SEBASTIÃO MARTINS, o nosso saudoso seresteiro e futebolista GATO MARTINS
foi, também, um irreverente produtor de “causos”, entre vários consagrados
artistas de nossos palcos e auditórios – dos bons tempos em que tínhamos o
Teatro Municipal e o Salão da Liga Católica – onde se despontaram cantores,
compositores, intérpretes, músicos, dançarinos, figurinistas, humoristas que
ainda hoje sustentam a nossa fama de cultura e de bom gosto.
A vida artística nunca foi fonte de
renda para nenhum de nossos conterrâneos daquele tempo, que tinham seus
afazeres domésticos e profissionais, mas não se negavam de fazer sacrifícios no
sentido de se preparar adequadamente para a vida de sonhos, de glamour e de
cultura que sempre motivou o protagonismo de quem acredita no seu potencial.
A maior parte de nossos artistas
sempre foi de pessoas simples, como funcionários públicos, policiais, professores,
donas de casas, comerciantes, operários da construção civil, lavradores,
motoristas, oficias de serviços gerais, garimpeiros, alfaiates, barbeiros,
carpinteiros, pedreiros e pintores de paredes, aliás, sendo esta última a
atividade que representava a fonte de rendimento de nosso amigo GATO MARTINS.
Contudo, era para ele uma atividade na qual só se verificava maior demanda de
serviços nas proximidades das festas juninas, quando grande parte da população
se animava a melhorar a aparência de suas casas, mandando pintar as fachadas,
os muros e os meios-fios das calçadas. Fora desse tempo o recurso era procurar
outros “bicos” para garantir a sobrevivência. E aquele nosso amigo não era de
fazer feio, pois sempre se apresentava bem vestido, usava ternos alinhados,
camisas bem engomadas e gostava de colecionar gravatas. Não dispensava uma boa
água de colônia e seus sapatos eram sempre bem lustrosos. Vendo-o em boa roda
de amigos e numa reunião dançante, não ficava a dever a qualquer outro
frequentador daquele ambiente, tanto pelo seu bom gosto no vestir como no seu
jeito elegante de comparecer, de se comportar e de se relacionar com todos da
comunidade, um costume que sempre foi cultivado pelas pessoas de bem,
independentemente de sua classe social ou de sua condição financeira.
Mas, como em todo grupamento
social, sempre existe os invejosos, os ciumentos e algumas pessoas que se
julgam superiores e não admitem o sucesso alheio e passam a menosprezar aqueles
que julgam serem inferiores. Certa vez
um desses cidadãos implicantes, dirigiu-se ao GATO, com certa ironia, indagando
dele a origem de seus recursos, ao que ele, imediatamente, respondeu que além
dos pincéis, das brochas e da cal, ele vivia da bateia e do frincheiro. E que
também, como ferramenta de seu ganha-pão, tinha para si uma escada muito boa, na qual podia subir onde bem quisesse
chegar, com isto indicando seu trabalho honesto de pintor e de garimpeiro,
enquanto que seu interlocutor não sabia exercer qualquer ofício ou profissão,
sendo eternamente um dependente do pai, não podendo, assim, por seus próprios
méritos subir na vida. E para reforçar, ainda mais a sua crítica velada, ele
completou que entre seus amigos e colegas de serenata, havia um que era
possuidor de DÓLAR (Valdir Marcolino, violonista, cujo filho – já falecido –
tinha esse apelido); que seu padrinho AGENOR SANTOS, além de político e
farmacêutico tinha uma bem guardada e secreta “Esmeralda”, sendo que seu
sobrinho TÓ DE ALICE, tinha em casa uma PEPITA que pesava quase três arrobas.
Portanto a sua família estava cheia de tesouros e ele não tinha que dar
satisfação de sua vida a um boboca, filho de papai rico, mas que nada tinha o
que fazer ou contar. E saiu de perto, dando suas risadinhas de muxoxo e gozo, deixando-lhe
seu tradicional jargão de grande sabedoria: VÁ DORMIR COM MAIS ESTA!!!
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