quinta-feira, 6 de março de 2008

CAFEZINHO DO MANOEL

O Cafezinho do Manoel e o bom atendimento do Vieira.

O cafezinho faz parte do conjunto constituído pela comida e, como tal, "fala" de práticas, de valores e possui dimensões simbólicas interessantes.

Ele é parte de uma linguagem.

Tomar cafezinho junto significa compartilhar, tornar um momento ritual, marcá-lo como algo que nos aproxima, reforça laços. Pode ser também uma pausa no cotidiano.

Quando se recebe alguém em casa, principalmente quando não é alguém muito conhecido, e se "passa um café" novo, esse é um claro sinal de boas vindas: a presença da pessoa é desejada. Inversamente, servir um café morno ou requentado é ofensivo, significa que a pessoa deve se retirar logo.

O cafezinho fala de práticas e preferências culinárias.

Em Minas Novas, porém, quando se refere ao termo "cafezinho", imediatamente todos já sabem tratar-se de um ponto comercial:

"O cafezinho do Manoel"

O nosso Manoel do Cafezinho chegou aqui na cidade, bem caladinho, e humildezinho como sempre foi, aqui foi ficando, com seu jeito solícito e prestativo e logo conquistou espaços e amizades.

Menino criado na roça, sempre foi muito diligente e observador e assim sendo, esporadicamente vinha à cidade acompanhando parentes e amigos idosos para auxiliá-los no recebimento de benefícios do Funrural/ Inss.

Nessa atividade rotineira, durante as longas e sofridas permanências nas filas de espera pelo atendimento na Caixa Econômica, sentia na carne o sofrimento de ficar horas e horas sem tomar, sequer, um copo d"água.

Passou a trazer da roça um burro cargueiro com os balaios de biscoito, broas, frutas e os garrafões de café com leite para os seus velhos e também para vender aos demais que se interessassem.

Seu tino comercial e a simpatia com que prestava aquele serviço logo atraíram novos fregueses e o pequeno comércio ambulante teve que fixar-se em uma vendinha improvisada debaixo do sobrado de Dona Áurea.

Durante muitos anos daquele ponto, no "cantar da maria-preta", quem passasse pelo encantilhado da Praça do Amparo não resistia ao cheiro gostoso do cafezinho, da variedade de guloseimas e da receptividade alegre e contagiante do Manoel do Cafezinho.

No comércio muito aprendeu com sua amiga Juraci e depois com seu "padrinho" Rosário Barroso, seu vizinho comerciante com quem teve uma longa e admirável convivência, como a de mestre e aluno.

De agora em diante, todas às vezes que passarmos por aquele local, próximo ao Beco de Ramiro, vamo-nos lembrar de um menino roceiro que veio morar na cidade, que se tornou um exemplar comerciante, um homem honesto, bom pai de família e um cidadão exemplar que fez do seu cafezinho uma marca registrada e tão querida.

O trabalho árduo, a vida dura de uma cidade de pouco conforto e a falta de uma melhor assistência de saúde, de lazer e de orientação profissional aos trabalhadores do comércio tem ceifado a vida de vários conterrâneos nossos, ainda tão jovens, e que tanto ainda poderiam contribuir para a grandeza de nossa velha e abandonada cidade.

Nesta semana perdemos o Manoel do Cafezinho e também um outro ex-menino da roça, um outro jovem brilhante, batalhador, esforçado e progressista: nosso amigo Vieira, um grande vencedor que em pouco tempo de comércio deu lição de marketing para veteranos do ramo ao conquistar seus clientes com bom atendimento, oferta de bons brutos e prestação de serviços diferenciados, tanto de entrega como de facilitação de créditos aos lavradores.

Essas baixas são lamentáveis e merecem uma reflexão mais atenta.

Aos nossos abnegados comerciantes fica uma alerta: Trabalhar é preciso, mas o comércio, sendo atividade estressante em escalas bem mais alarmantes que as demais, não pode continuar a liquidar com tantas vidas, assim tão precocemente, como tem acontecido em nosso município.

Essa preocupação, certamente, já deve estar sendo discutida pela bem administrada ACIAMN, desde as baixas, ainda recentes, que todos nós sofremos com o falecimento de 03 lideranças, em uma mesma família, dentro de um curto período, que foram os inesquecíveis e exemplares empresários Nita Barroso, Santinho Barroso e Tria Barroso, que tanta falta estão fazendo em nosso meio.

E no meio de nossa imensa tristeza, resta-nos pedir ao Bom Deus que os acolha na eternidade e que possibilite aos familiares enlutados as forças necessárias para superarem o trauma dessas partidas e a sabedoria para cada um de nós refletirmos, à luz do Evangelho, acerca de nossas frágeis condições humanas.

geraldo mota

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