sábado, 18 de julho de 2015

ODE AOS ILETRADOS







Dos gêneros literários, um dos que mais aprecio é a POESIA e, dentre estas, o “rondó” [1]pai do soneto que é bem mais moderno - é da minha especial admiração. Tomei esse gosto pela proximidade que tive com o finado Valdemar Santos, seu pai e meu estimado e saudoso padrinho. Dele, entre as muitas boas lembranças que guardo com muito carinho, uma é, de certo modo, formidável em razão do seu desfecho cômico. É que certa feita, estando todos nós numa rodinha de amigos que se reuniam, à boca da noite, no banco público que ficava ao lado do armazém de Zé Camargos, a certa altura o meu padrinho pôs-se a declamar o poema baixo, o que, aliás, ele o sabia fazer com muita competência, graça e sabedoria. Acontece, porém, que no meio de nós havia um ouvinte, muito atento, mas de poucas letras e muitos complexos, que sofria enormemente com os achaques que lhe causavam os diversos calos em seus pés, os quais o obrigava a andar como se estivesse pisando em ovos. E como era de sua triste índole viver amargurado e não admitir qualquer tipo de brincadeira e pilhérias, acreditando que aqueles versos estavam sendo a ele dirigidos, queria partir para briga e começou a se esbravejar e a reclamar daqueles supostos insultos. E, mesmo depois de contido em seus belicosos ímpetos, não quis concordar com o conteúdo desse lindo trecho escrito por um abade, que viveu mansamente lá do outro lado do Oceano Atlântico, ainda no tempo das Caravelas:



O CRAVO


Tendes o cravo no peito,
O lugar impróprio é;
Pois se o tivésseis no pé,
Era o lugar mais perfeito:
Não julgueis, que o meu conceito
Vos faz a menor censura;
E só com doce brandura,
E sem vos fazer agravo,
Dar-vos pancada no cravo,
Sem tocar na ferradura
.

Paulino António Cabral, Abade de Jazente -  (séc. XVIII)







[1] Rondó - s.m. Poética  - Poema de forma fixa, de origem francesa, composto em versos de oito ou dez sílabas, em duas rimas, com a seguinte estrutura: uma quintilha (rimas aabba); um terceto (rimas aab), ao qual se ajusta, à guisa de refrão, a primeira ou primeiras palavras da peça; uma segunda quintilha (rimas aabba), também seguida do mesmo refrão. Tal refrão não se conta como verso, nem rima com qualquer dos versos anteriores. (Na literatura de língua portuguesa, mormente no Brasil, esse tipo de poema lírico tem sofrido pequenas modificações em sua forma).
 

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