaque no palco, foi
apoteótica a apresentação daqueles TROMBONISTAS, um grupo por mim desconhecido
e que me encantou com uma sequência de chorinhos, polcas e pequenas peças da
música clássica e da MPB, fazendo-me recordar dos grandes músicos de minha
cidade, como Sebastião Domingos, João Batista Alecrim, Zé Moreira e
Lourival César, como se fossem eles que estivessem, ressuscitados e reencarnados, ali
naquele espetacular grupo que mais nunca me saiu da memória.
Tempos depois, sabendo estar acamado, fui visitar o meu amigo SAUL em sua
residência, quando ele, muito amável e gentilmente, me presenteou com uma de suas diversas
e importantíssimas obras já publicadas, conforme a ilustração que fiz no início
desta crônica. Poucos dias depois tive a infausta notícia de seu passamento. A
nossa cultura havia perdido um grande pesquisador, mestre, produtor e
incentivador do conhecimento e da arte em todos os segmentos.
Saul
Alves Martins (Januária, 1º de novembro de 1917
- Belo Horizonte, 10 de dezembro de 2009)
foi um antropólogo e folclorista, professor da UFMG.
Formado em Ciências Sociais,
com mestrado e doutorado na área, se dedicou durante anos ao estudo e ao ensino
da antropologia, com ênfase no folclore e na tradição de Minas Gerais.
Histórico do Antropólogo
Defendeu sua
dissertação de mestrado com a biografia do cangaceiro Antonio Dó e sua tese de doutorado com o título “Contribuição para o estudo
científico do artesanato”, ambos publicados na forma de livro.
Contribuições de Saul Alves Martins para a antropologia
Escritor atento às
nuances da “cultura popular” e das formas de sociabilidade “tradicionais” expostas no interior de Minas Gerais, especialmente as rodas de São
Gonçalo, Saul Alves Martins deixou um legado na descrição e na sistematização
das formas de expressão cultural do interior do Brasil. Defendendo um estudo
sistemático dessas formas de expressão, e profundamente influenciado pelo positivismo de Auguste Comte e de Émile Durkheim, o antropólogo folclorista defendia
o folclore como a forma “primeira” (ou, usando
o jargão durkheimniano, a “forma elementar”) de expressão da cultura de um
povo.
Empresta seu nome
ao Museu do Artesanato Saul Alves Martins, localizado na cidade de Vespasiano/MG, categorizado como um dos cinco
melhores museus de cultura popular do Brasil2 . Cabe salientar que o museu possui
em seu acervo uma grande quantidade de obras doadas pelo antropólogo, fruto de
suas pesquisas.
Nos tempos em que a
antropologia vêm redescobrindo os estudos
folclóricos, não apenas como fonte de dados para posteriores análises, mas
também como um rico material de discussão, a obra de Saul Alves Martins aponta
como de grande relevância para a construção teórica.
Versos do Poeta
Saul Alves Martins
também foi poeta, tendo publicado vários livros neste gênero literário, além de
contribuições em coletâneas. Como exemplo de sua produção nesta área cabe
ressaltar o poema "Flores do Campo" 3 considerado um dos dez melhores sonetos da fase contemporânea em Minas
Gerais, que gerou ao antropólogo o prêmio recebido pela Academia Mineira de Letras em 1951. Segue um trecho do soneto:
“Belas flores de pétalas bordadas,
De raro odor e de aparência austera,
Lindo jardim que a natureza gera
Para alegrar a vida nas chapadas.”
Além de seu trabalho como antropólogo, tornou-se coronel e comandou batalhões na capital mineira. É autor do hino oficial da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG), o que aponta para seu viés poético. Saul Alves Martins também se dedicou a poesia. |
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