A Mão da Divina Providência
- ou, de como um oficial de justiça fez um cigarro de fumo de rolo com um instrumento judicial de mandado de reintegração de posse-
- ou, de como um oficial de justiça fez um cigarro de fumo de rolo com um instrumento judicial de mandado de reintegração de posse-
(um fato verídico... Deus escreve sempre certo por
linhas tortuosas!)
Eu conheci e tive a felicidade de
com ele conviver por muitos anos, que foi a figura saudosa de uma pessoa muito
simples, parente distante, ótimo pai de família e um amigo de todas as horas e
também vizinho da casa de minha mãe, de quem nunca me esqueço, em razão dos
diversos momentos que compartilhamos, e que a respeito dele quero deixar alguns
depoimentos, para melhor entender sua história de um grande cidadão.
Em Minas Novas, era ele um
oficial de justiça que, como a maioria dos homens do lugar, gostava muito de
fumar o seu cigarrinho de palha. E ele, esse meu amigo, fumava mais ainda,
descontroladamente, fazendo seu fedorento cigarro de fumo “banzé” usando com
qualquer pedaço de palha que encontrava mais fácil.
Certa vez, no meio do mato e durante a madrugada escura, com imensa vontade de fumar e não encontrando palha
alguma para fazer o seu "pito", ele enrolou o fumo picadinho num
pedaço de um papel que estava na sua mochila, dividindo-o em diversos pedaços, usando seu afiado canivete, fazendo-o na certeza de estar repicando a parte em branco daquele documento.
Esse “papel”, porém, era um
precioso alvará, datilografado em uma folha de papel almaço, sendo a primeira página a que era um mandado de reintegração de posse e a segunda página em branco, onde deveria ser lavrada a certidão, que ele, juntamente
com o "oficial companheiro", sob escolta armada de uma reforçada
guarnição militar, deveriam dar cumprimento, sendo que já seguiam na adiantada diligência, aonde deveriam chegar, pela manhã e executarem o mandato com todas as formalidades legais, num lugar distante dentro
daquela imensa jurisdição, quase do tamanho do Estado, num local da comarca
onde estavam lhe aguardando vários advogados e até mesmo um diretor da ACESITA
ENERGÉTICA, tamanha era a expectativa de todos eles verem terminada a conturbada, polêmica e insidiosa ação
pública, ora em curso.
A tal “reintegração de posse”
acabou sendo adiada por falta do dito instrumento judicial que, em razão
daquele incidente que muitos consideraram como uma atitude relapsa e criminosa do dito oficial de justiça,
parte virou cinzas, outra parte virou fumaça e todas as partes envolvidas
ficaram foi a "ver navios" e tiveram que regressar ao fórum.
De tal ato, pelo qual o dito oficial
passou a responder por processo administrativo e no qual foi severamente
repreendido, dessa punição logo ficou ele livre em razão de uma posterior decisão
judicial que considerou como ‘VICIADOS” todos os ATOS e julgamentos
até ali praticados, naqueles autos judiciais, deles resultando, finalmente, em grande
benefício a favor de muitos roceiros inocentes que estavam injustamente respondendo por um processo em que seriam despejados.
Na reforma da sentença, que foi
exarada por um novo magistrado, homem competente, honesto, mais justo que o anterior,
o venal BEL Afanado, afinal o novo juiz era um cidadão ético, justo e consciente, este sim, um BACHAREL com todas as letras
maiúsculas, que não se deixava cooptar pelo poder econômico daquelas empresas reflorestadoras, um magistrado que de forma muito
acertada entendeu que aquela ação, assim como muitas outras que beneficiavam
apenas as partes mais poderosas, não poderiam, como de fato esta não prosperou,
merecer o "pálio" da LEI.
Este fato mereceu meus aplausos e
eu, naquela oportunidade, tive a ventura de me encaminhar ao ilustre JUIZ e lhe
apertar efusivamente as mãos, sob o olhar desaprovador de muitos serventuários
e advogados que ainda hoje continuam sua militância naquele fórum de Minas
Novas, que, pela primeira vez viram a frustração de seus interesses mesquinhos,
sempre em detrimento das partes fracas e oprimidas.
ZÉ BRANCO, esse era o oficial de
justiça de quem me refiro, sempre tive a maior certeza, que não agiu daquela
forma deliberadamente, foi premido pela
força de seu vício de fumar desbragadamente ou, quiçá, tenha sido movido por
uma força muito mais poderosa, bem maior que a da justiça terrena, aquela que,
por linhas travessas, de fato encaminha todas as pessoas de bom espírito e bom
coração em direção do que é CERTO E JUSTO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário