FIGURAS INOLVIDÁVEIS DA HISTÓRIA
FANADEIRA
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GERALDO EUSTÁQUIO SENA (NORETO)
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NORETO SENA, filho de Rosário Sena e
de Dona Zuleica Freire, nasceu em MINAS NOVAS, na noite de 13 para 14 de julho de 1946 e
estaria, portanto, na data de hoje, completando 70 anos de idade. Não tenho,
infelizmente, em meus arquivos, sequer uma foto dele para que pudesse ilustrar
este nosso projeto. Contudo, tenho na minha lembrança as mais ternas
recordações de um tempo em que vivíamos em Belo Horizonte, como estudantes, no
período de 1966 a 1968, quando muito aprendi com ele sobre as melhores maneiras
de “sobreviver” numa grande capital, aonde eu, um simples “tabaréu” de apenas
15 anos de idade chegava pela primeira vez para me deparar com um mundo
completamente novo e cheio de mistérios, maravilhas e muitas dificuldades
naquele tempo em que, para complicar ainda mais as coisas, o mundo passava por
inovações sociais, econômicas, políticas e culturais inimagináveis e o Brasil,
em pleno “Período de Chumbo” impunha a todos os cidadãos, de qualquer idade, um
regime de limitações, de censura e de restrições civis. Não havia, ainda, a
ideia de uma “colônia fanadeira” mas era imensa a união que havia entre os
minas-novenses que moravam na capital e eram frequentes seus encontros, em
algum lugar pré-escolhido, numa praça ou casa de algum parente ou conhecido,
para acontecer os bate-papos descontraídos, para a troca de gibis e livrinhos
de bolso, para saber das notícias da terrinha e fazer os comentários acerca dos
diversos assuntos relacionados a acontecimentos, enfim, desenvolver aquela
necessária resenha que combatia a saudade do lar distante e contribuía para a
superação de muitas dificuldades. Nesse tempo o nosso amigo Noreto, apesar de ser
um pouco mais velho na nossa turma, já era “veterano” na capital, onde já havia
conquistado, com seus méritos, um emprego com salário fixo razoável, numa
agência bancária que ficava na Galeria do Ouvidor, uma condição que lhe
garantia uma supremacia sobre todos nós, embora ele, jamais se valesse dela
para impor alguma autoridade ou para humilhar alguém que pudesse ser
considerado, economicamente, mais inferior.
NORETO era uma pessoa excepcionalmente boa, solícita e não media
esforços de ajudar a quem o procurasse, mesmo tendo também suas dificuldades e
limitações. Na pequena “república” em que Noreto morava, um porão de uma casa
na Rua São Manoel, na Floresta, além de alguns livros e dicionários que me
emprestava, ele possuía uma possante radiola na qual ouvíamos os primeiros
lançamentos de Roberto Carlos, de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, no
alvorecer da “Tropicália” – tudo em discos compactos que eram os que podíamos
adquirir – além de gravações de músicas clássicas e de grandes cantores
internacionais que garimpávamos em sebos e lojas de quinquilharias. Aquilo tudo
era um verdadeiro tesouro e quando sobrava algum trocado, o que raramente
acontecia, podíamos ir aos cines Odeon ou Floresta e ate mesmo curtir uma “tarde
dançante”, sem direito ao uso das piscinas, no Oásis Clube, onde um dos colegas
dele era associado e nos conseguia convites. Eram muitos os minas-novenses que,
por influência do então deputado Murilo Badaró, beneficiava-se de alguma
sinecura na Assembleia Legislativa (naquele tempo funcionando num prediozinho
da Rua dos Tamoios quase com Av. Amazonas), assim como em alguma secretaria de
estado, a exemplo de outro “grande inolvidável”
que foi o saudoso conterrâneo ARISTÓBULO VIEIRA, que não era dado às questões
culturais ou esportivas, mas frequentemente comparecia no “Porão do Noreto”,
onde nos repassava convites especiais para cinemas, teatros, feiras,
inaugurações e outros eventos badalados, que aconteciam naquela época, com o
patrocínio daquela Casa Legislativa. Em troca desses favores, ficávamos à
disposição dele para servir de cicerone das pessoas do interior que aqui
compareciam na busca de atendimento de saúde ou para qualquer outra demanda
junto aos políticos e no comércio. E através desse intercâmbio, fomos também
aprendendo a viver e a conviver nas diversas situações, sempre com a melhor
disposição de ser útil e de servir aos conterrâneos.
Naquele bom tempo as férias escolares
eram aguardadas com ansiedade e, quando eram chegadas as datas da partida,
conseguíamos arrumar algum lugar encima das cargas nos caminhões de Dário Magalhães
ou de Fábio Mota, para seguirmos – todos muito alegres e garbosos – para reencontrar
com a gostosa vidinha na beira do Fanado, no Bonsucesso e na Barragem de Minas
Novas, assim como das inesquecíveis “horas dançantes” que aconteciam no CRAMN
e, principalmente nas casas de Rosário Sena, de Isaias, de Zé de Durval ou do
Professor Urias Sena. E de volta à capital, voltava Noreto à sua missão de
programar a ida ao próximo Carnaval e à próxima Festa do Rosário, eventos que
jamais ele deixava de comparecer, em nossa terra, onde sua presença alegre era
mais um grande motivo de confraternização e de muito carinho, em razão daquela
sua incrível facilidade de ser simpático e de ser solidário com todas as
pessoas, principalmente com aquelas mais simples e humildes de nossa terra,
cujas casas eram as que ele preferia visitar e comparecer para degustar uma “penosa”,
um andu com torresmo, um lambari frito ou um delicioso acarajé de milho verde,
sempre com seu “séquito” que – naturalmente – comparecia levando a contribuição
no formato das bebidas que eram necessárias para fazer a melhor parceria
naqueles descontraídos encontros de amigos.
E foi na sua última ida a Minas
Novas, na véspera de um carnaval, que nosso dileto amigo NORETO foi
surpreendido por uma curva traiçoeira, quando já sentia a proximidade da
chegada, sofrendo um fatal acidente no qual quase que também faleciam sua
esposa e filhos, os quais, embora muito feridos, tiveram a felicidade de
sobreviver,
Portanto, nesse 14 de julho, elevo a
Deus uma prece e rogo ao DIVINO CRIADOR que conceda ao saudoso NORETO a GRAÇA
de seu perdão pelas suas possíveis falhas nesta vida, as quais desconheço, ao
mesmo tempo em que convoco todos os conterrâneos para um brinde de gratidão, de
apreço e de muita saudade a essa que, para mim, é uma grande FIGURA INOLVIDÁVEL
DA NOSSA HISTÓRIA FANADEIRA, merecedor de todas as honras e louvores por parte
das pessoas de bem que sabem avaliar a grandeza de uma pessoa amiga e cheia das
melhores virtudes.
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